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Autoria de Lu Dias Carvalho
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A pintura atinge e atrai todos os olhos. (Le Journal de Paris).
Nem a poesia nem a pintura conseguirão um dia transmitir o horror e a angústia dos homens na jangada. (Théodore Géricault)
A composição A Jangada da Medusa, também conhecida como A Balsa da Medusa, é uma obra-prima do sensível pintor francês Théodore Géricault (1791-1824), um dos mais famosos artistas do estilo romântico em seu início, na França. Foi inspirada num fato real que diz respeito à fragata Medusa que em 1816 soçobrou na costa da África Ocidental, quando se dirigia ao Senegal. Levava cerca de 400 passageiros a bordo, mas os botes salva-vidas só podiam resgatar 250. Assim, 150 pessoas foram jogadas numa jangada feita às pressas. Dessas, apenas 10 sobreviveram depois de 13 dias perdidas no mar. Vitimados pela fome e sede, dizimaram-se uns aos outros. O fato tornou-se um acontecimento escandaloso, cuja responsabilidade caiu sobre o comandante, um homem arrogante, protegido pelo regime Bourbon.
Géricault fez inúmeros desenhos e esboços a fim de captar melhor aquilo que queria externar. Escolheu para pintar o momento em que os sobreviventes do naufrágio avistam ao longe o pequeno navio mercante Argus, responsável por salvá-los. Para criar sua obra de tom heroico, contatou dois sobreviventes (o médico Savigny e o cartógrafo Corréad) da tragédia, além de ler o livro escrito por ambos. Fez uma maquete de uma jangada em tamanho real a fim de melhor representá-la, dispondo figuras de cera sobre ela. Fez esboços de feridos, moribundos e cadáveres na tentativa de ser fiel à realidade. O artista chegou a visitar um hospital para compreender melhor os detalhes anatômicos humanos, levando uma cabeça cortada e membros do corpo, colhidos num necrotério, para seu atelier. Também fez uso de modelos vivos. A obra tornou-se tão real que é possível ao observador imaginar-se entrando na jangada que ocupa o primeiro plano da tela. A parte dedicada ao mar ganhou pouco destaque.
A obra – pintada quando o artista tinha apenas 27 anos – apresenta um grupo desesperado de pessoas sobre uma jangada feita dos escombros (tábuas, cordas, partes do mastro, etc.) da fragata Medusa, à deriva no mar, em meio a ondas bravias, aguardando socorro. Muitos dos náufragos já se encontram mortos. Apesar da tristeza e do desespero reinante é possível captar o intenso alívio e a emoção do pequeno grupo, à direita, à vista de socorro, o que imbui a obra de grande dramaticidade. O grupo forma uma pirâmide menor. Vale lembrar que os sobreviventes já se encontravam quase mortos e enlouquecidos, mas ainda assim foram pintados como jovens fortes e musculosos.
Corpos sem vida espalham-se por toda a jangada. Um deles em primeiro plano tem a cabeça na água. À esquerda, um pai com um pano vermelho nas costas lamenta a morte do filho, segurando seu corpo nu sobre a perna esquerda, sem mostrar interesse algum pela possibilidade de resgate. Atrás dele, mais ao fundo, um homem segura a cabeça com as mãos, lamentado a própria sorte. O restante dos sobreviventes traz os olhos voltados para a embarcação, ainda minúscula, ao longe, num ato de desespero e esperança, pois eles poderiam não ser vistos. Um homem sobre um caixote tenta levantar o mais alto possível a bandeira, sendo seguro por outro. Abaixo, recostado a um barril, outro homem ergue um pano branco. Outro se volta para trás, para anunciar aos companheiros o que acabara de ver, apontando para o horizonte distante.
À direita um vagalhão em forma de pirâmide ameaça a jangada, contrapondo-se à vela. A natureza mostra sua força através da vela inflada pelo vento e pelos movimentos tempestuosos do mar. Ainda assim, raios de luz entrecortam as nuvens, como se trouxessem um vestígio de esperança. A presença de um machado com sangue na cena, em primeiro plano, é uma referência ao canibalismo relatado pelos sobreviventes. A presença de uma figura em silhueta com o braço em perspectiva eleva os olhos do observador da parte baixa da embarcação para o topo dramático formado pelo pequeno grupo que tenta chamar a atenção do Argus.
O artista usou duas pirâmides para fazer sua obra. A primeira é formada pelas cordas que seguram a vela. A segunda é feita pelas figuras humanas, tendo na bandeira o ápice. Ela traz na sua base os doentes e agonizantes até chegar ao grupo que aguarda o resgate, ou seja, vai da agonia à esperança. Uma melancólica e dramática paleta de cores, em que predominam os tons de carne está presentes nos corpos pálidos postados nas mais diferentes posições. Através do claro-escuro do estilo Caravaggio, eles recebem um destaque pungente. Tons quentes contrastam com o azul escuro do oceano em fúria, debaixo de um céu de nuvens revoltas, mas bem mais claro. O tom escuro da pintura parece fortalecer a desdita tenebrosa das vítimas. Uma infinidade de influências de artistas anteriores é vista na obra.
Há no conjunto desta obra, considerada um clássico do Movimento Romântico, movida por uma brutal e intensa paixão, muitos movimentos complexos e gesticulação. Sua estrutura é piramidal e tem no mastro o seu ápice. Antes de criá-la, o artista fez cerca de cinquenta estudos. A inclusão de um negro segurando a bandeira vermelha e branca serviu de elemento polarizador, ao trazer para a discussão o movimento abolicionista defendido pelo artista. Géricault criou esta pintura com o objetivo de repassar uma mensagem ao povo. Ainda sob o calor do terrível acontecimento, ela se tornou logo famosa, ganhando aplausos da crítica e do público. Foi mostrada no Salão de 1819, com o título “Cena de um Naufrágio”, sendo mal recebida. O júri não lhe concedeu nenhuma láurea. Em razão do boicote a seu trabalho, o artista foi a seguir para a Inglaterra, a convite, onde permaneceu dois anos. Só foi vendida após a morte prematura do artista, quando tinha 32 anos, ao amigo Dedreux-Dorcy.
A pintura, vista antes como um panfleto contra o governo, foi mudando aos poucos o seu enfoque diante do realismo e da comoção produzida, pois os fatos que se escondem por trás dela são ainda mais cruéis. A crítica política ficou em segundo plano, e o sofrimento humano, ou seja, a vida humana abandonada à própria sorte, passou a ocupar o primeiro lugar. Embora se trate de uma das primeiras pinturas do Movimento Romântico, com sua obra Géricault vislumbrou a chegada do Realismo, assim como o uso da mídia como uma ferramenta política.
Obs.: Esta pintura vem se degradando com o tempo, já tendo perdido muitas partes dos detalhes originais. O próprio pigmento (betume) utilizado pela artista tem contribuído para isso, sem possibilidade de restauração.
Ficha técnica
Ano: 1818
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 491 x 716 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França
Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
Arte em Detalhes/ Robert Cumming
http://www.louvre.fr/en/oeuvre-notices/raft-medusa
http://estoriasdahistoria12.blogspot.com.br/2013/08/a-jangada-da-medusa
http://www.artble.com/artists/theodore_gericault/paintings/the_raft_of_the_medusa
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