MESTRE DESCONHECIDO – LÓ E SUAS FILHAS

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Autoria de Lu Dias Carvalho

A composição do mestre flamengo desconhecido, criada por volta do ano1530 ou antes disso, intitulada Ló e Suas Filhas, tem como inspiração uma passagem bíblica (Gênesis). Ela acontece em dois planos diferentes. O primeiro apresenta Ló, sobrinho de Abraão, e suas duas filhas em Sodoma. O segundo mostra o mundo vitimado pela destruição. Os dois cenários são moldados por duas composições triangulares (uma à esquerda e outra à direita), ambas do mesmo tamanho, com ângulos agudos que se localizam na diagonal. Estão unidos por uma semiescuridão. Uma grande árvore parece ter o objetivo de delimitar os dois acontecimentos.

Ló e suas duas filhas, presentes em primeiro plano, são apresentados em tamanho grande. Já em segurança, o grupo encontra-se diante de uma luxuosa tenda vermelha, com duas outras atrás, rodeados por três moringas bojudas de bebida e farta comida, ali se vê inclusive ossos de animal. De acordo com o texto bíblico, as filhas de Ló criam que toda a humanidade havia perecido, exceto eles. Por esta razão a mais velha argumenta com a mais nova: “Não há mais nenhum homem na Terra que entre em nós segundo o costume. Venha, deixe nosso pai beber vinho e durmamos com ele e preservaremos a geração de nosso pai”. E assim, agiram sem que Ló percebesse.

O pintor não mostra o incesto na sua obra, mas insinua que a iniciativa foi do pai, ao mostrar a postura rígida e passiva da filha abraçada, o que não significa falta de maestria, uma vez que ele apresenta a filha que serve o vinho graciosamente. O artista ignora em sua criação a narrativa de que as filhas enganaram o velho e piedoso pai. Apenas transforma a dor das fugitivas numa cena de amor convencional com matizes bucólicos, convencional também no sentido de que é o homem quem toma a iniciativa e não uma de suas filhas, de acordo com a postura de Ló, abraçando a filha.

O homem e suas duas filhas são vistos bem pequenos em segundo plano, caminhando calmamente sobre uma frágil e estreita ponte de madeira, erguida sobre paus. Uma das moças leva uma trouxa sobre a cabeça. Atrás do pequeno grupo segue um jumento carregado com seus pertences. Apesar da periculosidade do local, eles caminham lado a lado e não em fila única. A esposa de Jó e mãe das moças é vista atrás, à direita, transformada numa estátua de sal. O pequeno grupo parece caminhar tranquilamente, sem demonstrar terror com o acontecido.

A destruição de Sodoma é mostrada de forma dramática, com casas desmoronando e caravelas afundando. O fogo, representado na forma de projéteis, despenca do céu devorando a cidade que traz uma parte em chamas. A chuva de projéteis desce de um buraco no céu sobre a cidade. Os prédios inclinam-se e tombam. A cidade desgoverna-se para a esquerda, sendo engolida pelo mar. A igreja, mais ao fundo, tem a sua torre quebrada, prestes a tombar. As caravelas presentes no mar parecem rachar ao meio e afundar. Uma cidade situada ao longe, bem próxima à linha do horizonte, recebe projéteis vindos de outro buraco aberto no céu.  Uma segunda cidade que se eleva à esquerda na parede rochosa não é atingida pela catástrofe, assim como a torre presente na margem direita da pintura. A água mostra-se inalterável, trazendo sua superfície tranquila.

A composição apresenta o contraste entre a planície e a paisagem montanhosa, entre o fogo e a água. A árvore solitária corta quase toda a tela na vertical em direção ao céu. A existência de catástrofe e de tranquilidade, presentes nas duas cenas principais e também dentro da própria cena de destruição, reforça o sentimento de inquietação e incompreensibilidade sobre o que está a ocorrer.

Curiosidade: Os geólogos creem poder datar a destruição de Sodoma e cidades vizinhas em 4350 a.C, aniquiladas por um violento terremoto que sacudiu a região ao redor do Mar Morto. O hidrocarboneto que brotou das profundezas ardeu e o dióxido de enxofre ocasionou uma chuva ácida que matou pessoas, animais e plantas. As grossas nuvens negras tornaram a paisagem morta, podendo ser vista à distância.

Ficha técnica
Ano: c.1530
Dimensões: 58 cm x 34 cm
Técnica: óleo sobre painel
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fonte de pesquisa
Los secretos de las obras de arte/ Taschen

 

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