NOVO ESTILO – MODERNISMO INGLÊS (Aula nº 106)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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O início do Modernismo inglês aconteceu na virada do século XIX para o século XX, antes que a Primeira Guerra Mundial — iniciada em 1918 — pusesse fim a todo o otimismo de uma geração de pintores e escultores, cuja maioria era formada por alunos da Slade School of Fine Art, situada em Londres — a mais famosa escola de arte do país. Sendo ela uma instituição conservadora, dava muita importância ao desenho, principalmente àquele feito com modelos vivos. O Modernismo inglês subdivide-se em três vertentes:

Comden Town Group — o grupo formou-se em 1911, tendo como líder Walter Sickert. Surgiu como uma sociedade expositora do conservador New English Club. Seus principais membros foram: Harold Gilman, Spencer Gore, Charles Ginner e Lucien Pissarro (filho do impressionista francês Camile Pissarro). O grupo fez uma espécie de retorno ao Impressionismo francês, dando grande importância à qualidade da luz na cena, além disso, pintava usando toques de tinta. Seus temas prediletos eram direcionados às ruas e aos jardins londrinos, interiores domésticos pobres e mulheres na cama ou fazendo sua toalete. O grupo findou em 1914.

Bloomsbury Group — foi criado por um grupo de amigos, contando com a predominância de pintores e escritores. Dele faziam parte, a princípio, o economista John Maynard Keynes e a escritora Virgínia Wolf. A literatura e a filosofia predominaram no grupo no período anterior a 1910, passando a agregar depois a pintura. Roger Fry juntou-se ao grupo um tempo depois, assim como Vanessa Bell e Ducan Grant.

Vórtice — o grupo era composto por pintores e escritores londrinos, dentre eles o pintor Wyndham Lewis e o poeta americano Ezra Pound. O termo “vórtice”, criado por eles, fazia referência a um “turbilhão de energia com um centro estável”. Os vorticistas sofreram influência do Futurismo, mas seu estilo era menos figurativo. O movimento foi até 1915, quando os temas convencionais do Modernismo inglês passaram a ser superados pela abstração na pintura e na escultura.

Os Estados Unidos, por volta de 1900, iam se tornando cada mais urbanizados e a vida nas cidades ficava cada vez mais intensa, transformando-se no tema principal de um grupo de pintores realistas sob a liderança de Robert Henri. O grupo ficou conhecido como Ashcan School (Escola de Lata de Lixo), porque retratava o lado mais sombrio da vida das ruas. Ao fazer da cidade e de seus habitantes um novo tema para a arte, esses artistas tornaram-se os primeiros nomes do Modernismo americano, embora sob o ponto de vista europeu seu estilo fosse classificado como conservador. Dentre os artistas desse grupo podem ser citados: Robert Henri, John Sloan, George Wesley Bellows, Arthur Dove, Marsden Hartley, Max Weber e Charles Demuth.

Nota: a ilustração acima, intitulada Uma Bateria Bombardeada (1919) é uma obra do pintor inglês Wyndham Lewis.

Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Manual compacto de arte/ Editora Rideel
A história da arte/ E. H. Gombrich
História da arte/ Folio
Arte/ Publifolha

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DEUTSCH – SÃO JOÃO BATISTA DECAPITADO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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São João Batista foi preso porque era muito popular. Ele anunciava a chegada do Messias, exortava à conversão e batizava os crentes no Jordão. Na Galiléia sua eloquência atraiu tantas pessoas que os romanos temiam que ele levasse o povo à insurreição. (Flávio Josefo)

Enquanto o rei celebrava um banquete com seus convidados, a filha de Herodias entrou e, dançando, agradou a Herodes e a seus convidados. Então o rei fez um juramento a Salomé: “Tudo o que você me pedir, eu lhe darei, mesmo que seja metade do meu reino”. (São Marcos)

O dramaturgo, artista gráfico e pintor alemão Niklaus Manuel, conhecido como Deutsch, ou seja, Alemão, (c.1484-1530) é o criador da obra intitulada São João Batista Decapitado ou Decapitação de João com Relâmpagos e Trovões que apresenta o momento em que o santo acaba de ser decapitado.

