Autoria de Lu Dias Carvalho
Quando um pintor é judeu e pinta a vida, como poderia ele se defender contra elementos judaicos na sua obra? Mas, se ele é um bom pintor, o quadro possuirá muito mais. Com efeito, o elemento judaico permanece aí, mas a sua obra pretende alcançar prestígio universal. (Chagall)
A composição A Crucifixão Branca é uma obra do pintor russo Marc Chagall, em que Jesus Cristo, tido pelos judeus como um profeta do Deus da cristandade, é morto e crucificado como homem. Aqui, nesta sua única obra, o pintor deixa para trás a leveza e a doce ironia de suas obras, para buscar na religião uma resposta para o medo existencial.
A imensa cruz com Cristo crucificado, coberto com um pano judaíco da cintura para baixo, indo até próximo aos joelhos, e trazendo um um pano na cabeça, em vez da coroa de espinhos, ocupa o cento da composição. Junto à cruz está a escada usada para retirar Cristo da cruz.
Inúmeras cenas de selvageria acontecem em volta de Jesus Cristo crucificado:
- em primeiro plano, pessoas correm para fora do quadro, na tentativa de deixarem para trás o caos, inclusive uma mulher com seu bebê;
- um menorá (candelabro sagrado de sete braços), com suas velas acesas, parece iluminar o caminho dos que fogem;
- Asevero, o Judeu Errante, usando uma vestimenta verde e um saco às costas, passa por cima do rolo da Torá, que se encontra em chamas;
- no céu tormentoso e amedrontador pairam quatro figuras, que são as testemunhas do Antigo Testamento, em lamentação;
- bandos de revolucionários, com suas bandeiras, atravessam uma aldeia, onde duas casas estão queimando e uma terceira encontra-se de cabeça para baixo. Eles estão roubando e destruindo o que encontram pela frente;
- dentro de um barco à deriva, os fugitivos, compostos por homens, mulheres e crianças, pedem socorro;
- à direita, um homem, com um uniforme nazista, ateia fogo numa sinagoga;
- vários objetos, incluindo livros sagrados espalham-se em derredor.
Um enorme raio de luz branca, vindo da margem superior da tela, ilumina Cristo crucificado, como a dizer que ainda há esperança, apesar de todas as atrocidades. Chagall, em sua obra, repassa a mensagem de que a fé é capaz de remover todo o sofrimento, por mais terrível que ele possa parecer, ou seja, há sempre esperança.
Ficha técnica
Ano: 1938
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 155 x 140 cm
Localização: Instituto de Arte de Chicago, Chicago, EUA
Fonte de pesquisa
Marc Chagall/ Taschen
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