Arquivo da categoria: Mitos e Lendas

O mito é uma narrativa na qual aparecem seres e acontecimentos imaginários, que simbolizam forças da natureza, aspectos da vida humana, etc. A lenda é uma narração escrita ou oral, de caráter maravilhoso, na qual os fatos históricos são deformados pela imaginação popular ou pela imaginação poética.

Mit. – PAIXÃO DE NARCISO POR SUA IMAGEM

Recontado por Lu Dias Carvalho

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O jovem Narciso (Valentim) era conhecido por sua formosura assim como pelo seu orgulho. Era filho do deus-rio Cefiso e da ninfa Liríope. Ao nascer, o advinho Tirésias, pressagiou que ele viveria muitos anos, mas se jamais conhecesse sua própria figura.

Narciso era tão consciente de sua beleza, que dela fizera uma arma que não tardaria a voltar contra si mesmo. Nenhuma ninfa ou humana atraía-o, por isso, ele preferia permanecer na sua própria companhia. Seu coração era empedernindo em relação ao amor.

A ninfa Eco, favorita de Diana, foi uma das que se apaixonaram por Narciso, sendo prontamente ignorada. Revoltadas com o seu desdém, as ninfas dirigiram-se aos deuses para pedir-lhes que fizesse com que ele viesse um dia a conhecer o amor, ou seja, sofrer pela mesma causa que fazia os outros sofrerem. A deusa da vingança não tardou em executar o pedido das ninfas. O vaidoso não tardaria por esperar.

Certo dia, Narciso passou por um local do bosque, desconhecido para ele, bastante cansado, por ter se dedicado muito tempo à caça. Encontrava-se encalorado e sedento. A pouco passos de si, encontrava-se uma fonte cristalina, como nunca vira antes. Debruçou-se sobre ela, a fim de matar a sede. Mas que surpresa! Ali estava um ser da mais exuberante beleza. Ele logo imaginou se tratar do espírito das águas, que ali morava. Não conseguia tirar os olhos daquela visão, que não era outra senão a sua. Caiu de amores por si mesmo. Ao tentar beijar e abraçar sua imagem, ela fugiu com o farfalhar das águas. Ele aguardou calmamente seu retorno. Assim que as águas tranquilizaram-se, ela reapareceu. Ali ficou Narciso a mirá-la, enamorado.

Narciso, impregnado pela intensidade de suas emoções, dirigiu-se à imagem, perguntando-lhe o porquê de tamanho desdém para com ele, quando as ninfas morriam de amores por ele. Queria saber também por que ela repetia todos os seus gestos, mas fugia quando ele tentava tocá-la. Enquanto falava, suas lágrimas despencaram como uma torrente sobre a água, turvando-a e fazendo desaparecer a imagem, deixando-o enlouquecido de paixão. A ninfa Eco a tudo acompanhava, tristemente, sem nada poder fazer.

Depois de dias e dias ali na margem da fonte, sem comer ou beber, o jovem e belo Narciso foi definhando, definhando até morrer. As ninfas choraram tamanha beleza perdida. Preparam os ritos funerários para ele, mas não mais encontraram seu corpo. No lugar estava uma flor roxa, ladeada por folhas brancas, que tem seu nome e preserva sua memória.

Nota: Eco e Narciso, obra de J. W. Waterhouse

Fontes de pesquisa
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM

Mit. – A TRANSFORMAÇÃO DE DRÍOPE

Recontado por Lu Dias Carvalho

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Dríope e Iole eram muito unidas, sendo a primeira delas a esposa de Andrêmon, já tendo ambos a alegria do primeiro filho. As duas irmãs gostavam de colher flores para ornamentarem o altar das ninfas. Para esse fim, encontravam-se à margem de certo rio, trazendo Dríope o filho nos braços, quando viram um lótus cheio de flores de cor púrpura. A mamãe feliz colheu algumas delas e ofertou-as à sua criança. Ao levar a mão para também colhê-las, Iole notou que as hastes, de onde sua irmã apanhara as flores, vertiam sangue.

