Autoria de Lu Dias Carvalho
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Os artistas italianos (pintores e escultores) demoraram a entrar no espírito da arte gótica, preferindo manter contato com Constantinopla, onde predominava o estilo bizantino, ao invés de buscar Paris, onde o Gótico servia de imitação para a Alemanha e a Inglaterra. Porém, isso também teve importância para a arte, pois o grande conhecimento da tradição bizantina foi o que permitiu aos artistas italianos — com a aproximação do final do século XIII — obter o nível de aperfeiçoamento dos escultores das catedrais nórdicas, também contribuindo para transformar a pintura. A arte bizantina foi responsável por ajudar os pintores italianos a vencer o empecilho que separava a pintura da escultura, pois, embora essa última se tratasse de um estilo inflexível, foi capaz de salvaguardar muitas das descobertas dos pintores helenísticos.
A tarefa do escultor é muito mais simples ao reproduzir a natureza, pois ele não precisa criar ilusão de profundidade mediante o uso da perspectiva ou da modelação em luz e sombra, como é o caso do pintor. Sua estátua ergue-se num espaço real e luz real, criando um grande grau de realismo. Foi por isso que os escultores das esplêndidas catedrais góticas atingiram um grau realístico tal, que nenhum pintor do século XIII foi capaz de conseguir em suas obras. Outra causa que levou à inferioridade desses artistas foi o atrelamento da pintura às regras cristãs, levando os pintores a renunciar a qualquer aspiração de criarem uma ilusão da realidade.
Giotto di Bondone (c. 1267–1337) foi o gênio da arte italiana que conseguiu romper o conservadorismo da arte bizantina, buscando reportar para a pintura as figuras realistas da escultura gótica, inaugurando, assim, um novo estilo na arte pictórica. Ele se especializou em afrescos religiosos. Suas mais famosas criações são murais ou afrescos que se trata de uma técnica de pintura em parede ou teto, feita com tinta diluída em água sobre revestimento ainda fresco e úmido. A tinta precisa ser aplicada no momento certo. Se o gesso estiver muito úmido, a imagem não ficará nítida. Se muito seco, a tinta não grudará na superfície da parede. Suas pinturas eram inspiradas na vida de Cristo e da Virgem Maria, na vida de São Francisco de Assis e na personificação das virtudes e dos vícios.
A arte cristã primitiva — ao contrário da antiga ideia oriental que achava que a clareza ao contar uma história estava no fato de mostrar todas as figuras — rezava que apenas o absolutamente necessário deveria ser mostrado. O pintor Giotto opôs-se a tal ideia, achando que essa excessiva simplicidade era desnecessária, pois muitas vezes afetava a real compreensão do ensinamento repassado. Ele foi capaz de introduzir em suas obras técnicas capazes de criar a ilusão de espaço, fazendo com que todos admirassem as suas habilidades de narrador de histórias. Seus relatos sagrados eram vistos como convincentes monumentos emocionais que tocavam o coração dos fiéis.
A primeira imagem acima, criada por Giotto, representa a “Fé”. Uma matrona segura uma cruz com a mão direita e um pergaminho com a esquerda. O que mais chama a atenção na obra é a sua semelhança com uma escultura gótica, repassando a ilusão de ser uma estátua, quando na verdade trata-se de uma pintura. O artista deu destaque aos braços, modelou rosto e pescoço e botou profundas sombras nas pregas esvoaçantes das vestes da figura. Até então nada parecido com esta pintura do artista italiano havia surgido num período de mil anos.
Giotto havia redescoberto a arte de dar vida à ilusão de profundidade numa superfície plana, ou seja, numa pintura. Com seu novo método criativo o pintor mudou toda a concepção da pintura, repassando a sensação de que a cena acontecia diante dos olhos do observador, pois, para ele, a pintura não era uma mera substituição para a escrita, cuja função única seria a de narrar os ensinamentos cristãos. Ele desejava que os devotos se sentissem fazendo parte da composição.
