Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Carracci – A LAMENTAÇÃO DE CRISTO

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor italiano Annibale Carracci (1560-1609), nascido em Bologna, era oriundo de uma família de artesãos. Seus ancestrais eram alfaiates. Seu irmão Agostino (1557-1602) formou-se como gravador e pintor. Annibale começou trabalhando na alfaiataria, mas depois seguiu os passos do irmão mais velho, com quem trabalhou na oficina do primo Ludovico Carracci em Bolonha, o que leva a crer que esse tenha sido seu professor. Os três fundaram uma escola artística chamada Academia degli Incamminati (Academia do Caminho), sendo Ludovico o dirigente da escola e também conhecido por sua rejeição ao estilo maneirista. Annibale era o mais criativo do grupo. Os três artistas trabalharam juntos na decoração do Palazzo Fava em sua cidade natal. Em muitas das primeiras obras de Bolonha é difícil distinguir as contribuições individuais de cada um deles, pois carregam apenas a assinatura “Carracci”, o que pode sugerir que os três participaram.

A composição intitulada A Lamentação de Cristo é uma criação de Annibale Carracci. Trata-se de uma obra em que o artista usou a monumentalidade, ao narrar um episódio da Paixão de Cristo, e que pode chegar ao nível de “A Deposição no Túmulo” do mestre Caravaggio. No trabalho de ambos se destaca um profundo sentido de gravidade a determinar o caráter da pungente cena.

A composição apresenta cinco personagens: Cristo Morto, sua mãe Maria, Maria Madalena (uma das seguidoras mais dedicadas de Cristo), Maria de Cleófas (tia de Jesus, irmã de Maria de Nazaré, casada com Cleófas) e Maria Salomé (esposa de Zebedeu e mãe de Tiago e João).

As quatro mulheres apresentam-se numa postura de grande sofrimento. Mesmo aquela que se encontra de pé no centro da composição não se mostra ereta, mas se dobra, com os braços abertos na direção a Maria desmaiada e amparada por uma outra mulher. A parte superior do corpo pálido de Cristo está amparada pelo colo de sua mãe e a inferior encontra-se no chão, sobre um lençol branco.  

Carracci estrutura  as figuras em sua composição em diferentes posições: reclinadas, agachadas, vergadas e paradas. As três figuras, à direita, estão dispostas gradualmente, uma atrás da outra.

Ficha técnica
Ano: 1606
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 92,8 cm x 103,2 cm
Localização: National Gallery, Londres, Inglaterra

Fontes de pesquisa
Obras-primas da arte ocidental/ Taschen
1000 obras-primas da pintura europeia/ Konemann

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Carracci – O COMEDOR DE FEIJÃO

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor italiano Annibale Carracci (1560-1609), nascido em Bologna, era oriundo de uma família de artesãos. Seus ancestrais eram alfaiates. Seu irmão Agostino (1557-1602) formou-se como gravador e pintor. Annibale começou trabalhando na alfaiataria, mas depois seguiu os passos do irmão mais velho, com quem trabalhou na oficina do primo Ludovico Carracci em Bolonha, o que leva a crer que esse tenha sido seu professor. Os três fundaram uma escola artística chamada Academia degli Incamminati (Academia do Caminho), sendo Ludovico o dirigente da escola, conhecido por sua rejeição ao estilo maneirista. Annibale era o mais criativo do grupo. Os três artistas trabalharam juntos na decoração do Palazzo Fava em sua cidade natal. Em muitas das primeiras obras de Bolonha, é difícil distinguir as contribuições individuais de cada um deles, pois carregam apenas a assinatura “Carracci”, o que pode sugerir que os três participaram.

A composição intitulada O Comedor de Feijão é uma obra de Annibale Carracci. Nela o artista mostra a sua abertura em relação às tendências realistas da pintura de gênero do Norte europeu. Muitas de suas obras retratam a vida de pessoas simples. Esse foi também um período em que artistas e compradores passaram a mostrar interesse por composições sobre a vida cotidiana da gente simples, nascendo, assim, a chamada “cena de gênero” que já vinha aparecendo nas tapeçarias do século XV.

Para criar a composição acima, Carracci considerou uma estrutura de composição bem comum, optando por pinceladas cruas e simples, fazendo uso de tons de terra. Ele apresenta um homem simples – um camponês ou trabalhador rural – sentado à mesa, fazendo a sua refeição. Usa uma colher de madeira para comer seus feijões. A mesa está coberta com uma toalha branca. Sobre ela, num alinhamento simples, estão: a tigela com feijões, cebolas, pão, um prato com torta de vegetais, um copo pela metade e um vaso listrado de cerâmica. Tudo ali é singelo.

