DECORAÇÃO DAS IGREJAS CRISTÃS (Aula nº 18)

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Autoria de Lu Dias Carvalho

Ao transformar-se na religião oficial do Império Romano, tornando-se um poder dentro do Estado, cabia à Igreja Cristã adaptar-se aos novos tempos. Até então os seguidores de Cristo não tinham tido necessidade ou possibilidade de construir espaços públicos para os cultos. Os que existiam eram pequenos e simples. Também não podiam aproveitar os templos pagãos, uma vez que esses tinham finalidade diferente, sendo seu interior normalmente diminuto, com a função única de abrigar a estátua de um deus. Todo cerimonial referente ao culto desse ou daquele deus era realizado do lado de fora de seus templos. A Igreja Cristã passou a necessitar de espaços grandes para congregar seus adeptos em número cada vez maior. Em razão disso foram criados grandes salões que se tornaram conhecidos pelo nome de “basílica”.

Uma grande questão se apresentou em relação à decoração dessas basílicas. O problema da imagem e de seu uso na religião voltou à tona. Violentas disputas surgiram entre os cristãos até então unidos, cordiais e contidos. A maioria deles achava que a presença de imagens de seus santos — ainda que copiadas da vida real — iria confundir os fiéis da nova religião, pois se pareciam muito com a dos deuses pagãos. Contudo, no que diz respeito à pintura, a maioria dos cristãos era a favor, sob o argumento de que seriam importantes, pois ajudariam a lembrar os ensinamentos recebidos, mantendo vivos na memória a lembrança dos relatos sagrados.

A posição do papa Gregório Matos, ao convencer os fiéis de que “A pintura pode fazer pelos analfabetos o que a escrita faz pelos que sabem ler”, foi de extrema importância para a história da arte que perigava ser banida da Igreja Cristã. Como a arte dos egípcios, a cristã também tinha que se sujeitar às normas estabelecidas pela Igreja. Uma das mais importantes dizia que a história bíblica deveria ser apresentada de maneira clara e simples, omitindo tudo aquilo que pudesse desviar o cristão de seu objetivo sagrado. Ainda que por um tempo, os artistas usaram métodos repassados pela arte romana, mas aos poucos foram se aperfeiçoando na arte de retratar apenas o essencial. A visão dos artistas egípcios quanto à clareza, assim como as formas desenvolvidas pelos artistas da pintura grega misturavam-se na arte cristã.  É por isso que a arte cristã da Idade Média — período transcorrido entre os anos de 476 a 1453 — transformou-se numa fusão de elementos primitivos e refinados.

Uma parte dos cristãos das regiões orientais de fala grega que tinha por capital a cidade de Bizâncio (ou Constantinopla) firmou posição contra toda e qualquer imagem de natureza religiosa. Em 754 os chamados “iconoclastas” proibiram qualquer forma de arte religiosa na Igreja Oriental. Quando o grupo contrário a esse assumiu o poder — após um século de repressão —, as pinturas voltaram às igrejas do Oriente, sendo consideradas “reflexos misteriosos do mundo sobrenatural”. Uma imagem só era considerada sacra ou um “ícone”, se fosse consagrada por uma tradição de séculos, devendo, a exemplo dos egípcios, respeitar as tradições. Ainda assim a Igreja Bizantina contribuiu para conservar as ideias e realizações da arte grega no que diz respeito a faces, gestos e vestes. As regras impostas aos artistas quanto à representação de Cristo ou da sua mãe Maria impediu que os artistas bizantinos desenvolvessem plenamente sua capacidade criativa. Contudo, a arte bizantina deixou trabalhos maravilhosos.

Esse período não foi muito promissor para a arte, uma vez que minou o poder dos artistas quanto à observação da natureza, pois esses deixaram de comparar suas formas com a realidade. Não mais tinham interesse em fazer novas descobertas sobre como representar um corpo ou desenvolver uma ilusão de profundidade. As obras artísticas tinham sempre a supervisão de teólogos que fiscalizavam o trabalho do artista, dizendo o que podia ser feito ou não. Tudo devia seguir a orientação teológica. Ainda bem que as descobertas feitas anteriormente pelos artistas da arte greco-romana não foram esquecidas, pois um grande repertório de suas figuras nas mais variadas posições foi usado pelos artistas cristãos, a fim de contar as histórias bíblicas.

