O OVO DE COLOMBO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Segundo contam os historiadores, estava o explorador e navegador genovês Cristóvão Colombo – responsável por conduzir a frota que chegou ao continente americano – participando de um banquete realizado para comemorar sua empreitada, quando um dos convivas perguntou-lhe se outra pessoa poderia ter sido capaz de realizar o mesmo feito. Antes de responder, o navegador provocou os presentes para que botassem um ovo fresco de galinha de pé sobre a mesa, usando qualquer uma de suas extremidades. É claro que ninguém conseguiu tal façanha.

Colombo propôs, então, mostrar como resolver tal proeza: pegou o ovo e bateu levemente uma de suas extremidades contra a mesa, quebrando minimamente a casca e colocando-o de pé. Um dos presentes exclamou que qualquer um poderia ter feito aquilo, se daquele jeito fizesse. Ao que o navegador acrescentou que de fato poderia, porém, o mais difícil era ter tal ideia. Ou seja, primeiro é preciso que alguém coloque a ideia em prática, para que outro possa segui-la com facilidade.

Muitos historiadores atestam, contudo, que tal proeza diz respeito ao arquiteto italiano Fillipo Brunelleschi (já estudamos sobre ele aqui no nosso site), quando projetou o famoso domo da Catedral de Santa Maria del Fiore, na cidade de Florença, Itália. Sendo Colombo também um italiano, ele a conhecia, tendo apenas reproduzido a façanha diante dos espanhóis. Outros, porém, atribuem a artimanha feita com o ovo ao construtor Juanelo Turriano. Mas não nos importa os meandros da história, o fato é que ela ficou conhecida como o ovo de Colombo.

Tal expressão passou a significar algo muito fácil de ser realizado, mas depois que alguém já o tenha feito. Abaixo a afirmação de Colombo:

Convenhamos, entretanto, que apesar de sua simplicidade e facilidade, você não descobriu a solução, e apenas eu removi a dificuldade. O mesmo ocorreu com a descoberta do Novo Mundo. Tudo que é natural parece fácil, após conhecido ou encontrado. A dificuldade está em ser o inventor, o primeiro a conhecer ou a demonstrar. (Cristóvão Colombo)

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NOVO ESTILO – CUBISMO II (Aula nº 96)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Fases do Cubismo

Os pintores cubistas foram além da teoria de Cézanne — teoria essa que retratava as formas da natureza como geométricas —, ao representar num mesmo plano aos lados de um objeto, de modo que suas faces ficassem de frente para o observador. O uso de um objeto tridimensional no mesmo plano dava-se através do uso de linhas retas e formas geométricas, sem nenhuma preocupação com a aparência da realidade. Os artistas cubistas, portanto, abriram mão da perspectiva, fizeram a geometrização das formas e passaram a usar cores neutras (branco, preto, cinza e tons de castanho e ocre, etc.).

O movimento cubista pode ser dividido em duas fases: o Cubismo Analítico (1909) e o Cubismo Sintético (1911) que se diferem em razão das seguintes características:

Cubismo Analítico — retrata o período inicial do movimento, sendo visto como um Cubismo mais sofisticado, bem mais próximo das técnicas pictóricas tradicionais. Fazia a decomposição dos elementos que compunham uma obra, com o objetivo de mostrar a visão total de todos os ângulos e lados, numa ordem de planos sucessivos e sobrepostos, ficando a figura menos identificável. As passagens criadas necessitavam ser reconhecidas pelo observador, exigindo que ele se tornasse um participante efetivo. Para Juan Gris o que Cubismo Analítico fazia era partir de um detalhe (um motivo visto) até chegar a uma generalização (a pintura).

Cubismo Sintético — buscou tornar a figura mais reconhecível e adicionou elementos como o vidro, pedaços de madeira, metais, letras, números e objetos, a fim de que a composição, além de tornar-se mais visual, provocasse sensações táteis. Desaprovava alguns dos princípios do Cubismo Analítico. Levava em conta a realidade da imagem que passou a fazer parte do mundo real. Para Juan Gris o que Cubismo Sintético fazia era partir da generalidade da superfície e dos materiais usados pelo artista, até chegar a uma imagem especial e única criada por ele.

