Arquivo da categoria: Música

Estudo sobre os grandes nomes da pintura mundial, incluindo o estudo de algumas de suas obras

ARRASTÃO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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“Arrastão” passou a ser um divisor de águas, provocando o surgimento de uma música popular moderna, abreviada na sigla MPB. (Zuza Homem de Mello)

O I Festival da TV Excelsior, acontecido em 1965, quando o país encontrava-se em plena ditadura militar, contou com 1.290 canções inscritas. Desse total, 36 foram escolhidas. Para a escolha das 12 finalistas foram organizadas 3 eliminatórias, responsáveis por escolher 4 canções em cada uma.

Arrastão, letra de Vinícius de Moraes e música de Edu Lobo, defendida pela voz explosiva da gaúcha Elis Regina, foi escolhida na segunda eliminatória, sob intensa ovação da plateia presente, num clima de “já ganhou”. No dia seguinte, vários jornalistas noticiaram em suas colunas o sucesso da canção, elegendo-a como a melhor das duas eliminatórias. Contudo, um dos jurados, Eumir Deodato, naquele clima ferrenho de disputa que ocorria nos festivais, acusou-a de ser um plágio de uma música de Villa-Lobos, mas não teve como provar tal inverdade.

Ao contrário do que fora planejado antes, para agradar alguém poderoso no meio artístico, as finalistas passaram a ser 13 em vez de 12 canções. Mas Arrastão continuava a ser mais comentada em todo o país, mesmo após a terceira eliminatória, quando já se tinha todas as finalistas. Sua torcida era cada vez maior.

No dia da final, antes de chegar a sua vez de cantar, Elis Regina recebeu um bilhete de Vinícius de Moraes que se encontrava na plateia, dizendo: “Arrasta essa gente aí, Pimentinha!”. E foi exatamente o que ela fez com sua voz arrebatadora, cativando e fascinando o júri, a plateia do festival, as pessoas que se encontravam em casa e a mídia da época. Ela usava o gestual de seus braços jogados para trás, como se fosse um pescador puxando a rede. E se Arrastão saiu vitoriosa do festival, Elis Regina saiu dali consagrada, para sempre.

Segundo Edu Lobo, um desconhecido à época, a inspiração para compor a música de Arrastão nasceu quando ele se encontrava na casa de Dorival Caymmi. Depois, procurou Vinícius que escreveu a letra, enquanto ele tocava ao violão a música. Em pouco tempo estava pronta a canção. A letra refere-se à Santa Bárbara, porque ela é invocada, tanto no Brasil quanto em Portugal, como protetora contra raios, trovões e tempestades, enquanto Iemanjá é a nossa conhecida “rainha do mar”. Leiam a letra e ouçam a música, abaixo. E se emocionem!

Arrastão
Música: Edu Lobo
Letra: Vinícius de Moraes
Intérprete: Elis Regina

Ê, tem jangada no mar
Ê, hoje tem arrastão
Ê, todo mundo pescar
Chega de sombra, João
Jovi
Olha o arrastão entrando no mar sem fim
Ê, meu irmão, me traz Iemanjá pra mim
Minha Santa Bárbara
Me abençoai
Quero me casar com Janaína
Ê, puxa bem devagar
Ê, ê, ê, já vem vindo o arrastão
Ê, é a rainha do mar
Vem, vem na rede João
Pra mim
Valha-me meu Nosso Senhor do Bonfim
Nunca jamais se viu tanto peixe assim

https://www.youtube.com/watch?v=zXocIps3KdQ/

Fontes de pesquisa
A era dos festivais/ Zuza Homem de Mello
Uma noite em 67/ Renato Terra e Ricardo Calil
Chico Buarque/ Wagner Homem

OLÊ, OLÁ

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Acho que a canção trazia uma coisa além de “Pedro Pedreiro”. Eu me lembro de que fiquei uns três ou quatro meses sem mostrar a ninguém. (Chico Buarque)

Foi num show em que cantava Olé, Olá que Chico Buarque ficou conhecendo Caetano Veloso. O compositor e cantor baiano  apaixonou-se pela melodia da música e pela destreza com que o novo amigo conduzia a letra.