Nos dias anteriores à Internet, o conhecimento era valioso. Nos anos 1300 e antes, ler e escrever eram domínio de algumas pessoas de confiança, quase sem falta de homens religiosos por causa dos perigos percebidos pelo excesso de informação. No entanto, histórias bíblicas, fábulas morais e a vida dos santos eram consideradas conhecimentos que todos deveriam ter.

Exercício:

  1. OS MOSAICOS DA IGREJA DE SÃO VITAL
  2. A IMPERATRIZ TEODORA E SEU SÉQUITO
  3. O CRISTO PANTOCRATOR

Ilustração: 1. São Vital, mosaico, século VI

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

Views: 4

A ARTE CRISTÃ E BIZÂNCIO (Aula nº 17)

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Autoria de Lu Dias Carvalho

                          

                                            (Clique nas imagens para ampliá-las.)

O cristianismo era no século I d.C. apenas uma seita quase que totalmente desconhecida na Palestina, mas em 313 d.C. passou a ser a religião oficial do Império Romano, conforme decreto do Imperador Constantino. Antes disso, porém, foi uma religião clandestina, resistindo ao rigor das autoridades romanas. O auge de sua perseguição aconteceu no reinado do imperador Deocleciano (284 – 305), quando as reuniões cristãs tornaram-se secretas. Suas obras de arte eram portáteis ou ocultadas dos censores nas catacumbas (galerias escavadas no subsolo, onde os primeiros cristãos eram sepultados, ali também se realizavam rituais fúnebres e muitas vezes serviram de esconderijo secreto dos cristãos). A arte cristã primitiva é também conhecida como “paleocristã” (do grego palaios, antigo).

A arte cristã no Ocidente apareceu antes que o cristianismo viesse a tornar-se oficial, sendo seus primeiros exemplos encontrados nas catacumbas. Suas paredes continham imagens simples que diziam respeito a uma simbologia própria dos cristãos: peixe, pomba com ramo de oliveira, pão eucarístico, âncora, cruz ou monograma de Cristo. As obras mais ousadas da arte cristã em seus primeiros tempos eram inspiradas em modelos clássicos. Cristo era, muitas vezes, representado como um jovem sem barba, tomando o artista por inspiração as estátuas dos deuses Apolo, Mercúrio ou Orfeu, a exemplo de “O Bom Pastor”, obra inspirada em estátuas clássicas de Mercúrio, deus romano protetor do rebanho e associado ao deus grego Hermes, segundo a mitologia greco-romana.

Mesmo após a liberdade religiosa conferida aos cristãos, seus artistas precisaram de um tempo para criar uma linguagem religiosa específica. À época, as imagens referentes à crucificação de Cristo ou de seus santos não eram aceitas sob a alegação de que essa forma aviltante de execução dizia respeito apenas a escravos e criminosos. Enquanto não criavam uma obra própria, os artistas cristãos recorriam a imagens clássicas de deuses romanos, a exemplo de “O Bom Pastor” (primeira ilustração acima à esquerda), temas mais representados, tanto em pinturas, mosaicos e esculturas. A ovelha no ombro de Cristo representa o pecador arrependido. A escultura é feita em mármore. A segunda ilustração do texto mostra o “Imperador Constantino e seu Séquito” —  trata-se de um mosaico.

O imperador Constantino em 330 transferiu a capital de Roma para Bizâncio (rebatizada como Constantinopla em sua homenagem), onde a criatividade dos artistas expandiu-se ao receber diversas influências. Embora se tratasse de uma cidade grega, Bizâncio mantinha contato com culturas do Oriente Próximo. As primeiras obras-primas religiosas bizantinas — ou seja, naturais de Bizâncio — foram feitas em mosaicos. Tratava-se de uma técnica em que as imagens eram criadas a partir de pedaços de pedras coloridas, conchas, vidros e cristais, fixados em argamassa, recebendo depois uma mistura de cal, areia e óleo para preencher os espaços entre os fragmentos. Foi a linguagem artística que mais ganhou espaço na arte bizantina, sendo posteriormente usada em outras culturas. Enfeitava paredes e abóbadas das basílicas, representando personagens e passagens bíblicas (ver segunda ilustração à esquerda).

