O ÂNGELUS (Aula nº 80 B)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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É impossível imaginar essas pessoas pensarem em ser qualquer outra coisa, senão o que são. Nós podemos ver a opressão, mesmo que eles não possam. Talvez isto nos seja revelado na esperança de que nós reajamos. (Millet)

 A ideia do Ângelus surgiu-me porque me lembrei que a minha avó, ao ouvir o sino da igreja tocar, enquanto trabalhávamos no campo, sempre nos fazia parar para fazer a oração do Ângelus pelos pobres que partiam. (Millet)

 O pintor realista francês Jean-François Millet (1814-1875) era filho de uma próspera família rural da Normandia. Através de uma bolsa de estudos foi estudar em Paris com Paul Delaroche, Jérome Langlois e Chevreville. Permaneceu dois anos na Escola de Belas-Artes. No início de sua carreira o artista fez retratos e pinturas históricas e mitológicas, vindo a trabalhar posteriormente com o tema camponês, retratando a vida diária das pessoas que trabalhavam no campo. Os temas usados pelo artista em suas obras eram vistos como revolucionários e perigosos para os poderosos da época. Millet nutria grande amor pelo mundo camponês.

A composição realista intitulada O Ângelus é a obra mais famosa do artista, figurando como uma das obras-primas da pintura francesa do século XIX. Apresenta dois camponeses, um homem e uma mulher, no campo de trabalho, onde cavavam batatas, no momento em que param seu labor, ao pôr do sol, para rezarem (Hora do Ângelus), após ouvirem os sinos da igreja ao fundo.  O casal assume uma aparência monumental, apesar das dimensões reduzidas da tela. Ambos se encontram de pé e em postura de preces, com a cabeça voltada para o chão. O homem segura seu chapéu e a mulher junta as mãos sobre o peito. Ainda que reduzido, trata-se de um breve momento de paz e descanso, após um pesado dia de trabalho.

Nada há na composição que possa indicar que a dupla de camponeses esteja se preparando para voltar para casa. Próximo a eles estão os utensílios (sacos, forquilha, cesto e carrinho de mão) usados no trabalho. Uma cesta de vime encontra-se entre os dois, largada ali, possivelmente pela mulher, durante o momento de preces. Um ancinho fincando no solo, à direita do homem, leva a crer que ele continuará o trabalho. Nada indica qual seja o tipo de relação existente entre ambos.

Os tons escuros da obra imergem os dois camponeses num momento profundo de oração. A imensidão da paisagem e a postura das figuras aumentam a quietude ali presente, nela também imergindo o observador. A linha do horizonte é muito alta, o que leva a superfície do quadro a ocupar dois terços da suave cor verde acastanhada da terra, enquanto a parte superior é invadida pela luz que chega da esquerda. Os rostos das duas figuras encontram-se na sombra, enquanto a luz foca seus gestos.

Ainda que o artista não evidencie abertamente sua intenção sociopolítica em suas obras, ele sabia que seu público via-o como um revolucionário republicano. Embora alguns críticos contemporâneos achassem que os quadros do artista eram muito sentimentais, Millet buscava evitava qualquer coisa que despertasse sentimentalismo. Ele não idealizava e sim testemunhava os fatos. O pintor não quis repassar à sua obra nenhum cunho religioso, apesar do título. Ela foi inspirada em suas memórias de infância, como descrito acima. Ele desejava apenas apreender a rotina imutável da vida camponesa numa cena simples.

Vincent van Gogh via em Millet seu mestre espiritual e Salvador Dalí venerava essa obra, fazendo algumas variantes do tema das Trindades (Angelus), dedicando-lhe um livro. Para Dalí o Angelus foi o trabalho mais inquietante e perturbador que conheceu. Em 1932 um louco dilacerou essa obra que se transformou num ícone mundialmente conhecido no século XX.

Fontes de pesquisa
Ano: c.1821/22
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 55,5 cm x 66 cm
Localização: Musée d’Orsay, Paris, França

Fontes de pesquisa
Obras-primas da arte ocidental/ Taschen
https://www-musee–orsay-fr.translate.goog/fr/oeuvres/langelus-345?_x_tr_sl=fr&
https://snpcultura.org/o_angelus_de_millet_e_a_incapacidade_pos_moderna
https://pt.wikipedia.org/wiki/Angelus_(pintura)
https://artsandculture.google.com/asset/the-angelus/CgHjAgexUzNOOw

6 comentaram em “O ÂNGELUS (Aula nº 80 B)

    1. LuDiasBH Autor do post

      Rodrigo

      O seu comentário é tão carinhoso que optei por postá-lo na página principal do blogue, à esquerda. Muito obrigada por suas palavras tão gentis e estimulantes. Leitores como você é que me levam a buscar sempre melhorar num país tão carente de arte. Faça deste espaço um cantinho também seu.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  1. Adevaldo R. Souza

    Lu

    Bela obra de Jean-François Millet que o curso nos apresenta, destacando a cena campestre. Naquela época o mundo rural representava o “bem”, enquanto o mundo urbano com suas indústrias representava o “perigo” pra sociedade. A pintura “O Ângelus”, além de seu valor artístico é uma bela obra para decorar ambientes, com suas técnicas fotográficas destacadas, como a linha do horizonte que tem um terço da composição. Fiquei intrigado com o cesto entre os dois personagens . Parece que o casal faz a prece tendo esse objeto como referência.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Adevaldo

      Você abordou algo muito importante ao dizer que “Naquela época o mundo rural representava o “bem”, enquanto o mundo urbano com suas indústrias representava o ‘perigo’ pra sociedade. Era exatamente esta visão que a maioria dos artistas detinha. Hoje o mundo rural está dominado pelos grandes latifúndios. Quanto ao cesto, em minhas pesquisas encontrei uma fonte que diz que dentro dele havia uma criança, mas devido à reação das pessoas à época, o artista retirou-a. Contudo, embora tenha pesquisado muito sobre o assunto, não encontrei tal afirmativa numa segunda fonte.

      Abraços,

      Lu

      Abraços,

      Lu

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  2. Hernando Martins

    Lu

    Essa obra, O Ângelus, produzida por Millet é uma das mais famosas do Realismo francês. Dois camponeses, um homem e uma mulher, apresentam-se num momento de oração, após o tocar dos sinos. Eles estão em um campo agrícola, acompanhados de vários utensílios necessários à colheita de batatas. No fundo há uma igreja e o ambiente de fim de tarde, com uma penumbra próxima dos camponeses, dificulta a nitidez dos rostos. A impessoalidade é uma característica do Realismo,pois o mais importante é mostrar o cotidiano das pessoas simples, com suas dificuldades e luta diária para sobreviver.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Hernando

      Trata-se realmente de uma das mais famosas obras do Realismo francês, conhecida em todo o mundo. Ao contrário do que muitos pensam, nada tem a ver com religião, mas com lembranças da infância do artista que nutria uma grande preocupação pelas classes mais pobres.

      Abraços,

      Lu

      Responder

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