TRÊS DE MAIO EM MADRI (Aula nº 79 D)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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 Eu pinto estas obras para ter o gosto de dizer eternamente aos homens que não sejam bárbaros. (Goya)

 Esta é a primeira grande obra que se pode chamar revolucionária em todos os sentidos do termo, no estilo, no tema e na intenção. (Kanneth Clark)

 O pintor Francisco José de Goya y Lucientes (1746-1828) foi um dos grandes nomes da pintura espanhola ao lado de Diego Velasquez. A família de Goya pertencia à classe média baixa, o que significava que levava uma vida de dificuldades sendo que dois de seus filhos mais novos morreram ainda pequenos. Ainda muito novo Goya deu início à sua formação artística, frequentando uma escola de desenhos, onde ficou conhecendo o pintor José Luzán que o levou a copiar os trabalhos mais importantes dos grandes mestres do passado. O escritor, jornalista, filósofo e crítico de arte espanhol Eugeni d’Ors definiu o pintor: “Goya é um fenômeno extraordinário. É o artista que a opinião universal qualifica como revolucionário, o renovador audaz, cujos arrojos de conceito e de técnica serviram mais tarde como exemplo e modelo, nunca tornado obsoletos, a sucessores dispersos nos ambientes mais longínquos e livres ao longo de um século e meio de mudanças de gosto, de renovações de escolas”.

Esta composição, também conhecida como o Fuzilamento de Moncloa, retrata um dos trágicos acontecimentos da vida do povo espanhol, perpetrado pelas forças napoleônicas. Goya mostra, com patriotismo e revolta, o sofrimento de seu povo durante a invasão francesa. Um grupo de cerca de cem espanhóis mal vestidos, muitos deles inocentes, foi executado numa colina fora da cidade. O grupo que se amotinou contra os invasores franceses foi preso no dia anterior e fuzilado no dia seguinte, na madrugada do dia 3 de maio.

O massacre ocorreu ao entrar as primeiras horas do novo dia. Ainda reinava a escuridão. O céu que compõe quase um terço da composição está impiedosamente escuro, sem a presença da lua ou de estrelas, destacando ainda mais o clima de pavor. Uma enorme lanterna colocada no chão joga luz sobre os condenados que esperam a vez de serem executados. Um personagem ajoelhado, vestido com uma camisa branca, aberta no peito, levanta os braços heroicamente, semelhante ao Cristo crucificado, à espera do golpe fatal. Na palma de sua mão direita há também um estigma. Sua expressão dramática é ao mesmo tempo desafiadora.

Os condenados estão conscientes do próprio fim. Todo horror é exposto através de seus gestos. Um deles levanta o rosto para os céus, enquanto cerra os punhos, numa expressão de resignação. Alguns parecem rezar, enquanto outros tapam os olhos, numa impiedosa impotência. Um dos condenados é um frade franciscano que se encontra ajoelhado com as mãos unidas em oração. Outro grupo, à esquerda dos que se encontram em frente ao pelotão de fuzilamento, espera a sua vez de ser executado. O clima entre eles é o mesmo. Tapam os olhos, ajoelham-se e rezam. Um deles, ao lado do personagem de camisa branca, morde os dedos, enquanto seu rosto expressa um grande terror.

Goya colocou carrascos e vítimas a poucos passos uns dos outros para ampliar o clima de tensão. Ao contrário do pelotão de fuzilamento, visto em completa ordem, as vítimas estão em grande desalinho. E, excetuando o vermelho do sangue das vítimas e o branco da camisa de uma delas, as cores da composição são sombrias, acentuando a barbaridade da cena. À direita do grupo prestes a ser fuzilado estão empilhados no chão os corpos dos rebeldes que já foram executados. Uns se encontram de bruços, outros de costas. Um deles, com o rosto voltado para o observador, com um grande buraco na testa, tendo sido atingido na cabeça, jaz numa enorme poça de sangue. Seus olhos estão fechados e sua boca aberta.

Os soldados franceses com suas baionetas, perfilados de costas para o observador, todos representados na mesma postura, são mostrados como fantoches, não sendo possível ver-lhes o rosto. A imobilidade deles contrasta com o horror estampado nas vítimas. Eles usam sobretudo de modelos iguais, mas de cores diferentes. Goya pintou-os assim porque eram feitos de lã tingida que ia mudando de cor com o tempo. Seus sabres de cabo reto quase tocam o chão. Nos fuzis estão acopladas baionetas. As lâminas eram usadas caso as vítimas não morressem imediatamente ao fuzilamento. Os olhos do observador são atraídos pelo homem com roupas mais coloridas para depois se desviar para os demais.