O homem usa roupas modestas e traz sobre a cabeça um chapéu de palha. Possui maneiras rudes e parece comer avidamente. Olha furtivamente para o observador e traz a boca aberta. O pintor não foge à dura realidade do retratado tanto em sua técnica pictórica quanto na abordagem artística. As cores sem brilho em tons de terra são depositadas na tela em pinceladas grossas e irregulares.  Annibale Carracci,  deliberadamente, não acrescentou a ela qualquer artifício ou habilidade. Assim, tudo nela é modesto, é simples, até mesmo o modo como foi criada.

Ficha técnica
Ano: c.1580-1590
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 57 cm x 68 cm
Localização: Galeria de Colonna, Roma, Itália

Fontes de pesquisa
Obras-primas da arte ocidental/ Taschen
1000 obras-primas da pintura europeia/ Konemann

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Van der Goes – A CAÍDA E REDENÇÃO DO HOMEM

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor flamengo Hugo van der Goes (1443-1482) é tido como um dos mais importantes pintores flamengos da segunda metade do século XV. Não se sabe muito sobre os primeiros anos de sua vida. Trabalhou como mestre na associação dos pintores de Gante, onde nasceu. Participou da decoração do casamento de Carlos, o Temerário, possivelmente ao lado de Hans Memling e Petrus Christus. Suas pinturas atendiam especificamente ao que era definido pelos clientes, quer eclesiásticos ou seculares. Entrou para o Convento de Roode, sendo ordenado como irmão laico, e nesse local  passou os últimos anos de sua vida. Mesmo tendo feito votos de pobreza, castidade e obediência, não abandonou a pintura. Segundo o irmão Gaspar Ofhuys, ele tinha crises de melancolia, possivelmente depressão, acompanhadas de crises de culpa, tendo sido acometido também por alucinações religiosas. Alguns estudiosos aludem ao fato de sua arte mostrar tensão e austeridade.

A composição religiosa intitulada Caída e Redenção do Homem ou ainda O Díptico de Viena é uma obra do artista. O lado direito do díptico é intitulado “Lamentação pelo Cristo Morto” e o esquerdo é chamado de “Pecado Original”. A conexão entre as duas partes é explicada pela teologia cristã, como sendo o pecado de Adão e Eva o responsável por separar Deus da Humanidade e, por isso, foi necessário o sacrifício de Jesus Cristo para que ela fosse salva.

A pintura intitulada “Pecado Original” apresenta Adão e Eva no Paraíso, debaixo de um pé de macieira, sendo tentados pelo demônio. O pintor retrata o casal com corpos delgados e contornados, mas sem uma beleza chamativa. Ambos se encontram nus. O magricela Adão esconde sua genitália com a mão direita, enquanto Eva, com sua barriguinha protuberante, tem a sua genitália coberta por uma flor azul. Ela segura uma maçã, enquanto colhe outra. Uma grande salamandra com cabeça de mulher e pés de aves aquáticas, representando o demônio, encontra-se de pé ao lado da macieira, observando o gesto de Eva.

A pintura denominada “Lamentação pelo Cristo Morto” traz a figura de Jesus, postado sobre uma mortalha branca, envolta por nove pessoas em profundo desalento. Aglomeradas em torno do Mestre, elas formam um vigoroso movimento diagonal. A coroa de espinhos jaz no chão. Ao fundo vê-se o Monte Calvário, onde se encontra a cruz da crucificação. O céu mostra-se escuro e nublado.

O verso do painel esquerdo traz a pintura da imagem de Santa Genoveva, enquanto o do painel direito traz vestígios de um brasão de armas, onde se vê um escudo com uma águia negra e o vestígio dos pés de dois apoiantes.

