Autoria de Lu Dias Carvalho
Coube aos nossos visitantes ocidentais ensinar-nos quanto à obscenidade de muitas práticas que, até aqui, inocentemente adotávamos. Foi em um livro missionário que, pela primeira vez li, que o Shivalingam (culto fálico a Shiva) tinha uma significação obscena. (Gandhi)
Em meio ao mosaico de crenças e cerimônias religiosas, as superstições encontraram um terreno fértil na Índia. Dentro dessa seara encontramos tudo que é capaz de tornar o homem “feliz” ou “infeliz”, “próspero” ou “pobre”: oblações, encantamentos, exorcismos, astrologia, oráculos, votos, quiromancia, adivinhação, ledores de fortuna, encantadores de serpentes, faquires, iogues, homens santos, misticismo, feitiçaria, arte divinatória, magias, mantras, receitas encantadas, feiticeiros, nigromantes, videntes, sonhos, sinais dos céus ou de buracos abertos nas roupas pelos ratos, etc.
O hindu acreditava que cada estrela exercia uma influência especial sobre os nascidos sob a sua ascendência. As mulheres menstruadas evitavam tomar sol com medo de que o astro rei pudesse engravidá-las. Palavras desconhecidas eram recitadas para evocar fantasmas, encantar cobras e aves e forçar os próprios deuses a vir em auxílio do mago para ajudar seu cliente. Normalmente, todo cliente tinha uma série de doenças incuráveis e estava cheio de olho-gordo. Mediante umas rúpias, o mago introduzia um demônio no ego do inimigo de seu paciente e expulsava o que havia nesse.
Quando um brâmane bocejava, punha a mão à boca, para evitar que maus espíritos entrassem. O hindu estava sempre em guerra contra o mau-olhado, pois qualquer um poderia ser vitimado pela desgraça, trazida pelos desafetos e invejosos. Bastando que o encantador de serpente colocasse a sua força em ação. O responsável por restaurar a vitalidade sexual, fazer voltar o amor no coração, ou dar filhos às mulheres estéreis era o mágico.
Parir filhos (machos) era a meta principal de um casal hindu. Sendo que a adoração dos símbolos da reprodução e fecundidade era permanente nos devotos. Siva (Xiva) era a deidade indiana representada por um falo (pênis). Procissões fálicas rodopiavam pelas ruas, com a comitiva usando símbolos fálicos nos braços e pescoço. Em determinados templos, lingas (representação dos órgãos genitais masculinos) de pedra era, diariamente, lavados com a água do Ganges, que depois era vendida aos fiéis. Tal culto durou até o século XX.
O rito de purificação demandava muito tempo para os hindus. Podiam se tornar impuros pela ingestão de alimentos impróprios, restos de comida, pelo toque de um pária (intocável), pelo contato com um cadáver ou com uma mulher menstruada e por outros milhares de causas. O parto e a menstruação tornavam as mulheres impuras. Elas eram isoladas e passavam por impensável higienização. Acreditavam também que, se não oferecessem alimentos aos deuses, esses morreriam de inanição.
O hindu impuro tinha que passar pelo rito de purificação, que variava de acordo com o tamanho da “impureza”. Nos casos mais simples, bastava ser purificado com a água sagrada do Ganges. Nos mais complexos, como na violação das leis da casta, tinham que passar pelo Panchagavia: era obrigado a beber uma mistura de cinco substâncias da vaca sagrada: leite, coalhada, ghee (manteiga derretida), urina e excremento. Era comum ver centenas de hindus supersticiosos nos pastos, com um vasilhame nas mãos, seguindo as vacas, prontos para apararem a urina dessas e a levarem ainda quente para casa. Outros a aparavam com as mãos, bebiam um pouco e com o restante lavavam o rosto.
Outras superstições comuns na Índia:
- Após três semanas de nascimento, o bebê passa pela cerimônia do corte de cabelo. Raspam a sua cabecinha, deixando apenas uma mecha, pois de acordo com a tradição, protegerá a sua memória. Raspar a cabeça tem o significado simbólico de libertar a criança dos restos de suas vidas passadas e prepará-lo para enfrentar o futuro, a nova vida que começa.
- A urinoterapia é um costume milenar, que consiste em beber, em jejum, todas as manhãs, um copo da primeira urina do dia. Essa terapia ainda é usada por alguns e parece estar ganhando mundo.
- Os hindus não saem às ruas, quando há eclipses, pois acreditam que esses são prejudiciais porque, simbolicamente, a luz se esconde.
Historiadores como Will e Ariel Durant são firmes em creditar o longo atraso da Índia ao hinduísmo, que levou o povo a buscar seus triunfos nos mitos e na imaginação:
- ensinava a permanente servidão ao sacerdócio (brâmanes) e ao sistema de castas;
- criou deuses desocupados da moral;
- manteve por séculos a brutalidade de costumes, como o suttee (sacrifício humano);
- pintou a vida como um mal;
- destruiu a coragem de viver de seus devotos;
- dividiu o povo em compartimentos estanques;
- negou qualquer tipo de aspiração ao progresso pelas classes pobres;
- não aceitavam que todos pudessem crescer espiritual e economicamente;
- induziu à aceitação sem questionamento;
- transformou todos os fenômenos terrenos em ilusões;
- destruiu a distinção entre liberdade e escravidão, entre bem e mal, entre corrupção e progresso;
- degenerou na idolatria e no ritualismo convencional em que a forma é considerada como tudo e a substância como nada.
Atenção:
Na Índia, dezenas de mulheres são mortas todos os anos, devido ao receio da população de que elas sejam bruxas (mulheres suspeitas de exercerem a arte da feitiçaria). Situação que é mais grave nas zonas rurais, onde o sistema escolar ainda não é eficaz.
Nota: Imagem copiada de http://felipearguello.blogspot.com.br
Fontes de pesquisa:
Um lugar para todos/ Thrity Umrigar
O sári vermelho/ Javier Moro
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