O imperador Teodósio em 395 (séc. IV) dividiu o Império Romano em duas partes: Império Romano do Ocidente (tendo Roma como capital) e Império Romano do Oriente, também conhecido como Império Bizantino (tendo Bizâncio/Constantinopla como capital). Tal divisão mexeu significativamente com a arte dos romanos, fazendo com que as tradições artísticas das duas partes se distanciassem. Houve diminuição da ativada artística no Ocidente em razão das infindáveis guerras que aconteciam nessa parte do império, enquanto no Oriente surgia uma nova ordem artística.

No século VIII houve no seio da Igreja Cristã a chamada “crise iconoclasta” (c. 725 – 843), quando a veneração de imagens de santos foi condenada. Nesse período extremamente triste para a existência da arte, milhares de obras religiosas foram destruídas. Mas como na história da humanidade tudo está fadado a voltas e reviravoltas, sendo a História cíclica e não contínua, mais tarde a arte bizantina notabilizou-se por pinturas murais e ícones, cuja influência ultrapassou os limites do Império Romano. A arte bizantina aconteceu entre os anos de 330 e 1453, ano em que os turcos dominaram a cidade de Bizâncio.

Exercício:

  1. Quais foram os primeiros exemplares da arte cristã no Ocidente?
  2. Qual foi a importância de Bizâncio para os artistas cristãos?
  3. O que é um mosaico?

Ilustração: 1. O Bom Pastor, c. 300 / 2. Imperador Constantino e seu Séquito, c. 547 / 3. Catacumba, Roma / 4. Pães e Peixes Eucarísticos das catacumbas de São Calisto, Roma.

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

Views: 12

Irmãos Limbourg – MAIO

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Autoria de Lu Dias Carvalho

Era muito comum na Idade Média a ilustração de calendários com quadros de ocupações relativas aos meses do ano. A ilustração acima, intitulada “Maio”, faz parte de um calendário anexado ao Livro de Horas, encomendado à oficina dos irmãos Limbourg (Paul e Jean). Presume-se que a composição tenha sido pintada com lupa.

As imagens têm por inspiração a vida real. Trata-se de uma representação de festejos relativos à primavera, comemorados pelos cortesãos. O grupo formado por quinze figuras cavalga em meio a um bosque. Homens e mulheres usam vestimentas e enfeites requintados e alegres.  O artista separa os cortesãos do suntuoso castelo, do qual divisamos os telhados, usando uma cerca feita de árvores, como se fosse uma cortina esverdeada.

Ainda que a arte dos dois irmãos artistas pareça um modo simbólico de contar uma história, usado por pintores medievais de tempos anteriores, pois é possível notar que a representação do espaço, onde as figuras se encontram, não foi bem reproduzido, o rigor nos detalhes leva a uma ilusão da realidade.

As inúmeras árvores dispostas não são reais, ou seja, não foram copiadas da vida real, sendo apenas simbólicas. Os rostos humanos ainda são criados a partir de um único modelo, trazendo apenas poucas diferenças entre uns e outros. Ainda assim, vários pontos separam esta pintura daquelas do início da Idade Média, sobretudo a alegria nela estampada. Já denota uma busca no sentido de representar uma fração da natureza da maneira mais fiel possível, distanciando-se, ainda que gradualmente, da maneira de contar uma história sagrada, como em tempos anteriores.

Ilustração: 1. Maio, c. 1410, obra dos irmãos Limbourg.

