Mestres da Pintura – GOYA

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Autoria de Lu Dias Carvalhogoya

Na natureza, a cor não existe ao mesmo tempo que a linha (…) Deem-me um carvão e lhes farei um quadro. (Goya)

Goya é um fenômeno extraordinário. É o artista que a opinião universal qualifica como revolucionário, o renovador audaz, cujos arrojos de conceito e de técnica serviram mais tarde como exemplo e modelo, nunca tornado obsoletos, a sucessores dispersos nos ambientes mais longínquos e livres ao longo de um século e meio de mudanças de gosto, de renovações de escolas. (Eugenio D`Ors)

O pintor Francisco José de Goya y Lucientes (1746-1828), filho de José Goya, dourador de retábulos, e de Engravia Lucientes, foi um dos grandes nomes da pintura espanhola, ao lado de Diego Velasquez. A família de Goya pertencia à classe média baixa, o que significava que levava uma vida de dificuldades, com seis bocas para alimentar, sendo que os dois filhos mais novos morreram ainda pequenos.

Ainda muito novo, Goya deu início à sua formação artística, frequentando uma escola de desenhos, onde ficou conhecendo o pintor José Luzán, representante do estilo Barroco, que o levou a copiar os trabalhos mais importantes dos grandes mestres do passado. Aos doze anos de idade tornou-se seu aluno, estudando com ele durante quatro anos. Através de seu mestre ficou conhecendo os irmãos pintores Francisco, que foi seu mestre, Ramón e Manuel Bayeu. Goya foi aluno de Francisco Bayeu quando tinha 16 anos. Nessa época ele pintou uma das obras importantes de sua carreira: Tobias e o Anjo. Veio a tornar-se depois cunhado dos pintores citados.

O sonho do adolescente Goya era se aperfeiçoar na arte da pintura em Madri, e ali entrar em contato com a corte espanhola. Por isso, aos 17 anos, ele deixou a cidade de Zaragoza em direção à capital do reino, e um ano depois já estava de volta à sua cidade. Mas com suas idas constantes a Madri, Goya, que se hospedava no ateliê de Francisco Bayeu, acabou conhecendo o pintor Mengs que gozava de grande prestígio na corte de Carlos III.

O pintor espanhol queria muito estudar na Itália. Para conseguir seu intento, estava sempre presente nos concursos para as bolsas da Academia de San Fernando, sem jamais lograr êxito, o que o levou a fazer a viagem com seus próprios recursos. Na Itália, obteve menção honrosa num concurso realizado pela Academia de Parma. No ano seguinte, ele estava de volta à sua cidade, onde abriu um ateliê. Ao realizar uma série de murais intitulada Vida da Virgem, Goya teve a sua genialidade reconhecida.

Ao casar-se com a irmã de seu amigo e mestre Francisco Bayeu, Goya teve abertas para si as portas da corte, concretizando seu antigo sonho. Foi morar em Madri com a esposa, na mesma casa do cunhado Francisco que muito o ajudou em seus novos contatos. Em Madri ele foi trabalhar na Real Fábrica de Tapeçaria que tinha a seção pictórica sob a direção do cunhado Francisco Bayeu e do pintor Mariano Salvador Maella. Ali recebeu várias encomendas do futuro Carlos IV e de sua esposa María Luisa, príncipes das Astúrias. Viria depois a ser nomeado pintor oficial da fábrica, continuando a receber inúmeras encomendas. Também deu início à atividade de retratista, pintando várias personagens da nobreza.

O fato de ter vencido o concurso para decorar o retábulo da igreja de San Francisco, El Grande, em Madri, foi uma grande alegria para o pintor. Goya tornou-se um dos pintores mais importantes da Espanha, mal dando conta das inúmeras encomendas da nobreza, das instituições eclesiásticas e civis que recebia, além de ser vice-diretor de pintura e professor da Academia San Fernando. Em consequência disso era convidado pela nobreza para festas e caçadas. Sua situação financeira ia se tornando cada vez melhor. Foi a seguir, juntamente com seu cunhado Francisco Bayeu, nomeado pintor real. Goya chegou a citar, em carta, para seu amigo Francisco Zapater: “Dos reis para baixo, todos me conhecem.”.

Quando viajou a Cadiz, Goya contraiu uma doença devastadora que quase o matou, sendo inclusive impossibilitado de viajar antes de recuperar-se lentamente. Em consequência da doença, o pintor ficou totalmente surdo e com a saúde fragilizada. O trauma advindo do isolamento do mundo dos sons teve um efeito catártico sobre sua obra, liberando sua criatividade sombria, que pode ser vista, em especial, nas suas Pinturas Negras.

Em sua fase negra ele criou uma série de 84 gravuras denominada Os Caprichos. Na série fazia severas críticas à sociedade, combatendo a ignorância e as crendices; criou cenas fantásticas, cenas de pesadelos e cenas violentas, difíceis de serem compreendidas. Como consequência, foi denunciado no Tribunal da Inquisição, fato contornado através de sua boa relação com a nobreza. Numa carta ao seu amigo Zapater, Goya desabafa:

“… para ocupar a mente mortificada pelas reflexões sobre meus males e para recompensar as graves despesas que eles me custaram, pus-me a pintar um grupo de quadros de gabinete, em que o capricho e a invenção podem ter livre passagem.”.

Goya assumiu o cargo de diretor de pintura da Academia de San Fernando, após a morte de seu cunhado Francisco Bayeu. Mas acabou deixando tal função, inconformado com a falta de liberdade criativa da instituição. E a falta de amizade entre Goya e o monarca Fernando VII, que gostava de retratos meticulosamente elaborados, fez com que o pintor não mais recebesse encomendas reais. Goya fez uma série de 80 gravuras, denominada Os Desastres da Guerra e outras séries como: Os Disparates ou Os Provérbios, Os Caprichos, etc. Na sua série Pinturas Negras ele antecipa em meio século o movimento surrealista.

Como podemos observar através de sua trajetória, Goya era ligado à nobreza e à burguesia de sua época, mas sem jamais adotar uma pintura aduladora. O seu espírito estava em consonância com os ideais democráticos e com os reformistas iluminados, com os quais convivia. Basta observar sua obra, uma das mais livres expressões da arte, onde ele se posiciona contra o tradicionalismo obstinado da sociedade espanhola, o antiliberalismo do rei Fernando VII, a Revolução Francesa e as guerras napoleônicas.

 Nota:  autorretrato do pintor ilustra o texto

 Fontes de Pesquisa
Goya/ Abril Coleções
Goya/ Coleção Folha
Goya/ Editora Manole LTDA.

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