A segunda imagem representa uma das belas obras de Giotto intitulada “A Morte de São Francisco de Assis” em que ele mostra o exato momento em que um dos frades presentes na cena, levanta o hábito do santo e vê que ele tinha recebido estigmas, ou seja, as marcas da crucificação de Cristo. É possível notar como cada um dos monges reage emocionalmente à descoberta de que seu líder espiritual tinha grande afinidade com Cristo. Observem como o uso da profundidade permite que as inúmeras figuras fiquem bem posicionadas na composição.
Os afrescos de Giotto di Bondone foram caiados de branco em 1700, por ordem dos Medici, em um esforço para modernizar e simplificar o interior das grandes igrejas de Florença. A cal foi removida em 1852 e a arte restaurada. Na década de 1960, eles foram reparados da restauração em 1852. Em 1966, a grande enchente danificou grande parte da igreja. Esse trabalho de limpeza durou pelo menos 10 anos.
O afresco acima, representando a morte de São Francisco, mostra-se bastante irregular em razão dos muitos danos pelos quais passou. Ainda assim, dá para notar a expressão extremamente calma do rosto do santo, enquanto há uma grande tristeza no rosto dos monges e nobres próximos ao seu leito, ajoelhados em oração. As figuras demonstram a marca registrada de Giotto: corpos impassíveis e de constituição sólida, com mantos esvoaçantes e roupas descendo em dobras e pregas belamente ornamentadas que resistiram ao tempo.
A fama de Giotto di Bondone foi imediata, atingindo várias cidades italianas, ganhando ele a estima de todos, embora se conheça muito pouco sobre a primeira fase de sua vida. Até então não se preservava o nome do artista para a posteridade, tanto é que pouco sabemos sobre os nomes dos escultores de obras magistrais da arte gótica. Tampouco os artistas se preocupavam com isso. Na maioria das vezes sequer assinavam suas obras, sendo apreciados apenas no seu tempo. Como disse o Prof. E. H. Gombrich, ao referir-se a Giotto: “Dos seus dias em diante a história da arte, primeiro na Itália e depois em outros países, passou a ser também a história dos grandes artistas”.
Exercício
Para o enriquecimento deste texto/aula os participantes deverão responder as duas perguntas e acessar o link abaixo:
- Por que Giotto di Bondone foi importante para a arte?
- O que chama a atenção na sua obra Fé, ilustrada acima?
- Mestres da Pintura – GIOTTO DI BONDONE
Ilustração: 1. Fé, c. 1305 (detalhe de um afresco)/ 2. A Morte de São Francisco de Assis” (c. 1315-1320).
Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich
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Lu
São fantásticas as criações do pintor italiano Giotto di Bondone que aprendeu a dominar os pincéis, as cores e as formas e ao mesmo tempo desenvolveu suas próprias ideias sobre pintura, modificando a história da arte pictórica. Criou inovações que introduziu na pintura da época, tornando a arte ainda mais bela. Achava indispensável representar traços humanos nos santos, humanizando-os. Suas obras são muito naturais. Giotto foi o pioneiro na introdução tridimensional na pintura europeia. Criou trabalhos fantásticos como “Fé” e a “Morte de São Francisco de Assis”.
Marinalva
Giotto di Bondone realmente foi um artista surpreendente, pois ao desenvolver suas ideias e aplicá-las, acabou transformando a arte. O observador deixou de ser um mero espectador para fazer parte da cena, como se fosse um de seus personagens. Nossa próxima aula será o estudo de um dos mais belos quadros de Giotto. Espero que goste!
Abraços,
Lu
Lu
Os trabalhos artísticos de Giotto foram fundamentais para a transição entre a arte medieval e o Renascimento. As influências da arte bizantina tiveram um papel muito grande nos trabalhos do artista, mas ele não ficou preso às suas regras, como aconteceu com outros artistas, impedidos de se expressar conforme queriam, tendo que seguir os temas já determinados. Giotto fez uso de trabalhos reais e humanistas, levando o observador a se encantar com sua naturalidade, com a ilusão de profundidade e com a mensagem de sua obra cheia de beleza.
