Van Gogh – LA MOUSMÉ

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Autoria de Lu Dias Carvalho

Acabo de completar o retrato de uma menina de treze anos com olhos castanhos, cabelos e sobrancelhas negros e a pele cinzento-amarelada. O fundo é simples, à maneira de Veronese. A menina está vestida com um casaco de listas vermelho-sangue e violeta, e saia azul com bolinhas cor de laranja. Na sua mão há uma flor de oleandro. Estou tão exausto que não consigo escrever. (trecho da carta de Van Gogh a Émile Bernard)

Levou-me uma semana inteira, mas eu tive que reservar minha energia mental para fazer bem a Mousmé. Uma mousmé é uma menina japonesa-provençal, neste caso – doze aos catorze anos. (carta de Van Gogh ao irmão Theo)

A composição intitulada La Mousmé, também conhecida como La Mousmé Sentada em uma Cadeira, é uma obra de Vincent van Gogh, pintor holandês, tido como uma das figuras mais famosas e influentes da história da arte ocidental, embora em vida tenha vendido um único quadro. Esta obra foi pintada quando ele tinha 35 anos e encontrava-se em Arles. O artista inspirou-se na leitura da novela “Madame Chrysanthème”, obra de Pierre Loti, e em obras japonesas para criar esta pintura. A garota, portanto, é uma japonesa. A novela, popular à época, narrava o romance entre um francês e uma japonesa (Mousmé) e acabou despertando o fascínio do povo francês, inclusive o do artista, pela arte japonesa (japonismo).

A menina encontra-se em primeiro plano, sentada numa cadeira de braços. O fundo da pintura é um verde-claro que contrasta com os tons de azul e laraja usados em sua vestimenta. Ela usa saia e blusa de gola alta, enfeitada com uma carreira de botões vermelhos. Seu rosto sério, extremamente bem modelado, repassa confiança. Assim como o galho de oleandro (espirradeira) ele também se encontra florindo em sua adolescência. Não fica claro a simbologia das flores na pintura, contudo, o artista esteve ligado a crenças panteísticas e estas podem ser uma alusão ao ciclo de vida e morte.

Ficha técnica
Ano: 1888

Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 74 x 60 cm
Localização: Galeria Nacional de Art, Washington, EUA

Fontes de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

https://www.nga.gov/content/ngaweb/Collection/art-object-page.46626.html

Views: 20

A PINTASSILVA E A LIBERDADE

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Recontada por Lu Dias Carvalho

Conta a lenda que uma pintassilva chocara, pela primeira vez, quatro frágeis filhotes. Mal amanhecia o dia partia a pequenina ave em busca de alimento para suas crias. Sabia que lhes agradava, sobretudo, sementes de capim, assa-peixe, dente-de-leão, capim colonião, serralha e flores de eucalipto. Eles cresciam fortes e belos sob os cuidados de uma mãe muito zelosa.

De uma feita voltou a avezinha de seu voo matinal em busca de comida, quando teve o dissabor de encontrar o ninho vazio. Nenhum de seus pequeninos ali se encontrava. Indagou dos outros pássaros se houvera vento forte ou chuva torrencial, enquanto estivera fora. Recebeu a resposta de que nada acontecera. Sabia também que nenhum bicho predador ali estivera, pois o ninho, em forma de tigela, estava intacto na copa de uma densa araucária.

A pintassilva pôs-se a procurar, dia e noite, pelos filhotes. Não mais comia ou dormia. Começou pelas árvores mais próximas, nas quais examinava ninho por ninho. Depois foi alargando seu campo de busca. Quando as esperanças já se encontravam enfraquecidas, assim como seu corpo diminuto, um canário, fugitivo de uma gaiola, fê-la ciente de que seu antigo dono aprisionara, dias atrás, quatro filhotes de pintassilgo. E pior, eles seriam enviados para um país estrangeiro, pois o verdugo chefiava um comércio clandestino de aves silvestres.

