Autoria de Lu Dias Carvalho
O francês Honoré-Victorien Daumier (1808-1879) foi caricaturista, chargista, ilustrador e pintor. É tido hoje como um dos mestres da litografia e um dos pioneiros do Naturalismo. A sua excelência na caricatura levou-o a receber o apelido, por parte do escritor Balzac, de “Michelangelo da Caricatura”. Seu pai era um mestre em vitrais. Ainda adolescente Daumier começou trabalhando como ajudante e despachante, vindo em seguida a trabalhar numa livraria. Nessa época ele começou a se interessar pelas artes plásticas. Entrou aos 14 anos de idade para o atelier de Alexandre Lenoir, um antigo aluno do neoclassicista Jacques-Louis David. Também estudou escultura antiga no Louvre e as obras de Ticiano e Peter Paul Rubens. Suas primeiras litografias remetem a 1828, quando aprendeu essa nova técnica.
Daumier era um adepto da República, o que o levou a interessar-se pela caricatura política. Foi levado à prisão por causa da caricatura intitulada Gargântua, ridicularizando o rei Luís Felipe, tendo ficado prisioneiro durante seis meses no ano de 1831. Para passar o tempo na cadeia, ele retratava seus companheiros de presídio. Assim que ganhou liberdade foi contratado pelo jornal “La Caricature”, responsável por publicar as suas famosas “máscaras” (sátiras e caricaturas de políticos). Com o surgimento de uma lei contra a liberdade de expressão em 1835, ele optou por um jornal envolvido com a crítica social – “Le Chavari”.
O artista chamava a atenção com as suas caricaturas sobre a pequena burguesia parisiense. Era também duro na exposição das classes altas. Sua crítica ferina era direcionada às restrições legais, à monarquia, ao Parlamento, à Igreja, à Academia e ao Classicismo. Nutria simpatia apenas pelas classes baixas, compadecido com seu eterno sofrimento. Daumier foi um dos mais renomados litógrafos, sendo conhecidas mais de 4.000 litografias criadas por ele, nas quais reproduziu sua visão crítica, às vezes satírica, às vezes direta e certeira, sobre os acontecimentos de sua época, num estilo dinâmico e jovial. Aperfeiçoou a linguagem da charge e da caricatura, caracterizada pela crítica social e política.
O artista começou a trabalhar com pintura quando estava com 37 anos, campo em que também se destacou. No começo valeu-se de temas literários retirados das obras de Cervantes e Molière, assim como do cotidiano das pessoas comuns, vindo a tornar-se o maior representante do Realismo Social na pintura. Sua invejável capacidade de síntese na representação de suas figuras não foi conseguida por nenhum outro pintor do século XIX. Suas pinceladas largas davam vida a figuras com suas monumentais silhuetas. Sua paleta de cores baseava-se nos tons ocre e terra, cujos temas mostram artistas em desgraça e crianças na miséria, algo que o mobilizava de maneira singular. No entanto, em seus quadros, ao contrário das litografias, seus personagens estavam imbuídos de grande dignidade humana.
O artista ficou maravilhado com as obras sobre “Dom Quixote” nos seus últimos anos de vida, quando enfrentava a velhice e a cegueira. Criou cerca de 25 pinturas a óleo, aquarelas e desenhos a carvão para ilustrar a obra de Miguel de Cervantes. Compôs uma série inteira sobre o tema. Ele era particularmente fascinado pelos personagens de Dom Quixote, o homem com delírios de grandeza, e Sancho Pança, seu ajudante simples, mas leal. Raramente acrescentava outros personagens em seus desenhos.
Daumier começou pintando cenas com Dom Quixote e Sancho Pança viajando e, com o tempo, foi abandonando as referências específicas ao livro e transformou-se em Dom Quixote e Sancho Pança caminhando sozinhos em uma estrada aberta. Ao final, passou a criar apenas a figura de Dom Quixote, fato que, na visão dos historiadores, não significa a eliminação de Sancho Pança, mas a fusão dos dois personagens em apenas um, o que lhe possibilitou expressar as duas facetas de sua personalidade: o cartunista sarcástico e o pintor sensível. Seu crescente problema de visão fez com que as imagens fossem se tornando cada vez menos detalhadas.
Durante sua vida Honoré Daumier quase não recebeu críticas por suas pinturas, tendo sua arte ganhado pouca atenção. Embora tentasse viver como escultor e pintor, jamais conseguiu seu intento, tendo sempre que recorrer à litografia para sobreviver. Morreu na miserabilidade e quase cego aos 71 anos de idade, numa casa que lhe fora dada por Jean-Baptiste Camille Corot, pintor realista francês. Segundo os estudiosos do artista e sua obra, ele era também marginalizado, por isso via na triste figura do cavaleiro andante (Dom Quixote) sua própria pessoa. Além disso, sua arte estava muito além de seu tempo, impossível de ser compreendida. Ele só foi reconhecido e apreciado, tanto pelo domínio de sua técnica quanto pela profundidade de visão, após a sua morte.
Fontes de pesquisa
Obras-primas da arte ocidental/ Taschen
https://www-artble-com.translate.goog/artists/honore_daumier/paintings/don_quixote?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-BR&_x_tr_pto=nui,sc
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Lu
O Gargântua é meio SURREAL, não é?
Mário
Também achei, e pelo visto causou grande furor, ao ponto de mandar o coitado do artista para a cadeia.
Mário, o meu livro já se encontra na Editora para publicação. Daqui a alguns meses estará nas livrarias. O seu nome já está na lista dos presenteados.
Abraços,
Lu
Abraços,
Lu
Lu Dias
Pois é, quantos artistas foram enviados pra cadeia, ou pra fogueira em nome de Deus, tempos difíceis aqueles, hein? Apesar da correria em que me encontro, será um prazer ler o seu livro!
Mário
Ainda irá demorar uma meia dúzia de meses para o meu livro chegar às livrarias. A burocracia é bem maior do que pode imaginar. Qual é a causa de tanta correria em tempos de vacas magras?
Abraços,
Lu