As duas irmãs quedaram-se horrorizadas com a cena. Queriam fugir daquele local, mas já era tarde. Dríope, responsável por ter apanhado as flores, começou a sentir seu corpo agregado ao solo, como se estivesse criando raízes. Como se isso não bastasse, sentiu-o endurecendo e seus braços e mãos enchendo-se de folhas. Estava se transformando numa árvore. Iole abraçou-a na tentativa de impedir sua metamorfose, mas em vão. Nesse ínterim, chegaram Andrêmon e o pai das duas mulheres. Ao tomarem conhecimento do acontecido, enlearam o tronco da árvore, ainda com a quentura do corpo de Dríope, enchendo-o de lágrimas, beijos e abraços. Mas isso não impediu que a transformação continuasse.

O rosto de Dríope foi o último a transformar-se, dando-lhe tempo para dizer aos seus que se sentia injustiçada, pois nunca fizera mal a nenhum ser vivo, não merecendo aquela sorte malfazeja. Entregou-lhes o filho, pedindo-lhes que o levassem sempre para brincar debaixo de sua sombra. E, quando ele já se encontrasse maior, ensinasse-lhe a chamá-la de mãe, contando-lhe sua história. E, sobretudo, instruísse-o a ter cuidado com as flores que colhesse nas margens dos rios, alertando-o para o fato de que em cada moita de arbustos poderia ali se encontrar uma deusa dissimulada.

Antes da conclusão de sua metamorfose final, Dríope pediu a seus entes queridos que não permitissem que seu tronco fosse ferido pelo machado e nem que os rebanhos corroessem seus galhos. Que subissem em seu tronco e beijassem seu rosto, e levantassem seu filho para que ela o beijasse, enquanto ainda trazia um alento de vida humana.

Depois de cumprido o ritual pedido pela pobre Dríope, nada mais havia nela que lembrasse a linda mulher que fora, a não ser o calor de seu corpo que na árvore permaneceu por algum tempo. Para aqueles que indagam sobre o porquê de tão triste história, informo-lhes que a planta da qual a jovem mulher arrancara as flores não era outra senão a ninfa Lótus, que se metamorfoseara, ao fugir de um brutal perseguidor. Mas quem pagou o pato foi a bela Dríope. Esse é o mundo dos deuses, e por sinal muito parecido com o nosso.

Nota: Dríope Transformada em Árvore, obra de Julien de Parme

Fontes de pesquisa
O Livro de Ouro da Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM

Mit. – A DISPUTA ENTRE MINERVA E ARACNE

Recontado por Lu Dias Carvalho

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A deusa Minerva, filha de Júpiter, dentre outras qualidades, era exímia na arte da fiação, tecelagem e nos trabalhos com agulha. Contudo, Aracne, uma mortal, possuía também grande habilidade nas artes de tecer e bordar. Muitos diziam que fora Minerva a sua mestra, o que a deixava muito aborrecida, a ponto de desafiar a deusa, por achar-se muito melhor do que ela. Minerva ainda tentou persuadi-la de tamanha loucura, ao tomar a forma de uma velha, exortando-a pedir perdão à deusa e deixar de lado tal ousadia. Mas a tecelã humana sentiu-se aborrecida com os conselhos recebidos. Mesmo após Minerva deixar o seu disfarce, e mostrar-se como tal, Aracne continuou reafirmando que não abriria mão do desafio.

E assim teve início a competição. Minerva escolheu como tema a cena em que disputava com Netuno, e recebeu como prêmio a cidade de Atenas, sendo representado os 12 poderes celestes, com Júpiter no meio. Nos cantos da tela, bordou cenas que mostravam o dissabor dos deuses com os mortais arrogantes que queriam competir com eles. Aracne, por sua vez, bordou cenas em que criticava a postura dos deuses, principalmente a do deus dos deuses: Júpiter disfarçando-se em cisne para seduzir Leda; Dânae presa numa torre por seu pai, na qual Júpiter penetrava sob o disfarce de uma chuva de ouro; Europa, sendo enganada por Júpiter, ao tomar a forma de um touro e levá-la para Creta, etc.