Olê, Olá foi composta em 1965 e gravada no primeiro LP de Chico, denominado Chico Buarque de Hollanda, em 1966.

Olê, Olá
Autoria: Chico Buarque
Intérprete: Chico Buarque

Não chore ainda não
Que eu tenho um violão
E nós vamos cantar
Felicidade aqui
Pode passar e ouvir
E se ela for de samba
Há de querer ficar
Seu padre, toca o sino
Que é pra todo mundo saber
Que a noite é criança
Que o samba é menino
Que a dor é tão velha
Que pode morrer
Olê olê olê olá
Tem samba de sobra
Quem sabe sambar
Que entre na roda
Que mostre o gingado
Mas muito cuidado
Não vale chorar
Não chore ainda não
Que eu tenho uma razão
Pra você não chorar
Amiga, me perdoa
Se eu insisto à toa
Mas a vida é boa
Para quem cantar
Meu pinho, toca forte
Que é pra todo mundo acordar
Não fale da vida
Nem fale da morte
Tem dó da menina
Não deixa chorar
Olê, olê, olê, olá
Tem samba de sobra
Quem sabe sambar
Que entre na roda
Que mostre o gingado
Mas muito cuidado
Não vale chorar
Não chore ainda não
Que eu tenho a impressão
Que o samba vem aí
E um samba tão imenso
Que eu às vezes penso
Que o próprio tempo
Vai parar pra ouvir
Luar, espere um pouco
Que é pra o meu samba poder chegar
Eu sei que o violão
Está fraco, está rouco
Mas a minha voz
Não cansou de chamar
Olê olê olê olá
Tem samba de sobra
Ninguém quer sambar
Não há mais quem cante
Nem há mais lugar
O sol chegou antes
Do samba chegar
Quem passa nem liga
Já vai trabalhar
E você, minha amiga,
Já pode chorar

Nota: ouçam a música: http://letras.mus.br/chico-buarque/45157/

Fontes de pesquisa:
Chico Buarque/ Wagner Homem/ Editora LeYa
Coleção Chico Buarque/ Editora Abril

TAMANDARÉ

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Ao ser convidado para compor as canções do show Tamandaré, Chico fez a música Tamandaré (1965), na qual se divertia com o Marquês de Tamandaré que, à época, tinha sua imagem impressa na cédula de 1 cruzeiro. Mas o período não estava para peixe miúdo, com a ditadura arrebentando o país. Assim sendo, a nossa Marinha não gostou da caçoada, vendo na canção uma afronta e um grande desrespeito ao seu ilustre patrono. De modo que Tamandaré foi banida, naufragando em mares dantes navegados.

A canção Tamandaré só foi gravada em 1991 no CD Chico em Cy, pelo quarteto em Cy. Vale a pena conhecer a ironia nela contida.

Tamandaré
Autoria: Chico Buarque
Intérprete: Quarteto em Cy

Zé qualquer tava sem samba, sem dinheiro
Sem Maria sequer
Sem qualquer paradeiro
Quando encontrou um samba
Inútil e derradeiro
Numa inútil e derradeira
Velha nota de um cruzeiro
“Seu” Marquês, “seu” Almirante
Do semblante meio contrariado
Que fazes parado
No meio dessa nota de um cruzeiro rasgado
“Seu” Marquês, “seu” Almirante
Sei que antigamente era bem diferente
Desculpe a liberdade
E o samba sem maldade
Deste Zé qualquer
Perdão, Marquês de Tamandaré
Perdão, Marquês de Tamandaré
Pois é, Tamandaré
A maré não tá boa
Vai virar a canoa
E este mar não dá pé, Tamandaré
Cadê as batalhas?
Cadê as medalhas?
Cadê a nobreza?
Cadê a marquesa, cadê
Não diga que o vento levou
Teu amor até
Pois é, Tamandaré
A maré não tá boa
Vai virar a canoa
E este mar não dá pé, Tamandaré
Meu marquês de papel
Cadê teu troféu?
Cadê teu valor?
Meu caro almirante
O tempo inconstante roubou
Zé qualquer tornou-se amigo do marquês
Solidário na dor
Que eu contei a vocês
Menos que queira ou mais que faça
É o fim do samba, é o fim da raça
Zé qualquer tá caducando
Desvalorizando
Como o tempo passa, passando
Virando fumaça, virando
Caindo em desgraça, caindo
Sumindo, saindo da praça
Passando, sumindo
Saindo da praça