A arte é algo mágico, ela pode estar presente em qualquer tempo, porque não existe limite para sua transcendência e, quando isso acontece, consegue transformar tudo em beleza e harmonia.
Hernando
Giotto foi realmente fenomenal ao criar a ilusão de profundidade, mudando toda a história da arte. Não é à toa que tenha sido tão admirado por seus contemporâneos e por todas as gerações de artistas que vieram depois dele. E, como você afirmou, a arte é transcendente, e jamais deixará de existir, quaisquer que sejam as agruras da história de um povo.
Abraços,
Lu
Lu
É bem interessante a inserção da profundidade no campo nas pinturas, uma técnica que as câmeras fotográficas “enxergam bem”. Na pintura “A morte de São Francisco”, o artista utiliza faixas brancas, onde estão inseridos desenhos bem sutis, fica parecendo que esse propósito é mais forte do que criar planos diferentes. Na primeira pintura a utilização das cores, sombras e linhas denotam a grande busca do artista pela profundidade em sua bela arte.
Antônio
Giotto foi um artista que se encontrava bem além de seu tempo. Sua criatividade elevou a arte pictórica a um patamar jamais imaginável para época. É claro que mais tarde tal descoberta acabaria acontecendo, mas vê-la brotar na Idade Média foi realmente assombroso, no sentido bom. Nós teremos a oportunidade de estudar muito sobre Giotto e suas obras encantadoras.
Sobre as faixas brancas, leia o que pesquisei:
“Obs.: Os afrescos de Giotto di Bondone foram caiados de branco em 1700, por ordem dos Médici, em um esforço para modernizar e simplificar o interior das grandes igrejas de Florença. A cal foi removida em 1852 e a arte restaurada. Na década de 1960, eles foram reparados da restauração em 1852. Em 1966, a grande enchente danificou grande parte da igreja. Esse trabalho de limpeza durou pelo menos 10 anos.”
Abraços,
Lu
Lu
Muito interessante a história e a importância de Giotto para a inovação da arte pictórica. Sua obra “Fé” é esplêndida, mostra seu talento na busca pela profundidade e volume, confirmando o registro de ter inaugurado um novo estilo na arte pictórica. Interessante, também, quando você afirma que Pasolini assumiu o papel de Giotto ao recriar o quadro vivo “O Juiz Final” no filme Decameron. Assisti a esse filme que foi baseado na grande obra de Bocaccio e depois dessa aula pretendo ver de novo, pois na época pouco conhecia sobre artes.
Adevaldo
Embora a arte esteja estritamente correlacionada com a sensibilidade, o estudo das diferentes eras e estilo abre a nossa visão para algo bem maior, como você registra em seu comentário:
“….quando você afirma que Pasolini assumiu o papel de Giotto ao recriar o quadro vivo “O Juiz Final” no filme Decameron. Assisti a esse filme que foi baseado na grande obra de Bocaccio e depois dessa aula pretendo ver de novo, pois na época pouco conhecia sobre artes.”
O estudo da História da Arte permitiu que você tivesse um novo olhar sobre o filme visto. E mais, sentiu o desejo de revê-lo para contemplar uma cena específica, ligada ao trabalho do artista.
Abraços,
Lu
Lu
Posso dizer que cada leitura para mim é uma viagem incrível pela história da arte. Perfeita harmonia entre fotos e sua aplicação.
Gratidão querida escritora!
Pat
Você é uma companheirona que vem desde o início do blogue em 2013. Sua presença é sempre motivo de grande alegria para mim, pois a acho uma pessoa excepcional. Saber que me acompanha é motivo de grande orgulho para mim. A gratidão é minha, cara amiga.
Beijos,
Lu
Obrigada, querida Lu, por nos presentear com este texto!
Marcela
Eu também sou apaixonada pelas obras de Giotto. Muitas outras belezas virão. Aguarde.
Beijos,
Lu