DECORAÇÃO DAS IGREJAS CRISTÃS (Aula nº 18)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Ao transformar-se na religião oficial do Império Romano, tornando-se um poder dentro do Estado, cabia à Igreja Cristã adaptar-se aos novos tempos. Até então os seguidores de Cristo não tinham tido necessidade ou possibilidade de construir espaços públicos para os cultos. Os que existiam eram pequenos e simples. Também não podiam aproveitar os templos pagãos, uma vez que esses tinham finalidade diferente, sendo seu interior normalmente diminuto, com a função única de abrigar a estátua de um deus. Todo cerimonial referente ao culto desse ou daquele deus era realizado do lado de fora de seus templos. A Igreja Cristã passou a necessitar de espaços grandes para congregar seus adeptos em número cada vez maior. Em razão disso foram criados grandes salões que se tornaram conhecidos pelo nome de “basílica”.

Uma grande questão se apresentou em relação à decoração dessas basílicas. O problema da imagem e de seu uso na religião voltou à tona. Violentas disputas surgiram entre os cristãos até então unidos, cordiais e contidos. A maioria deles achava que a presença de imagens de seus santos — ainda que copiadas da vida real — iria confundir os fiéis da nova religião, pois se pareciam muito com a dos deuses pagãos. Contudo, no que diz respeito à pintura, a maioria dos cristãos era a favor, sob o argumento de que seriam importantes, pois ajudariam a lembrar os ensinamentos recebidos, mantendo vivos na memória a lembrança dos relatos sagrados.

A posição do papa Gregório Matos, ao convencer os fiéis de que “A pintura pode fazer pelos analfabetos o que a escrita faz pelos que sabem ler”, foi de extrema importância para a história da arte que perigava ser banida da Igreja Cristã. Como a arte dos egípcios, a cristã também tinha que se sujeitar às normas estabelecidas pela Igreja. Uma das mais importantes dizia que a história bíblica deveria ser apresentada de maneira clara e simples, omitindo tudo aquilo que pudesse desviar o cristão de seu objetivo sagrado. Ainda que por um tempo, os artistas usaram métodos repassados pela arte romana, mas aos poucos foram se aperfeiçoando na arte de retratar apenas o essencial. A visão dos artistas egípcios quanto à clareza, assim como as formas desenvolvidas pelos artistas da pintura grega misturavam-se na arte cristã.  É por isso que a arte cristã da Idade Média — período transcorrido entre os anos de 476 a 1453 — transformou-se numa fusão de elementos primitivos e refinados.

Uma parte dos cristãos das regiões orientais de fala grega que tinha por capital a cidade de Bizâncio (ou Constantinopla) firmou posição contra toda e qualquer imagem de natureza religiosa. Em 754 os chamados “iconoclastas” proibiram qualquer forma de arte religiosa na Igreja Oriental. Quando o grupo contrário a esse assumiu o poder — após um século de repressão —, as pinturas voltaram às igrejas do Oriente, sendo consideradas “reflexos misteriosos do mundo sobrenatural”. Uma imagem só era considerada sacra ou um “ícone”, se fosse consagrada por uma tradição de séculos, devendo, a exemplo dos egípcios, respeitar as tradições. Ainda assim a Igreja Bizantina contribuiu para conservar as ideias e realizações da arte grega no que diz respeito a faces, gestos e vestes. As regras impostas aos artistas quanto à representação de Cristo ou da sua mãe Maria impediu que os artistas bizantinos desenvolvessem plenamente sua capacidade criativa. Contudo, a arte bizantina deixou trabalhos maravilhosos.

