Autoria de Lu Dias Carvalho
Todo mundo homenageia/ Januária na janela/ Até o mar faz maré cheia/ Pra chegar mais perto dela. (Chico Buarque)
Januária posta-se na janela, quando o desalento apossa-se de seu viver, e ali fica paradinha, mirando aquele mundaréu de mar com suas águas inquietas, num vai e vêm sem conta, de lá pra cá e de cá pra lá. Perde-se em fantasias e viaja junto, ancorando em terras desconhecidas, como se mudando de lugar seu pensamento também pudesse demudar sua vida. Ela nem mesmo percebe que o mundo que se carrega por dentro é o mais custoso de se acomodar, pois ele não aceita as injustiças que o de fora quer fazer a gente aceitar.
A mulher fica ali na janela, desde o raiar da aurora ao cair da noite, com seus grandes olhos a vagar. “Toda gente homenageia/ Januária na janela/ Até o mar faz maré cheia/ Pra chegar mais perto dela”. Até mesmo “O pessoal desce na areia/ E batuca por aquela/ Que, malvada, se penteia/ e não escuta quem apela”. Acha que ela é coquete, e seduz, indiferente, mas a ninguém quer se entregar, pois não pode uma criatura de tanta delicadeza e formosura viver com os olhos colados no mar.
Na cidade até já se sabe que “Quem madruga sempre encontra/ Januária na janela”. E há gente que, bem cedinho já faz ponto na areia, diante da casa dela. E “Mesmo o sol quando desponta/ Logo aponta os lados dela”. Se quem conta uma conta, outras tantas agrega ao rosário, muitas lendas vão compondo o imaginário das gentes sobre Januária. Dizem até que “Ela faz que não dá conta/ De sua graça tão singela”.
E assim vive Januária na sua janela, sempre de olhos fitos no mar, distante de tudo que se passa em derredor. Alguns até fazem graça, pra ver um sorriso nos seus lábios despontar ou, quiçá, um pequeno gesto de amor. Mas Januária está distante, levada pelas águas do dissabor, pois nunca viu em seu país tanta injustiça, banhada por desamor, melhor partir pra longe, e deixar pra trás a dor. Sem avaliar o que se passa no interior dela, “O pessoal se desaponta/ Vai pro mar, levanta vela”. E Januária continua na dela, mirando o mar, através de sua janela.
Obs.: ouça a música: JANUÁRIA
Nota:
O pintor Di Cavalcanti presenteou Chico Buarque com um quadro com o nome de “Januária”, ponto de inspiração para a música do mesmo nome. Não encontrando uma foto do quadro, ilustrei o texto com Mulher na Varanda, obra também de Di Cavalcanti.
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Olá!
Estou escrevendo sobre essa música e acabei achando uma foto do quadro. É só clicar no link que tem neste post deste blog aqui.
http://unoanamariadelgado.blogspot.com.es/2016/04/januaria-de-chico-buarque-e-o-quadro-em.html
Tranquilo, isto não é um vírus.
Um abraço,
Cristina
Cristina
Acabei de visitar o seu blog e também o link que me indicou. Gostei muito do seu espaço (deixei lá um comentário). Agradeço a sua visita e o comentário aqui deixado. Será um prazer receber sua visita mais vezes.
Abraços,
Lu