O quadro de Goya transcende os acontecimentos da época, pois traz uma visão universal da crueldade que pode existir entre seres humanos em quaisquer que sejam os tempos e culturas. Esta obra foi pintada seis anos depois dos acontecimentos funestos. Veio a público depois de permanecer 40 anos num depósito.  É ainda hoje uma das mais famosas pinturas mostrando os horrores da guerra. Faz par com O 2 de Maio de 1808, do mesmo pintor.

Ficha técnica
Ano: 1814
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 266 x 345 cm
Localização: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
Goya/ Coleção Folha
Goya/ Abril Coleções

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Mestres da Pintura – DAUMIER

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Autoria de Lu Dias Carvalho

O francês Honoré-Victorien Daumier (1808-1879) foi caricaturista, chargista, ilustrador e pintor. É tido hoje como um dos mestres da litografia e um dos pioneiros do Naturalismo. A sua excelência na caricatura levou-o a receber o apelido, por parte do escritor Balzac, de “Michelangelo da Caricatura”. Seu pai era um mestre em vitrais. Ainda adolescente Daumier começou trabalhando como ajudante e despachante, vindo em seguida a trabalhar numa livraria. Nessa época ele começou a se interessar pelas artes plásticas. Entrou aos 14 anos de idade para o atelier de Alexandre Lenoir, um antigo aluno do neoclassicista Jacques-Louis David. Também estudou escultura antiga no Louvre e as obras de Ticiano e Peter Paul Rubens. Suas primeiras litografias remetem a 1828, quando aprendeu essa nova técnica.

Daumier era um adepto da República, o que o levou a interessar-se pela caricatura política. Foi levado à prisão por causa da caricatura intitulada Gargântua, ridicularizando o rei Luís Felipe, tendo ficado prisioneiro durante seis meses no ano de 1831. Para passar o tempo na cadeia, ele retratava seus companheiros de presídio. Assim que ganhou liberdade foi contratado pelo jornal “La Caricature”, responsável por publicar as suas famosas “máscaras” (sátiras e caricaturas de políticos). Com o surgimento de uma lei contra a liberdade de expressão em 1835, ele optou por um jornal envolvido com a crítica social – “Le Chavari”.

O artista chamava a atenção com as suas caricaturas sobre a pequena burguesia parisiense. Era também duro na exposição das classes altas. Sua crítica ferina era direcionada às restrições legais, à monarquia, ao Parlamento, à Igreja, à Academia e ao Classicismo. Nutria simpatia apenas pelas classes baixas, compadecido com seu eterno sofrimento. Daumier foi um dos mais renomados litógrafos, sendo conhecidas mais de 4.000 litografias criadas por ele, nas quais reproduziu sua visão crítica, às vezes satírica, às vezes direta e certeira, sobre os acontecimentos de sua época, num estilo dinâmico e jovial. Aperfeiçoou a linguagem da charge e da caricatura, caracterizada pela crítica social e política.

O artista começou a trabalhar com pintura quando estava com 37 anos, campo em que também se destacou. No começo valeu-se de temas literários retirados das obras de Cervantes e Molière, assim como do cotidiano das pessoas comuns, vindo a tornar-se o maior representante do Realismo Social na pintura. Sua invejável capacidade de síntese na representação de suas figuras não foi conseguida por nenhum outro pintor do século XIX. Suas pinceladas largas davam vida a figuras com suas monumentais silhuetas. Sua paleta de cores baseava-se nos tons ocre e terra, cujos temas mostram artistas em desgraça e crianças na miséria, algo que o mobilizava de maneira singular. No entanto, em seus quadros, ao contrário das litografias, seus personagens estavam imbuídos de grande dignidade humana.

O artista ficou maravilhado com as obras sobre “Dom Quixote” nos seus últimos anos de vida, quando enfrentava a velhice e a cegueira. Criou cerca de 25 pinturas a óleo, aquarelas e desenhos a carvão para ilustrar a obra de Miguel de Cervantes. Compôs uma série inteira sobre o tema. Ele era particularmente fascinado pelos personagens de Dom Quixote, o homem com delírios de grandeza, e Sancho Pança, seu ajudante simples, mas leal. Raramente acrescentava outros personagens em seus desenhos.

