GIOTTO – O GÊNIO DA PINTURA (Aula nº 28)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

     

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Os artistas italianos (pintores e escultores) demoraram a entrar no espírito da arte gótica, preferindo manter contato com Constantinopla, onde predominava o estilo bizantino, ao invés de buscar Paris, onde o Gótico servia de imitação para a Alemanha e a Inglaterra. Porém, isso também teve importância para a arte, pois o grande conhecimento da tradição bizantina foi o que permitiu aos artistas italianos — com a aproximação do final do século XIII — obter o nível de aperfeiçoamento dos escultores das catedrais nórdicas, também contribuindo para transformar a pintura. A arte bizantina foi responsável por ajudar os pintores italianos a vencer o empecilho que separava a pintura da escultura, pois, embora essa última se tratasse de um estilo inflexível, foi capaz de salvaguardar muitas das descobertas dos pintores helenísticos.

A tarefa do escultor é muito mais simples ao reproduzir a natureza, pois ele não precisa criar ilusão de profundidade mediante o uso da perspectiva ou da modelação em luz e sombra, como é o caso do pintor. Sua estátua ergue-se num espaço real e luz real, criando um grande grau de realismo. Foi por isso que os escultores das esplêndidas catedrais góticas atingiram um grau realístico tal, que nenhum pintor do século XIII foi capaz de conseguir em suas obras. Outra causa que levou à inferioridade desses artistas foi o atrelamento da pintura às regras cristãs, levando os pintores a renunciar a qualquer aspiração de criarem uma ilusão da realidade.

Giotto di Bondone (c. 1267–1337) foi o gênio da arte italiana que conseguiu romper o conservadorismo da arte bizantina, buscando reportar para a pintura as figuras realistas da escultura gótica, inaugurando, assim, um novo estilo na arte pictórica. Ele se especializou em afrescos religiosos. Suas mais famosas criações são murais ou afrescos que se trata de uma técnica de pintura em parede ou teto, feita com tinta diluída em água sobre revestimento ainda fresco e úmido. A tinta precisa ser aplicada no momento certo. Se o gesso estiver muito úmido, a imagem não ficará nítida. Se muito seco, a tinta não grudará na superfície da parede. Suas pinturas eram inspiradas na vida de Cristo e da Virgem Maria, na vida de São Francisco de Assis e na personificação das virtudes e dos vícios.

A arte cristã primitiva — ao contrário da antiga ideia oriental que achava que a clareza ao contar uma história estava no fato de mostrar todas as figuras — rezava que apenas o absolutamente necessário deveria ser mostrado. O pintor Giotto opôs-se a tal ideia, achando que essa excessiva simplicidade era desnecessária, pois muitas vezes afetava a real compreensão do ensinamento repassado. Ele foi capaz de introduzir em suas obras técnicas capazes de criar a ilusão de espaço, fazendo com que todos admirassem as suas habilidades de narrador de histórias. Seus relatos sagrados eram vistos como convincentes monumentos emocionais que tocavam o coração dos fiéis.

A primeira imagem acima, criada por Giotto, representa a “Fé”. Uma matrona segura uma cruz com a mão direita e um pergaminho com a esquerda. O que mais chama a atenção na obra é a sua semelhança com uma escultura gótica, repassando a ilusão de ser uma estátua, quando na verdade trata-se de uma pintura. O artista deu destaque aos braços, modelou rosto e pescoço e botou profundas sombras nas pregas esvoaçantes das vestes da figura. Até então nada parecido com esta pintura do artista italiano havia surgido num período de mil anos.

Giotto havia redescoberto a arte de dar vida à ilusão de profundidade numa superfície plana, ou seja, numa pintura. Com seu novo método criativo o pintor mudou toda a concepção da pintura, repassando a sensação de que a cena acontecia diante dos olhos do observador, pois, para ele, a pintura não era uma mera substituição para a escrita, cuja função única seria a de narrar os ensinamentos cristãos. Ele desejava que os devotos se sentissem fazendo parte da composição.

A segunda imagem representa uma das belas obras de Giotto  intitulada “A Morte de São Francisco de Assis” em que ele mostra o exato momento em que um dos frades presentes na cena, levanta o hábito do santo e vê que ele tinha recebido estigmas, ou seja, as marcas da crucificação de Cristo. É possível notar como cada um dos monges reage emocionalmente à descoberta de que seu líder espiritual  tinha grande afinidade com Cristo. Observem como o uso da profundidade permite que as inúmeras figuras fiquem bem posicionadas na composição.

