Historiando Fábulas – A CABEÇA E O RABO DA COBRA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

A jiboiaçu rastejava preguiçosamente próxima à margem de certo rio amazônico, quando sua cabeça e cauda entraram num embate que foge a qualquer encadeamento lógico. O que poderia levar as duas partes de um mesmíssimo corpo a um enfrenta- mento tão irracional, como se diferentes seres fossem? Se ambas dependiam de reciprocidade, que bobagem era aquela de caírem numa altercação?

Um urutau que a tudo observava com esmerada atenção, decifrou a causa da quizila: a cabeça queria seguir adiante em busca de alimento, mas o rabo desejava um lugar fresco para descansar e em razão disso uma discussão travou-se entre as duas partes. Os bichos confabulavam, dizendo que aquilo era coisa de fim do mundo. Alguns até apostavam para ver como acabaria aquela bizarra rusga. Irritado, o rabo falou para a cabeça:

— Você está sempre a tomar a direção de tudo, enquanto eu, sempre na retaguarda, só faço obedecer. Tenho sido seu escravo, enquanto você goza de plena liberdade para agir. Soberba, nem ao menos olha para trás para ver como me encontro, achando que onde entra a cabeça também passa o rabo. O que é verdade no meu caso, mas muitas vezes por ali passo todo escalavrado, batendo numa coisa e noutra ao longo do trajeto. Clamo aos deuses para que a justiça se faça de imediato.

O grande Júpiter — também conhecido por Zeus pelos gregos antigos — passeava sobranceiro pelos céus, até que uma viração levou aos seus ouvidos os rogos do rabo. Achou aquela solicitação bem esquisita, totalmente desprovida de bom senso. Jamais recebera ou ouvira falar de pedido semelhante, mas resolveu atendê-lo — muito mais por diversão do que por sensatez —, queria saber como um rabo poderia servir de guia à cabeça. Assentou – se numa nuvem e pôs-se a observar a cena.

O rabo ia à frente, sem enxergar um palmo adiante do nariz — se nariz tivesse —, trombando aqui, escorregando acolá, sem rumo e nem prumo, enquanto a cabeça — enlouquecida e desgovernada — seguia atrás, mal se mantendo erguida, enquanto os bichos arregalavam os olhos sem saber no que iria dar aquela danura. O perturbado e zureta rabo, não tendo visto o despenhadeiro, por suas encostas escorregou-se. O corpo da jiboiaçu desceu destrambelhado e, ao final de muitos metros, cabeça e rabo separaram-se para sempre… Esfacelados!

Moral da História

O exercício de liderança exige bem mais que apenas se postar à frente.

Moral da História
A precaução é uma das mais importantes vertentes da sabedoria.

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Capa dura, 545 páginas, 170 fábulas (incluindo apólogos)
Contato para compra: Lu Dias  e-mail: ludiasbh@virusdaarte.net
Obs.: 10% do preço de capa que recebo por direito autoral é doado a uma instituição que cuida de animais de rua.

 

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NOVO ESTILO – A ARTE FIGURATIVA (Aula nº 111)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Pensava-se que no período pós-guerra, ou seja, nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial, que a pintura abstrata, até então vista como uma evolução lógica da arte, fosse ocupar cada vez mais espaço, mas curiosamente o que se viu foi a retomada do figurativismo, o que comprova que a arte encontra-se em eterna mudança, ainda que certos estilos durem mais tempo que outros.

Figurativismo ou Arte Figurativa são os termos usados para descrever as manifestações artísticas que representam a forma humana, os elementos da natureza e os objetos criados pelo homem, podendo ser realista ou estilizado, desde que seja possível reconhecer aquilo que foi representado. É muito comum o uso do vocábulo “abstrato” para se contrapor ao “figurativo”, contudo, a expressão que se mostra mais eficaz e dá margem para menos confusão é “não figurativo”.

Os pintores figurativos diferiam dos abstracionistas, porque optavam por representar pessoas e objetos de forma reconhecível, embora alguns deles fizessem uso de criações tão experimentais quanto o que faziam os artistas abstratos. Suas criações eram desafiadoras, ao apresentar figuras contemporâneas e também do ambiente em que se encontravam inseridos, buscando eliminar o sentimentalismo. Em algumas de suas obras podiam se mostrar poéticos, enquanto noutras se faziam chocantes na exposição do tema escolhido. Os pintores figurativos não apenas passaram a trabalhar com as tradições do estilo em questão, como enriqueceram-no, criando imagens provocativas sobre a condição humana presente num mundo extremamente desigual e em constante mudança.