Esse período não foi muito promissor para a arte, uma vez que minou o poder dos artistas quanto à observação da natureza, pois esses deixaram de comparar suas formas com a realidade. Não mais tinham interesse em fazer novas descobertas sobre como representar um corpo ou desenvolver uma ilusão de profundidade. As obras artísticas tinham sempre a supervisão de teólogos que fiscalizavam o trabalho do artista, dizendo o que podia ser feito ou não. Tudo devia seguir a orientação teológica. Ainda bem que as descobertas feitas anteriormente pelos artistas da arte greco-romana não foram esquecidas, pois um grande repertório de suas figuras nas mais variadas posições foi usado pelos artistas cristãos, a fim de contar as histórias bíblicas.

Nos dias anteriores à Internet, o conhecimento era valioso. Nos anos 1300 e antes, ler e escrever eram domínio de algumas pessoas de confiança, quase sem falta de homens religiosos por causa dos perigos percebidos pelo excesso de informação. No entanto, histórias bíblicas, fábulas morais e a vida dos santos eram consideradas conhecimentos que todos deveriam ter.

Exercício:

  1. OS MOSAICOS DA IGREJA DE SÃO VITAL
  2. A IMPERATRIZ TEODORA E SEU SÉQUITO
  3. O CRISTO PANTOCRATOR

Ilustração: 1. São Vital, mosaico, século VI

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

10 comentaram em “DECORAÇÃO DAS IGREJAS CRISTÃS (Aula nº 18)

  1. Antônio Costa

    Lu

    São fantásticas as conexões da arte com os interesses, onde fica claro o domínio dos poderosos na busca da manutenção do poder, quer seja Estado ou Igreja, e nesses casos, ambos corriam paralelos. Fico imaginando se a arte fosse suprimida, como funcionariam os mecanismos da época. Certamente seria uma selva com a preponderância dos mais fortes a passar o seu “pool” gênico para as gerações futuras. Neste ponto de vista a religião, apesar do lado triste como o da inquisição, também serviu de freio para muitos.

    Abraços

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Antônio

      Não são poucos os seres humanos que trazem em si o vírus da ganância e do poder, nada deixando a salvo. Desde os tempos antigos Jesus Cristo tem sido usado como uma moeda de troca ou de acesso ao mundo político. Embora não seja uma cristã no sentido religioso que dão à palavra, eu me envergonho do comportamento que os chamados “mestres da fé” empunham-na. E com a arte não foi e jamais será diferente, como veremos num texto sobre Hitler (Idade Contemporânea) na próxima aula. Quanto à religião, não me agrada que ela sirva de “freio”, o que abomino até para os bichos, mas que tenha o papel de levar as pessoas à reflexão, transformando-as em seres melhores, como teria feito Jesus, se em nossos dias vivesse.

      Abraços,

      Lu

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  2. Adevaldo R. Souza

    Lu

    Nesse período houve grande influência do Estado/Igreja nos trabalhos dos artistas, tirando-lhes a liberdade da percepção, da emoção e da ideia. Seria uma arte contratada? Havia o objetivo de repassar os aspectos religiosos, mas, também, o esplendor da riqueza e do poder do Imperador que simbolizava Deus na Terra.

    Abraço

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Adevaldo

      De certa forma era uma arte contratada, sim, pois aos artistas, tendo que seguir normas determinadas, acabavam por trocar a criatividade pelo trabalho valorado. Ainda assim a Igreja teve um papel determinante no sentido de não deixar a arte morrer no período em questão.

      Abraços,

      Lu

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  3. Marinalva Dias Autor do post

    Lu
    Segundo Cláudio Castro, “a arte é a linguagem fundamental de todas as religiões, pois trata-se da linguagem universal dos homens”.

    O artista possui uma mente privilegiada, o que lhe possibilita criar belas obras de arte. Os mosaicos bizantinos, situados na Basílica de San Vitale em Ravena, na Itália, dão-nos a dimensão da beleza desse tipo de arte que decorou igrejas, palácios, mosteiros, etc.

