Arquivo da categoria: Pinacoteca

Pinturas de diferentes gêneros e estilos de vários museus do mundo. Descrição sobre o autor e a tela.

Veronese – ALEGORIA DO AMOR: INFIDELIDADE

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição Alegoria do Amor: Infidelidade, também conhecida por Disputa do Amor, é uma obra do pintor italiano Paulo Veronese, que fez uma série de quatro alegorias relativas ao amor, denominadas: “Respeito”, “Infidelidade”, “União Feliz” e “Desdém”, cujos significados precisos ainda estão encobertos, trabalhando os estudiosos apenas com suposições.

A tela em questão apresenta um pequeno grupo, onde estão inclusos uma mulher nua, que é a figura principal da composição, dois homens, sendo um soldado e um jovem, e duas crianças (putti), tendo por fundo um céu azul-acinzentado. Os personagens estão sob um dossel formado pelos galhos folhosos de possantes árvores.

A mulher encontra-se no meio da composição, de costas para o observador, sobre um manto verde. Ela traz na mão uma carta secreta, que repassa ao jovem, ou recebe desse. Seus braços abertos formam um harmonioso arco, que une o soldado sentado, à direita, ao jovem de pé, à esquerda. Seus cabelos dourados, penteados em tranças, são iluminados por toques de luz. Usa enfeites na cabeça, um colar de pérolas no pescoço e uma pulseira no pulso esquerdo. Uma das crianças segura sua perna esquerda.

Existe a teoria de que esta pintura refere-se a um triângulo amoroso clássico, conforme leva a crer a presença de Cupido na composição, à esquerda, observando a cena meio de perfil. Os trajes e os penteados vistos na pintura remetem a uma data no século XVI. É provável que a série em questão tenha sido criada para decorar um teto.

Ficha técnica
Ano: c. 1575-80
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 189 x 189 cm
Localização: Galeria Nacional, Londres, Grã-Bretanha

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
https://www.nationalgallery.org.uk/paintings/paolo-veronese-unfaithfulness

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Veronese – AS BODAS DE CANAÃ

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Paulo Veronese (1528-1588) foi um importante pintor italiano de finais do Renascimento. A composição As Bodas de Canaã é uma representação bíblica do artista, pintada para o refeitório do Convento de São Jorge Maggiore em Veneza, sob encomenda dos monges beneditinos. O pintor gostava de trabalhar com o tema do banquete ou jantar, como mostram muitas de suas pinturas. Ele contextualizava os acontecimentos religiosos no luxuoso cenário da Veneza do século XVI.

A pintura que alude à transformação da água em vinho possui cerca de 130 personagens e mostra um suntuoso banquete. Estão presentes pessoas com vestimentas coloridas e exóticas e também servos, anões, animais de estimação, etc. À primeira vista parece reinar uma grande confusão visual, até que os olhos acostumem-se com a tela, podendo extasiar-se diante dos mínimos detalhes que não escaparam ao pincel do artista.  Chama a atenção as toalhas bordadas e a prataria luxuosa, assim como a arquitetura clássica. A obra apresenta uma bela vista panorâmica, onde se descortinam palácios, campanários e varandas, tendo ao fundo um céu azul com nuvens brancas. Além de mostrar grande interesse pela arquitetura, o pintor na sua série de pinturas bíblicas e na qual também se inclui “Banquete na Casa de Levi”, mostra a vida de opulência dos palácios venezianos à época.

A festa de casamento é celebrada numa praça pública, ladeada por imensas colunas caneladas, cobertas por capitéis coríntios. Em primeiro plano está uma imensa mesa em forma de U, onde se encontram os convidados. Atrás desses, em segundo plano,  está uma varanda alta por onde trafegam os servidores, carregando pratos e bandejas, tendo acesso à mesa do banquete através de duas escadas laterais. Na parte central do primeiro plano Jesus Cristo, ladeado por sua mãe e discípulos, preside a mesa. Ele tanto ocupa o centro dessa como o centro da tela. Uma auréola indicando sua divindade distingue-o, juntamente com Maria, dos demais convidados. Também estão representados na pintura os monges beneditinos e clientes do pintor luxuosamente vestidos.

