Autoria de Lu Dias Carvalho
Belizário Gomes não abria a mão nem para dar bom dia. Era um pão duro de fazer inveja aos mais canguinhas. Num certo dia, o dito cujo resolveu ampliar sua casa para guardar os mantimentos produzidos no quintal, dos quais não doava nem uma palha de milho. Chamou todos os pedreiros da região para fazer um orçamento, mas não se ajeitou com nenhum deles. Alegava para cada um que o preço estava exorbitante e que não era dado a jogar dinheiro fora.
O resmelengo acabou chamando o irmão, Bené Gomes, para fazer o serviço. Sabia que qualquer gorjeta seria suficiente para ele, pois só andava na lona. Só havia um senão, Bené jamais havia botado a mão num cabo de colher de pedreiro, não tendo nenhuma noção do serviço. Quando a mulher alertou Belizário para o problema, alegando que poderia ter um grande prejuízo, ele respondeu de pronto:
– Se até as abelhas, os cupins, as formigas, os castores e os joões-de-barro fazem a própria casa, quanto mais um homem forte e munido de cachimanha como Bené. Além do mais nos tempos de hoje está aí o mestre Google.
A casa foi subindo, adobe por adobe, sem amarração, sem prumo algum. Como Bené estava comendo e dormindo na residência do irmão sovina, queria que o serviço fosse o mais alongado possível, além do mais não conhecia nem mesmo o bê-á-bá daquela profissão. Os adobes eram grudados com umas pás de cimento, cuja massa era feita “tudo pro rumo”, conforme diziam as más línguas.
O tempo encalacrou lá para aquelas bandas, apresentando um mormaço pesado. Foi então que o céu azulou de chuva avisando que o temporal estava a caminho. Não se ouvia nem mesmo um latido de cachorro ou rebusnar de jumento ou o zumbir de um besouro. Parecia estar chegando o fim do mundo. Dona Zirinha pegou seus quatro bruguelos e foi dormir na casa da mãe, ali chegando exasperada:
– Eu não durmo naquela arapuca com os meus filhos nem que a vaca tussa. Se Belizário quer morrer, isso é problema dele, mas que morra sozinho.
Dizem que praga de mulher é a pior das sentenças. Lá pelo meio da noite só se ouviu o estrondo da construção de Belizário e de seu irmão Bené, ruindo conforme previra Zirinha e toda a população do lugar. Até mesmo os bichos sabiam do que ia acontecer, pois nem Valentia e Balacobaco, os dois cachorros, e o gato Borogodó ficaram na casa. Os dois irmãos foram retirados com vida, debaixo de montanhas de adobes. Ambos com cara de quem comeu e não gostou. Foram salvos por um triz. O primeiro quebrou as duas pernas e o segundo um braço, isso sem falar nas escoriações por todo o corpo. E como dizia a esposa do avarento, o barato, muitas vezes, sai caro. E como sai!
Views: 0
Lu,
é uma grande verdade. Existem pessoas que adoram comprar material , mantimentos e outras coisas de muita baixa qualidade para economizar, mesmo tendo condições de ter os melhores. E esses acabam não rendendo ou estragando.
Marinalva
Esta é a mais pura verdade. É preciso buscar sempre o melhor, mas cuidando para pagar o preço justo, fazendo pesquisas para não ser enganado.
Abraços,
Lu
Lu,
“O barato sai caro”, muito pertinente esse dito popular, pois nunca esteve tão apropriado quanto nos dias de hoje. Posso apostar que muitos já passaram por uma situação assim nos últimos meses e nem se deu conta. Escolher a opção mais barata pode não ser a melhor decisão, especialmente por conta de complicações no futuro e, consequentemente, mais gastos. Conheço um caso interessante. Um conhecido meu, chegado do interior, sentiu vontade de comer uma feijoada. Passou em frente a um restaurante que cobrava uma e ofertava outra. Ele não pensou duas vezes, afirmando que comeria para o almoço e o jantar. E assim aconteceu, só que ele se deu mal, pois pegou uma caganeira dos diabos, indo parar no hospital. Ao final ficou mais cara a aventura.
Adevaldo
Muito interessante a história do seu conhecido. Ele achou que comendo duas feijoadas, saindo a segunda de graça, não precisaria gastar dinheiro com o jantar. Imagino que terminou gastando imensamente mais do que o valor pago, pois tratar caganeira não é fácil. Adoro seus casos.
Abraços,
Lu