As pinturas cubistas analíticas mostravam imagens frias e achatadas, mas a partir de 1911 pequenas mudanças estavam sendo introduzidas na arte cubista, como mostra a composição “Ma Joli” de Pablo Picasso que era o título e também o refrão de uma canção popular francesa. Ao adicionar tais palavras à sua composição, o artista, fazia, ao mesmo tempo, uma dedicatória à sua amante Marcelle e personalizava e humanizava a imagem pouco reconhecível de uma mulher tocando violão. Por sua vez, o cubista Juan Gris mostrava-se menos rebuscado e mais tradicional, com o objetivo de tornar sua obra mais reconhecível e calorosa como pode ser visto em “Retrato de Picasso”.

Na fase do Cubismo Sintético muitas texturas passaram a ser exploradas, dando maior ênfase ao uso de uma combinação ou “síntese” de diferentes estilos numa única obra. Essa fase teve início em 1912 e perdurou por toda a década de 1920, tendo dela participado artistas como Robert Delaunay, Francis Picabia, Jean Metzinger, Fernando Léger e Marcel Duchamp.

Os pintores cubistas estavam cientes de que era preciso tornar sua parte mais compreensível para o público. O pintor Fernand Léger, por exemplo, ao criar uma série de pequenas pinturas bem delineadas em cores primárias — um pouco distante das obras de Picasso e Braque —, repassou ao Cubismo um ânimo diferente e uma nova estética no mundo da arte pictórica, ao romper com as regras de perspectiva, escorço, textura e o uso do chiaroscuro, elevando o Cubismo a um mundo modernista, guiado pela tecnologia. Da série “disco” de Léger, a mais notável é conhecida como “A Saída do Ballets Russes”, ilustração acima, em que ele fez uso de uma paleta alegre de amarelos, vermelhos e azuis, além do preto.

As mudanças cromáticas de Fernando Léger, agregadas ao desenvolvimento da colagem por Picasso e Braque, contribuíram para impelir as mudanças e apressar a visão da crítica e do público em relação ao Cubismo que entra na segunda fase sintética. Nessa fase os artistas preocupavam-se menos com o método de observação e mais com o processo de estruturação e planejamento da obra. A cor ganha um papel mais forte e as formas — ainda fragmentadas e planas — tornam-se maiores e mais decorativas. Materiais como fragmentos de jornais e pedaços de tecidos são muitas vezes adicionados à tela, representando de antemão a colagem.

O Cubismo que se iniciou com as artes plásticas, acabou se espalhando por outras manifestações artísticas, como a Poesia e a Literatura. Quanto à existência de tal movimento no Brasil, aqui não existiram pintores tidos como cubistas, sendo o Cubismo apenas objeto de estudo, no entanto, diversos artistas modernistas viram-se por ele influenciados.

Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Manual compacto de arte/ Editora Rideel
A história da arte/ E. H. Gombrich
História da arte/ Folio
Arte/ Publifolha

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UM ARRANCA-RABO

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Autoria de Lu Dias CarvalhoVetores Tapa de gato: Desenho vetorial, imagens vetoriais Tapa de gato|  Depositphotos

Por ocasião das últimas eleições para prefeito de Coxixó da Serra, tive a oportunidade de assistir a um comício na cidade. Ali me encontrava em visita a um familiar. Tirando as promessas mirabolantes e a verborragia vindas do palanque, tudo teria transcorrido na mais absoluta e costumeira pasmaria, se certa madame do lado opositor aos participantes do comício não tivesse passado pelo local e dado um tapa na cara da matrona, esposa de um dos candidatos, motivo suficiente para que o pau comesse.

As duas “finas” damas, depois de esbofetearem-se mutuamente seguidas vezes, passaram a rolar no chão, disputando para ver quem ficava por cima durante mais tempo, pouco se importando com as vergonhas, uma vez que ambas se encontravam de saia e com a camiseta de seu partido. O comício foi interrompido, uma vez que os presentes, achando que a rixa tinha bem mais emoção, voltaram as costas para o palanque com seus não muito distintos oradores com suas contumazes mentiras e promessas deslavadas. Toda a atenção pública passou a concentrar-se nas duas gladiadoras. A turba, como é comum acontecer,  instigava a desavença. Queria mais!

A notícia da quizila correu as ruas poeirentas de Coxixó da Serra. Os partidários da agressora, responsável pelo tabefe inicial, foram chegando e tomando o seu partido. Os seguidores da colega de comício também acharam por bem tomar suas dores. Assim, o tumulto dividiu-se em duas torcidas organizadas. Ninguém acudia. Ninguém separava. Todos queriam ver o circo pegar fogo. Repentinamente uma guinchada de sangue atingiu o rosto de alguém da plateia. Uma das desordeiras havia literalmente tirado parte da orelha de sua opositora que, em contrapartida, arrancou-lhe a ponta do nariz.