Um grupo de músicos ocupa a parte central do quadro, postados de costas para Jesus. Veronese mescla personagens bíblicos com pessoas da época. Inclusive, segundo boatos surgidos no século XVIII, o próprio artista encontra-se representado na obra, vestido de branco e tocando uma viola de gamba. Ainda segundo essa mesma lenda, Ticiano seria o homem de vermelho a tocar um violoncelo, ali também se encontrando Tintoretto e Bassano. Ou seja, os “quatro grandes” artistas da pintura de Veneza aparecem no papel de músicos. Como é comum às obras do pintor, ali também se encontram cães, pássaros (inclusive um periquito seguro por um anão à esquerda) e um gato.

Um quadro do tamanho deste exigia muitas pessoas para ajudar o pintor. Além de seus aprendizes e pintores anônimos, Veronese contou com a ajuda de um sobrinho e de seu irmão Benedetto Caliari. Esse último serviu também de modelo, sendo ele o homem suntuosamente vestido que levanta uma taça de vinho e o examina. Os convidados presentes à festa não parecem perceber a transformação da água em vinho, preocupados em comer e divertir-se. Apenas alguns poucos parecem dar conta do milagre, pois o lado espiritual é suplantado pelo terreno.

Chama a atenção o grupo de ajudantes na varanda, destrinchando carne, ação que também simboliza o sacrifício do cordeiro. O vasilhame da festa é feito de cristal, ouro e prata. Cada convidado tem acesso individualmente a garfo, faca e guardanapo. Uma das damas, à esquerda, limpa os dentes com um palito de ouro. Os marmelos, servidos como sobremesa, simbolizam o casamento. Muitas das pessoas em volta da mesa estão suntuosamente vestidas, sendo algumas vindas de outras terras, como mostram suas vestimentas. Curiosos, de suas varandas, observam o desenrolar da festa.

Na sua pintura Veronese faz uso de vários pigmentos vindos do Oriente, como vermelhos fortes, lápis-lazúli e diversos tons de amarelo-laranja. Com o tempo as cores foram se apagando, mas através de uma restauração que durou três anos, elas foram recuperadas. Apesar do tamanho da tela, as tropas de Napoleão, durante campanha na Itália em 1797, sob seu comando, enrolaram-na e enviaram-na para Paris, onde se encontra até os dias de hoje.

Ficha técnica
Ano: 1562/1563
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 677 x 994 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fontes de pesquisa
Los secretos de las obras de arte/ Tachen
Varonese/ Abril Cultural
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
Mil obras-primas da pintura europeia/ Könemann
http://www.louvre.fr/en/oeuvre-notices/wedding-feast-cana

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Lucas van Leyden – O SERMÃO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição O Sermão é uma obra do pintor holandês Lucas van Leyden (1494-1533), considerado um dos gênios da pintura quinhentista europeia. Seu primeiro professor foi seu pai, Hugo Jacobsz, vindo depois a estudar com o mestre Cornelis Engelbrechtsch. O artista era tão talentoso que aos dezesseis anos de idade compôs sua primeira gravura. Nutria grande admiração por Albrecht Dürer, tendo estudado meticulosamente seus escritos.

Além de pintor, Lucas era também gravurista, xilogravurista e pintor de vidro, tendo deixado trabalhos maravilhosos. Era dono de uma criatividade fascinante. Não existem provas de que tenha ido à Itália, contudo, suas elaboradas pinturas mostram influências italianas, assim como holandesas e alemãs.

Embora os três filhos de Cornelis Engelbrechtsch (Pieter, Cornelis e Lucas) fossem pintores e o trabalho dos três não fosse diferenciado, O Sermão é atribuído a Luca van Leyden, mesmo não trazendo o minucioso desenvolvimento espacial e tampouco a sensível estrutura linear empregada pelo artista em suas obras. O quadro também já foi atribuído a seu irmão Pieter Cornelisz e a Aertgen van Leyden.

No púlpito da igreja, um padre, todo paramentado, fala aos fiéis. À direita estão seis figuras masculinas de pé, que devem ser, provavelmente, os doadores. A segunda figura, da esquerda para a direita, sentado numa cadeira, trajando um manto vermelho, pode ser um autorretrato do próprio artisra.

Ficha técnica
Ano: c. 1530
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 133 x 97 cm
Localização: Rijksmuseum, Amsterdam, Holanda

Fonte de pesquisa
A Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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Benozzo Gozzoli – S. DOMINGOS RESSUSCITA NAPOLEÃO…

Autoria de Lu Dias Carvalho

O painel São Domingos Ressuscita Napoleão Orsini que Caiu do Cavalo é uma obra do pintor italiano Benozzo Gozzoli (1420-1497), cujo nome de nascimento era Benozzo di Lese. Ele é tido como detentor dos estilos da pintura da Toscania e da Úmbria, tendo contribuído para a transição do estilo Gótico para o Renascimeto. Trabalhou com o escultor Lorenzo Ghiberti em Florença e com Fra Angelico na Cidade do Vaticano. Criou afrescos e pinturas sobre madeira. Era dono de um estilo muito vivo de narrativa.

