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Autoria de Tom Pavesi*
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O Juramento dos Horácios (1785) ou “Le sermente des Horaces“, do pintor francês Jacques-Louis David (1748-1825) é considerada uma das maiores obras-primas do Neoclassicismo tanto pelo seu estilo quanto por sua representação patriótica. Pintada por David, entre 1784 e 1785, quando estudava em Roma, no “Palazzo Costanzi“. Trazida a Paris em 1785, para fazer parte do “Salon” de exposições de pinturas e esculturas do Louvre, onde foi um dos maiores sucesso nessa época pré-revolução. É uma pintura a óleo sobre tela com dimensões gigantescas: 3.30 metros de altura por 4.25 metros de largura. Foi usada mais tarde como propaganda política dessa nova filosofia definida a partir das lições morais da Antiguidade. Ele e outros pintores eminentes da época usaram a iconografia (temas) da Antiguidade para representar a virtude, a moralidade e o dever patriótico.
Se o combate aparece em muitas fontes literárias, o juramento é na verdade uma invenção do pintor. É provável que David pertencesse à maçonaria e tenha se inspirado nos procedimentos do juramento com espadas para os iniciantes que entravam na ordem, que tem como significado expressar a coragem, a justiça, orgulho e a defesa de uma causa. O prenúncio do lema da liberdade, igualdade e fraternidade, da primeira República francesa. Poderia ter escolhido várias outras passagens desse combate, mas preferiu destacar os três irmãos Horácios jurando ao Pai (= Pátria), vencer ou morrer em nome da liberdade, da lealdade e da justiça. Um juramento cívico fortemente patriótico.
Estudo da composição
David quebra com as regras usuais da composição ao descentralizar os principais personagens em planos diferentes. Ele também ignorou os princípios da Academia ao tratar suas cores e pinceladas de uma forma relativamente plana. A cena se passa no interior de um pátio pavimentado de uma residência de moradores romanos, sendo o espaço representado fechado e paralelo ao plano da pintura. O fundo escuro concentra toda a atenção dos personagens no primeiro plano.
Triângulos – a composição é baseada no número três: são três grupos de personagens inscritos nos três grupos de arcadas presentes ao fundo. À esquerda, os três irmãos; no centro o pai e à direita, três mulheres (três irmãs ou a mãe e duas irmãs). David usa a regra dos três, apresenta uma composição em perfeito equilíbrio e estabilidade.
Em boa parte das mitologias conhecidas, a simbologia do número três, tem um significado específico. No Cristianismo representa a Santa trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Na mitologia grega, as três irmãs Moiras, Cloto, Láquesis e Átropos, entidades sombrias que determinavam o destino dos deuses e dos seres humanos elaborando, tecendo e interrompendo o fio da vida de todos. Na mitologia romana, as três Graças, Tália, Eufrosina, Aglaia ou Cárites (mitologia grega), deusas dotadas de beleza e virtudes.
O artista adotou uma posição triangular para os três irmãos Horácios, representando a força, coragem e principalmente a união do grupo em que cada um expressa seu espírito de honra, lealdade e patriotismo. O pai no centro, também faz parte desse jogo de três, pois segura as três espadas que vai entregar aos seus três filhos para lutarem. Simbolicamente ele é a Pátria romana, e os filhos, o povo.
As três mulheres da direita e uma criança foram colocadas para dar sequência a composição (como nas histórias em quadrinhos, uma leitura da esquerda para direita). Estão visivelmente desoladas com a ideia do combate e do resultado que será irremediavelmente trágico. Existe uma perfeita união feminina de infortúnio e solidariedade. David não definiu exatamente quem são as mulheres, pois pode ter retratado a mãe dos três Horácios e suas duas irmãs ou simplesmente três irmãs. As duas mulheres à esquerda também foram retratadas numa composição piramidal (triangulo rosa) segundo a regra dos três que David adotou desde o início. A terceira irmã (ou mãe) dos Horácios que aparece ao fundo protegendo duas crianças (filhos ou netos?) tem na sua composição triangular uma ligação ao cristianismo, através da figura da Santa Trindade (triângulo em amarelo).