O corpo do santo está sendo retirado do ambiente numa maca. Um dos carregadores é visto em sua totalidade, mas do outro só se vê a bota, pois ele já acabara de transpor o portal. Segundo uma passagem bíblica, São João Batista teve a coragem de acusar publicamente Herodes e sua esposa de adultério, pois o rei havia esposado a mulher de seu irmão Filipe, o que a deixou muito irritada. Para se vingar dele, ela incitou Salomé, sua filha e enteada do rei Herodes, a pedir a cabeça do santo.

No meio da composição encontra-se o carrasco. A cabeça ensanguentada de João Batista, segura pela barba, pende em sua mão esquerda. Seus olhos estão voltados para a bandeja de prata que lhe é oferecida, onde depositará a cabeça da vítima. Três mulheres (Herodias, Salomé e uma anciã), à esquerda, aguardam o presente pedido ao rei. Elas olham para a bandeja com visível satisfação.

O grupo de mulheres parece representar as “três idades da vida”. A velha tanto pode representar uma amante a participar da trama assassina ou o próprio Satanás. Em certas peças sobre São João, populares nos séculos XV e XVI, o demônio aparece sob a figura de uma velha que visita Herodias para intrigá-la contra o santo. O trio de mulheres também simboliza “o poder das mulheres”, pois no caderno de esboços do artista há atraentes figuras femininas quase sempre armadas com cordas de nó corrediço, espadas ou adagas. Ele associava mulheres, beleza e erotismo com sangue e morte, e essa tendência à crueldade é um reflexo dos costumes de sua época.

A cena se passa num terraço aberto, onde se vê uma paisagem sombria com um castelo, rochas escarpadas e árvores açoitadas pelo vento, embora os Evangelhos cristãos não declarem onde a cabeça foi entregue. É noite. Nuvens pesadas e escuras erguem-se no céu.

No intuito de mostrar que a morte de São João foi marcada por acontecimentos sobrenaturais, o pintor criou um fenômeno apocalíptico em que estrelas e o arco-íris (um dos principais signos celestiais à época) apresentam-se no céu ao mesmo tempo. Atrás das nuvens aparece uma estrela extremamente brilhante. Naquela época, pensava-se que fenômenos naturais desconhecidos, como cometa ou eclipse do Sol, sinalizavam eventos importantes e anunciavam catástrofes.

Salomé olha para a bandeja com aparente normalidade, como se estivesse satisfeita com o presente recebido. Seu vestido decotado e de saia aberta sobre anáguas transparentes mostra um pouco de sua pele branca. Ela usa sandálias “italianas”, mangas bufantes e cintas da última moda à época. Embora fosse uma personagem secundária no que diz respeito ao martírio de João Batista, ela está presente em todas as pinturas devotadas ao santo, sendo uma das figuras prediletas de pintores, poetas e compositores, inspirados por sua dança.

O carrasco veste uma roupa extravagante à maneira dos suíços. Sobre uma camisa de mangas largas, plissada e branca, usa uma jaqueta de veludo assimétrica e calças coloridas, tendo a perna esquerda enfeitada com listras ao longo do comprimento, enquanto a outra está orlada e cortada, mostrando por baixo o forro de seda. Sua atitude é provocante, debochada. Exibe-se como se fosse um dançarino ou um esgrimista. Apresenta uma mão forte e confiante.

A assinatura do artista, um monograma dourado, está presente na metade superior do quadro, onde se vê uma adaga. Ocupa um lugar de destaque, repassando a ideia de que ele estava satisfeito com seu trabalho ou que a obra fora feita para si mesmo.

Ficha técnica
Ano: c. 1517
Técnica: pintado a têmpera e envernizado sobre madeira
Dimensões: 34 cm x 26 cm
Localização: Kunstmuseum, Basel, Suíça

Fonte de pesquisa
Los Secretos de las Obras de Arte/ Taschen

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ATCHIM… SAÚDE!

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Autoria de Lu Dias Carvalho

atchim

Na minha infância eu amava ouvir as pessoas dizerem “Saúde!”, sempre que alguém espirrava, sem saber muito bem o porquê. Muitas vezes aspirava pó de canela, rapé do meu avó ou talco para forçar o espirro e ouvir a saudação. Que sapeca!