Os afrescos de Giotto di Bondone foram caiados de branco em 1700, por ordem dos Medici, em um esforço para modernizar e simplificar o interior das grandes igrejas de Florença. A cal foi removida em 1852 e a arte restaurada. Na década de 1960, eles foram reparados da restauração em 1852. Em 1966, a grande enchente danificou grande parte da igreja. Esse trabalho de limpeza durou pelo menos 10 anos.

O afresco acima, representando a morte de São Francisco, mostra-se bastante irregular em razão dos muitos danos pelos quais passou. Ainda assim, dá para notar a expressão extremamente calma do rosto do santo, enquanto há uma grande tristeza no rosto dos monges e nobres próximos ao seu leito, ajoelhados em oração. As figuras demonstram a marca registrada de Giotto: corpos impassíveis e de constituição sólida, com mantos esvoaçantes e roupas descendo em dobras e pregas belamente ornamentadas que resistiram ao  tempo.

A fama de Giotto di Bondone foi imediata, atingindo várias cidades italianas, ganhando ele a estima de todos, embora se conheça muito pouco sobre a primeira fase de sua vida. Até então não se preservava o nome do artista para a posteridade, tanto é que pouco sabemos sobre os nomes dos escultores de obras magistrais da arte gótica.  Tampouco os artistas se preocupavam com isso. Na maioria das vezes sequer assinavam suas obras, sendo apreciados apenas no seu tempo. Como disse o Prof. E. H. Gombrich, ao referir-se a Giotto: “Dos seus dias em diante a história da arte, primeiro na Itália e depois em outros países, passou a ser também a história dos grandes artistas”.

Exercício
Para o enriquecimento deste texto/aula os participantes deverão responder as duas perguntas e acessar o link abaixo:

  1. Por que Giotto di Bondone foi importante para a arte?
  2. O que chama a atenção na sua obra , ilustrada acima?
  3.   Mestres da Pintura – GIOTTO DI BONDONE

Ilustração: 1. Fé, c. 1305 (detalhe de um afresco)/ 2. A Morte de São Francisco de Assis” (c. 1315-1320).

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

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OS RETRATOS NA IDADE MÉDIA (Aula nº 27)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

      

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A arte deu um grande passo no século XIII, quando os artistas, vez ou outra, deixavam de lado seus cadernos de modelos com o objetivo de criar algo que dissesse respeito à sua própria vontade, sem levar em conta as exigências às quais deviam obedecer e que, de certa forma, tolhia-lhes a liberdade criativa. Para a época tal iniciativa teve um grande significado para a arte, uma vez que o artista da Idade Média tinham sempre um modelo convencional que lhe servia de parâmetro.

O treinamento e a formação do artista medieval diferem muito daquilo que conhecemos hoje. O primeiro passo era tornar-se aprendiz de um mestre, a quem o aluno ajudava em seus trabalhos, de acordo com as suas orientações. Ao aprendiz cabia as partes menos importantes de uma pintura. Gradualmente ia aprendendo a representar um apóstolo, a desenhar a Virgem Maria, a copiar e a reagrupar cenas de velhos livros e a inseri-las em diversos contextos e, finalmente, quando já tinha bastante traquejo, era-lhe permitido ilustrar uma cena da qual não tinha nenhum modelo. Contudo, em sua carreira de artista ele jamais necessitaria pegar um livro de esboço e criar algo a partir da vida real. Isso estava fora de cogitação.

Ao encomendar um retrato, a pessoa já sabia que não receberia uma obra fiel, com as suas devidas características. Desenhava-se uma figura convencional, acrescentando a ela as insígnias do cargo que ocupava (coroa e cetro para o rei, mitra e báculo para o bispo, etc.). Algumas vezes escrevia-se embaixo o nome do sujeito representado, quando esse não era muito conhecido, a fim de que não houvesse equívoco quanto à sua pessoa. Será que esses artistas medievais não tinham capacidade para criar um retrato que fosse fiel à encomenda? Claro que tinham, mas não se tratava disso! Naquela época ainda não se cogitava se sentar diante de uma pessoa ou objeto e fazer uma cópia do que se via, durante horas a fio. Para tudo já havia um modelo convencional, ao qual se aplicava alguns detalhes a mais.