O arranca-rabo só acabou quando as tais foram parar na delegacia, sendo logo após encaminhadas ao posto de saúde, para tomarem vacina contra raiva e coisa e tal.  Dizem as más línguas que as duas chibantes desfilam atualmente por Coxixó da Serra de braços dados. Uma sem a ponta da orelha e a outra sem a ponta do nariz, mas agora pertencentes ao mesmíssimo partido. Que loucura!

O termo arranca-rabo foi trazido pelos colonizadores portugueses que, por sua vez, herdaram-no da tradição egípcia. Está ligado às batalhas de antigamente, quando arrancar o rabo do cavalo do inimigo era um grande trunfo. Quanto mais rabos de cavalos apresentasse, mais prestigiado era o guerreiro. Tal costume também foi comum entre os cangaceiros nordestinos, aqui no Brasil, como forma de humilhar os donos das propriedades invadidas. As bestas humanas digladiavam e eram os pobres animais as maiores vítimas, sem terem nada a ver com a rixa. O que prova que o rabo dos mais fracos sempre fica mais desprotegido.

Fontes de Pesquisa:
A Casa da Mãe Joana / Reinaldo Pimenta
http://www.brasilescola.com/curiosidades/arranca-rabo.htm

 

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NOVO ESTILO – CUBISMO I (Aula nº 95)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Início do Cubismo

No início do século XX diversos pintores europeus não mais se atinham a criar a ilusão de profundidade e volume em seus trabalhos. Buscavam novas alternativas que alterassem a tradição ocidental. A arte africana, por exemplo, não levava em conta as ideias ocidentais referentes ao naturalismo e à beleza.  Foi o Cubismo, ao trabalhar com representações de objetos e espaço, o grande responsável por romper com as convenções até ali existentes. Em seu começo tal movimento era tanto intelectual e conceitual, assim como voltado para a análise visual.

O Cubismo surgiu em Paris nas primeiras duas décadas do século XX, sob a liderança dos pintores Pablo Picasso e Georges Braque, sendo que o último teve inicialmente aversão por tal estilo, como deixou explícito em 1907, ao conhecer a pintura “As Senhoritas de Avignon” (Les Demoiselles d’Avignon), composição que ilustra este texto, juntamente com os pintores André Derain, Henri Matisse e o crítico de arte Guillaume Apollinaire. Os quatro amigos desprezaram a pintura de Picasso.

Pablo Picasso e Georges Braque eram grandes admiradores da obra pós-impressionista do pintor francês Paul Cézanne, principalmente no que dizia respeito à sua abordagem plana e abstrata. Cézanne, ao contemplar a natureza, via nela formas geométricas básicas, tais como: esfera, cone e cilindro. E numa exposição póstuma de sua obra, apresentada no Salão de Outono em 1907, encontraram o incentivo para o movimento cubista.

Assim como Cézanne, o mestre pós-impressionista, os participantes do Cubismo reafirmavam que a arte não era uma cópia da natureza, mas, sim, um paralelo dela. A arte africana foi outra influência de destaque para o novo estilo, como fica claro nos rostos semelhantes a máscaras da composição acima. Também buscaram na arte africana uma paleta de tons e cores naturais terrosos que se tornaram predominantes nas obras iniciais do Cubismo.

Picasso e Braque, pelo fato de abraçarem juntos o movimento cubista, tornaram-se os líderes. Entre os anos de 1907 e 1912 ambos compuseram os primeiros quadros cubistas, tidos hoje como analíticos — período em que faziam experiências tanto com a câmera como através do olho, buscando compreender como era possível apreender uma imagem, mas também a maneira como a mente processava-a.

Para um melhor entendimento, Picasso e Braque “decompuseram” intelectualmente as estruturas, a fim de analisá-las e posteriormente recriá-las. Ao pintar de forma tonal, fazendo uso do cinza, preto, azul, verde e ocre, os dois pintores compuseram imagens severas, mostrando visões complicadas e múltiplas de um objeto limitado a planos sobrepostos, opacos e transparentes. O resultado eram imagens achatadas, tendo suas formas naturais restritas a figuras geométricas, principalmente cilindros, esferas e cones. A princípio eles se concentraram na natureza-morta e na figura, buscando seus temas na vida parisiense.