Nota: link para ouvir a música https://www.youtube.com/watch?v=kubDXfi5ASA

Fontes de pesquisa
Coleção Chico Buarque/ Editora Abril
Chico Buarque/ Wagner Homem/ Editora LeYa

PEDRO PEDREIRO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Quando fiz “Pedro Pedreiro” tive a sensação de que pela primeira vez estava compondo uma música realmente minha, que não era mais imitação da Bossa Nova. (Chico Buarque)

Segundo Chico Buarque, esta canção, Pedro Pedreiro, feita em 1965, fazia parte do movimento de oposição à ditadura instalada pelo Golpe Militar de 1964. Naquela época, ainda era possível contestar através do cinema, do teatro e da música, enquanto fora de tais espaços tudo estava proibido. O mundo das artes ainda conseguia furar o esquema repressivo.

É interessante notar que Chico, a exemplo de Guimarães Rosa, a quem sempre admirou, criou uma palavra nova, inexistente no dicionário da língua portuguesa. Reservo ao leitor alguns minutos para que a encontre. A música Pedro Pedreiro foi lançada no disco Chico Buarque de Hollanda, sendo também gravada em italiano.

A canção Pedro Pedreiro possui 60 versos e a palavra “esperando” aparece 36 vezes. E, como já naquela época, os meios de comunicação estivessem mais preocupados com os ganhos financeiros de que com a qualidade da mercadoria, um dos produtores do programa de Abelardo Barbosa (Chacrinha) dirigiu-se abruptamente ao cantor e compositor, referindo-se ao tamanho de sua canção, dizendo:

– Não dá para esse trem chegar mais cedo, não?

Chateado com o desrespeito do moço, Chico simplesmente apanhou seu violão e deixou a TV Excelsior, pois jamais estropiaria sua música para agradar a mídia. Não sabia o atrevido produtor  da besteira que acabara de cometer, pois o sucesso de Pedro Pedreiro foi tão grande que Chico Buarque foi convidado por Roberto Freire para musicar o auto de Natal do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto, Morte e Vida Severina (1955). Chico tinha apenas 21 anos de idade à época.

A peça Morte e Vida Severina viria a ganhar o primeiro prêmio no IV Festival Internacional de Teatro Universitário de Nancy – França, sendo aplaudida pela plateia por mais de 10 minutos. (A palavra criada pelo compositor é “penseiro”)

Pedro Pedreiro
Autoria: Chico Buarque
Intérprete: Chico Buarque

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem
De quem não tem vintém
Pedro pedreiro fica assim pensando
Assim pensando o tempo passa
E a gente vai ficando prá trás
Esperando, esperando, esperando
Esperando o sol,
Esperando o trem
Esperando aumento
Desde o ano passado
Para o mês que vem
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem
De quem não tem vintém
Pedro pedreiro espera o carnaval
E a sorte grande do bilhete pela federal
Todo mês
Esperando, esperando, esperando,
esperando o sol
Esperando o trem,
Esperando aumento
Para o mês que vem
Esperando a festa
Esperando a sorte
E a mulher de Pedro,
Está esperando um filho
Pra esperar também
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro está esperando a morte
Ou esperando o dia de voltar pro Norte
Pedro não sabe, mas talvez no fundo
Espere alguma coisa mais linda que o mundo
Maior do que o mar,
Mas pra que sonhar
se dá o desespero de esperar demais
Pedro pedreiro quer voltar atrás
Quer ser pedreiro pobre e nada mais
Sem ficar esperando, esperando, esperando
Esperando o sol
Esperando o trem
Esperando aumento para o mês que vem
Esperando um filho pra esperar também
Esperando a festa,
Esperando a sorte
Esperando a morte,
Esperando o Norte
Esperando o dia de esperar ninguém
Esperando enfim nada mais além
Da esperança aflita, bendita, infinita
Do apito de um trem
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando o trem
Que já vem, que já vem, que já vem (etc)