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

Views: 4

ORIGEM DA ARTE CRISTÃ (Aula nº 16)

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Autoria de Lu Dias Carvalho

As obras mais primitivas relativas à arte cristã jamais representam Jesus Cristo em pessoa. Os judeus de Dura pintaram cenas que dizem respeito ao Antigo Testamento em suas sinagogas com o objetivo principal de contar a História Sagrada de uma forma bem compreensível para os seus fiéis. Assim também procederam os primeiros artistas convocados a pintar imagens cristãs nas catacumbas romanas. Estudos comprovam que esses artistas tinham conhecimento sobre os métodos da pintura helenística encontrada em Pompeia (cidade romana, localizada no sul da Itália, enterrada sob as cinzas do Monte Vesúvio em 79 d.C., sendo hoje um riquíssimo sítio arqueológico).

Embora tais pintores fossem capazes de invocar mentalmente a ideia de uma figura humana, usando apenas algumas pinceladas, isso parecia não ser de interesse deles. A representação pictórica (relativa à pintura) não mais se fazia presente como algo belo em si mesmo, passando a servir unicamente à religião. Seu objetivo era levar  os fiéis à compreensão do poder e misericórdia de Deus. O fim da pintura era, portanto, didático, colocando-se sob o poder da Igreja. Isso fez com que a arte seguisse um novo rumo.

A arte pictórica passou a deixar de lado tudo aquilo que não tivesse relevância dentro do objetivo proposto pela religião cristã, dando espaço para a clareza e a simplicidade, ou seja, abandonando os ideais de perfeição e da imitação precisa. Era visível o empenho do artista para narrar as histórias com clareza e objetividade dentro do contexto bíblico. Outro ponto importante era o fato de a Igreja ser a maior freguesa dos artistas, encomendando-lhes um número de obras cada vez maior. Ninguém queria perder tão importante compradora. Portanto, eram poucos os artistas que ainda se atinham ao refinamento e à harmonia que outrora dominaram a arte grega.

Os escultores não mais trabalhavam o mármore com perícia, como até então faziam os artistas gregos. Seus métodos eram rudimentares e toscos, importando-lhes apenas as principais características de um rosto ou corpo, apenas para que ficasse reconhecível. O fato é que as maravilhas da arte produzida até esse período iam se esfacelando com as guerras, revoltas e invasões que faziam o Império Romano declinar.

Ao longo de nosso curso, vocês irão percebendo que toda mudança na História da Arte tem uma (ou mais) razão de ser. Nada acontece por acaso. Além das causas listadas acima, talvez a mais fundamental para a mudança drástica na arte dessa época tenha sido o fato de que alguns artistas tenham se cansado do esmerado virtuosismo do período helenístico e passaram a buscar novos caminhos, novos efeitos.

Retratos criados nos séculos IV e V, por exemplo, fogem totalmente daquilo que preconizava a arte helenística na busca pela beleza e harmonia, no entanto, eles parecem mais naturais e mais expressivos. As feições acentuadas, a preocupação em mostrar as rugas da testa e a pele ao redor dos olhos parecem lhes dar vida própria, pois assim são os seres humanos, com as suas imperfeições. Os artistas retratavam, sobretudo, pessoas que assistiam os cultos e aceitavam a ascensão do cristianismo — fato esse que culminou com o fim do mundo antigo.

A composição que ilustra este texto — encontrada na catacumba Priscila em Roma — recebeu o nome de “Três Homens na Fornalha Ardente”, sendo provavelmente criada no século III. Refere-se à história bíblica (Daniel 3) que relata o comportamento de três altos funcionários judeus — no reinado de Nabucodonosor — que não aceitaram ajoelhar-se diante de uma imensa estátua erigida em ouro e adorá-la. Em razão de seu comportamento, os três personagens foram jogados numa fornalha ardente. Milagrosamente, porém, o fogo não lhes causou nenhum mal, pois, segundo a narrativa bíblica, o Senhor “enviou seu Anjo e libertou seus servos”.

A cena cristã pintada não objetivava agradar o pintor, mas apenas repassar o ensinamento de que Deus ajuda os seus seguidores. E, assim, apenas as figuras toscas dos três homens em seus trajes persas, as chamas e a pomba (simbolizando a ajuda divina) eram o suficiente para a compreensão do devoto em relação à narrativa. O pintor apenas se preocupou em dar a maior clareza possível à sua obra. Colocou as três figuras de frente, olhando para o observador, com as mãos erguidas em oração. Sob o ponto de vista da pintura cristã da época, nada mais era necessário.