Mesmo fragilizada pela intensa busca, a pintassilva voou o mais rápido que pode até o local indicado. Lá encontrou seus filhotinhos presos numa gaiola fétida. Ao verem-na, os pequeninos pediram-na desesperadamente para que fossem soltos. É fato que a mãe sofrida tentou bravamente romper as grades enferrujadas da gaiola com suas unhas e bico, a ponto de fazê-los sangrar. Mas em vão. Pediu então às crias que ficassem calmas, pois ela voltaria para libertá-las para sempre. Dito isso, voou em direção à densa floresta.

Conforme prometera, a pintassilva trouxe no bico ramos de uma erva desconhecida para alimentar os filhotes. E depois de lançar-lhes um olhar carregado de ternura e de tristeza, alimentou-os, um a um, através do espaço entre as grades. Pediu-lhes que dormissem um pouco, para aguentarem a longa viagem que fariam. Enquanto isso, ela engoliu o último galhinho da erva venenosa que guardara para si. A vida não mais tem valor – concluíra ela – quando se perde a liberdade, sendo a morte a maior libertação.

Nota: imagem copiada de Diário de Biologia

Views: 0

Tiepolo – IMACULADA CONCEIÇÃO

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor italiano Giovanni Battista Tiepolo (1696 – 1770) trabalhou com a ornamentação de igrejas e palácios da aristocracia de Veneza. Pintor renomado, cuja arte contribuiu para o engrandecimento da pintura italiana do século XVIII, fez trabalhos para as cortes francesa, inglesa, espanhola e russa. Seus filhos Domenico, Lorenzo e Giovanni também eram pintores. Esta composição do artista, intitulada Imaculada Conceição, faz parte de uma série de sete retábulos encomendada pelo rei espanhol Carlos III, e realizada em Madri por Tiepolo, para ornar a Igreja do Convento de São Pascoal.

A pintura apresenta a Virgem Maria, pairada no céu, usando uma túnica branca, um manto azul e um lenço amarelo que lhe cobre toda a cabeça, descendo sobre o peito. Em vez de um halo ela traz acima da cabeça uma coroa de 12 estrelas, e mais acima se encontra uma pomba branca, simbolizando o Espírito Santo. O movimento da Virgem é ascendente, como evidencia seu manto inflado como se fosse uma vela acionada pelo vento. Os querubins aparecem sobre uma nuvem dourada. Eles estão assim distribuídos em relação à Imaculada Conceição: quatro à esquerda, um deles segurando o manto; quatro à direita; dois acima e um à sua frente.

A Virgem encontra-se sobre um globo azul que representa a Terra, esmagando uma serpente, também presente na esfera terrestre, apresentando uma maçã na boca, numa referência ao Jardim do Éden e ao pecado original. Atrás de Maria vê-se a lua crescente (antigo símbolo da castidade). Os lírios brancos que o anjo carrega, simbolizam a sua inocência e pureza. O obelisco, à sua direita, também faz parte de sua iconografia, assim como a rosa cor-de-rosa vista na extrema esquerda. O ramo de palmeira simboliza a superioridade de Maria sobre o mal existente no mundo, enquanto o espelho, no qual se reflete o globo terrestre, diz respeito à sua pureza, sendo tida como o espelho das virtudes. A pintura traz toda a iconografia referente à Virgem.

Ficha técnica
Ano: c.1767/1769

Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 279 x 152 cm
Localização: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

https://www.museodelprado.es/en/the-collection/art-work/adam-and-eve/e0ca4331-fbhttps://www.museodelprado.es/en/the-collection/art-work/the-immaculate-conception/https://pt.wikipedia.org/wiki/Imaculada_Concei%C3%A7

Views: 1

ANTIDEPRESSIVOS E GRAVIDEZ

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Autoria de Simone Araújo

Estou exatamente há um ano e um mês tomando Oxalato de Escitalopram. Quero que saibam que a Lu foi uma grande amiga durante o começo do meu tratamento com antidepressivo, sempre me dando suporte emocional.