O artista estadunidense R. B. Kitajé, morando em Londres, deu a um grupo de pintores ingleses, do qual também participava, o nome de “Escola de Londres”. Esses artistas estavam juntos mais pelo companheirismo de que por semelhanças reais de estilo. Do grupo faziam parte: Francis Bacon, Lucian Freud (neto do psicanalista Freud), Leon Kossof, Frank Auerbach, Michael Andrew e o próprio R. B. Kitajé. Esses artistas tiveram no pintor David Bomberg — que dava grande distinção ao tato e à visão — uma importante influência. Entre eles era comum que um artista posasse para o outro. Após os anos de 1945 surgiram nos Estados Unidos pintores figurativos realistas como Philip Pearlstein — mais conhecido pelos nus do Realismo Modernista — Alex Katz — conhecido por suas imagens simplificadas e em tamanho grande — que criaram estudos figurativos imparciais e Andrew Wyeth – também famoso por produzir obras regionalistas — que criaram obras mais emocionais.

Francis Bacon foi o mais festejado pintor britânico do século XX, com suas pinturas dramáticas em que o tema central era a figura humana. Ele as tirava da posição normal e distorcia-as para repassar a sensação de isolamento e terror. Lucian Freud foi para a Inglaterra com a família, ainda criança, fugindo dos nazistas. Ao lado de Francis Bacon — de quem era um grande amigo e com quem compartilhava uma visão amarga em relação à condição humana, avaliando ser essa de angústia, isolamento e solidão — é tido como o principal pintor figurativo inglês do século XX. A pintura figurativa, segundo o ponto de vista de alguns artistas e estudiosos da arte, era o único estilo que realmente poderia estar de acordo na sociedade sociopolítica dos dias atuais.

Nota: a obra que ilustra este texto é intitulada Annie e Alice (1950) obra de Lucian Freud.

Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Manual compacto de arte/ Editora Rideel
A história da arte/ E. H. Gombrich
História da arte/ Folio
Arte/ Publifolha

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VIVENDO AO DEUS-DARÁ

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Autoria de Lu Dias Carvalho

mendigo

Eu fico cá pensando com os meus botões sobre qual será o porquê de alguns poucos indivíduos viverem no bem bom, enquanto grande parte da humanidade vive ao deus-dará, se vivemos neste planeta apenas como hóspedes, e ainda por cima por um curto espaço de tempo. Não adianta abocanharmos tudo que podemos, perdendo a noção da brevidade de nossa vida. Na verdade não somos absolutamente donos de nada. Tudo nos é emprestado por um determinado tempo. Logo deixaremos nossa bagagem para outrem. E os ladrões do erário público ainda acham que enganam a morte, ao jogar na rua da amargura tantos desvalidos, privando-os de saúde, educação e comida.  Mas eles, de uma forma ou de outra, terão o  que merecem. Não perdem por esperar!

A expressão “deus-dará” que o Aurélio explica como “à toa; a esmo; ao acaso; à ventura; a Deus e à ventura” possui duas explicações para a sua origem. Vejamos:

Lá pelo século XVII em Recife (PE), os soldados eram providos pela Fazenda Real. Mas, por isso ou por aquilo, alguns não eram abastecidos, de modo que os necessitados se viam obrigados a recorrer ao comerciante Manoel Álvares. E se por acaso faltava ao bom homem as mercadorias necessárias, esse consolava os soldados dizendo: “Deus dará!”. E tanto repetia a expressão – o que significa que ele estava sempre com falta de mercadorias – que foi apelidado pelos soldados de “Deus Dará”, apelido esse que, com o passar do tempo, foi agregado a seu nome próprio: Manuel Álvares Deus Dará. O mais interessante é que o acréscimo também passou para seus descendentes como sobrenome.

