A MORTE DE MARAT (Aula nº 77 C)

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Autoria de Lu Dias Carvalho                                                       (Clique na imagem para ampliá-la.)

David conseguiu fazer o quadro parecer heroico sem deixar, no entanto, de respeitar detalhes concretos de um registro policial. (E.H. Gombrich)

Eu matei um homem para salvar cem mil vidas. (Charlotte Corday)

Esta obra contém algo ao mesmo tempo pungente e terno; uma alma alça voo no ar frio do aposento, entre estas paredes frias, em volta desta fria banheira funerária. (Charles Baudelaire)

O pintor neoclassicista francês Jacques-Louis David (1748 – 1825) exibe com esmero sua genialidade, aliada às suas convicções políticas, na composição A Morte de Marat, tida como a maior pintura da arte ocidental a retratar o martírio de um político. O artista também se encontrava ameaçado, até que Napoleão Bonaparte tomou para si o comando da França.

Jean Paul Marat encontrava-se entre os amigos de David que tiveram uma morte violenta, durante a Revolução Francesa. Era um dos líderes da revolução. Portador de uma doença de pele, Marat era obrigado a ficar na banheira, para que a água aliviasse seu desconforto. Para aliviar o mal-estar causado pela enfermidade, ele usava um pano embebido em vinagre na cabeça. Como ali passasse longas horas, adaptou o local para dar expedientes, colocando uma tábua sobre a banheira que lhe servia de mesa. Ao lado, um velho caixote servia como uma escrivaninha improvisada. E foi nela que David deixou a sua dedicatória.

A fanática monarquista Charlotte Corday apunhalou Marat dentro de sua banheira,em 13 de maio de 1793, matando-o. Na mão de Marat encontra-se a carta de apresentação que permitiu o acesso da mulher até ele. Ela foi guilhotinada quatro dias depois.

O quadro é bastante sintético na exposição dos elementos. Tudo que ali se encontra é necessário e calculado, carregado de significado simbólico. Nada entra na tela por acaso, resultando numa composição forte e realística. David retirou a decoração da sala de banho de Marat, deixando no fundo um vazio escuro. A banheira foi trocada de modo que o braço caído de Marat, em primeiro plano, evocasse a pose de Jesus ao ser descido da cruz. Deixou apenas poucas manchas de sangue no lençol de modo a atenuar a violência. Ocultou a facada no peito com sombras. E apenas um pouco da água vermelha de sangue é visível.

Os elementos principais da tela são iluminados por uma luz dramática: a face sofrida de Marat e o velho caixote que mostrava a simplicidade em que vivia. Valendo-se do estilo clássico, o pintor apresenta seu amigo fazendo lembrar, deliberadamente, as pinturas da “Descida da Cruz”, mostrando Marat não apenas como um mártir da Revolução Francesa, mas também como um santo martirizado. Modela os músculos e os tendões do corpo de Marat, dando-lhe um aspecto de real grandeza. São desprezados todos os detalhes desnecessários. O que conta é a simplicidade. O caixote, a cabeça e os braços de Marat são iluminados, enquanto as partes mais sangrentas situam-se nas sombras.

Embora triste, a figura de Marat é idealizada. Não traz as manchas da pele e o sangue possui um tom menos forte. Tanto seu ferimento quanto seu sangue são pouco perceptíveis, diante da palidez de seu corpo. Traz na mão direita a carta recebida, salvo-conduto da assassina, e na esquerda uma pena, ainda mantida de pé. À esquerda da banheira está a faca suja de sangue, único objeto a recordar o ato insano.

Em primeiro plano vê-se sobre o caixote uma carta, com dinheiro sobre ela, uma pena e um tinteiro.  Como a pena ainda se encontrava na mão direita de Marat, pressupõe-se que ele havia acabado de escrevê-la para uma viúva de um soldado, enviando-lhe dinheiro, o que mostra a atitude caridosa do revolucionário. A banheira, coberta com um lençol branco, chama a atenção do observador que não compreende porque ele estaria ali, onde deveria haver apenas água. O fato é que Marat cobria a superfície de sua banheira com lençol, pois, se seu corpo entrasse em contato com o revestimento de cobre, sua pele se irritaria.

A carta de apresentação de Charlotte na mão de Marat diz: “Basta minha grande infelicidade para me dar direito à sua bondade”, estratégia usada para ter acesso até o revolucionário Marat, na sua luta contra a monarquia francesa.

Ficha técnica
Ano: 1793
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 165 x 128 cm
Localização: Musée Royal des Beaux-Arts de Bruxelas, Bélgica

Fontes de Pesquisa
Os pintores mais influentes do mundo/ Girassol
A história da arte/ E.H. Gombrich
1000 obras-primas da arte europeia/ Editora Könemann
Grandes Pinturas/ Publifolha

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Giovanni Bellini – MADONA ENTRONIZADA COM…

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Autoria de Lu Dias Carvalho

                                                    (Clique na obra para ampliá-la.)