Daumier começou pintando cenas com Dom Quixote e Sancho Pança viajando e, com o tempo, foi abandonando as referências específicas ao livro e transformou-se em Dom Quixote e Sancho Pança caminhando sozinhos em uma estrada aberta. Ao final, passou a criar apenas a figura de Dom Quixote, fato que, na visão dos historiadores, não significa a eliminação de Sancho Pança, mas a fusão dos dois personagens em apenas um, o que lhe possibilitou expressar as duas facetas de sua personalidade: o cartunista sarcástico e o pintor sensível. Seu crescente problema de visão fez com que as imagens fossem se tornando cada vez menos detalhadas.

Durante sua vida Honoré Daumier quase não recebeu críticas por suas pinturas, tendo sua arte ganhado pouca atenção. Embora tentasse viver como escultor e pintor, jamais conseguiu seu intento, tendo sempre que recorrer à litografia para sobreviver. Morreu na miserabilidade e quase cego aos 71 anos de idade, numa casa que lhe fora dada por Jean-Baptiste Camille Corot, pintor realista francês. Segundo os estudiosos do artista e sua obra, ele era também marginalizado, por isso via na triste figura do cavaleiro andante (Dom Quixote) sua própria pessoa. Além disso, sua arte estava muito além de seu tempo, impossível de ser compreendida. Ele só foi reconhecido e apreciado, tanto pelo domínio de sua técnica quanto pela profundidade de visão,  após a sua morte.

Fontes de pesquisa
Obras-primas da arte ocidental/ Taschen
https://www-artble-com.translate.goog/artists/honore_daumier/paintings/don_quixote?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-BR&_x_tr_pto=nui,sc

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NAVIO NEGREIRO (Aula nº 79 C)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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 Se eu fosse reduzido a descansar a imortalidade de Turner em um único trabalho, eu deveria escolher este. (John Ruskin)

 No alto de todas as mãos, acerte os mastros superiores e despreocupe-os;/ Sol raivoso e nuvens de arestas ferozes/ Declare a vinda do Typhon./ Antes de varrer seus decks, jogue ao mar/ Os mortos e morrendo – não prestem atenção às suas correntes/ Esperança, esperança, esperança falaciosa! / Onde está o teu mercado agora? (poema inacabado de Turner que acompanhou a exibição do quadro em 1840)

O inglês Joseph Mallord William Turner (1775-1851) nasceu em Londres. Aos 15 anos de idade expôs suas primeiras aquarelas na Escola da Academia Real de Artes em Londres. Aos 25 já era Membro Associado, período em que visitou, pela primeira vez, outros países do continente europeu. Estudou em Paris, no Louvre, os antigos mestres, dando destaque às paisagens holandesas e composições de Claude Lorrain. A sua visita a outros países, incluindo a Itália, mudou radicalmente seu estilo, quando passou para as criações visionárias. Foi um dos mais brilhantes pintores românticos, tendo criado um tratamento revolucionário na pintura de paisagens através de temas românticos, mas cheios de dramaticidade. A abstração vista em muitas de suas obras antecipou a arte do século XX. É considerado um dos mais notáveis precursores do Impressionismo. É sem dúvida o mais importante e conhecido pintor de paisagens do século XIX. Pintou cidade e campo, montanhas, naufrágios, etc. Embora obtivesse grande sucesso em seu trabalho, Turner vivia recluso em sua vida pessoal. Morreu aos 76 anos de idade.

A composição O Navio Negreiro é uma obra-prima do artista, um exemplo clássico de seu pendor para o abstracionismo. Esta pintura de paisagem marítima romântica demonstra que Turner foi um dos mais sensacionais inovadores da história da pintura, ao usar como tema os próprios elementos da natureza (mar, céu, montanhas, neve, vento, chuva, etc.) e criá-la em termos de cor e luz.  As cores que mais sobressaem na pintura são o vermelho do pôr do sol que penetra na água e também o navio e o marrom dos corpos e mãos dos escravos.

Nesta pintura o artista usou muitas técnicas características dos pintores românticos. Suas pinceladas indefinidas têm por objetivo fazer com que a imagem pareça borrada, tornando objetos, cores e figuras indistintos, o que leva o observador a introduzir-se na cena através de sua imaginação. Ele expõe a força que a natureza possui e o poder que ela exerce sobre o ser humano.