Outros, porém, contam que “deus-dará” tem a ver com os sovinas que se recusavam a dar esmolas. Quando um mendigo tinha o desprazer de estender a mão em busca de um auxílio a um desses unha de fome, ouvia logo a resposta: “Deus dará!”, ou seja, legavam toda a responsabilidade a Deus de modo que não tivessem de ser importunados pelos mendicantes. E assim, o coitado ficava abandonado à própria sorte, aguardando que Deus socorresse-o. Apesar de dizerem que eram cristãos, não levavam em conta o ensinamento bíblico em que Jesus estimula o socorro aos pobres.

Fontes de pesquisa:
A Casa da Mãe Joana / Reinaldo Pimenta
http://ninitelles.blogspot.com.br

Nota: Imagem copiada de tmsfrainha.blogspot.com

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MOÇA COM BOLA (Aula nº 110 B)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

   

O pintor estadunidense Roy Lichtenstein (1923–1997) nasceu numa família de classe média alta. Seu contato informal com a pintura teve início em sua adolescência — em casa —, época em que também passou a demonstrar interesse pelo jazz, como mostram os muitos retratos, pintados por ele, de músicos tocando seus instrumentos. Seu contato formal com arte deu-se quando tinha 16 anos de idade, ao frequentar as aulas da Liga dos Estudantes de Arte sob a direção de Reginald Marsh. Seu objetivo era ser um artista. Foi depois para a School of Fine Arts da Ohio State University — uma das poucas instituições do país que possibilitavam a licenciatura em belas-artes. Ali recebeu influência de seu mestre Hoyt L. Sherman, dando início aos trabalhos expressionistas.

A composição intitulada Moça com Bola é uma obra do artista que admirava a arte comercial de qualidade, sendo o primeiro a reconhecê-la, numa época em que os considerados bons artistas renegavam-na. Ele a admirava, mas não a apoiava, ou seja, não trabalhava com a possibilidade de vender uma nova ideia. Não lhe agradava o fato de criarem um trabalho pago por uma empresa, tanto é que aqueles que faziam esse tipo de criação usavam pseudônimos para ficarem no anonimato, pois o público intelectual da arte torcia o nariz para quem fizesse esse tipo de obra, como se ali não houvesse inspiração ou criação artística. O próprio Andy Warhol — premiado como artista comercial — não foi levado a sério no início de sua carreira, simplesmente por ter sido considerado um artista comercial.

A pintura Moça com Bola é uma das primeiras obras de arte pop de Lichtenstein. Foi inspirada num anúncio de jornal diário (imagem menor) que fazia propaganda de um hotel para se passar a lua de mel. O anúncio mostrava uma jovem alta, de lábios vermelhos entreabertos, usando um maiô que deixava a parte acima dos seios descoberta e também coxas e pernas, levantando uma bola de praia acima da cabeça. O artista faz grandes mudanças em sua obra, levando em conta apenas a parte de cima do corpo da moça, aumentando o seu tamanho, dando mais volume aos cabelos e usando cores — a figura original era em preto e branco.

Um fato curioso na pintura é o uso da mesma tinta azul do maiô para pintar os cabelos da garota, procedimento comum na impressão de uma módica banda desenhada* — maneira que os tipógrafos comerciais usavam para economizar tinta, sem ter que usar uma cor extra. O comportamento do artista a respeito da cor azul do cabelo é na verdade um toque humorístico. A boca vermelha entreaberta da mulher, adornada com uma fileira de dentes brancos, remete aos gomos vermelhos e brancos da bola de praia. Também contribuem para os jogos de forma: o debrum branco na parte de cima do maiô, os reflexos de luz nos cabelos e a silhueta ondeada, na parte inferior da composição, atrás da garota. A pintura de Roy Lichtenstein transformou-se num ícone da Art Pop.

*A expressão banda desenhada diz respeito a uma forma de arte que conjuga texto e imagens com o objetivo de narrar histórias nos mais variados gêneros e estilos. São, em geral, publicadas no formato de revistas, livros ou em tiras publicadas em revistas e jornais.