    Existe uma fusão de elementos primitivos e refinados na arte cristã da Idade Média. Quando o Estado adotou a fé cristã, a arte passou por restrições, sendo fiscalizada pelos teólogos. O Cristo Pantocrator na iconografia do cristianismo refere-se a uma forma de representação de Jesus Cristo que é retratado com a mão direita em forma de bênção.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Marinalva

      Belo pensamento de Cláudio Castro, pois a arte é realmente uma linguagem universal. Até o homem das cavernas deixou para nós parte de seus trabalhos artísticos. Por isso que se diz que não existe uma cultura que não produza arte.

      Os artistas medievais realmente produziram trabalhos maravilhosos com os mosaicos. A durabilidade desses permitiu que chegassem até nós essas fantásticas composições. Quanto ao Cristo Pantocrator, trata-se de um dos mais conhecidos ícones bizantinos.

      Vejo que você está lendo todos os textos recomendados nos links. Isso é muito importante, pois é uma complementação importantíssima da aula ao exemplificar o que foi explicado. Parabéns!

      Abraços,

      Lu

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  4. Moacyr Autor do post

    Lu
    O ato de abraçar a arte na Igreja Cristã, ainda que seguindo certos critérios, foi muito importante para tivéssemos o prazer de ver hoje tantas maravilhas.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Moacyr

      Ainda que tenhamos a lamentar muitas obras que foram destruídas pelo cristianismo, temos que nos alegrar com o fato de seus dirigentes terem aceito a ornamentação das igrejas, legando-nos obras maravilhosas.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  5. Hernando Martins

    Lu

    Com a coalizão entre Estado e Igreja, oficializada pelo imperador Constantino, houve uma mudança brusca na arte desse período da história. A religião cristã ficou muito tempo na ilegalidade, mas a partir do momento em que foi oficializada como religião única do Império Romano, tornou se um poder paralelo ao do imperador. Começou a estruturar seu império, construindo templos grandiosos, com salões imensos para acomodar seus fiéis e, ao mesmo tempo, impressionando pela beleza arquitetônica. Esses templos precisavam ser ornamentados. Houve uma participação efetiva dos artistas para realizar trabalhos maravilhosos,seguindo à risca as orientações da Igreja.

    As artes eram voltadas para temas bíblicos, tendo os trabalhos pictóricos uma função meramente didática, ao usar passagens bíblicas objetivas e simples para comunicar-se com o povo humilde e de pouco esclarecimento – aspectos importantes para o fortalecimento da fé cristã num meio quase que totalmente analfabeto, pois apenas cerca de 1% da população sabia ler.

    No Império Romano estabelecido no Oriente, tendo como capital Bizâncio, houve um período em que foram proibidos trabalhos artísticos com imagens em virtude de conflitos religiosos, mas, posteriormente, houve o retorno das figuras e imagens esculturais, lembrando que os bizantinos deixaram trabalhos maravilhosos, principalmente em mosaicos.

    O papa Gregório incentivou muito a expansão de construção de templos religiosos, dando aos artistas muitas oportunidades de trabalhos, mesmo que sobre o controle da Igreja, através de um modelo teológico a ser seguido com o propósito de obter poder religioso e político. A arte dessa época, mesmo subordinada a tal controle, seguindo orientações determinadas, deixou um legado histórico importante para toda a humanidade.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Hernando

      Sem a interferência do Papa Gregório, a arte teria ficado adormecida por muito tempo, como vemos acontecer ainda hoje em vários países do Oriente, cuja fé difere da cristã, onde se proíbe a representação da figura humana. Como escreveu um dos maiores estudiosos da arte (já falecido) – Professor E. H. Gombrich – “A arte possui a função de aumentar a beleza e as graças da vida”. Cerceá-la seria uma temeridade. E aqui me refiro aos diferentes tipos de arte (pictórica, teatral, escultórica, fotográfica, literária, etc.).

      Agora com a internet a arte tornou-se ainda mais visível. É possível até mesmo visitar museus, cinematecas, livrarias, etc., e ter acesso ao maravilhoso mundo da arte.

      Beijos,

      Lu

      Responder

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