Arquivo da categoria: Pinacoteca

Pinturas de diferentes gêneros e estilos de vários museus do mundo. Descrição sobre o autor e a tela.

Bosch – CRISTO INSULTADO

 Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição denominada Cristo Insultado, também conhecida como Cristo Coroado de Espinhos, é uma obra do holandês Hieronymus Bosch, pintor extremamente religioso, tendo sido responsável por inúmeras obras sobre a Paixão de Cristo, que inspiraram outros artistas.

Este painel é um dos trabalhos mais extraordinários de Bosch, em que as cinco figuras presentes são postadas em diagonais, sendo que o ponto de encontro das linhas dá-se na figura de Cristo, repassando a impressão de que ele se encontra pressionado em meio a seus carrascos. Seu olhar foge do de seus algozes e pousa no observador, como se dissesse: “Veja o que estão fazendo comigo!”.

Como já é característico da obra do artista, as quatro figuras em volta de Jesus Cristo, seus torturadores, apresentam rostos grotescos e caricaturais, em que estão presentes os sentimentos de  desdém, ódio, demência e crueldade, num triste paradoxo com o rosto de Jesus, que demonstra  resignação e dor.

O homem de verde, em cujo rosto  está expressa grande crueldade, coloca a coroa de espinho sobre a cabeça de Jesus. O que se encontra às suas costas usa uma coleira de cachorro bravo, como a indicar sua ferocidade. No pano vermelho, que cobre a cabeça do homem no canto inferior esquerdo, são vistas uma lua crescente do Islã e a estrela amarela dos judeus, que o caracterizam como um inimigo do cristianismo.

Ficha técnica
Ano: c. 1480
Técnica: óleo sobre painel de carvalho
Dimensões: 73,7 x 59 cm
Localização: Galeria Nacional, Londres, Grã-Bretanha

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
https://www.nationalgallery.org.uk/paintings/hieronymus-bosch-christ-mocked-the-crowning-with-thorns

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Hugo Van der Goes – ADORAÇÃO DOS PASTORES

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A pintura Adoração dos Pastores é o painel central do Tríptico de Portinari, obra do artista Hugo van der Goes, tido como o principal pintor dos Países Baixos nos finais do século XV. Retrata o nascimento do Menino Jesus. O tríptico de Hugo van der Goes foi uma encomenda de Tommaso Portinari, sendo instalado na capela da família, daí a origem do nome do tríptico. É uma das obras mais belas da pintura de todos os tempos.

A Virgem Maria encontra-se no centro da composição, ajoelhada. O vão ocasionado por suas mãos unidas possui o formato de um coração. Ela usa um majestoso vestido azul e manto da mesma cor. Seus cabelos finos e dourados caem-lhe pelas costas e ombros. Sua pele é muito clara, contrastando com a de José e a dos pastores. Maria olha seriamente para seu Menino que, diante de seu tamanho acima do normal, mostra-se ainda menorzinho.

O Menino Jesus encontra-se nu numa pequena praça, próximo a um estábulo, deitado sobre uma auréola de raios de ouro. Seu corpinho — voltado para sua mãe — é diminuto e sua pele extremamente clara. Os presentes encontram-se ajoelhados (até mesmo os anjos que se encontram  no ar) com as mãos postas em forma de adoração, excetuando os pastores que estão chegando. Todos os olhares convergem para a criança.

Dois grandes anjos esvoaçam dentro do estábulo, enquanto outros quatro — ajoelhados e vestidos com túnicas de um azul claro — ladeiam a Virgem e o Menino, postados à direita e à esquerda. Na parte inferior direita estão cinco anjos ricamente paramentados, portando asas coloridas. Do lado de fora — próximos à estrutura de madeira — estão quatro anjos. Numa cena mais distante, um anjo vestido de branco anuncia aos pastores em meio às suas ovelhas e a um cão a chegada de Jesus. As feições dos anjos são similares à da Virgem, assim como os cabelos, deixando à vista uma longa testa (moda típica da época). Os anjos paramentados são uma referência à Eucaristia. A disposição das figuras é mais ou menos circular. Seus rostos denotam grande expressividade.