Como foi dito anteriormente, o artista do século XIII ocasionalmente ousava representar aquilo que lhe interessava pessoalmente, sem se ater aos ensinamentos didáticos, ou seja, sem levar em conta um modelo convencional. O retrato do elefante que ilustra este texto é um exemplo disso. Foi desenhado por Matthew Paris — monge beneditino e historiador inglês — em meados do século XIII. É claro que o animal não saiu muito bem feito, apesar de o artista demonstrar sua preocupação com suas proporções. Entre as patas do paquiderme há uma inscrição latina que diz: “Pelo tamanho do homem neste retrato podeis imaginar o tamanho do animal aqui representado”. Ainda que o elefante possa se mostrar meio desajeitado, fica claro que os artistas medievais tinham consciência de pontos como proporções, ainda que não os usassem em suas obras. Mas por que deles não faziam uso? Simplesmente não  achavam necessários, ou seja, para eles tais incrementos  não faziam diferença nenhuma no conjunto da obra. E assim seguia a corrente…

Exercício
Para o enriquecimento deste texto/aula os participantes deverão responder as questões abaixo e acessar o link  para complementar a aula:

  1. Como era a formação do pintor medieval?
  2. Como eram criados os retratos nessa época?
  3. Nicola Pisano – ANUNCIAÇÃO, NATIVIDADE…

Ilustração: pintura românica medieval (data não encontrada) / 2. O Elefante de Matthew Paris, c. 1255

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

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Nicola Pisano – ANUNCIAÇÃO, NATIVIDADE…

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Autoria de Lu Dias Carvalho

 
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 A França do século XIII, dona das majestosas catedrais, era o país mais importante e rico da Europa. A Universidade de Paris surgia como o centro intelectual do mundo. Os feitos dos importantes construtores das catedrais francesas eram reproduzidos na Alemanha e na Inglaterra. Enquanto isso, a Itália regredia em meio às guerras entre suas cidades.  Os pintores italianos foram ainda mais vagarosos do que os escultores para aderir ao estilo gótico, preferiam buscar inspiração em Constantinopla do que em Paris.

Foi somente na segunda metade do século XIII é que Nicola Pisano, escultor italiano — legitimamente considerado o fundador da escola de escultura italiana —, pai do talentoso escultor Giovanni Pisano, passou a seguir o exemplo dado pelos mestres franceses e a estudar as técnicas da escultura clássica, com o objetivo de representar a natureza de um jeito mais persuasivo.

Pisano recebeu como encomenda a decoração do batistério de Pisa, sendo ajudado por vários assistentes. Esse trabalho no púlpito (século XIII) é tido como uma de suas obras-primas, na qual conseguiu fazer uma síntese do estilo gótico francês com o estilo clássico da antiga Roma. Seguindo o método medieval, o artista colocou várias passagens bíblicas numa só moldura.

O púlpito hexagonal (gravura à direita) possui cinco cenas em mármore branco de Carrara, representando a vida de Cristo: a Natividade, a Anunciação, o Aviso aos Pastores, a Adoração dos Magos e a Apresentação, Crucificação e Último Julgamento. A ilustração em destaque diz respeito à cena intitulada “Anunciação, Natividade e Pastores” (ilustração à esquerda). Vejamos como se desdobra esta escultura:

  • o canto esquerdo apresenta o anjo Gabriel dizendo à Virgem Maria que ela seria a mãe do Salvador;
  • no centro da composição uma enorme Virgem Maria, deitada num estrado de cama, olha para a sua direita;
  • São José encontra-se agachado no canto inferior esquerdo, enquanto Sant’Ana e uma mulher dão banho na criança recém-nascida;
  • a Virgem usa uma coroa sobre a cabeça da mesma maneira como as matronas romanas usavam-na;
  • no canto superior direito a cena refere-se à anunciação dos pastores, mostrando o Menino Jesus numa manjedoura e muitos caprinos abaixo;
  • São muitos os detalhes vistos na composição como, o bode coçando a cabeça com o  casco.                                                                                                                                       

  Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich
 Ilustração:  pintura românica, medieval (data não encontrada)

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

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NOTRE-DAME E SUAS ESCULTURAS (Aula nº 26 B)

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 Autoria de Lu Dias Carvalho

        
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 A Catedral Notre-Dame de Chartres — edificada sobre uma antiga igreja românica — é uma obra em estilo gótico, construída no século XII e reconstruída no XIII, após pegar fogo. Situa-se na cidade de Chartres, a noroeste da França. Foi declarada Patrimônio Mundial pela UNESCO. Toda a sua edificação perfaz um total de 130 metros de comprimento e 64 de largura e acompanha a verticalidade do estilo gótico. Os arcos ogivais que a compõem possuem entre 35 e 36 metros de altura. Uma de suas torres tem 104 metros e outra 115. Cada uma de suas três rosáceas possui 13 metros de diâmetro. Possui mais de quatro mil estátuas esculpidas e cerca de cinco mil personagens pintados nos mais de 150 vitrais — tidos como os mais belos do mundo — de suas inúmeras janelas medievais. O tom de azul utilizado nos vitrais é tão incomum e resistente ao tempo que recebeu o nome de “bleu de Chartres” (azul de Chartres).