Iniciei o meu tratamento para o transtorno da ansiedade porque me encontrava num grau muito elevado de ansiedade, de acordo com a avaliação de minha médica. Eu já estava somatizando muitos outros sintomas tais como: pensamentos acelerados ou catastróficos, ânsia, diarreia, fobia de locais cheios de pessoas, etc. Cheguei a ter crises de síndrome do pânico (SP) por três vezes. Mesmo tomando 10 mg do antidepressivo durante um mês tive uma crise de ansiedade quando fui ao dentista. Essas crises perduraram por mais de uma semana. A médica, então, aumentou a dose para 15 mg.  Fiquei ótima.

Ao completar um ano de tratamento, sentindo-me muito bem após a estabilização da dosagem, a médica começou o desmame. Diminui a medicação para 10 mg, que tomei durante um mês. Como eu tinha a receita ainda, pois minha médica me dava sem data, comprei mais uma caixa de 10 mg e resolvi por minha conta própria diminuir para 5 mg, pois, como ela havia me dito pra ir diminuindo aos poucos, achei que não teria problema. Nessa fase senti uma crise terrível de ansiedade com ânsia de vômito, calor no corpo, desrealização momentânea, como se tudo a minha volta não tivesse sentido. Foi horrível sentir isso, passar por aquele desespero. No momento estava sem o Rivotril sublingual de 0,25 mg, o qual durante o tratamento inteiro tomei apenas umas três vezes. Liguei para minha médica e ela reclamou do fato de eu ter diminuído a dose sem a indicação dela. Pediu para eu voltar a tomar as 10 mg, até poder falar com ela pessoalmente, dizendo que não poderia me medicar por telefone, ou seja, teria que pagar por uma nova consulta.

Eu estou com uma grande dúvida. Será que, quando eu diminuir e até mesmo parar a medicação, ficarei sentindo os mesmos sintomas do início? Ou ficarei dependente dos remédios para a vida toda? Acontece que eu quero muito engravidar no próximo ano e estou com medo de ficar tendo crises.

Agradeço pelo seu carinho.

Nota: a ilustração é uma obra de Edvard Munch

Views: 1

Vermeer – MULHER PESANDO OURO

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Autoria de Lu Dias Carvalho

A composição que durante muito tempo foi intitulada Mulher Pesando Ouro, vindo depois a ser conhecida por Mulher Testando uma Balança, é uma obra do pintor barroco holandês Jan Vermeer.  O segundo título deve-se ao fato de não se encontrar nenhum objeto dentro dos pratos da balança depois de ter sido feita uma análise microscópica da obra, dando outra visão ao quadro. Alguns estudiosos de arte alegam que os pratos vazios da balança mostram que a mulher está pesando valores espirituais e não bens materiais. Por isso, eles veem nela um símbolo de santidade, numa alegoria ao enorme quadro fixado na parede, trazendo uma moldura preta e retratando o “Juízo Final”, numa analogia entre “julgar” e “pesar”. Outros, porém,  veem-na como uma pessoa preocupada com as riquezas do mundo, sem se preocupar com o julgamento final.

A personagem vista na composição é uma jovem mulher, tida por alguns estudiosos de arte como Catharina Vermeer, esposa do pintor, pois o uso de modelos vivos era muito caro naquele tempo. Está vestida elegantemente, usando um casaco azul com acabamento em peles, fechando em cima, sobre um vestido ou uma saia comprida. Sobre a cabeça traz uma touca branca que deixa apenas o rosto à vista. Se o quadro fosse atual seria fácil imaginar que estivesse grávida, contudo, naquela época, a gravidez era incomum de ser vista na arte, sendo pouquíssimas as mulheres representadas com roupas de gestantes. Além disso também existe o fato de que a moda holandesa, no século XVII, dava ênfase às silhuetas volumosas.

A mulher encontra-se de pé, diante de uma mesa no canto de uma sala. Mostra-se extremamente concentrada ao segurar uma balança, cujos pratos estão na mesma altura, ou seja, totalmente equilibrados. Sobre a mesa encontram-se três caixas sendo a maior similar às menores, colares de pérola, moedas de ouro e prata variadas, etc. À direita da jovem mulher, pendurado na parede, está um quadro sobre o julgamento final, num contraste com as riquezas mostradas. À sua frente vê-se uma toalha azul brilhante, abaixo de um espelho fixado à parede. De uma janela do mesmo lado brota uma luz sob uma cortina dourada, iluminando maravilhosamente o ambiente.