Nota: ouçam a gravação em:https://www.google.com.br/#q=Chico+-+PEDRO+PEDREIRO

Fontes de pesquisa
Chico Buarque/ Wagner Homem/ Editora LeYa
Coleção Chico Buarque/ Editora Abril

Marchinha – PRAÇA ONZE

Autoria de Edward Chaddad cas1234

A Praça Onze, nos idos de 1930, era um local lindo, honrando as tradições culturais e de beleza do Rio de Janeiro. Nele, as primeiras escolas de samba se reuniram e desfilavam na Cidade Maravilhosa.

A Praça Onze acabou desaparecendo com a construção da Avenida Presidente Vargas, mas, na época, como protesto, Herivelto Martins compôs junto com o mineiro Grande Otelo, a Praça Onze, música que passou fazer parte da história do povo carioca.

Esta música foi gravada pelo Trio de Ouro, com Castro Barbosa e o regional de Benedito Lacerda, e se tornou um dos grandes sucessos do compositor e do Trio de Ouro, onde cantavam Herivelto, Dalva de Oliveira e Nilo Chagas. Foi um estouro, um sucesso no carnaval de 1942.

Vejam a letra desse maravilhoso samba de protesto, mas sobretudo sublime, eternizado pelo Trio de Ouro, e ouça a música, clicando no link.

PRAÇA ONZE

Vão acabar com a Praça Onze,
Não vai haver mais Escola de Samba, não vai.
Chora o tamborim,
Chora o morro inteiro,
Favela, Salgueiro,
Mangueira, Estação Primeira.
Guardai os vossos pandeiros, guardai,
Porque a Escola de Samba não sai.
Adeus minha Praça Onze,
Já sabemos que vais desaparecer,
Leva contigo, a nossa recordação,
Eternamente gravada em nosso coração.
E algum dia, nova praça nós teremos,
E o teu passado,
Cantaremos!

Vídeo de autoria de Jarbas Agnelli, onde aparece a imagem da Praça Onze, quando existia. Foi feito para exposição A Imagem do Som do Samba – Produção pela AD Studio:
http://youtu.be/lxKlvgBRiWE

Ana Costa e Pedro Paulista Malta
http://youtu.be/A_s8-40UPoA

Marchinha de Carnaval – LINDA LOURINHA

Autoria de Edward Chaddad carn.1

Na década de trinta, Lamartine Babo e Braguinha, esse também conhecido como João de Barro, foram os dois grandes compositores das marchinhas carnavalescas.

No último texto que fiz sobre marchinhas de Carnaval, discorri sobre Lamartine Babo e suas composições: O Teu Cabelo Não Nega e Linda Morena, dois grandes sucessos do Carnaval brasileiro, respectivamente, dos anos de 1931 e 1932.

Recordemos que, em 1932, Lamartine tentou se redimir de versos preconceituosos feitos em O Teu Cabelo Não Nega (1931) e o fez de forma magnífica, compondo uma marchinha maravilhosa, Linda Morena, em que faz uma verdadeira declaração de amor:

“Linda morena, morena,
Morena que me faz penar.
A lua cheia que tanto brilha
Não brilha tanto quanto o teu olhar.”

Com o bom êxito de Linda Morena,  um dos grandes sucessos do Carnaval de 1932, Braguinha aproveitou-se do tema e, no Carnaval de 1933,  compôs também outra pérola da nossa música, agora homenageando as loirinhas.

LINDA LOURINHA
(Composição de Braguinha)

Lourinha, lourinha,
Dos olhos claros de cristal,
Desta vez em vez da moreninha,
Serás a rainha de meu carnaval!
Loura boneca,
Que vens de outra terra,
Que vens da Inglaterra,
Que vens de Paris,
Quero te dar
O meu amor mais
Do que o sol ardente
Deste meu país!

Linda loirinha,
Tens o olhar tão claro
Deste azul tão raro
Como um céu de anil,
Mas as tuas faces
Vão ficar morenas
Como as das pequenas
Deste meu Brasil!

Para ouvirem a música, acessem o link abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=S5jk0fG3vfE