José — trajando uma túnica amarronzada e um manto vermelho — encontra-se ajoelhado à esquerda, próximo a uma velha coluna escurecida, logo abaixo de um anjo ricamente vestido. Um dos seus tamancos encontra-se à sua frente e, ao que parece, ele está ajoelhado sobre o outro, conforme mostra um fragmento à vista. Seus cabelos e barba brancos, assim com as rugas em seu rosto e mãos, mostram que já se encontra bastante envelhecido. Ele se posta em profunda adoração diante do filho adotivo.

Três pastores, pintados realisticamente, ao contrário das demais figuras humanas, trazendo nas mãos seus instrumentos de trabalho, apresentam-se na entrada do estábulo. Mais atrás outros dois aproximam-se para ver o acontecimento. Um boi e um jumento encontram-se próximos a uma manjedoura, voltados para o Menino. Em primeiro plano estão dois vasos, cujas flores são retratadas com grande perfeição e delicadeza. Ali estão lírios, cravos e violetas esparramadas pelo chão. As violetas simbolizam humildade; os três cravos são uma referência aos três pregos usados na crucificação de Jesus; os lírios vermelhos simbolizam o sangue de Cristo; e os brancos representam a pureza da Virgem Maria.

Como a corte borgonhesa coibisse os gestos descomedidos e a exposição dos sentimentos, os personagens mostram-se introspectivos e sérios. Os pastores são uma exceção, pois representam o povo, não fazendo parte das regras extensivas à corte. São pintados em tamanho grande e com gestos expansivos e cheios de realismo. Van der Goes coloca-os no mesmo nível dos santos, quanto ao tamanho, apesar de serem tidos à época, como feios e ignorantes. Foi o primeiro pintor a retratá-los dessa manheira, mostrando que estão no mesmo patamar dos santos quando diante de Deus — para quem todos os homens são iguais.

Existem muitas referências bíblicas na composição:

  • a sandália de José diz respeito à passagem do Êxodo;
  • a harpa, sobre a porta da casa ao fundo, refere-se à casa da descendência de Davi, à qual pertencia José;
  • o feixe de espigas de trigo, perto dos vasos com flores, refere-se ao “pão da vida”, o Corpo de Cristo, etc.

Obs.: Vejam o tríptico inteiro em TRÍPTICO DE PORTINARI.

Ficha técnica  (Painel Central)
Ano: c. 1476-1478
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 253 x 304 cm
Localização: Galleria deglu Uffizi, Florença, Itália

Fontes de pesquisa
Gótico/ Editora Taschen
A Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

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Ticiano – RETRATO DE ELEONORA GONZAGA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição Retrato de Eleonora Gonzaga é uma obra do pintor italiano Ticiano, tido como o mais importante pintor veneziano do período denominado “Cinquecento”. O artista trabalhou para as importantes famílias Gonzaga, Este, Farnese e Rovere. Foi também pintor da corte do Imperador Carlos V, do Papa Paulo III e de Filipe II.

Eleonora Gonzaga, Duquesa de Urbino, posa ao lado de uma janela, que se abre para uma paisagem de montanhas.  Encontra-se suntuosamente trajada com um vestido negro de gola quadrada e mangas bufantes, bordado com dourados. Uma camisa branca de tecido trabalhado, com gola de renda e punhos iguais, completa a vestimenta. Sua postura, elegante e altiva mostra sua alta posição social. Encontra-se coberta de joias: brincos de ouro e pérolas, um cordão de ouro com pingente similar aos brincos, dois anéis em cada mão (nos dedos mindinho indicador), e um cinto dourado. Um penteado pomposo enfeita-lhe a cabeça. Suas feições aristocráticas levam a supor que tenha uma personalidade muito forte. Ela não encara o observador, mas olha-o de esguelha.

Um relógio, simbolizando a temperança e a posição social da retratada, e um cãozinho, simbolizando a fidelidade, encontram-se sobre uma mesa forrada com um tapete verde. O animalzinho quebra um pouco da ostentação da duquesa. Este retrato acompanha o de seu marido Francesco Maria della Rovere, duque de Urbino. A duquesa foi uma das mais importantes clientes de Ticiano.

Ficha técnica
Ano: 1517
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 114 x 102 cm
Localização: Galleria deglu Uffizi, Florença, Itália

Fontes de pesquisa
A Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

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Caravaggio – A MORTE DA VIRGEM

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A Morte da Virgem é o maior quadro de altar pintado por Caravaggio e também o que lhe trouxe maiores problemas. A obra foi encomendada por Laerzio Alberti Cherubini, advogado do papa, para sua capela na igreja das Carmelitas de Santa Maria della Scala em Roma. Foi recusada por parte do clero que alegou se tratar de uma obra ofensiva à Igreja, totalmente desprovida de santidade. A pintura recusada foi adquirida pelo duque de Mântua que posteriormente teve que atender o pedido de vários pintores de Roma que desejavam conhecer e estudar a tela antes de sua ida para Mântua — tamanha era a fama que a obra adquirira.

Algumas fontes justificam a recusa pelo fato de Caravaggio ter retratado uma cortesã como modelo para a Virgem, enquanto outras alegam que se deveu ao fato de ele ter pintado a Madona inchada e com as pernas descobertas. Outras ainda dizem que o pintor havia composto a Virgem usando como modelo o cadáver inchado de uma mulher que morrera afogada. Mas a maioria insiste em dizer que o desagrado do clero com o quadro deveu-se sobretudo ao fato de o corpo da Virgem ter sido retratado com indecorosidade.

Os apóstolos são retratados como pessoas comuns que se encontram numa sala, onde exprimem o pesar que sentem pela morte da Madona. Estão pouco reconhecíveis, com o rosto envolto em sombra ou escondido pelas mãos, visivelmente abalados, sob uma imenso dossel vermelho. O homem idoso à esquerda poderá ser São Pedro e o ajoelhado ao seu lado é provavelmente São João.  Ali também se encontra Maria Madalena — única mulher presente na cena. Ela se posiciona à esquerda  da Virgem, sentada numa cadeira, encontrando-se humildemente vestida, com os cabelos desgrenhados e com o rosto oculto, enquanto chora.

Embora emudecido, o grupo mostra-se unido pela dor num sofrimento silencioso. As figuras são quase em tamanho natural. A única marca da presença divina é o halo sobre a cabeça da Virgem, embora seja mostrada como uma mulher do povo que acaba de morrer, pois se vê que ainda não está preparada para ser colocada no túmulo.

Como é do estilo de Caravaggio, ele retrata na cena apenas o essencialmente necessário. O ambiente é simples, sendo a presença do dossel vermelho, pendurado num teto quase invisível e sob o qual se agrupam os apóstolos, o único objeto de destaque. A Madona está deitada sobre uma mesa, com o corpo coberto por um vestido vermelho, mas com os pés descobertos e o braço  esquerdo inclinado para baixo. A seus pés, no chão, está uma bacia de cobre com um preparado com vinagre para lavar seu corpo.

A cena divide-se em três partes principais:

  • uma cortina vermelha que dá teatralidade à obra;
  • no centro, foco principal, as figuras dos discípulos e o corpo da virgem;
  • Maria Madalena na parte inferior à esquerda.

A composição é comovente e o uso da luz acentua a sua dramaticidade. Caravaggio humaniza a cena ao apresentar a dor que sentem aqueles que perdem um ente querido. As cores são muito escuras, contendo poucos toques luminosos.

A dinâmica da tela é organizada em torno da Virgem que é o tema central da pintura. A massa compacta da reunião e a postura das figuras guiam o olhar do observador para o corpo estendido sobre a mesa. A cortina aumenta o efeito dramático da cena. O pintor faz uso das nuances de luz e sombra para modelar os volumes dos objetos, figuras e vestuário, mas, acima de tudo, reforça, através deste processo, a presença física da Virgem, atingida por uma luz forte. O artista cria a ilusão de profundidade através de uma série de áreas mais claras: na parte de trás do pescoço de Maria Madalena, em primeiro plano; o olho penetra ainda mais na pintura, passando do rosto de Maria para as mãos e cabeças dos apóstolos.

Caravaggio optou por traduzir a realidade das pessoas e suas emoções sem se preocupar com as convenções que normatizavam na época a representação do sagrado. Seu impacto sobre a evolução das concepções pictóricas do século 17 foi considerável.

Ficha técnica:
Artista: Caravaggio
Ano: 1604-1606
Tipo: óleo sobre tela
Dimensões: 369 cm × 245 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fontes de Pesquisa:
Grandes mestres da pintura/ Coleção Folha
Grandes mestres/ Abril Coleções
A história da arte/ E. H. Gombrich

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Jan van Goyen – VISTA DE DORDTSE KIL…

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição Vista de Dordtse Kil Diante de Dordrecht é uma obra do pintor holandês Jan van Goyen (1596-1656). O artista destacou-se como um dos mais brilhantes paisagistas do período barroco, além de ser também um reconhecido pintor de cerâmica. O artista tinha predileção por pintar as grandes vias navegáveis da Holanda. Suas paisagens apresentavam os rios e os canais em que havia grande afluência de pessoas cuidando do dia a dia.

Jan van Goyen esteve na França para estudar. Ao retornar a Haarlem, trabalhou com Esaias van der Velde, pintor paisagista. Depois tornou-se mestre e membro da Guilda de São Lucas de Leiden. Recebia muitas encomendas, o que o levou a viajar por toda a Holanda. No começo de sua carreira, suas paisagens apresentavam cenas folclóricas e cores fortes. Mas com o tempo, elas foram ficando mais abstratas e mais suaves, com tons de cinza, verde e castanho. Ele pintava paisagens tanto imaginárias quanto observadas. E seus quadros eram quase sempre monocromáticos.

Em sua pintura, Jan van Goyen apresenta uma linha de horizonte muito baixa, cujo céu ocupa dois terços da tela, à esquerda, enquanto à direita, construções elevavam-se, assim como árvores e navios a vela com suas bandeiras defraldadas. Por toda água existem inúmeras embarcações, algumas delas bem distantes, próximas à linha do horizonte.

A água calma espelha o céu e os barcos. Um barco, ainda bem próximo à margem, leva cerca de quatro pessoas, provavelmente pescadores. Em terra firme veem-se cinco personagens mais próximas, e outras bem tênues, mais distantes. Ao fundo, vê-se a mó de um moinho.

Ficha técnica
Ano: c. 1641
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 55,5 x 72 cm
Localização: Rijksmuseum, Amsterdam, Holanda

Fontes de pesquisa
A Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

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Cornelis Bisschop – MULHER DESCASCANDO MAÇÃS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição Mulher Descascando Maçãs é uma obra do pintor holandês Cornelis Bisschop, ou Busschop (1630-1674), que foi aluno de Ferdinand Bol, de quem herdou a influência nos fortes contrastes entre luz e sombra. Ele se inspirou, para compor suas cenas domésticas, no trabalho de Nicolaes Maes e Samuel van Hoogstraten. O trio foi insuperável na apresentação de perspectivas complexas, como mostra esta obra de Bisschop.

Em seu quadro Mulher Descascando Maçãs, o artista apresenta uma intricada composição, em que mostra a divisão de três espaços diferentes, como se se tratasse de um tríptico, com a presença de uma única figura humana.

Uma mulher encontra-se no meio da composição, sentada no batente da porta. Ela descasca uma maçã, jogando as cascas no avental que traz no colo. Um dos pés está descalço, com o chinelo à vista. Atrás dela encontra-se uma vassoura e à frente está uma cadeira almofada. À esquerda vê-se um jardim com pássaros voando, ou pousados no chão. E à direita avista-se uma janela com uma sucessão de planos em profundidade, ressaltados por um jogo de luz.

De onde se encontra a mulher é possível ver outros ambientes, num dos quais aparece uma mesa, com uma taça e um prato sobre ela, uma cadeira e um grande quadro na parede frontal. Acima da porta de entrada está um enorme quadro, do qual se vê apenas uma pequena parte.

Esta composição lembra a pintura “Dânae”, de Mabuse (ver aqui no blog).

Obs.: Mulheres descascando frutas ou preparando quaisquer outros alimentos eram comuns nas cenas de gênero na Holanda. Retratavam o ideal de feminilidade e recato na sociedade de classe média, de acordo com a moral e a religiosidade vigente à época.

Ficha técnica
Ano: c. 1660
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 72,5 x 56 cm
Localização: Rijksmuseum, Amsterdam, Holanda

Fonte de pesquisa
A Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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