O que faz exatamente esta serena mulher? Pesa seus bens materiais ou faz uma contraposição entre as riquezas do mundo e o julgamento final da humanidade? Os pratos equilibrados da balança denotariam seu estado mental? Caso ela esteja preocupada com os bens terrenos, o espelho na parede, visto de perfil, reforçaria sua vida de vaidades. Contudo, além de simbolizar o orgulho, o espelho também pode representar a prudência, o autoconhecimento e a verdade. Estaria Vermeer imbuido de um sentimento religioso, querendo mostrar que é preciso viver com moderação, pois teremos que passar pelo julgamento divino? Existem diferentes opiniões sobre o tema e simbolismo desta pintura. O que pensa o leitor?

Ficha técnica
Ano: c. 1660-65

Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 42 x 38 cm
Localização: Galeria Nacional de Art, Washington, EUA

Fontes de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

https://www.nga.gov/content/ngaweb/Collection/art-object-page.1236.html
http://www.essentialvermeer.com/catalogue/woman_holding_a_balance.html#.

http://www.artchive.com/artchive/V/vermeer/balance.jpg.html

Views: 11

A LENDA DA COTOVIA

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Recontada por Lu Dias Carvalho

O velho eremita há muito abandonara o contato com os homens, descontente com as maldades por eles praticadas, preferindo a companhia da natureza em sua pureza e ingenuidade. Dentre os animais presentes na floresta, uma cotovia tomara-o como companheiro de todas as horas. Mesmo nos intensos períodos de suas meditações ela ficava inerte sobre uma das pedras da caverna, fitando-o, como se fosse capaz de compreender o que lhe ia pela mente. Coisa alguma a fazia arredar pé do local, onde se encontrava o eremita.

De uma feita, o ermitão foi procurado pelos emissários de um nobre sob a alegação de que seu filho encontrava-se muito doente, tendo sua morte como certa. O homem solitário e a cotovia acompanharam os mensageiros na mesma hora, não tardando a chegar à mansão do nobre, onde o filho agonizava, rodeado por quatro impotentes médicos.

De pé na porta do quarto, o eremita só fazia observar a cotovia que se apoiara no peitoril da janela e fitava demoradamente o pequeno enfermo. Repentinamente ouviu-se a voz modulada do ermita, avisando à família do garoto que ele iria viver. Estupefatos, os médicos riram daquele camponês grotesco de barbas compridas, cabelos brancos e unhas enormes que queria se mostrar douto, superior a eles.

O doentinho abriu lentamente os olhos e fitou a diminuta ave na janela, abrindo um largo sorriso, pedindo algo para comer. Antes que todos se apercebessem, o eremita desapareceu, seguido de sua pequenina ave, embrenhando-se na escuridão da noite, que não tardaria em se fazer dia.

Uma semana depois, estando o garoto totalmente restabelecido, uma comitiva parou na entrada da gruta, onde vivia o homem solitário e sua ave. O nobre ofereceu ao ermitão inúmeros presentes, os quais ele prontamente recusou, dizendo que não fora o responsável pela cura do menino, mas, sim, a cotovia. E pacientemente explicou-lhe:

– A cotovia é um pássaro muito sensível e sábio. Ao ser colocada perto de um enfermo, se ela não o fitar, significa que não há esperanças para ele, mas, se o mirar, significa que esse irá se restabelecer. Poucos sabem que essa ave, através do poder de seu olhar, ajuda na cura das pessoas, assim como o fazem tantas outras. É uma pena que tais seres sirvam de alvo para homens insensíveis que desconhecem as inúmeras divindades que habitam a natureza e seus mistérios.

E assim falando, o ermitão pediu licença para mais uma vez retirar-se do convívio com os homens.

Views: 296