Linhas – é de se notar na pintura de David uma dicotomia característica do Neoclassicismo em que de imediato vemos a presença de dois grupos: os homens, à esquerda, e as mulheres, à direita. Caracterizado por linhas diretrizes: linhas retas para os homens e linhas curvas paras as mulheres. Os rostos e olhares dos homens (círculos em vermelhos) estão traçados numa mesma linha horizontal, paralela à linha central do quadro (linha mediana) que traça a altura do braço do irmão de capa branca. As linhas retas dos homens estão imbuídas de determinação, força e patriotismo, enquanto que as linhas curvas das mulheres estão caracterizadas pela tristeza e melancolia, por causa da partida de seus familiares.
Perspectiva com um ponto de fuga (PF) – a perspectiva com um ponto de fuga (PF), também conhecida como perspectiva renascentista foi o primeiro método de perspectiva exata que tem como função estabilizar a composição. A partir da escolha do ponto de fuga na linha do horizonte, na qual convergem retas paralelas, são traçadas várias linhas diagonais para provocar uma sensação de profundidade para a composição. David traçou suas linhas construtivas partindo de um ponto de fuga (PF), marcado no centro do quadro, justamente sobre uma das mãos do Pai/Pátria. A partir desse ponto toda a atenção da cena ficou concentrada nela, e principalmente sublinhada pelo alinhamento dos rostos dos três filhos e do pai.
Nessa obra de David, se analisarmos a composição do espaço interior com suas colunas, arcadas e piso de pedra encontramos elementos que nos faz acreditar que a cena se passa na mansão de um nobre romano. É precisamente nesse desenho realizado com ajuda da perspectiva renascentista (com um ponto de fuga) que o conjunto arquitetônico encontra-se equilibrado e nas boas proporções.
Cores – os homens se vestem com cores vivas, as mulheres com cores opacas. A mensagem de David é clara, o grupo dos homens vai defender a causa de Roma, com o grupo de mulheres, a ideia é relevar os interesses privados de emoções sentimentais e os laços familiares. O vermelho do primeiro filho é o ponto de partida da pintura. Um vermelho forte e contrastante com o vermelho da capa do pai, personagem central da trama. O branco do vestido da última mulher da direita contrastando com a cor branca da capa do primeiro filho da esquerda, a coberta vermelha da poltrona da segunda mulher com o vermelho da capa do pai, o azul dos vestidos de duas mulheres, com o azul dos trajes dos homens, cores balanceadas de forma a proporcionar equilíbrio para a composição. As três espadas brancas sobre o fundo escuro tornaram-se o principal ponto de atenção do observador e o ponto de fuga para a perspectiva.
Significados – o vermelho significa força, virilidade, poder, ação, combate e coragem, cor escolhida como principal para representar sua ideia de patriotismo e lealdade a Pátria. O branco é um símbolo de pureza, candura e divindade e encontra-se na obra de forma bem visível na veste da mulher da direita mesmo que em contraponto aparece também no primeiro combatente, para dar um significado de proteção divina, que por estar em destaque, pode ser o filho mais velho que sobreviveu (Publius Horatius). O azul se refere a sabedoria, virtude, fé e paz. Novamente o primeiro Horácio da direita concentra essas três cores, azul, branco e vermelho, cores que apesar de já terem sido usadas nas vestimentas dos guardas franceses desde a época de Henrique IV (1589-1610) foram posteriormente adotadas pelo general La Fayette (1757-1834) durante a Revolução Francesa nos cocares tricolores dos militantes, e em 14 de fevereiro de 1794 foi usada pela primeira vez como as cores da nova bandeira nacional, que era branca.
Pintura moral: este tema, inspirado da história de Roma e também em peças de teatros clássicos, como “Horácio“, de Pierre Corneille (1606-1684), que explora a exaltação da virtude, do auto sacrifício e do patriotismo, qualidades essas que serão defendidas pelos revolucionários. Essa ideologia é semelhante a dos filósofos do Iluminismo, como Denis Diderot (1713-1784), que defendia a pintura moral e buscava na Antiguidade o modelo de uma nova sociedade.
* Tom Pavesi – guia conferencista: brasileiro, arquiteto e urbanista, guia conferencista conferido pelo Ministério da Cultura e do Turismo da França, diplomado Técnico Superior em Animação e Administração Turísticas Locais (BTS AGTL-Paris), com especializações em: História das civilizações, História da Arte, História de Paris, História da França, Arquitetura, Patrimônios e Monumentos da França. Seu profissionalismo, dedicação, experiência, dinamismo faz dele uma boa opção para você descobrir os segredos e peculiaridades deste imenso museu de uma forma calorosa, familiar, que somente um guia brasileiro poderá lhe proporcionar. https://guiadolouvre.com/tom-pavesi-guia-conferencista/
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