Ao contrário do que acontecia com a escultura dos mestres românicos que pareciam firmemente presas à moldura arquitetônica, as que aqui se encontram (mais de quatro mil) — fruto do estilo gótico — parecem ter vida própria, como se interagissem umas com as outras. As vestes magníficas e fluidas das estátuas demarcam em algumas partes o contorno corporal. A  entrada central da Catedral de Notre-Dame apresenta um belíssimo pórtico (arcada construída na entrada do edifício) com a representação de quatro santos.

A fim de que fossem conhecidas pelos fiéis, a maioria das figuras que ornam os pórticos das catedrais góticas possuíam um emblema ou símbolo que os levava ao entendimento da mensagem e à meditação (o leitor deverá clicar na figura três, à direita, pois essa amplia várias vezes a imagem mostrando tais figuras. Assim poderá ver de pertinho um exemplo da arte estatuária presente na catedral, ao ampliar e mover a figura de um lado para outro). Vamos falar especificamente de três figuras bíblicas relativas ao Antigo Testamento, situadas neste portão central, podendo ser facilmente reconhecidas:

  • Abraão, o Patriarca, com seu pequeno filho Isaque pronto para ser sacrificado, como mostram suas mãos e pés amarrados;
  • Moisés segurando as tábuas onde estão gravados os Dez Mandamentos e também a coluna com a serpente de bronze sobre ela, responsável pela cura dos israelitas;
  • Melquisedeque — rei de Salém — segurando um cálice e o turíbulo do oficiante, pois na teologia medieval ele era tido como o modelo do sacerdote que administra os sacramentos.

Para o escultor gótico as estátuas não eram somente símbolos sagrados, mas também figuras autônomas, cheias de dignidade individual, cada uma delas mostrando o papel do representado dentro da religião cristã. As Tábuas da Lei, por exemplo, remetem a Moisés e o pequeno Isaque remete a Abraão, etc.

Exercício

  1. Qual a diferença entre as esculturas românicas e góticas em relação à arquitetura?
  2. O que tornava as figuras reconhecidas pelos fiéis?
  3. O que sabe sobre a Catedral Notre-Dame de Chartres e o que lhe aconteceu recentemente?

Ilustração: A Catedral Notre-Dame de Chartres vista externa e internamente.

Fonte de pesquisa:
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

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Velázquez – O DEUS MARTE

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 Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor espanhol Diego da Silva Velázquez (1599–1660) encontra-se no rol dos maiores pintores da história da arte. Seus pais, Juan Rodríquez da Silva e Jerónima Velázquez, ambos de Sevilha, faziam parte da pequena nobreza e gozavam de pequeno prestígio social e político. Ao descobrirem o talento do primogênito da família para o desenho, tudo fizeram para encaminhá-lo em sua vocação. Aos dez anos de idade o menino foi estudar com o pintor Francisco Herrera, o Velho, mas ali ficou poucos meses, pois não se agradou do jeito do mestre. A seguir, ele foi estudar com o renomado pintor Francisco Pacheco de erudição humanista e em cujo ateliê reunia-se o grosso da intelectualidade, o que muito contribui para a sua formação.

A composição intitulada O Deus Marte — e também Marte Descansando — é uma obra do artista que nela mostra a sua maestria como retratista de temas imaginários. Velázquez retrata Marte — o deus romano da guerra e guardião da agricultura — em tamanho real, com grande realismo, mas não se sabe se o artista usou um modelo vivo. O mito é mostrado como um homem de meia idade, cuja pele já mostra dobras na barriga. Ele se encontra em sua cama desarrumada, de frente para o observador, com a mão direita segurando o queixo. Seu corpo está bem centrado na composição. A ponta do elmo ocupa o centro da parte superior da tela. A pintura segue a ordem iconográfica da esquerda para a direita — ritmo de Velazquez.