Ao dizer que nunca tive uma explicação, estou mentindo e pior, maculando a memória da boa Fulô, nossa inculta mestra das ciências ocultas, que tinha respostas para tudo. Ela me explicou certa vez que, quando uma pessoa espirrava, era porque estava próxima a uma alma penada que havia sofrido muito em vida. Ao ouvir a saudação ela, a alma, ficava tão feliz que deixava o “espirrante” em paz. Confesso que acreditei nisso durante toda a minha infância e repassei tal explicação para um monte de primos e amiguinhos. Tudo não passava de “fake news”.

 Existem algumas explicações para a saudação dada ao dono do espirro, inclusive a da minha amada Fulô e que Deus a tenha. Uma delas é que, lá pelos idos do século XI, uma epidemia braba alastrou-se pela Itália, trazendo muita coriza e espirros e levando, muitas vezes, as vítimas a óbito, transformando-as em almas do outro mundo. E, como não havia vacina ou qualquer outro remédio para deter a famigerada gripe, só restava rezar. Foi aí que o Papa recomendou aos fiéis que pedissem a proteção divina para a pessoa que espirrasse dizendo:

– Dominus tecum! (O Senhor esteja contigo!)

Acontece que havia aqueles que ainda não tinham abraçado o cristianismo, mas, como todos os cristãos, eles também queriam a cura dos acometidos pela cruel epidemia. E, como se recusavam a usar o nome do deus dos cristãos, diziam apenas:

– Saúde!

Como o latim tornou-se uma língua morta, a expressão latina caiu em desuso, perdurando apenas a palavra  saúde. E assim tem sido até os dias de hoje, tanto para os cristãos quanto para os não cristãos.

Outra fonte acredita que tal expressão surgiu na Idade Média, quando o conhecimento científico era escasso e toda doença era atribuída às forças sobrenaturais. Assim, as pessoas gripadas estariam sob as asas do demônio, sendo que, quando espirravam, a saliva carregava consigo um monte de diabinhos. Quem estava próximo ao “endemoniado” deveria repelir os filhos do mal, dizendo:

– Deus te dê saúde!

Assim, cortava-se a multiplicação dos filhotes do coisa ruim. Com o tempo a preguiça foi tomando conta das pessoas que reduziram a frase apenas para “Saúde!”. Levando em conta esta versão, a minha Fulô sabia o que dizia, uai. O duro mesmo é aguentar uma saraivada de vírus de certos sujeitos que nem cobrem o nariz para espirrar. Desses, só mesmo Deus para nos proteger. Dominus tecum!

Fontes de pesquisa:
Casa da Mãe Joana/ Reinaldo Pimenta
http://historiaesuascuriosidades.blogspot.com.br

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EU E MINHA ALDEIA (Aula nº 105 C)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Haverá sempre crianças que amarão a pureza, apesar do inferno criado pelos
homens. (Chagall)

Linhas, ângulos, triângulos e quadros levaram-me longe por horizontes encantadores.  (Chagall)

Para os cubistas, a pintura era uma superfície coberta com formas em uma determinada ordem. Para mim, a pintura é uma superfície coberta com representações das coisas… Em que a lógica e a ilustração não tem nenhuma importância. (Chagall)

A composição denominada Eu e Minha Aldeia é uma obra do pintor russo e surrealista Marc Chagall em que se nota as influências cubistas e flauvistas recebidas por ele. Além de ser a tela mais famosa do artista, é também uma das 50 pinturas mais famosas do mundo e de toda a história da arte. O pintor era um homem sonhador e lírico, sendo suas obras carregadas de magia. Nesta tela ele adiciona o moderno e o figurativo, usando um leve toque de magia.

Chagal tomou um ponto central na tela e, a partir dele, construiu raias, que usou para estruturar sua pintura, sequenciando lembranças de sua vida. Assim estão divididas:

1º – Parte de uma face masculina em perfil, provavelmente representando o pintor, trazendo no pescoço um colar de contas com um crucifixo. A face verde está em primeiro plano, ocupando grande parte da margem esquerda da composição. Uma linha reta liga seu olho ao da ovelha em cuja cabeça vê-se uma mulher ordenhando uma ovelha.