Até mesmo Minerva encantou-se com o bordado de Aracne, mas não poderia aceitar tamanha desfaçatez para consigo, uma deusa. Encostou a mão na sua testa, levando-a a se sentir envergonhada e culpada por seu ato de arrogância. A tecelã humana ficou tão desequilibrada, que terminou enforcando-se. Coitada! Mas a deusa, ao observá-la pendente numa corda, apiedou-se dela, permitindo que vivesse, juntamente com sua descendência, sempre pendente em fios, e transformou-a numa aranha.

Nota: Minerva e Aracne, obra de Luca Giordano

Fontes de Pesquisa
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM

Mit. – A PAIXÃO DE APOLO POR JACINTO

Recontado por Lu Dias Carvalho

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O deus Apolo quedou-se de amores pelo jovem mortal Jacinto. Sua paixão era tamanha, que o seguia por onde quer que fosse. Nada mais chamava a sua atenção. Até mesmo sua amada lira e suas setas eram esquecidas, quando se encontrava na companhia do namorado.

De uma feita, estavam Apolo e Jacinto brincando com um disco, quando esse, ao ser acionado pelo primeiro, repicou na terra e atingiu a testa do segundo. Jacinto tombou no chão, com o sangue a esguichar-lhe do ferimento. Apolo tomou-o nos braços, tentando inutilmente cessar o sangue que afluía. Não demorou muito para que a cabeça do jovem tombasse sobre seu ombro, anunciando a sua morte. Desesperado, Apolo recriminava-se pelo acontecido. Dizia ter sido ele o responsável pela morte de Jacinto, roubando-lhe a juventude. Mas haveria de conservá-lo em vida, ainda que fosse na forma de uma flor.

As palavras de Apolo fizeram com que o sangue de Jacinto, que encharcara a relva, desse vida a uma flor púrpura. E para eternizar seu lamento, escreveu em cada pétala sua expressão de dor “Ai, Ai!”. E assim nasceu a flor de nome “jacinto”.

É triste, porém, saber que a morte do jovem deveu-se não a um erro de Apolo, mas ao ciúme pérfido de Zéfiro (vento oeste) que também se apaixonara pelo belo Jacinto, que, por sua vez, preferiu Apolo. Movido por um forte despeito, como quem diz “Se não é meu, também não será de outrem!”, Zéfiro desviou o disco de modo a atingir o jovem Jacinto.

Nota: A Morte de Jacinto, obra de Jean Broc

Fontes de pesquisa
O Livro de Ouro da Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM

Mit. – VÊNUS, ADÔNIS E A ANÊMONA

Recontado por Lu Dias Carvalho

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Cupido, o deus do amor, e sua mãe, a bela Vênus, gostavam muito de brincar. E foi assim que ela se feriu em uma das setas que o menino carregava. E, por azar ou sorte, antes que a ferida fosse cicatrizada por completo, a deusa avistou o encantador Adônis, e quedou-se de amores por ele, relegando toda a vida que levara antes, pois a paixão, que sentia, tirara-lhe o gosto por outros prazeres.

Adônis era ainda muito jovem e intrépido, o que levou Vênus a preocupar-se com ele. Por isso, ensinou-lhe como lidar com os animais, sobretudo com os corajosos, lembrando-lhe que sua beleza, que tanto a encantava, não seduziria o coração dos leões e dos javalis, de modo que melhor seria deixá-los em paz do que enfrentá-los. A seguir, embarcou em seu carro puxado por cisnes e subiu pelos céus.

Infelizmente Adônis, em sua altivez, não se deixou guiar pelos conselhos da experiente Vênus. Queria provar a si mesmo que seria capaz de obter a caça que quisesse. E foi assim que, ao ver um javali, lançou sobre ele seu dardo, machucando o animal. Ferido, mas ainda munido de uma força extraordinária, esse arrancou o dardo com seus possantes dentes e pôs-se a perseguir o jovem. Ao alcançá-lo, fincou-os no seu flanco, deixando-o agonizante.