A pintura em questão era parte do retábulo “Madona, Anjos e Santos” que foi encomendado ao pintor pela Confraria da Purificação da Virgem, de Florença. O contrato, muito preciso, estabelecia que:

  1. o artista deveria usar como modelo o retábulo de Fra Angélico em São Marcos;
  2. todo o trabalho teria que ser executado pelo punho do pintor;
  3. o quadro deveria superar qualquer obra até então feita pelo mesmo ou, pelo menos, deveria ser comparável em qualidade.

À esquerda o pequeno Napoleão Orsini, ainda criança,  é visto sob os cascos traseiros de um cavalo empinado e com todo o seu peso sobre ele,  enquanto um jovem de vermelho tenta conter o animal agitado. Da cabeça atingida do menino jorra sangue que se acumula no chão. No meio da pintura, sob um tapete vermelho, onde se vê uma almofada da mesma cor, já restabelecido pelo milagre, o garoto encontra-se de pé, com as mãos em formato de agradecimento, voltado para o santo que o abençoa silenciosamente.

Três mulheres estão sentadas no chão em torno de Napoleão Orsini. Duas delas trazem os olhos fixos em São Domingos, enquanto a terceira observa a criança. Um grupo de pessoas, à direita e próximas ao santo, tendo à frente monges com roupas vermelhas, mostra-se plenamente tocado. Um segundo homem, usando vestes semelhantes às do santo, possivelmente um irmão da mesma ordem, encontra-se atrás desse. A auréola de São Domingos comprova sua santidade.

Ficha técnica
Ano: c. 1461
Técnica: têmpera sobre madeira
Dimensões: 25 x 35 cm
Localização: Museu de Brera, Milão, Itália

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Edit. Könemann
http://www.wga.hu/html_m/g/gozzoli/5various/1orsini.html

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Orazio Gentileschi – SANTA CECÍLIA, SÃO VALERIANO E…

Autoria de Lu Dias Carvalho

A composição Santa Cecília, São Valeriano e São Tibúrcio é uma obra do pintor italiano Orazio Gentileschi (c. 1563-1639), que foi um dos ilustres discípulos do mestre Caravaggio, que participou de seu círculo artístico de painéis. Nasceu em meio a uma família de artistas, tendo estudado o estilo maneirista florentino dos pintores Agnolo Bronzino e Jacopo Pontormo. Trabalhou na corte inglesa de Carlos I. Em sua obra, o artista mescla a tradição toscana com o “caravaggismo”, criando um estilo bonito e tocante.

Nesta pintura, onde cada elemento agrega-se a um jogo complexo, Orazio Gentileschi mostra o momento em que um anjo aparece para o casal Valeriano e Cecília, que havia se convertido ao cristianismo. Conta a lenda que a jovem esposa havia feito votos de castidade, tendo convencido o marido a tomar idêntica postura. Contudo, seu esposo passou a achar que ela estivesse apaixonada por seu amigo Tibúrcio. Para mostrar-lhe que se encontrava enganado, um anjo visitou os três personagens, e também anunciou o martírio pelo qual passaria o casal.

Na pintura, o casal encontra-se ajoelhado, com os olhos voltados para o anjo, em visível  estado de surpresa, enquanto Tibúrcio aparece à porta, também perplexo com a visão. O casal e o amigo encontram-se muito bem vestidos, denotando serem de classe alta. O anjo, com suas asas de grande envergadura, usa um lençol branco amarrado à cintura, trazendo o dorso nu. Ele traz na mão direita uma coroa de rosas, que aponta para Santa Cecília, e na mão esquerda segura uma longa folha de palmeira.

Os elementos estruturais no arranjo da cena são encantadores:

  • a sucessão entre a mão direita de Tibúrcio e o pé direito do anjo;
  • o alinhamento entre a folha de palmeira e os tubos do órgão, à direita;
  • o alinho da coroa de flores com a mão direita de Santa Cecília e o joelho de São Valeriano;
  • os paralelos constituídos: pelas figuras de São Valeriano e Santa Cecília; pelos tubos dos órgãos e o batente da porta; e entre o teclado e as bordas do degrau.