A figura escultural de Marte sentada em seu leito desarrumado é retratada em escala humana e em atitude de repouso sobre um fundo escuro. Traz o corpo nu, exceto pela tanga azul e pelo manto vermelho que lhe cobrem os quadris — ambos feitos com os lençóis da cama. É possível perceber que a tanga cobria originalmente um espaço maior da perna esquerda e seguia o contorno da direita. Um grande bigode adorna seu rosto, contribuindo para realçar ainda mais a sua melancolia. Na cabeça ele traz seu capacete, cuja viseira abaixada faz sombra em seu rosto. Segura com certa relutância na mão direita, escondida sob o manto vermelho, um cajado apoiado no chão. A seus pés estão o escudo, a espada e o resto da armadura, aparentemente ali jogados. Tais atributos bélicos são responsáveis por sua identificação

Alguns críticos de arte veem na situação embaraçosa e intrigante do mito uma relação com Vênus — deusa do amor —, sua amante, cuja traição foi descoberta por Vulcano, seu marido. Marte estaria tentando compreender o fim intempestivo de seu relacionamento. Esta pintura trata-se de uma representação satírica do deus.

Obs.: Muito se tem falado sobre a relação desta pintura com duas esplêndidas esculturas, muito familiares aos artistas no século XVII: Ludovisi Ares (uma cópia romana de um original grego) e Il pensieroso (O pensador) — uma das esculturas de Michelangelo. A pintura de Velázquez, no entanto, revela um desejo claro de representar carne viva com sangue correndo em suas veias, ao invés de imitar pedra esculpida. O pintor construiu sua figura fundamentalmente com base na cor e não na linha, com pinceladas livres e generosas produzindo contornos maravilhosamente difusos.  (Museu del Prado)

Ficha técnica
Ano: c. 1640
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 167 x 97 cm
Localização: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições
https://www.museodelprado.es/en/the-collection/art-work/mars/ec55aa06-b32e-481

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A MORTE DA VIRGEM – CAT. DE ESTRABURGO (Aula nº 26 A)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

  

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A belíssima Catedral de Estraburgo ou Catedral de Nossa Senhora de Estraburgo — edificada em estilo gótico — foi erguida em cerca de 1230 (século XIII) e situa-se na cidade de Estraburgo/França. Em um de seus pórticos está representada “A Morte da Virgem” (ver segunda ilustração acima) que ora é descrita.

A Virgem Maria, deitada em seu leito de morte, tem perto de si os doze apóstolos, sendo que um deles encontra-se debruçado à sua cabeceira e outro a seus pés. À sua direita encontra-se Maria Madalena, sentada no chão, com os olhos voltados para ela. No centro da composição em meio aos discípulos encontra-se seu filho Jesus Cristo recebendo a sua alma — representada pela estatueta apoiada em sua mão esquerda.

O artista que esculpiu a obra ainda se preocupou com a simetria — característica do estilo românico — ao colocar as cabeças dos apóstolos em torno do arco. Também há simetria (correspondência em forma, grandeza e localização entre as partes existentes de um lado e do outro de determinada linha, plano ou eixo) na disposição dos dois apóstolos: um que se debruça sobre a cabeceira e o outro sobre os pés do leito.

O escultor também se preocupou em dar vida aos personagens retratados. Um semblante tenso e um olhar que repassa grande dor é visto nos apóstolos. Três deles trazem a mão no rosto, denotando sofrimento e luto. Maria Madalena torce as mãos em visível sofrimento. A expressão de seu rosto aflito contrasta com a serenidade vista no rosto da Virgem Mãe em seu leito de morte.

Ao contrário do que era visto nas esculturas românicas, quando as vestes pareciam envoltórios vazios, ou seja, sem corpos por baixo delas, os artistas góticos aparentemente buscaram na arte greco-romana a sua beleza, permitindo que a estrutura do corpo se mostrasse debaixo das dobras das vestimentas. A maneira como as mãos e os pés da Virgem aparecem sob o tecido de suas vestes deixa claro que aos escultores góticos interessava a representação, mas também o modo de representá-la.

Uma diferença fundamental separava os artistas gregos dos góticos. Enquanto aos primeiros importava criar a imagem de um formoso corpo, aos segundos interessava ensinar as Escrituras Sagradas de um modo mais real e que fosse capaz de comover os fiéis. Na escultura em questão o artista gótico preocupou-se muito mais com o proceder de Jesus ao olhar para sua mãe agonizante do que em representar seus músculos. Até mesmo porque — segundo a visão cristã da época — a mensagem deveria ser a mais clara possível, eliminando tudo que fosse inútil.

Exercício

  1. O que você sabe sobre a Catedral de Estraburgo?
  2. Quais são os exemplos de simetria vistos na “Morte da Virgem”?
  3. Qual a diferença entre as esculturas romanas e as góticas em relação às vestes?

Fonte de pesquisa:
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

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