Braque, ao passar o verão de 1908 em L’Estaque, sul da França, criou uma série de paisagens com edifícios em estilo cubista analítico. Ao ver tais pinturas, o marchand Daniel-Henri Kahnweiler, surpreso com sua originalidade, aceitou promover seu trabalho e o de Picasso. Nesse mesmo ano organizou uma exposição em sua própria galeria. Ali se encontrava a obra intitulada “Casa L’Estaque” de Braque que foi avaliada negativamente pelo crítico de arte Louis Vauxcelles que usou o nome de “cubismo” na revista Gil Blas. No seu artigo ele criticava o artista por compor quadros, reduzindo tudo a “contornos geométricos e cubos”.

Os dois amigos foram aos poucos reduzindo sua escala cromática, passando de uma variedade básica do verde ao marrom, até atingir quase uma monocromia de cinzas vivos. O desenho, por sua vez, foi se transformando numa estrutura linear, frequentemente retilínea, enquanto a pintura era espalhada como uma camada protetora, indo de um extremo a outro da tela. A partir de 1911 Picasso e Braque experimentaram diversos modos de reforçar a realidade da superfície pictórica. O estilo monocromático e texturizado inicial do movimento cubista cedeu lugar a uma pintura plana, normalmente com cores vivas e com superfícies evidentes na obra de Pablo Picasso e Georges Braque.

Não se pode negar que o Cubismo estava muito além da sua época, o que levou a maioria dos críticos e do público a rejeitá-lo, ainda assim, muitos artistas em Paris adotaram-no, sendo Juan Gris — pintor francês de origem espanhola — um grande destaque nas últimas fases do Cubismo, a partir de 1912.

Os cubistas passaram a criar imagens de pessoas, lugares e objetos domésticos fazendo uso de uma série de planos ilusórios. Eles faziam uso, ao mesmo tempo, do achatamento medieval de campo e das ilusões renascentistas de volume, resultando na criação de um espaço raso, no qual podiam mesclar padrões de superfície e ambiguidades espaciais com objetos parados, vistos a partir de pontos de vista em movimento. Contudo, os chamados “Cubistas de Salão”, com suas obras menos complexas, estilisticamente falando, buscaram temas com muitas figuras, com o objetivo de atrair um público maior.

Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Manual compacto de arte/ Editora Rideel
A história da arte/ E. H. Gombrich
História da arte/ Folio
Arte/ Publifolha

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O CONTO DO VIGÁRIO

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Autoria de Fernando Pessoa

Vivia há já não poucos anos, algures, num conselho do Ribatejo, um pequeno lavrador, e negociante de gado, chamado Manuel Peres Vigário.

Da sua qualidade, como diriam os psicólogos práticos, falará o bastante a circunstância que dá princípio a esta narrativa. Chegou uma vez ao pé dele certo fabricante ilegal de notas falsas, e disse-lhe: «Sr. Vigário, tenho aqui umas notinhas de cem mil réis que me falta passar. O senhor quer? Largo-lhas por vinte mil réis cada uma.» «Deixa ver», disse o Vigário; e depois, reparando logo que eram imperfeitíssimas, rejeitou-as: «Para que quero eu isso?», disse; «isso nem a cegos se passa.» O outro, porém, insistiu; Vigário cedeu um pouco regateando; por fim fez-se negócio de vinte notas, a dez mil réis cada uma.

Sucedeu que dali a dias tinha o Vigário que pagar a uns irmãos, negociantes de gado como ele, a diferença de uma conta, no valor certo de um conto de réis. No primeiro dia da feira, na qual se deveria efetuar o pagamento, estavam os dois irmãos jantando numa taberna escura da localidade, quando surgiu pela porta, cambaleando de bêbado, o Manuel Peres Vigário. Sentou-se à mesa deles, e pediu vinho. Daí a um tempo, depois de variada conversa, pouco inteligível da sua parte, lembrou que tinha que pagar-lhes. E, puxando da carteira, perguntou se, se importavam de receber tudo em notas de cinquenta mil réis. Eles disseram que não, e, como a carteira nesse momento se entreabrisse, o mais vigilante dos dois chamou, com um olhar rápido, a atenção do irmão para as notas, que se via que eram de cem. Houve então a troca de outro olhar.