Ficha técnica
Ano: c. 1479
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 33,5 x 23 cm (medida dos dois quadros)
Localização: Museu de História da Arte, Viena, Áustria

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
https://artsandculture.google.com/asset/the-fall-of-man-and-the-lamentation

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Hals – RETRATO DE JACOBUS ZAFFIUS

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor Frans Hals (c. 1583-1666) nasceu provavelmente na Antuérpia, quando as províncias holandesas e Flandres (atual Bélgica) ainda pertenciam à Casa Real espanhola. Seu pai Franchoys era um mestre tecelão. Sua família mudou logo a seguir para Haarlem, onde ele passou a maior parte de sua vida. As informações sobre sua vida até os 25 anos são bem escassas, embora se saiba que estudou pintura na Academia de Haarlem com o pintor e escritor Karel van Mander – cujos escritos são uma conhecida fonte sobre os primeiros pintores flamengos – e foi membro oficial da Guilda de São Lucas, à qual chegou a presidir.

O primeiro trabalho conhecido de Hals foi Retrato de Jacobus Zaffius que faz parte de uma gravura de Jan van Velde II, feita em 1630. Alguns críticos contestam a autoria de Hals, levando em conta o estilo da pintura que não mostra suas pinceladas firmes e espontâneas. Contudo, a gravura de Velde traz na parte inferior a inscrição: “Frans Hals pinxit” (Frans Hals pintou isso), comprovando sua autoria.

Na impressão, Jacobus Zaffius é visto da cintura para cima, repousando a mão sobre um crânio. O fato de a impressão evidenciar mais do que a pintura, levou os estudiosos de arte a pensarem que a pintura era originalmente maior, mas o exame técnico do material do painel, feito durante as atividades de restauração, revelou que nunca fora cortado. Presume-se que a gravura e sua pintura tenham sido feitas depois de um original perdido pelo artista.

Ficha técnica
Ano: 1611
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 54,5 x 41 cm
Localização: Museu Frans Hals, Haarlem, Holanda

Fontes de pesquisa
Gênios da pintura/ Abril Cultural
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

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Botticelli – A NATIVIDADE MÍSTICA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A Natividade Mística de Jesus, também conhecida apenas como Natividade, refere-se ao nascimento do Salvador. Esta é uma obra do mestre renascentista italiano Sandro Botticelli. É cheia de grande simbologia. O pintor combina o nascimento de Cristo com a sua segunda vinda. Esta obra, cheia de figuras alegóricas, símbolos e inscrições, tem levado os estudiosos a muitas discussões.

A pintura foi realizada um milênio e meio depois do nascimento de Jesus, época em que as modificações políticas e religiosas tornaram-se responsáveis por admoestações proféticas sobre a proximidade do final mundo. Nela, o artista traz à tona as dúvidas e os problemas  de sua juventude, como podemos notar na profética  inscrição grega:

“Esta pintura, do fim de 1500, durante as perturbações na Itália, eu, Allesandro, pintei-a no intervalo após essa época, durante o cumprimento do Capítulo XI de S. João, na segunda calamidade do Apocalipse, e segunda liberação do demônio por três anos e meio, o qual será novamente encadeado no Capítulo XII e nós o veremos […] como nesta pintura.”.

A cena da pintura, portanto, trazem à tona os sermões do monge Savonarola.

O Menino Jesus nasceu. Reunidos no estábulo, José, Maria, reis, pastores e uma legião de anjos celebram seu nascimento com grande alegria. Na parte superior da pintura doze anjos, vestidos nas cores da fé, esperança e caridade, dançam graciosamente em círculo, carregando nas mãos vistosos ramos de oliveira. Sobre eles, o céu abre-se numa maravilhosa cúpula cor de ouro, simbolizando o paraíso que, assim como o ouro, é eterno. Amarradas aos ramos, três coroas douradas balançam. Os pergaminhos presos aos ramos celebram Maria: “Mãe de Deus”, “Noiva de Deus”, “Rainha única do mundo”.

Logo abaixo dos anjos dançarinos, sobre o telhado, estão três anjos ajoelhados, segurando o livro sagrado do cristianismo – a Bíblia. Vestem roupas de cores branca, vermelha e verde e têm asas vermelhas.

A Virgem Maria, ajoelhada em adoração diante de seu Filho, usa um manto azul sobre um vestido vermelho e tem ao lado o boi, deitado, e o jumento, de pé, que também observam o Menino, enquanto José cochila atrás da criança. A Virgem Mãe e seu filho Jesus apresentam-se em escala superior à dos demais personagens. Maria é tão grande que, se ficasse de pé, bateria no telhado do estábulo. O destaque dado pelo artista mostra que eles são as pessoas mais importantes e santas presentes na composição.

