NAVIO NEGREIRO (Aula nº 79 C)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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 Se eu fosse reduzido a descansar a imortalidade de Turner em um único trabalho, eu deveria escolher este. (John Ruskin)

 No alto de todas as mãos, acerte os mastros superiores e despreocupe-os;/ Sol raivoso e nuvens de arestas ferozes/ Declare a vinda do Typhon./ Antes de varrer seus decks, jogue ao mar/ Os mortos e morrendo – não prestem atenção às suas correntes/ Esperança, esperança, esperança falaciosa! / Onde está o teu mercado agora? (poema inacabado de Turner que acompanhou a exibição do quadro em 1840)

O inglês Joseph Mallord William Turner (1775-1851) nasceu em Londres. Aos 15 anos de idade expôs suas primeiras aquarelas na Escola da Academia Real de Artes em Londres. Aos 25 já era Membro Associado, período em que visitou, pela primeira vez, outros países do continente europeu. Estudou em Paris, no Louvre, os antigos mestres, dando destaque às paisagens holandesas e composições de Claude Lorrain. A sua visita a outros países, incluindo a Itália, mudou radicalmente seu estilo, quando passou para as criações visionárias. Foi um dos mais brilhantes pintores românticos, tendo criado um tratamento revolucionário na pintura de paisagens através de temas românticos, mas cheios de dramaticidade. A abstração vista em muitas de suas obras antecipou a arte do século XX. É considerado um dos mais notáveis precursores do Impressionismo. É sem dúvida o mais importante e conhecido pintor de paisagens do século XIX. Pintou cidade e campo, montanhas, naufrágios, etc. Embora obtivesse grande sucesso em seu trabalho, Turner vivia recluso em sua vida pessoal. Morreu aos 76 anos de idade.

A composição O Navio Negreiro é uma obra-prima do artista, um exemplo clássico de seu pendor para o abstracionismo. Esta pintura de paisagem marítima romântica demonstra que Turner foi um dos mais sensacionais inovadores da história da pintura, ao usar como tema os próprios elementos da natureza (mar, céu, montanhas, neve, vento, chuva, etc.) e criá-la em termos de cor e luz.  As cores que mais sobressaem na pintura são o vermelho do pôr do sol que penetra na água e também o navio e o marrom dos corpos e mãos dos escravos.

Nesta pintura o artista usou muitas técnicas características dos pintores românticos. Suas pinceladas indefinidas têm por objetivo fazer com que a imagem pareça borrada, tornando objetos, cores e figuras indistintos, o que leva o observador a introduzir-se na cena através de sua imaginação. Ele expõe a força que a natureza possui e o poder que ela exerce sobre o ser humano.

Ao se deixar guiar pelo tema da obra, o observador poderá concluir enganosamente que o navio que navega em águas abertas ao longe, durante uma tempestade, mostrando a brutalidade humana, seja o ponto principal da composição. Mas não é. O grande astro é o sol poente no centro da tela, fonte de toda a luz, numa junção com o céu e o mar tempestuoso e a aproximação de um ciclone.

Os corpos dos escravos boiam na água em primeiro plano. Alguns são devorados por peixes e monstros marinhos, como mostra a perna vista com a corrente ainda presa ao pé. Gaivotas sobrevoam o local. O artista, um abolicionista, tinha por objetivo impactar o observador com a crueldade humana. Era um chamado à sociedade para ver e sentir a bestialidade da escravidão, pois, apesar de a Inglaterra já ter acabado com tamanha degradação, ela ainda persistia em outros países, inclusive no Brasil.

O livro intitulado “A História da Abolição do Tráfico de Escravos”, obra do escritor Thomas Clarkson, serviu de inspiração para Turner. A obra relata um incidente, ocorrido em 1783, envolvendo um navio negreiro. Como muitos dos escravos a bordo se encontrassem doentes e o pagamento da companhia de seguros do capitão só pagaria pelos perdidos no mar, o capitão exigiu que todos os doentes e moribundos saltassem no mar, acorrentados. O título completo desta obra de Turner é “O Navio Negreiro Jogando ao Mar os Mortos e os Moribundos”.

Convido o leitor a conhece outra obra-prima de Turner, eleita a pintura mais popular da Grã-Bretanha, intitulada Turner – A ÚLTIMA VIAGEM DO TEMERAIRE (link)

Ficha técnica
Ano: 1840
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 91,5 x 122 cm
Localização: Museu de Arte, Boston, EUA

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
http://britishromanticism.wikispaces.com/The+Slave+Ship
https://strengthoftheheart.wordpress.com/2017/07/26/an-analysis-of-slave-ship-by-
https://www.mfa.org/collections/object/slave-ship-slavers-throwing-overboard-the-

 

 

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6 comentaram em “NAVIO NEGREIRO (Aula nº 79 C)

  1. Adevaldo R. de Souza

    Lu

    Intrigante obra antiescravidão de Joseph Mallord William Turner que mostra formas não distintas com a difusão da cor vermelha e nos transmite a ideia de que a natureza é superior ao homem. Penso que a composição, além de uma alegoria contra a exploração de escravos, representa uma oposição ao avanço econômico.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Adevaldo

      William Turner foi um artista brilhante, extremamente sensível em relação às desumanidades de sua época. Suas obras tocantes expõem sua sensibilidade.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  2. Hernando Martins

    Lu

    Essa obra é maravilhosa, lembrando que William Turner é o pintor do estilo Romântico mais renomado da Inglaterra. Sua obra foi a forma que ele encontrou para denunciar a atrocidade da escravidão e o ocorrido num navio negreiro, sendo que num determinado momento, os tripulantes do navio adoeceram. Como os escravos não tinham seguro de vida, muitos foram jogados ao mar do Caribe, morrendo afogados ou dilacerados por tubarões. Essa história macabra repercutiu bastante na Inglaterra, contribuindo para fortalecer os movimentos abolicionistas. A obra, com pinceladas de pouco realismo, predominando as cores quentes, foi capaz de ser um mensageiro para denunciar essa atrocidade contra seres humanos, sensibilizando os defensores dos direitos humanos.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Hernando

      Em todas as épocas existiram pessoas que se condoeram com a dor dos desvalidos. Em razão da sensibilidade à flor da pele e do espaço social em que transitam, normalmente são os artistas aqueles que encabeçam todos esses grandes movimentos em prol da vida, em prol de outrem. Na Inglaterra o brilhante William Turner, um dos artistas mais amados pelos ingleses, compôs o seleto grupo que lutou contra a escravidão negra. Sua obra é maravilhosa. Sua fama é merecida. A composição em estudo é simplesmente fantástica!

      Abraços,

      Lu

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  3. Heloisa Filardi

    É o retrato da brutalidade humana. Há os europeus que se julgam superiores, os negros sem alma como achavam os gregos. Enfim, uma mera mercadoria.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Heloísa

      Ainda bem que homens como William Turner rebelaram-se contra tão hediondo crime. Os escravos de ontem libertaram-se das correntes da escravidão, mas os de hoje estão presos às algemas do capitalismo selvagem. Realmente, todos são apenas uma mercadoria.

      Abraços,

      Lu

      Responder

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