O Manuel Peres, com lentidão, contou tremulamente vinte notas, que entregou. Um dos irmãos guardou-as logo, tendo-as visto contar, nem se perdeu em olhar mais para elas. O vigário continuou a conversa, e, várias vezes, pediu e bebeu mais vinho. Depois, por natural efeito da bebedeira progressiva, disse que queria ter um recibo. Não era uso, mas nenhum dos irmãos fez questão. Ditava ele o recibo, disse, pois queria as coisas todas certas. E ditou o recibo – um recibo de bêbado, redundante e absurdo: de como em tal dia, a tais horas, na taberna de fulano, e estando nós a jantar (e por ali fora com toda a prolixidade frouxa do bêbado…), tinham eles recebido de Manuel Peres Vigário, do lugar de qualquer coisa, em pagamento de não sei quê, a quantia de um conto de réis em notas de cinquenta mil réis. O recibo foi datado, foi selado, foi assinado. O Vigário meteu-o na carteira, demorou-se mais um pouco, bebeu ainda mais vinho, e daí a um tempo foi-se embora.

Quando, no próprio dia ou no outro, houve ocasião de se trocar a primeira nota, o que ia a recebê-la devolveu-a logo, por escarradamente falsa, e o mesmo fez à segunda e à terceira… E os irmãos, olhando então verdadeiramente para as notas, viram que nem a cegos se poderiam passar.

Queixaram-se à polícia, e foi chamado o Manuel Peres, que, ouvindo atônito o caso, ergueu as mãos ao céu em graças da bebedeira providencial que o havia colhido no dia do pagamento. Sem isso, disse, talvez, embora inocente, estivesse perdido.

Se não fosse ela, explicou, nem pediria recibo, nem com certeza o pediria como aquele que tinha, e apresentou, assinado pelos dois irmãos, e que provava bem que tinha feito o pagamento em notas de cinquenta mil réis. «E se eu tivesse pago em notas de cem», rematou o Vigário «nem eu estava tão bêbado que pagasse vinte, como estes senhores dizem que têm, nem muito menos eles, que são homens honrados, mas receberiam.» E, como era de justiça foi mandado em paz.

O caso, porém, não pôde ficar secreto; pouco a pouco se espalhou. E a história do «conto de réis do Manuel Vigário» passou, abreviada, para a imortalidade quotidiana, esquecida já da sua origem.

Os imperfeitíssimos imitadores, pessoais como políticos, do mestre ribatejano nunca chegaram, que eu saiba, a qualquer simulacro digno do estratagema exemplar. Por isso é com ternura que relembro o feito deste grande português, e me figuro, em devaneio, que, se há um céu para os hábeis, como constou que o havia para os bons, ali lhe não deve ter faltado o acolhimento dos próprios grandes mestres da Realidade – nem um leve brilho de olhos de Macchiavelli ou Guicciardini, nem um sorriso momentâneo de George Savile, Marquês de Halifax.

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MEDO DA PRÓPRIA SOMBRA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

BUCE

 O medo é um instinto de sobrevivência necessário à nossa vida, mas quando se torna extremo, transforma-se numa fobia que pode arrastar o indivíduo à loucura. Engraçado é que, enquanto alguns homens conseguem encobrir seus medos, os animais escancaram-nos, sempre que se veem ameaçados. Mas, uma vez passada a ameaça, eles retornam à normalidade, enquanto nós humanos ficamos a ruminá-lo por muito tempo, o que  faz um tremendo mal à nossa saúde.

 A expressão “medo da própria sombra” nasceu, segundo o escritor Reinaldo Pimenta, em seu livro “A Casa da Mãe Joana”, quando um cavalo muito fogoso foi oferecido a Felipe II, rei da Macedônia, que rejeitou o animal, pois esse era muito nervoso e impossível de domar. Porém, seu filho Alexandre Magno, que mais tarde receberia a alcunha de “o Grande”, ainda nos seus 15 anos, disse ao pai que seria capaz de domar aquele animal indócil.

 Ao aproximar-se do cavalo, o rapazote notou que ele se assustava ao ver a própria sombra. Colocou-o de frente para o sol, deixando a sombra às suas costas. Alexandre montou no cavalo, cavalgando sempre em linha reta, cumprindo a sua palavra de que seria capaz de domesticar o fogoso animal. Deu-lhe o nome de Bucéfalo.

Ilustração:  Alexandre Magno e seu cavalo Bucéfalo, na Batalha de Isso. Mosaico encontrado em Pompeia, hoje no Museu Arqueológico Nacional, situado em Nápoles.

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