Ficha técnica
Ano: 1556
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 153,7 x 92,7 cm
Localização: Museu de Arte Moderna, Nova Yorque, EUA

Fontes de pesquisa
Lichtenstein/ Editora Taschen
https://en.m.wikipedia.org/wiki/Girl_with_Ball
https://www.roylichtenstein.com/girl-with-ball.jsp

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O PRIMEIRO PASSO É O QUE CUSTA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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O filósofo grego Pitágoras, que viveu cerca de cinco séculos antes de Cristo, disse que “O princípio é a metade do todo.”, enquanto Horácio, poeta latino, anterior a Cristo e posterior a Pitágoras, escreveu que “Aquilo que se começa está metade feito.”. E popularmente se diz que “Começar já é meio caminho andado.”. Se levarmos tais argumentos para o campo da matemática, tomando em conta a quantidade, não concordaremos com o seu teor, mas tanto o filósofo quanto o poeta ou o homem do povo aqui se referem a uma metade psicológica e prática.

Todos nós sabemos como é difícil iniciar um projeto ou qualquer coisa que seja. Vamos sempre tentando empurrar com a barriga, dando tempo ao tempo, sem conseguir botar mãos à obra. Mas, quando damos o primeiro passo, vencemos a barreira psicológica do desânimo e da incerteza, e as coisas vão ficando cada vez mais fáceis e produtivas. A importância do primeiro passo é tamanha que simboliza a metade do caminho, psicologicamente falando.

A sabedoria popular também acrescenta outro provérbio que em nada fica a dever aos grandes mestres: “O primeiro passo é o que custa.”. Posso falar sobre o tema com propriedade em relação à publicação do meu livro “Historiando Fábulas”. Embora recebesse muitos incentivos para publicá-lo, ficava sempre relutando em dar o primeiro passo no sentido de comercializá-lo. Bastou-me o primeiro passo para que uma onda de energia tomasse conta de mim e eu me pusesse a trabalhar com afinco na publicação do meu livro, fruto de dois anos de uma longa pesquisa. Sinto-me feliz!

Fonte de pesquisa:
Provérbios e Ditos Populares/ Pe. Paschoal Rangel

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DÍPTICO MARILYN (Aula nº 110 A)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

O artista Andy Warhol (1928 – 1987), cujo nome de batismo é Andrew Warhola, era filho de imigrantes checos. Nos anos 1950 começou a trabalhar como artista publicitário, tendo sido premiado pelo seu trabalho, antes mesmo de tornar-se um artista pop. A temática de sua obra estava voltada para a cultura popular de massa, produtos de consumo e celebridades. Suas imagens tanto podiam ser banais (fileiras de garrafas de Coca-Cola), glamourosas (retratos de astros de Hollywood) ou macabras (colisões de carros e suicídios). Fazia uso da linguagem visual da propaganda moderna, ao usar cores excêntricas, imagens simplificadas e repetições. Retirava deliberadamente os sinais de seu envolvimento, ao usar assistentes para ajudá-lo a pôr em prática suas ideias. Dedicou-se também a carreiras paralelas como as de cineasta, designer de moda, promotor de eventos e de publicitário.

A estrela de cinema Marilyn Monroe já era famosa quando estrelava filmes de Hollywood, mas o fato de supostamente ter se suicidado, transformou-a num mito, ao misturar glamour com tragédia. Andy Warhol, tomando como base uma famosa foto publicitária da atriz, usou-a para produzir muitas variações da técnica radicalmente nova – a serigrafia – produzindo 50 imagens da loira. A condição de estrela famosa de Marilyn Monroe é potencializada pela repetição de sua imagem.

Na composição as imagens à esquerda são cheias de glamour, enquanto as que se encontram à direita possuem tons esmaecidos, repassando a sensação de transitoriedade da vida da estrela. Andy Warhol fez uso de seis cores no lado esquerdo da composição com a ajuda de um estêncil. Em cada painel o retrato da musa vai sofrendo sutis alterações em razão de variações do pigmento, até chegar à oitava coluna, quando se torna esmaecido.

As pinceladas amarelas e cor de laranja são visíveis. A partir da sexta coluna vertical, à direita, os retratos perdem suas cores e o excesso de tinta preta mancha ou destrói a imagem de Marilyn Monroe. As áreas coloridas presentes nas imagens – cabelo, batom, pele, sombra nos olhos, gola do vestido e fundo – foram pintadas à mão em cima de uma camada de tinta branca que aparece nos dentes da retratada.

Ficha técnica
Ano: 1962
Técnica: serigrafia
Dimensões: 1,97 m x 1,16 m
Localização: Acervo particular

Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Manual compacto de arte/ Editora Rideel
História da arte/ Folio
Arte/ Publifolha

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