2º – Um colorido conjunto de casas ocupa o segundo plano, onde também se encontra uma igreja ortodoxa (o artista era judeu). Duas das casas, uma vermelha e outra verde, estão de ponta cabeça. Uma mulher, também de cabeça para baixo, parece tocar um violino. Já o lavrador, com uma foice no ombro direito, parece caminhar pelos campos russos, pátria do pintor, sempre lembrada em suas pinturas.

Uma árvore, representada por um ramo florido, simboliza a árvore da vida. Os animais também são vistos como uma ligação entre o homem, a natureza e o universo. As formas circulares vistas na pintura lembram o sol, a lua em eclipse (situada no canto inferior esquerdo) e a Terra.

Nesta composição, que foi pintada um ano após a chegada do artista a Paris, ele traz à tona as lembranças de sua aldeia nativa na Rússia, Vitebsk, onde viveu ao lado de camponeses e animais, como mostra a conexão entre o olho do rosto verde do homem e o da ovelha (ou vaca). Sua pintura é como um conto de fadas rural em que tudo se mistura. Todos os detalhes são retirados de sua memória.

Ficha técnica
Ano:1911
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 191 x 150,5 cm
Localização: The Museum of Modern Art, Nova Iorque, EUA

Fontes de pesquisa
Chagall/ Taschen
http://www.theartstory.org/artist-chagall-marc.htm
https://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl=en&u=http://www.moma.org

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PÉ-RAPADO NEM PARA VISITA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

pes sujos

Dona Iblantina e o senhor Dario Campos foram agraciados com seis meninas. Na verdade o casal não desejava uma prole tão numerosa, mas, enquanto esperava ansiosamente pela chegada de um varão, as meninas foram tomando a frente. Quando já eram cinco as mocinhas e já com um rebento no bucho, dona Iblantina deu um ultimato ao marido que tinha certeza que dessa vez viria um machinho.

– Sendo menino ou menina, homem, a fábrica será fechada. Já não aguento mais tanta espera e aperreação. Só eu sei o trabalho que essas crianças me dão! Já chega!

Pobre senhor Dario Campos, para seu desencanto quem chegou foi Rosalina, tão bonita como um botão de flor de laranjeira. O jeito foi se conformar, pois, como prometera sua mulher, a fábrica fora fechada a sete chaves.

As meninas foram crescendo e encorpando-se, atraindo os olhares gulosos masculinos. Mas rapaz algum servia para as filhas do distinto casal, pois dona Iblantina sonhava, para cada uma delas, criadas com muita denguice, uma vida de princesa. Dizia aos quatro ventos de sua pequena cidade:

– Filha minha só casa com rapaz diplomado, rico e bem apessoado. Não pari filhas para dar a um qualquer. Pés-rapados aqui passam longe. Não servem nem como visitantes.

Coitadinhas das seis mocinhas: Rosalva, Rosilene, Rosana, Ronilda, Rosmânia e Rosalina! Elas nunca arranjavam um namorado tal e qual queria a mãe. Se o varão tinha duas das qualidades exigidas, faltava-lhe a terceira e, se tinha apenas uma, faltavam-lhe as outras duas. E se não tinha nenhuma, não passava nem na calçada do casarão. Enquanto isso, as moçoilas iam ficando com aqueles olhos de cachorro pidão, à procura de um bom partido que agradasse à genitora. E o tempo passando!

O fato é que, como quem muito escolhe acaba ficando com o pior, a coisa foi se complicando. Já driblando o Cabo da Boa Esperança, sem mais alternativas para voltarem no tempo, casaram-se as seis moças com pés-rapados. Dona Iblantina, já adornada pelos cabelos brancos, ficou conformada.  Nenhum dos maridos trazia sequer um dos atributos estipulados pela zelosa mãe, mas compensaram o fato de não serem ricos, diplomados e bem apessoados tratando suas filhas com muito amor e dedicação. Dona Iblantina caiu na real e mudou sua cantilena em relação às netas:

– Minhas netas não precisam se casar com moços diplomados, ricos e apessoados. O que importa na verdade é que sejam trabalhadores e dediquem-lhes muito amor. Podem ser pés-rapados ou pés-rachados, o que importa é a benquereça.

A expressão pé-rapado refere-se a uma pessoa de condição humilde, pobretona.  Já era conhecida no século XVII, sendo usada até os nossos dias. Referia-se principalmente ao pé-rapado da zona rural. Pelo fato de andar descalço em razão de sua pobreza, o pobre trazia os pés sempre sujos de poeira ou lama, tendo que rapá-los para entrar nas casas, enquanto os que detinham melhores condições financeiras andavam a cavalo.

Tal expressão encontra-se registrada na Guerra dos Mascates, acontecida no início do século XVIII, no estado de Pernambuco. Enquanto as tropas portuguesas faziam uso de botas e uniforme militar, o exército de camponeses andava descalço, sendo tratado pejorativamente de pés-rapados. A expressão pé-rachado traz o mesmo sentido de pé-rapado, só que neste caso, além de ter os pés sujos de lama, o pobre coitado ainda traz rachaduras na sola dos pés em razão da falta de calçados. Pobre sofre!

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O GRANDE MASTURBADOR (Aula nº 105 D)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

A inspiração do artista para a composição de O Grande Masturbador nasceu ao observar em Paris uma litografia do final do século XIX, em que uma mulher aspirava o cheiro de um lírio. E, como o próprio pintor não conseguia atingir o clímax sexual com outra pessoa, tendo que se valer da masturbação, como ele próprio dizia, tal visão foi o bastante para que sua mente complexa desse vida a esta composição em que ele expõe suas atitudes conflitantes em relação ao ato sexual.

O artista, cuja personalidade era narcisista e exibicionista, ao pintar esta obra expunha a público sua vida particular, ou seja, suas patologias. Para muitos especialistas em Dalí, a obra acima se trata de um autorretrato em que ele se mostra como “o grande masturbador”, assim como o conflituoso relacionamento que travava com a figura feminina.

Na composição um enorme rosto petrificado de perfil apoia-se no solo, através de um gigantesco nariz fálico. Os olhos com imensos cílios estão semicerrados, lembrando o sonho. O cabelo está repartido ao meio. Um anzol pinça o couro cabeludo, arqueando-o. O masturbador não possui boca. Em seu lugar está um gafanhoto cheio de formigas que estão sempre relacionadas com o medo e o putrefato.

Da cabeça do masturbador eleva-se uma mulher de perfil, nua e de cabelos revoltos, possivelmente sua amada Gala. À sua frente encontra-se uma estátua com os genitais bem delineados, debaixo de uma bermuda colante, o que leva o observador a presumir que a mulher esteja prestes a realizar um coito bucal. Ela traz consigo um lírio, símbolo da pureza, embora o pistilo tenha uma forma fálica. Pode querer dizer que o pintor considerava a masturbação, tão condenada à época, como a forma mais pura que ele tinha para chegar ao ápice do gozo sexual.

Encontram-se na obra elementos que amedrontavam o pintor: formigas, leões e gafanhotos. A tela também lembra a infância de Dalí, ao mostrar elementos de seu medo infantil, como conchas e plumas coloridas, assim como a afigura diminuta de um menino acompanhado de seu pai. A cabeça do masturbador é um peixe preso ao anzol. O gafanhoto e o peixe são bissexuais. O objeto dependurado no anzol também tem conotação fálica. Abaixo da cabeça um homem abraça uma rocha que possui a forma de uma mulher. Talvez essa figura petrificada represente a impossibilidade de uma mulher levá-lo ao orgasmo.

O gafanhoto está ligado à infância do pintor que tinha pavor do inseto. Na tela a sua posição lembra o louva-a-deus que tem a cabeça cortada pela fêmea após o coito. A cabeça do leão, semelhante à da Medusa, com uma língua fálica e vermelha de fora, simboliza o desejo sexual mais selvagem. Um pequeno homem vai se afastando da sombra do nariz em direção ao horizonte. Sobre a cabeça do masturbador pedras, uma rolha e uma concha do mar equilibram-se em meio ao delírio da tela. Seu grande rosto está presente em outras obras do pintor.

Uma das declarações de Dalí era a de que nem mesmo ele entendia o que pintava, pois gostava de confundir e provocar. Portanto, podem ser muitas outras as explicações para cada elemento de suas obras ou coisa nenhuma.

Ficha técnica
Ano: 1929
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 110 x 150 cm
Localização: Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
Dalí/ Coleção Folha
Dalí/ Abril Coleções

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