Exercício:

  1. O que fez a arte seguir um novo rumo nessa época?
  2. Por que os artistas passaram a produzir uma arte tosca?
  3. A representação artística acima seria capaz de emocionar os devotos? Por quê?

Ilustração: Os Três Homens na Fornalha Ardente, século III d.C., mural, Catacumba Priscilla, Roma.

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

Views: 51

ARTE ROMANA E RELIGIÕES (Aula nº 15)

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Autoria de Lu Dias Carvalho

            
 (Clique nas imagens para ampliá-las.)

Antes de Roma transformar-se num grande império, a religião primitiva de seu povo exigia que as imagens em cera dos ancestrais fossem carregadas em procissões. Tal costume parecia vir da crença de que a representação da pessoa preservava sua alma. Em sua origem os romanos eram adeptos da cremação de seus mortos, mas a partir do século II a.C. os sepultamentos tornaram-se mais frequentes, surgindo então os sarcófagos (caixões de pedra ou terracota), depositados contra uma parede, de maneira que nem todos os seus lados recebiam ornamentação (lendas clássicas, cenas de caçada ou batalhas heroicas). A terceira gravura acima (da esquerda para a direita) diz respeito a  um relevo em mármore de um sarcófago.

Ao transformar-se num grande império, os romanos passaram a cultuar o busto de seu imperador. Queimavam incenso diante desse para simbolizar lealdade e submissão, costume que ocasionou a perseguição aos cristãos, pois esses se recusavam terminantemente a participar de tal prática. Os romanos importantes  permitiam que os artistas criassem seus retratos (bustos) mais realísticos. Ainda que esses os lisonjeassem de uma forma mais velada, davam-lhes um caráter natural, sem qualquer sombra de vulgaridade.

Os romanos eram um povo de caráter prático, não se apegando aos deuses fantasiosos, como faziam gregos e egípcios. Possuíam, porém, uma maneira peculiar de narrar os feitos de seus heróis, o que ajudou as religiões que travaram contato com o Império Romano, ao espelharem suas crenças. Contavam a história de suas campanhas militares e apregoavam suas vitórias numa espécie de crônica ilustrada, como mostra a Coluna de Trajano (ilustração à esquerda), o que contribuiu para alterar a tendência da arte, levando a expressão dramática a se sobrepor à harmonia e à beleza.

A civilização helenística foi a soma da união das diversas sociedades que compunham o império de Alexandre, o Grande, porém com a predominância das culturas grega, persa e egípcia. Contudo, ao dominar os povos do Império de Alexandre, os conquistadores romanos impuseram sua própria cultura. Somente não conseguiram fazê-lo no que diz respeito à cultura helenística, cuja arte encontrava-se bem acima da arte dos romanos durante os primeiros séculos depois de Cristo. Foi em razão dessa superioridade que a arte helenística e a romana se sobrepuseram às artes dos reinos orientais.

Os egípcios, embora continuassem a sepultar seus mortos usando a técnica da mumificação e seguindo a crença de que a figuração era fundamental para a sobrevivência da alma, não mais faziam uso da representação do rosto segundo seu estilo, mas, sim, de acordo com os critérios da arte grega. Os retratos dessa época chamam a atenção por seu intenso realismo (ilustração à esquerda). Não foram apenas os povos egípcios a adequarem os novos métodos artísticos aos costumes de sua religião, outros povos também o fizeram, a exemplo dos indianos que aprenderam o jeito romano de narrar uma história e louvar seus heróis. E foi assim que os artistas indianos contaram a história de Buda — um ser humano que recebeu a iluminação.

A arte da escultura já estava presente na Índia muito tempo antes de a influência helenística ali aparecer, ao ser conquistada por Alexandre Magno. As belas formas das artes grega e romana, ao homenagear seus deuses e heróis, influenciaram os artistas indianos, como mostra a cabeça de Buda acima, expressando grande paz. A religião judaica também se viu influenciada por gregos e romanos na representação de suas histórias sagradas, com a finalidade de instruir seus fiéis. Embora a Lei judaica proibisse a criação de imagens por medo de que seu povo passasse a cultuar deuses pagãos, algumas colônias judaicas, situadas nas cidades fronteiriças a leste, ornamentaram as paredes de suas sinagogas com histórias do Antigo Testamento.