Mesmo nos ares, Vênus conseguiu ouvir os gemidos de seu amado. Imediatamente fez com que seus cisnes retornassem ao local, onde o deixara, para encontrá-lo envolto no próprio sangue. Para consolar-se de sua imensa dor, transformou o sangue de Adônis numa flor parecida com a romã, conhecida por anêmona ou flor-do-vento.

Nota: A Metamorfose da Morte de Adônis, obra de Marcantonio Franceschini

Fontes de pesquisa
O Livro de Ouro da Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM

Mit. – ÉDIPO, A ESFINGE E JOCASTA

Recontado por Lu Dias Carvalho

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O oráculo estava sempre a mudar o destino dos humanos. E foi por isso que Laio, rei de Tebas, foi obrigado a abrir mão de seu filho recém-nascido, após ser advertido por um oráculo de que, caso esse viesse a crescer, tanto seu trono quanto sua vida correriam sério perigo. Diante de tal infortúnio, o rei delegou a um pastor a tarefa de matá-lo. Mas condoído por ter que dar cabo a um bebê, e também com medo de desobedecer a seu rei, o pobre homem amarrou a criança de cabeça para baixo numa árvore, e ali a deixou para que perecesse. Porém, um camponês encontrou-a e levou-a para seus amos, que a adotaram como filho, dando-lhe o nome de Édipo.

Muitos e muitos anos depois, já sendo Édipo um belo rapaz, o rei Laio, a caminho de Delfos, encontrando-se em seu carro, acompanhado por um de seus escravos, deparou-se com o rapaz, também em seu carro, na mesmíssima estrada. Esse se recusou a ceder o caminho ao rei, tendo por isso um dos cavalos morto pelo escravo. Revoltado, Édipo acabou matando o rei e o servo que o seguia, cumprindo-se a profecia do oráculo.

Poucos anos após tal acontecimento, Tebas viu-se sob o poder de um terrível monstro denominado Esfinge, metade leão (parte inferior) e metade mulher (parte superior), que era o terror dos viajantes, pois, do alto de um rochedo, obrigava todos a pararem, a fim de decifrar o enigma que lhes propunha. Quem respondesse seria salvo, e quem se desse mal seria morto. Nem é preciso dizer que todos pereciam. Ninguém mais queria ir a Tebas, tamanho era o amedrontamento dos viajores. Até que Édipo tomou para si a tarefa de dar fim à Esfinge, ainda que os relatos ouvidos fossem tenebrosos. E foi assim que, ao encontrá-la, ouviu o seu pérfido enigma:

– Qual é o animal que anda com quatro pés de manhã, com dois à tarde e com três à noite?

– É o homem, pois na infância ele engatinha, na juventude caminha ereto e na velhice, além dos dois pés, ainda usa um bastão. – respondeu-lhe prontamente o jovem Édipo.

Envergonhada, pois achava-se a tal, a Esfinge jogou-se do alto do rochedo, espatifando-se no chão. E Tebas passou a viver em paz. Em agradecimento, o povo da cidade proclamou Édipo como rei, dando-lhe a mão da rainha Jocasta, que ficara viúva com a morte do rei Laio, em casório. Portanto, o jovem herói não apenas matou o pai, como acabou se casando com a própria mãe, por desconhecer sua origem. Sem culpa alguma.

Tempos depois, a cidade de Tebas viu-se novamente devastada por outro flagelo – a peste. E de novo houve uma consulta ao oráculo, que revelou a causa daquela desgraça: o rei Édipo havia cometido dois crimes abomináveis, ao matar o pai e casar-se com a mãe. Horrorizada, Jocasta matou-se, enquanto Édipo, desvairado, furou os próprios olhos e abandonou Tebas. Todos os que o amavam abandonaram-no, exceto suas filhas, que o acompanharam em sua cegueira. Mas os deuses apiedaram-se desse homem inocente, restituindo-lhe a visão, após longo tempo de caminhada.

Nota: Édipo e a Esfinge, obra de Gustave Moreau

Fontes de Pesquisa
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM