Arquivo da categoria: Pintores Brasileiros

Informações sobre pintores brasileiros e descrição de algumas de suas obras

Almeida Júnior – COZINHA CAIPIRA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição Cozinha Caipira, obra do artista brasileiro Almeida Júnior, além de sua beleza, leva o observador através do tempo, quando no meio rural, num único cômodo, a família dispunha de quase todos os objetos necessários à vida doméstica. Hoje, com a velocidade da tecnologia, dificilmente encontraremos uma cozinha como a mostrada pelo artista.

Vejamos o que contém esta cozinha do final do século XIX, feita de paredes de pau a pique, em tons terrosos:

1. no canto inferior, à esquerda, encontra-se um forno de barro, já enegrecido pelo uso, fundamental para assar pães, bolos e biscoitos;
2. um grande tacho redondo de ferro ou cobre, encostado na parede da lateral esquerda, próximo a um banco de tora, traz a boca de frente para o observador, sendo usado normalmente para a confecção de doces, rapaduras, grandes quantidades de alimento, etc;
3. um pilão de madeira, às costas da mulher, peça usada para moer café, descascar arroz, quebrar milho, etc;
4. um imenso fogão de barro, encostado à parede frontal da casa, com chaminé que dirige a fumaça para o lado externo da cozinha. Sobre a trempe é possível observar um caldeirão e outras peças. Das achas, na boca do fogão, vê-se uma labareda;
5. pela porta, que leva ao exterior, uma galinha penetra com os seus pintainhos;
6. do telhado desce um varão, normalmente usado para pendurar milho, carne, casca de frutas, etc.
7. uma única figura humana, humildemente vestida e com a roupa a cobrir-lhe todo o corpo, encontra-se no ambiente, de cócoras, debruçada sobre uma peneira, de onde retira os grãos estragados, colocando-os à sua direita, e à frente vê-se um banquinho de madeira;
8. uma abertura na parede, ao fundo, conduz a outro cômodo, que é provavelmente uma dispensa.

Ficha técnica
Ano: 1895
Dimensões: 63 x 87 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil

Fonte de pesquisa
Almeida Júnior/ Coleção Folha

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Almeida Júnior – O IMPORTUNO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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No exato instante retratado na cena, ela aguarda furtivamente para saber se deve continuar a se vestir, caso ingresse no ateliê o “importuno” do título, ou se vai despir novamente, na hipótese de sua partida. (Rafael Cardoso)

A composição O Importuno, pintura de gênero, obra do artista brasileiro Almeida Júnior, retrata o interior de um ateliê, como já visto em “O Ateliê do Artista”, “O Descanso da Modelo” e “O Modelo”, sua temática predileta, o que confirma o grande interesse que o artista nutria pela pintura. Estão presentes nesta tela duas figuras humanas: o pintor e sua modelo, além de vários objetos que compõem o ateliê: cavaletes, cortinas, cadeiras, tapetes, etc.

De costas para o observador, à direita, o pintor usa um longo avental escuro e um pequeno chapéu. Ele puxa parte da cortina e inclina a cabeça para atender alguém que o interrompe em seu trabalho. Na sua mão esquerda está a paleta com tintas e pinceis. É possível ver parte de seu cavanhaque e bigode. Atrás dele está sua cadeira e sua capa sobre o espaldar, o cavalete com uma tela branca, onde  pinta uma mulher nua reclinada, tendo apenas um véu sobre ela. A presença da paleta na mão esquerda comprova que acabara de ser interrompido. Não dá para identificar se eles estavam sendo espreitados, ou, se o artista fora chamado.

A modelo, em primeiro plano, é uma jovem de cor clara e cabelos negros. Encontra-se escondida atrás das cortinas e de um enorme cavalete, onde se vê um quadro exposto e o véu usado por ela ao posar. Veste somente as roupas de baixo e meias pretas, possivelmente vestidas às pressas. Com as mãos, recolhe a camisola, num gesto recatado. Tem os braços e o colo à vista, o que reforça a sua nudez para a época. A cabeça da modelo, de perfil, impossibilita a visão completa de seu rosto. Seu ombro esquerdo e rosto estão iluminados por um facho de luz. Ela se mostra surpresa com a chegada de alguém, e, curiosa, estica a cabeça para ver quem é, sem que seja vista. Suas vestes de cima estão sobre a cadeira e os sapatos debaixo dela. A jovem olha curiosa para o local, onde se encontra o pintor, acompanhando o desenrolar da cena.

Uma grande tela emoldurada, onde foi pintada uma paisagem, está pendurada à parede, aparentando uma janela. Acima, há também outro quadro, parte dele encoberto pela cortina. Na parede, acima da cortina aberta pelo pintor, duas armas de fogo cruzam-se.

O observador sente-se como se estivesse dentro do ateliê, postado atrás da modelo, acompanhando a cena, mas sem ser visto. Na visão do historiador de arte, Rafael Cardoso, o verdadeiro importuno é o próprio observador.

A composição está organizada em três divisões: a primeira, à esquerda, delimita-se pela cortina ondulada no alto, cobrindo a cabeça da jovem; a segunda parte diz respeito à figura do pintor, junto ao pano escuro da cortina; a terceira parte encontra-se centro, a mais iluminada, e onde se encontram o cavalete e a tela, a arte propriamente dita. É como se o pintor quisesse ensinar como uma pintura é feita, ao mostrar uma tela dentro de outra.

Em muitas pinturas de Almeida Júnior, ele aventa a presença de outra personagem, mas que não aparece no quadro. Em Leitura, ele mostra uma capa numa cadeira vazia; em Saudade, mostra uma mulher com uma fotografia na mão, mirando-a; em Amolação Interrompida, apresenta o personagem gesticulando para alguém, como se se tratasse de uma fotografia, em O Importuno, o artista apresenta-se falando com alguém por trás da cortina.

Ficha técnica
Ano: 1898
Dimensões: 145 x 97 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil

Fonte de pesquisa
Almeida Júnior/ Coleção Folha
A arte brasileira em 25 quadros/ Rafael Cardoso

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Almeida Júnior – SAUDADE

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição Saudade, obra do artista brasileiro Almeida Júnior, é outra obra do último ano de vida do artista, e, que tem a presença de uma janela, elemento tão comum aos quadros do pintor, que nos remete ao artista holandês Vermeer (A Leiteira, Moça com Brinco de Pérola, etc.), que tinha predileção por retratar ambientes do dia a dia.

Uma mulher jovem, com vestimenta preta, possivelmente viúva, de costas para a janela de madeira, e de frente para o observador, com a cabeça baixa e cabelos despencando pela face esquerda, com lágrimas a escorrer-lhe pelo nariz, segura uma foto na mão esquerda, enquanto com a direita cobre a boca com um xale preto. Seu rosto, com os olhos comprimidos, denota uma expressão de grande saudade.

O chapéu de palha, pendurado na parede, leva a um segundo personagem, ausente da cena, provavelmente o marido. Um baú entreaberto, onde se vê, acima de sua tampa, um velho livro de fotografias, coberto com um véu, reforça o sentimento de solidão e tristeza.

Através da janela aberta entra a luz, vê-se apenas uma parte dela. Todo o ambiente é simples, com a parede à esquerda necessitando de reparos, levando o observador a imaginar que se trata de um ambiente rural.

Ficha técnica
Ano: 1899
Dimensões: 197 x 101 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil

Fonte de pesquisa
Almeida Júnior/ Coleção Folha

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Almeida Júnior – AMOLAÇÃO INTERROMPIDA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição Amolação Interrompida, do pintor brasileiro Almeida Júnior, é outra de suas  obras ligadas ao homem do campo, o seu tão prestigiado caboclo.

O quadro retrata uma paisagem rural, com apenas uma figura humana, o caipira, que se mostra trabalhando. Suas roupas humildes e sujas de barro retratam a sua dura faina: camisa branca, com mangas dobras nos antebraços, calças riscadas, enroladas próximas aos joelhos, e um lenço amarelo, com pequenas estampas cobrindo parte de seus cabelos negros. À direita, pendurado no cinto da calça, encontra-se uma enorme faca, dentro de uma bainha de couro.

O homem encontra-se num riacho, com uma pedra no meio, amolando o seu machado, fortemente agarrado pelo cabo de madeira, enquanto abana com a mão direita, cumprimentando alguém que vê, e, que interrompe o seu trabalho. Apesar de seu físico robusto e aparentemente jovem, seu corpo mostra as marcas da dura labuta e do sol. O rosto e o pescoço estão vincados por muitas rugas, enquanto veias salientes, próprias de quem pega no pesado, espalham-se pelos braços e pernas. A mão que cumprimenta é grossa, áspera e mostra os dedos com as unhas sujas.

Ao lado esquerdo do caipira estão seu chapéu de palha, no chão, e uma cabaça, dentro d’água, na beirada do riacho. Às suas costas está uma tábua, onde possivelmente a família lava roupa e vasilhames. Ao recurvar o corpo, o homem deixa à mostra o caminho que leva até a uma humilde casinha de barro, estando visíveis uma porta e duas janelas, uma de cada lado, dentro de um cercado de pau a pique. Próxima à casa, vê-se uma bandeira de santo, içada num mastro de madeira, o que mostra a religiosidade do caipira. Ao fundo, descortina-se uma mata.

Em muitas pinturas de Almeida Júnior, ele aventa a presença de uma segunda personagem, mas que não aparece no quadro. Em Leitura, ele mostra uma capa numa cadeira vazia, em Saudade, apresenta uma mulher com uma fotografia na mão, mirando-a, e em Amolação Interrompida, ele mostra o personagem gesticulando para alguém, como se se tratasse de uma fotografia.

Ficha técnica
Ano: 1894
Dimensões: 200 x 140 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil

Fonte de pesquisa
Almeida Júnior/ Coleção Folha

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Almeida Júnior – LEITURA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Na obra Leitura, o artista brasileiro Almeida Júnior mais uma vez volta-se para o tema da leitura. Assim como Moça com Livro, há apenas uma figura humana no quadro. Pelas características apresentadas, a leitora parece ser de família rica e morar numa fazenda. A presença do livro, dobrado em sua mão esquerda, demonstra se tratar de uma garota culta.

A moça, com sua bela vestimenta, sentada confortavelmente numa cadeira de espaldar alto, lê tranquilamente na varanda de sua casa, tendo à esquerda, um riacho e uma estrada que conduz a uma igreja e várias casas espelhadas pela paisagem, possivelmente um vilarejo. Mais ao fundo, erguem-se montanhas azuis.

À frente da moça encontra-se uma cadeira contendo uma capa e mais dois objetos sobre ela, levando a crer que outra pessoa lhe fazia companhia antes. Pelo longo cabelo, que desce até o chão, presume-se que a retratada seja Rita Ybarra, com quem Almeida Júnior teve uma ligação amorosa, gerando seu filho Mario Ybarra.

O quadro Leitura foi premiado com uma Medalha de Ouro, ao ser apresentado em 1893, na Exposição Internacional Colombiana de Chicago, na parte dedicada aos artistas brasileiros.

Vejam também, aqui no blog, o saboroso texto do escritor Alfredo Domingos sobre este quadro: Almeida Júnior – LEITURA

Ficha técnica
Ano: 1892
Dimensões: 95 x 141 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil

Fonte de pesquisa
Almeida Júnior/ Coleção Folha

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Almeida Júnior – CAIPIRA PICANDO FUMO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição denominada Caipira Picando Fumo é uma das obras marcantes do pintor brasileiro Almeida Júnior, que, segundo alguns, foi o responsável por introduzir, pela primeira vez, o homem brasileiro na pintura. Em razão disso, sua obra está repleta de tipos que nos são bastante comuns.

O caipira é a única figura humana a fazer parte do quadro. Ele é um homem de meia idade, forte, de rosto marcado pela dureza da vida, que usa uma camisa branca de mangas compridas que vão até o punho, com uma abertura em forma de V no peito, e uma calça amarronzada, gasta, com a barra dobrada quase no meio da perna. Chama a atenção a parte visível da ceroula, comum àquela época, ultrapassando a perna esquerda da calça.

O homem encontra-se calmamente sentando sobre toras, em frente ao paiol feito de taipa, absorto, picando seu pedaço de fumo com uma enorme faca, em diagonal, usada para os mais diferentes serviços. Ele já preparou a palha de milho, que se encontra atrás de sua orelha esquerda, para receber o fumo picado. No chão, em volta dele, é possível ver um monte de palhas espalhadas.

O pintor destaca com grande realismo as mãos ásperas e os pés toscos do caipira, com as unhas sujas de barro, assim como a calça, assinalando a vida dura que leva no trato com a terra. Atrás dele vê-se uma porta entreaberta, sombreada, e, à frente, uma árvore reflete sua sombra no chão. Parece ser este um momento de grande prazer para o homem da terra, tipo popular em Itu, apelidado de “Quatro Paus”.

Ficha técnica
Ano: 1893
Dimensões: 202 x 141 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil

Fonte de pesquisa
Almeida Júnior/ Coleção Folha

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