O Menino repousa sobre um tecido branco que lembra o mesmo lençol em que seu corpo será enrolado um dia, enquanto a gruta é uma menção ao seu túmulo. Os pastores, à direita, com suas roupas curtas, presentes no lado direito da pintura, louvam a criança que acaba de nascer. Todos estão coroados com ramos de oliveira, símbolo da paz. Um anjo com roupa branca conversa com eles, enquanto outro, meio encoberto pelos ramos e trazendo um ramo de lírios na mão, está de frente para o grupo.

Na parte inferior da pintura em primeiro plano, três anjos, usando vestes verde, branca e vermelha, abraçam afetuosamente três homens que vêm visitar o Menino. Os seres alados carregam consigo um ramo de oliveira e, preso a estes estão pergaminhos com frases em latim que dizem: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade.” Atrás do grupo quatro demônios, em escala bem reduzida, fogem aterrorizados, alguns empalados em suas próprias lanças, para buracos no chão.

À esquerda estão os reis, despojados de suas insígnias, usando vestes longas. Também estão usando coroas de oliveira. O anjo que, junto aos três reis, à esquerda da pintura, aponta a mão para o Menino, segura a inscrição “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Em frente à estrebaria vários caminhos cruzam em zigue-zague. As paredes da rocha parecem lanças. Inúmeras árvores verdes estão atrás do local onde acontece a cena.

Esta obra de Botticelli não é convencional ao representar os acontecimentos tradicionais do nascimento de Jesus Cristo. O artista inspirou-se nas profecias do Apocalipse de São João para pintar tais eventos. No topo da obra podemos ver a inscrição de um texto. Vemos ali a influência do monge fanático e pregador Savonarola sobre Botticelli.

Ficha técnica:
Data: c. 1501
Técnica: têmpera e óleo sobre tela
Dimensões: 108, 5 x 75 cm
Localização: National Gallery, Londres, Reino Unido

Fontes de pesquisa
Los secretos de las obra de arte/ Taschen
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia

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Géricault – A FÁBRICA DE CAL

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O sensível pintor francês Jean-Louis-André Théodore Géricault (1791-1824) foi um dos mais famosos, autênticos e expressivos artistas franceses do estilo romântico em seu início. Desde a sua infância Géricault demonstrava interesse pelos desenhos e cavalos. Sua família mudou-se para Paris e sua mãe faleceu quando o garoto tinha dez anos, deixando-lhe uma renda anual. Na capital francesa o futuro artista tornou-se esportista, elegante e educado, frequentando os ambientes mais sofisticados. Embora seu pai não aprovasse a sua opção pela pintura, um tio materno resolveu o impasse, ao chamar o sobrinho para trabalhar com ele no comércio, mas lhe deixando um bom tempo livre para dedicar-se à pintura.

A composição intitulada A Fábrica de Cal, também conhecida como Forno de Gesso, é uma pintura romântica do artista. Em sua obra ele apresenta uma velha fábrica de cal. Pela falta de atividade deduz-se que se trata de uma pausa no trabalho. Em frente à fábrica, e em primeiro plano, estão três cavalos malhados, ainda com os arreios, comendo a aveia de seus embornais presos em torno do pescoço. Estão próximos de uma velha carroça de rodas altas, forrada com cal e perto de um solo lamacento que ocupa o primeiro plano, à esquerda. A edificação da fábrica, situada mais à direita, forma uma pesada massa. Parados em sua grande abertura estão dois cavalos manchados, ainda presos a uma carroça, também a comer sua ração de aveia.

Através de uma abertura, à esquerda do edifício da fábrica, densas nuvens de pó branco direcionam-se para o alto, contrastando com o céu escuro presente no lado esquerdo da cena. Este é o único sinal de trabalho no lugar. Nenhuma figura humana é apresentada na composição, o que leva a obra a parecer muito mais com uma paisagem do que uma pintura de gênero. Vê-se que se trata de um ambiente pobre, mas a obra narra muito pouco sobre esta questão. A composição, praticamente monocromática, é criada com tons terrosos, beges e marrons. Os elementos pictóricos presentes na obra são trabalhados equilibradamente, recebendo todos a mesma luz e tom. Há certa melancolia presente no quadro.

Obs.: Géricault não se deu bem ao investir muito dinheiro nessa falida fábrica de cal.

Ficha técnica
Ano: c.1821/22
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 50 cm x 60 cm
Localização: Museu Nacional do Louvre, Paris, França

Fontes de pesquisa
Obras-primas da arte ocidental/ Taschen
1000 obras-primas da pintura europeia/ Konemann

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