É possível encontrar na obra diferentes influências: toscanas, na construção de caráter neoclássico; o tratamento da luz que remete a Caravaggio; o requintado das superfícies acetinadas e o adamascado das vestimentas, assim como a maciez dos veludos que aludem a Bronzino. Contudo, os gestos rompidos, que ganham destaque em razão do interior sombrio, são característicos do próprio artista Orazio Gentileschi: o jovem Tibúrcio, contra a luz, que da porta observa o anjo; as curvas formadas pelas asas do anjo, por seu corpo e pela folha de palmeira; e os braços abertos do casal.

Ficha técnica
Ano: c.1620
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 218 x 350 cm
Localização: Museu de Brera, Milão, Itália

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

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Botticelli – ADORAÇÃO DOS MAGOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

reis magos

É lamentável perceber que os poderosos são os mesmos em todos os tempos, como se a maldição do poder estivesse entranhada na alma humana, sem nenhuma possibilidade de cura. Observe o querido leitor que, para os virtuosos da Igreja, a pintura de Botticelli tinha por finalidade a disseminação da fé, enquanto para os nobres e os influentes burgueses, ela representava o poder, o domínio e o privilégio. Mas que tipo de poder? Agradar aos mais poderosos e a possibilidade, ainda que ilusória, de barganharem com Deus. Pois sabiam os tais senhores que eles levavam uma vida descomedida, guiada pela usura e pelos prazeres da carne, sem se importar com o povo. Ao terem que deixar a vida terrena, o fardo a carregar seria extremamente pesado. Portanto, nada melhor do que amenizá-lo antes da partida sem volta. E um quadro votivo (ofertado em cumprimento de voto ou promessa) haveria de fazer com que Deus se enternecesse e abrandasse o julgamento do patrono da oferenda.

É interessante notar que, mesmo nas obras predominantemente religiosas, lá estavam eles, os votivos, a lembrarem ao Senhor o quanto foram piedosos e devotados à fé, durante a vida terrena, portanto, deveriam ser recebidos no “paraíso” de braços abertos, em razão de tamanha magnanimidade. Era um tipo de barganha.

Na Adoração dos Reis Magos, de Sandro Botticelli, podemos ver o “suborno” explicitado com bastante clareza. Na sua pintura, o artista reproduz o rosto de vários membros da família Médici e seus amigos. Até mesmo o responsável pela encomenda exigiu que também fosse retratado. E, se Deus se esquecesse da fisionomia de um deles? Melhor seria se acautelar, pois um homem prevenido vale por dois. O artista também é retratado na pintura. Observem:

  1. Guaspare di Zanobi, o aristocrata, que encomendou a tela, aparece no grupo da direita, com o olhar fixo no observador, segurando com a mão enluvada de branco a borda de sua veste azul e dourada.
  2. Os Médici são representados nas vestes dos Reis Magos, os mais importantes depois do Menino Jesus e seus pais.
  3. O rei, que toca o pé do Menino no colo da Virgem, traz as feições de Cosimo, o Velho.
  4. Os dois homens, ajoelhados no centro e à direita, trazem a fisionomia de Piero, o Gotoso e de Giovanni, seu irmão.
  5. Lorenzo, o Magnífico, pensativo, está trajando preto e vermelho, no grupo da direita.
  6. Giuliano, irmão mais novo de Lorenzo, encontra-se empertigado na extrema esquerda da pintura, armado de uma espada.
  7. O próprio pintor Botticelli está representado no grupo da direita, envolto por um manto de cor dourada, observando o espectador.
  8. Os demais personagens, embora representem a nobreza e os grandes burgueses, apoiadores da família dominante, são de difícil reconhecimento.

Nesta pintura é possível perceber a profunda relação que existia entre Sandro Botticelli e os poderosos da família Médici. A reverência era tão grande que Cosimo, o Velho, e seus filhos Piero e Giovanni, são retratados como os Reis Magos. Tanto ontem quanto hoje, tudo continua igual. Nossa espécie não tem mesmo jeito.

Ficha técnica:
Data: 1475
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 111 x 134 cm
Localização: Galleria degli Uffizi, Florença, Itália

Fonte de Pesquisa:
Grandes Mestres/ Abril Coleções
1000 obras primas…/ Könemann
A Arte em Detalhes/ Robert Cumming
A História da Arte/ Sextante

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