Recontado por Lu Dias Carvalho
Andava Actéon, filho do rei Cadmo, a caçar com um grupo de amigos, como se nada mais tivesse a fazer. Já haviam feito uma cruel matança de animais, por mero divertimento. O sangue escorria das redes e das setas, fazendo poças no chão da floresta. A agonia dos animais não tocava o coração daqueles homens insaciáveis. Cansado, o príncipe convocou seus amigos para descansarem. Voltariam no dia seguinte para dar continuidade à matança.
Diana, a deusa virgem da lua e da caça, encontrava-se em seus domínios com suas ninfas, onde havia uma bela gruta, próxima a um riacho de águas límpidas. A deusa cuidava de seu asseio corporal, ajudada pelas companheiras. A uma das ninfas entregou o dardo e a aljava, enquanto outras cuidavam de despojá-la de suas vestes, de levar-lhe água para o banho e pentear-lhe os cabelos. Tudo transcorria na mais perfeita harmonia, quando Actéon, desgarrado dos companheiros, foi parar exatamente ali, à entrada da gruta. As ninfas, surpresas e amedrontadas, correram em alvoroço, tentando cobrir o corpo nu de Diana, com os próprios corpos. Sem as setas à mão, visivelmente indignada, a deusa perpetrou sua vingança, transformando o atrevido num cervo, para que não contasse a ninguém o que vira.
O bonachão filho do rei Cadmo, embora transformado em bicho, carregava a consciência de sua transformação. Não sabia que medidas tomar. Amedrontava-o a ideia de voltar para o palácio e também a de ficar escondido no bosque. Enquanto estava ali a cismar-se, voltou à realidade com o latido da matilha a seu encalço. Desesperado, subia e descia desfiladeiros, cortando-se nos rochedos, com sangue a escorrer-lhe pelo corpo. Sentia na pele exatamente aquilo que viviam os animais caçados por ele e seus amigos, companheiros de farra. E pior, os cães eram açodados por eles. Dando-se por vencido, caiu por terra, com a matilha sobre ele, despedaçando-o, enquanto seus companheiros festejavam. Alguns deles gritavam por seu nome, para que viesse fazer parte da festa. E ali mesmo, Actéon expeliu seu último alento de vida. Diana sentiu-se vingada.
Nota: Diana e Actéon, obra de Ticiano
Fontes de Pesquisa
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM
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