Os artistas cristãos, ao representarem Cristo e seus apóstolos pela primeira vez, foram beber na sabedoria da tradição grega. A terceira ilustração acima é tida como uma das primeiras representações do Salvador, datando do século IV. Apresenta um Cristo jovem entronizado, ladeado pelos discípulos Pedro e Paulo. O mais interessante nesta obra é o fato de os pés de Jesus descansarem num dossel do firmamento que é sustentado pelo antigo deus que regia o céu, lembrando a arte helenística pagã.

Exercício:

  1. Como as religiões foram influenciadas pelo Império Romano?
  2. Por que a arte dos romanos não suplantou a dos gregos?
  3. Se você fosse o escultor da obra acima (3ª) por que teria acrescentado a ela um deus pagão?

Ilustração: 1. Retrato de um Homem, c. 100 d.C. /2. Cabeça do Buda, séc. IV-V d.C /3. Cristo com S. Paulo e S. Pedro, c. 389 d.C. /4. Coluna de Trajano, c.114 d.C.

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

Views: 23

Dürer – O SUICÍDIO DE LUCRÉCIA

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Autoria de Lu Dias Carvalho


A composição O Suicídio de Lucrécia, também conhecida como Lucrécia, é uma obra do pintor alemão Albrecht Dürer. O artista levou muito tempo para executá-la, sendo encontrados esboços relativos à obra, dez antes de sua criação, o que demonstra o quão criterioso e meditativo era o artista em sua arte. Presume-se que Dürer tenha tomado por modelo algum nu veneziano. Alguns historiadores de arte não gostam desta pintura, enquanto outros veem nela um Dürer menos formal, voltado para si, e mais ligado à presença da morte. Em decorrência de muitas disparidades nas proporções e na expressão da figura, Fedja Anzelewsky, autor de obras sobre Albrecht Dürer, define-a como “uma paródia ao invés de uma exaltação da figura feminina clássica”. De qualquer forma esta obra é vista como um dos trabalhos do artista menos apreciados.

Na composição Lucrécia, com seus cabelos compridos e minguados, apresenta-se nua, em postura frontal, num ambiente apertado, de costas para sua cama nupcial, local onde fora estuprada por seu primo Sextus. Enquanto enfia a espada no ventre, ela olha para cima, como se clamasse aos deuses para que dela servissem de testemunhas. De sua ferida, abaixo do seio direito, espirra um filete de sangue, mas que não mancha o pano que cobre os quadris ou o chão. É incessante notar que ela faz uso apenas da mão direita, enquanto a esquerda encontra-se atrás de seu corpo, repassando a ideia de que não precisa de força alguma para dar cabo ao seu ato. Debaixo da cama avista-se um vaso da noite (urinol).

A nudez de Lucrécia é totalmente desprovida de sensualidade, sendo a figura analisada por alguns estudiosos de arte como “o nu mais casto da história da arte”. A lendária dama romana que optou por suicidar-se a ter que enfrentar a vergonha de seu estupro, é vista com contornos esculturais firmes, sem qualquer lampejo de sedução. O pano que cobre a região pubiana da personagem foi, presumivelmente, expandido para cima, numa repintura da obra, no século XVI ou XVII.

Nota: Lucrécia foi uma dama romana, filha de um dos prefeitos de Roma (Espúrio Lucrécio) e mulher de Lúcio Tarquínio Colatino. Segundo os historiadores da época, ela foi abusada sexualmente por Sexto, filho de Tarquínio, o Soberbo, suicidando-se após contar ao pai e ao marido o que lhe acontecera e pedir vingança.

Ficha técnica
Ano: 1518
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 168 x 74 cm
Localização: Pinacoteca de Munique, Alemanha

 Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
http://www.wga.hu/html_m/d/durer/1/09/1lucrezi.html

Views: 3