Autoria de Lu Dias Carvalho
Zeca de Sá Quelé achava-se o bambambã da cidade desde o dia em que as moças do lugar resolveram elegê-lo o rapaz mais garboso do pedaço. Tomando o título como um passaporte para os embelecos amorosos, Zeca transformou-se literalmente num “pegador”, um machão. O fraco do moço eram as garotas de fora, às quais chamava de “sangue novo”. Não dava bolas para as conterrâneas que morriam de amores pelo mancebo que se achava a última bolacha do pacote. Desprezava todas.
Foi numa festa para comemorar a inauguração de uma agência bancária que Zeca enrabichou-se pela visitante Samantha com “th”, como ela deixava bem claro, com seus cabelos dourados despencando-lhe pelas costas, os lábios carnudos breados de carmim e um longo pescoço, sempre cingido por um exótico xale de seda vermelha. Os dois dançaram, bem grudadinhos, a noite inteira, trocando beijos e amassos.
A cidadezinha de Zeca no que perdia em tamanho ganhava em língua, de modo que mal o dia amanhecera, espalhando o cheiro de café coado pelo ar, o nome do moçoilo já andava de boca em boca, ou melhor, de porta em porta, pois de acordo com o costume local as pessoas ficavam nas calçadas de manhã e à tardinha, perto das portas, mexericando sobre o que sabiam e o que supunham ser verdade. O assunto que rolava de ponta a ponta do lugar era que Zeca estava de namoro com um travesti.
Dois dias depois, com a certeza de que fora enganado pelo “sangue novo”, e não mais aguentando as alfinetadas das línguas ferinas e o desprezo das donzelas, até então relegadas ao segundo plano, o bambambã caliente, fazendo-se de morto, pegou o ônibus para São Paulo, com a desculpa de que fora convidado para ser modelo. Dizem as más línguas que há mais de oito anos não volta à cidade natal.
A expressão “bambambã” veio do quimbundo (língua da família banta, falada em Angola pelos ambundos). Significa exímio, bom no que faz. A repetição da palavra (bamba, bamba) acabou transformando em bambambã. “Lá em casa todo mundo é bamba, todo mundo bebe, todo mundo samba…“.
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Lu
É ótima essa do “bambambã do pedaço”. Na minha terra alguns dizem “bonitão da Copasa”. Nesta semana duas figuras conhecidas se deram mal por bancar o “bambambã”. Um foi o presidente farofeiro e o outro foi o bonitão do BBB22.
Adevaldo
Estou curiosa para saber em que esparrela os bambambãs farofeiros caíram.
Abraços,
Lu
Lu
Hoje em dia, todo cuidado é pouco, qualquer um pode vestir o traje do BAMBAMBÃ DO PEDAÇO e se enganar. E depois será muito difícil sair desta. Seus causos sempre são hilários, mas têm muito fundamento e tudo se encontra no seio de nossa sociedade.
Ed
Somente hoje vi seu comentário. Estou com saudades.
Abraços,
Lu
Lu
Algumas palavras estão em desuso, vamos ver: supimpa, bacana, altaneiro, garboso, galanteio, sacripanta, despudorado, etc., e tal. Mas quando elas são inseridas no texto dão graça à escrita. Fornecem um tom “vintage”. A sua “decifração de provérbio” acima ficou bem legal!. Destaco o trecho:
“Zeca enrabichou-se pela visitante Samantha com “th”, como deixava bem claro, com seus cabelos dourados despencando-lhe pelas costas, os lábios carnudos breados de carmim e um longo pescoço cingido por um exótico xalé de seda azul e verde.”
Alf
Eu adoro mexer nessas palavras “antigórias”. Dão mesmo um toque risível ao texto, como se tratasse de outros tempos. Engraçado é ver como a língua também segue moda.
No interiorzão, as pessoas ainda possuem uma linguagem com expressões bem antigas.
Abraços,
Lu