Recontado por Lu Dias Carvalho
O deus Pã, conhecido por Lupércio, Lupercus, Fauno ou Silvano, era responsável pelos bosques, campos, rebanhos e pastores. As grutas serviam-lhe de moradia e tinha como lazer andar por seus domínios, caçando ou dançando com as belas ninfas, e tocando a flauta que sempre trazia consigo. Não tinha uma aparência muito bonita, é verdade, pois era uma mistura de deus com animal (pernas, orelhas e chifres de bode).
De uma feita, Pã ousou dizer que sua música era muito melhor do que a do deus Apolo. E como se só isso não bastasse, desafiou-o para uma disputa, que foi prontamente aceita. Para juiz da competição foi convocado Tmolo, o deus das montanhas que, para ouvir melhor, removeu as folhas das árvores que tapavam seus ouvidos. Muitos seres divinos e humanos estavam presentes, acompanhando o embate.
Pã armou-se com a sua flauta e Apolo com a sua lira. Com os dois adversários a postos foi iniciada a competição. Ao final, Tmolo elegeu a música do Rei Sol como a melhor. Todos aqueles que se encontravam presentes, acompanhando a disputa, foram unânimes em concordar com o resultado, excetuando Midas, devoto fiel de Pã. Chateado, pôs-se a falar que houve injustiça na escolha, que o juiz fora parcial e outras coisas mais.
Apolo sentiu-se chateado com a postura de Midas, pois afinal ele nada conhecia sobre música, tendo um ouvido nem um pouco refinado para apreciar e julgar uma melodia. Como castigo, aumentou o tamanho de suas orelhas, igualando-as às de um burro. Nem é preciso dizer que Midas sentiu-se flagelado com aquela deformação. O único jeito seria escondê-las debaixo de um enorme turbante. Saiu em busca de um local onde pudesse fazer tal arranjo. Ao cabeleireiro, responsável pela arrumação, foi dada a ordem de jamais contar o que havia debaixo dela, sob pena de sofrer um castigo atroz.
Como guardar segredo é coisa dolorosa, o tal cabeleireiro, não mais suportando carregar tão pesado fardo, bolou uma maneira de livrar-se dele, de modo a dormir em paz. Logo ao amanhecer, quando os campos ainda se encontravam silenciosos e umedecidos pelo orvalho da deusa Aurora, escolheu um lugar não muito distante de sua morada, e ali cavou um buraco. Depois, abaixou-se e, com voz quase inaudível, contou a história de Midas com suas orelhas de burro. A seguir, jogou a terra de volta, compactou-a e voltou para casa. Mas tempos depois, naquele mesmo local, nasceu uma enorme touceira de juncos, que ao crescer, passou a murmurar a história de Midas, sempre que era tocada pelo brisa.
Nota: Apolo e Pã, obra de Frans Floris
Fontes de Pesquisa
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM
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