Ao se deixar guiar pelo tema da obra, o observador poderá concluir enganosamente que o navio que navega em águas abertas ao longe, durante uma tempestade, mostrando a brutalidade humana, seja o ponto principal da composição. Mas não é. O grande astro é o sol poente no centro da tela, fonte de toda a luz, numa junção com o céu e o mar tempestuoso e a aproximação de um ciclone.

Os corpos dos escravos boiam na água em primeiro plano. Alguns são devorados por peixes e monstros marinhos, como mostra a perna vista com a corrente ainda presa ao pé. Gaivotas sobrevoam o local. O artista, um abolicionista, tinha por objetivo impactar o observador com a crueldade humana. Era um chamado à sociedade para ver e sentir a bestialidade da escravidão, pois, apesar de a Inglaterra já ter acabado com tamanha degradação, ela ainda persistia em outros países, inclusive no Brasil.

O livro intitulado “A História da Abolição do Tráfico de Escravos”, obra do escritor Thomas Clarkson, serviu de inspiração para Turner. A obra relata um incidente, ocorrido em 1783, envolvendo um navio negreiro. Como muitos dos escravos a bordo se encontrassem doentes e o pagamento da companhia de seguros do capitão só pagaria pelos perdidos no mar, o capitão exigiu que todos os doentes e moribundos saltassem no mar, acorrentados. O título completo desta obra de Turner é “O Navio Negreiro Jogando ao Mar os Mortos e os Moribundos”.

Convido o leitor a conhece outra obra-prima de Turner, eleita a pintura mais popular da Grã-Bretanha, intitulada Turner – A ÚLTIMA VIAGEM DO TEMERAIRE (link)

Ficha técnica
Ano: 1840
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 91,5 x 122 cm
Localização: Museu de Arte, Boston, EUA

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
http://britishromanticism.wikispaces.com/The+Slave+Ship
https://strengthoftheheart.wordpress.com/2017/07/26/an-analysis-of-slave-ship-by-
https://www.mfa.org/collections/object/slave-ship-slavers-throwing-overboard-the-

 

 

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CAMINHANTE SOBRE UM MAR DE BRUMAS (Aula nº 79 B)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

A arte é finita, finitos são o conhecimento e a capacidade de todos os artistas. (Caspar David Friedrich)

  Caspar David Friedrich foi um dos maiores pintores do sublime no paisagismo romântico. (Antony Mason)

  Fecha teu olho corpóreo para que possas antes ver tua pintura com o olho do espírito. Então traz para a luz do dia o que viste na escuridão, para que a obra possa repercutir nos outros de fora para dentro. (David Friedrich)

O pintor e escritor romântico alemão Caspar David Friedrich (1774-1840) era filho de um fabricante de sabão e velas. Estudou com Jens Juel, entre outros, na Academia de Copenhague. A seguir foi trabalhar em Dresden como pintor de cenografia, onde se tornou amigo de muitos pintores do movimento romântico alemão, entre os quais se encontravam Georg Friedrich Kersting e Carl Gustave Carus. Ali retomou a pintura em tela. Foi membro da Academia de Berlim e da de Dresden.

Friedrich apreciava pintar paisagens, mas sem se ater a uma construção objetiva das mesmas. Em vez de criar uma representação objetiva da natureza em seus trabalhos, procurou inserir em suas obras pensamentos e percepções metafísicas experimentadas por ele – um artista contemplativo. É tido como o criador da pintura paisagística alemã. Nutria uma grande reverência pela natureza. Acreditava que ela era dona de um poder grandioso e generosamente permitia ao homem dela desfrutar, mas com reverência.

A composição intitulada Caminhante sobre um Mar de Bruma – também conhecida como Viajante Observa um Mar de Bruma ou Andarilho Acima da Névoa ou ainda montanhista em uma Paisagem de Neblina – é uma obra-prima do artista contemplativo que gostava de retratar a dramaticidade da natureza. Esta pintura é tida como uma das obras mais representativas do Romantismo. Nos últimos dois séculos esta imagem transformou-se num ícone cultural. Tem sido dito que sua pintura traz embutido em si um significado simbólico, embora esse esteja muitas vezes imperceptível. Baseando-se nesta concepção, a pintura acima poderia simbolizar a decaída da esperança na Europa em razão das guerras napoleônicas.

A solitária figura humana – ampliada no que diz respeito à cena – de costas para o observador, encontra-se em primeiro plano, observando a paisagem alpina que se desenrola à sua frente. Parte do céu está coberta por nuvens. Ao fundo, próximo ao horizonte, o céu começa a mostrar-se luminoso.

O homem encontra-se de pé, ereto, sobre um monte de escuras rochas escarpadas. Seu olhar ultrapassa o mar de brumas para se fixar ao longe, onde se erguem montanhas azuladas, semicobertas pelo nevoeiro que começa a dissolver-se. Está vestido com um casaco verde-escuro sobre uma camisa verde-claro e usa botas. Segura uma bengala, apoiada na rocha, com a mão direita, enquanto a esquerda desce sobre o corpo. Seus cabelos dourados estão revoltos pelo vento.

Friedrich apresenta nesta obra uma constante em seu trabalho, que era o ato de contrastar espaços próximos e distantes. Entre a figura humana e o afastado pico ele criou um denso mar de névoa que deixa alguns rochedos sobressaírem-se aqui e acolá, repassando um clima de grande mistério e trazendo uma sensação de isolamento, perda e infinito. A presença do homem é paradoxal, pois ao mesmo tempo em que mostra seu domínio sobre a paisagem, também deixa claro a sua insignificância como ser humano em meio a ela. Ele parece reverenciar a natureza, mas também deixa impressa a sua solidão.

Ficha técnica
Ano: 1817/18
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 98,4 x 74,8 cm
Localização: Hamburguer Kunsthalle, Hamburgo, Alemanha

Fontes de pesquisa
1000 obras-primas da pintura europeia/ Ed. Könemann
Romantismo/ Editora Taschen
https://www.artsy.net/article/artsy-editorial-unraveling-mysteries-caspar-david-friedrichs-

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Saltério – UNÇÃO DO CORPO DE CRISTO E…

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 Autoria de Lu Dias Carvalho

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O saltério intitulado Unção do Corpo de Cristo e as Três Marias no Túmulo Vazio é obra de um mestre francês e remete a cerca de 1213 (século XIII), tendo sido encomendado para o uso particular da Rainha Ingeborg da Dinamarca, possivelmente por seu marido Philippe August. Foi criado na Oficina do Saltério de Ingeborg.

O Prof. Pierre Santos explica que “O pergaminho substituiu o papiro no qual se registraram os primeiros códices, porque era mais duradouro. Nos saltérios eram também registrados cânticos do Novo e do Antigo Testamento, Ladainhas de Todos os Santos e Ladainhas gerais, músicas devocionais de reza coletiva, etc. Os monges copistas foram se especializando cada vez mais, a ponto de criarem, para valorização dos textos, riquíssimas iluminuras ornamentais e ilustrativas, a saber, que todas as páginas passaram a ser iluminadas até com sofisticação, havendo desenhos que atingiram o nível de sublimes obras de arte. Quando incluso numa bíblia, o saltério ocupava sempre a parte central, significando o momento de descanso, relaxamento e enlevo, tal a sutileza dos salmos, em face do caráter sisudo do texto bíblico”.

O saltério em estudo trata-se do mais importante manuscrito iluminado francês do século XIII a chegar até nós. O mestre em sua obra segue a tradição bizantina. Faz uso na maioria das vezes de cores sóbrias, peculiares à arte oriental. Para diminuir a severidade das formas, ele faz uma imitação dos modelos clássicos, empregando drapeados (pregas) mais suaves nas vestimentas.

O saltério apresenta duas cenas. Na superior o corpo de Cristo está sendo ungido, ou seja, preparado para o sepultamento. Na cena inferior, as Três Marias – nome dado às três mulheres de nome Maria presentes no túmulo de Jesus, ao lado de sua mãe Maria, sendo identificadas como: Maria de Cleofas, Maria Madalena e Maria Salomé (mãe de Tiago) – encontram-se em frente ao túmulo vazio de Cristo. Diante delas está um anjo apontando para o sepulcro vazio.

O artista apresentas as figuras numa postura de tranquilidade e dignidade, embora se encontrem em duas situações muito dramáticas. Apesar de padronizadas, as figuras sobrepõem-se aos detalhes secundários da obra. Três soldados romanos dormindo são vistos debaixo do túmulo vazio, o que significa que eles nada presenciaram. O estilo adotado está de acordo com as preferências da corte real francesa à época.

Ficha técnica
Ano: c.1213
Técnica: manuscrito iluminado
Dimensões: 30,4 cm x 20,4 cm
Localização: Musée Condé

Fonte de pesquisa
Obras-primas da pintura ocidental/ Taschen

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Hans Holbein, o Moço – RETRATO DE GEORG GISZE

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Autoria de Lu Dias Carvalho

A composição denominada Retrato do Comerciante Georg Gisze é uma obra-prima do pintor renascentista alemão Hans Holbein, o Moço (c.1497-1543), que se especializou em retratos. Aprendeu sua arte com o pai, Hans Holbein, o Velho, sendo posteriormente aceito na Guilda dos Pintores em Basileia. Embora tenha também pintado murais, retábulos e iluminuras, tinha predileção pelo retratismo, sendo exímio nos pormenores de sua obra. O artista é tido como um dos maiores expoentes do retratismo de seu tempo. Com esta composição, um dos mais belos retratos da pintura alemã, ele mostra o ápice de seu desenvolvimento artístico, ao apresentar diferentes texturas,  metal e tecido e as variantes do reflexo de luz no vidro.

Na composição acima o pintor retrata o comerciante George Gisze em seu escritório na cidade de Londres. O retratado encontra-se próximo à sua escrivaninha, abrindo uma carta. É possível ler a escrita externa: “Dem erszamen Jergen Giszte tu Lunden em Engeland Mynem broder to handen” (Para entregar ao meu irmão, o respeitável Jergen Gisze, em Londres, Inglaterra). O retrato de Gisze foi feito quando ele tinha 34 anos, como pode ser verificado através do papel na parede posterior: “Anno aetatis suae XXXIII”.  O pintor, por sua vez, tinha mais ou menos a mesma idade.

Gisze é retratado no canto da sala, praticamente imprensado, de modo que seu cotovelo esquerdo parece bater na divisória ao lado. Ele veste uma camisa branca, tendo por cima um gibão de seda avermelhado e acima desse uma jaqueta preta, aberta acima dos cotovelos. Traz no dedo indicador da mão esquerda um anel, sendo que dois outros estão dependurados na prateleira de cima. O artista deixa em destaque os dois braços, a fim de conferir amplitude e volume ao comerciante que projeta sua sombra na parede posterior. Vê-se aí um contraste entre as delimitações do espaço físico e o volume das roupas bufantes do moço.

No cinto de Gisze vê-se um molho de chaves e também sob a prateleira direita. Um belo tecido oriental reveste a mesa, como se houvesse a intenção de mostrar pompa. Também decoram a escrivaninha um vaso de flores e um distribuidor esférico de barbante ricamente adornado. Ali também se encontra um relógio de caixa, apresentando um único ponteiro no mostrador superior, isso porque os pequenos relógios de bolso e de mesa à época eram acionados por molas de aço, não sendo muito precisos. As pessoas orientavam-se pelas badaladas dos relógios de igrejas e das prefeituras, que trabalhavam movidos por pesos.

Holbein deixa muitas correspondências à vista na composição. Acontece que naquela época, a correspondência comercial era guardada em cestos e pastas, mas aquelas que o destinatário precisava ter em mãos eram colocadas entre as ripas da parede feita de tábuas, como vemos na pintura. O vaso e as flores são os únicos elementos do retrato que não têm relação com a profissão de comerciante, numa demonstração da capacidade do pintor. Também compõem o cenário um anel de sinete, um carimbo manual, ao lado do relógio de pêndulo, estampado em cera ou lacre. Na prateleira à esquerda vê-se dependurado outro selo, mais ricamente adornado.

Sobre a mesa estão penas, uma caixa com moedas e barras de cera para lacrar. Ao lado está um recipiente com pequeninos orifícios para despejar areia fina sobre os documentos trabalhados, fazendo as vezes de um mata-borrão. Ali também estão tesouras, objetos utilizados nos contratos, pois o texto era escrito duas vezes na mesma folha de papel, embaixo e em cima, depois cortado, de modo que cada uma das partes ficasse com uma cópia.

Obs.: Exames radioscópicos da tela mostraram que Holbein objetivava pintar a cabeça de Gisze de frente e que mais tarde a virou de lado, embora suas pupilas continuem olhando para a frente, encarando o observador.

Ficha técnica
Ano: 1532
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 96 cm x 86 cm
Localização: Gemäldegalerie, SMPK, Berlim, Alemanha

Fontes de pesquisa
Los secretos de las obras de arte/ Editora Taschen
1000 obras-primas da pintura europeia/ Editora Konemann

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