O pintor italiano Giovanni Bellini (c.1430-1516) nasceu em Veneza numa família de artistas. Era também conhecido pelo apelido de Giambellino. Seu irmão mais velho, Gentile Bellini, era também pintor.  Teve o pai – o respeitado pintor Jacopo Bellini – responsável por levar o Renascimento a Veneza, como primeiro mestre, tendo se dedicado intensamente a transformar seus dois filhos em importantes pintores. Giovanni tornou-se depois aluno de Andrea Mantegna, seu cunhado, que influenciaria grandemente sua arte. Ele era muito inteligente e criativo, além de dominar o uso de cores e luminosidade, também compreendia a natureza com apuro. Graças a ele foi instituído o costume de realizar retratos em Veneza. O foco de seu trabalho foi Veneza, onde teve sua própria oficina, nomeado pintor oficial da cidade. Teve como aluno Ticiano, Giorgione, Lorenzo Lotto, entre outros grandes nomes da pintura veneziana.

A obra intitulada Madona Entronizada com o Menino e os Santos (e também chamada de o Retábulo de São Zacarias) é um trabalho do pintor renascentista, tendo sido criado para ornamentar o altar mor da pequena igreja de São Zacarias, situada na cidade de Veneza. É um dos grandes retábulos venezianos do século XVI. Assim como a maior parte dos pintores de sua cidade, ele via na cor um dos principais elementos para unir as figuras e formas de uma pintura num único padrão. A pintura é luminosa e reluzente. Ele botou as figuras numa abside com aberturas laterais para repassar a ilusão de que a luz que entrava pelas laterais parecesse mais com a luz do dia.

O retábulo constitui um nicho arquitetônico completo com teto abobadado, debaixo do qual encontram-se os personagens, tendo o pintor baseado sua composição no agrupamento padrão de pirâmide – popular na arte renascentista –, colocando as figuras mais importantes – a Virgem e o Menino – no ápice da pirâmide. A Virgem Mãe é a figura central da composição. No colo traz o seu Menino. Ela se encontra entronizada num nicho de mármore. Uma atmosfera quente e dourada espalha-se pelo local. O Menino Jesus apresenta-se nu e de pé no colo da Mãe. Sua pele é extremamente branca. Ele levanta sua mãozinha direita para abençoar os devotos ali presentes, enquanto os observa com os olhos voltados para baixo, assim como a Virgem.  Sobre o altar vê-se a cabeça de Cristo com a coroa de espinhos.

Um anjo, sentado aos pés do trono de Maria e seu Menino, toca seu violino com suavidade, como mostra seu gestual. Quatro santos apresentam-se simetricamente nas laterais do altar. À esquerda estão Santa Catarina de Alexandria com a palma do martírio e a roda quebrada, vista a seu lado, e São Pedro Apóstolo com suas chaves e um grande livro de capa vermelha. À direita encontram-se Santa Lúcia (ou Luzia, conhecida por ter sido cegada) segurando uma tigela com seus dois olhos e São Jerônimo – o erudito que traduziu a Bíblia para o Latim – lendo um livro. Os dois santos estão de costas para o altar.

As laterais abertas da obra deixam à vista parte da paisagem. O ovo dependurado acima da cabeça da Virgem simboliza a criação. Não há interação entre os personagens, todos trazem os olhos voltados para baixo.  Apenas o anjo músico, com seu olhar direcionado ao longe, convida o espectador a entrar na cena. As figuras sagradas mostram-se meditativas e distantes e suas vestes são ricamente coloridas.

Giovanni Bellini dotou sua madona de muita serenidade e dignidade e, de certa forma, fugiu um pouco da tradição bizantina que costumava ladear rigidamente a imagem da Virgem com a figura de santos. Aqui os personagens parecem reais, mas, contudo, sem eliminar seu caráter de sagrado.

É a primeira obra do artista em que a influência de Giorgione está presente, iniciando a última fase da carreira do artista – a da tonalidade. O espaço arquitetônico ilusionista é grandioso. O resultado final apresenta um agrupamento de cinco figuras em torno da Virgem e do Menino Jesus, todas autocontidas e conscientes da presença divina. O artista foi responsável por um grande número de pinturas religiosas com a Virgem e o Menino, das quais mais de 60 sobrevivem até hoje.

Obs.:

  • Este tipo de imagem – santos e anjos agrupados em torno de uma Madona Entronizada – é conhecido como uma “conversa sagrada” (sacra conversazione), uma forma de arte cristã lançada por Giotto (1267-1337) e seus seguidores, mas devidamente estabelecida durante o Renascimento em Florença por artistas como Fra Angelico (1400-55), Fra Filippo Lippi(1406-69) e Domenico Veneziano (1410-61). (Visual-arts-cork)
  • O crítico de arte vitoriano John Ruskin considerou a pintura uma das “duas melhores do mundo”.

Ficha técnica
Ano: 1505
Técnica: óleo sobre madeira transferido para tela
Dimensões: 402 cm x 273
Localização: Igreja de São Zacarias, Veneza, Itália

Fonte de pesquisa
A História da Arte/ E. H. Gombrich
http://www.visual-arts-cork.com/famous-paintings/san-zaccaria-altarpiece.htm

 

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O JURAMENTO DOS HORÁCIOS II (Aula nº 77 B)

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Autoria de Tom Pavesi*


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O Juramento dos Horácios (1785) ou “Le sermente des Horaces“, do pintor francês Jacques-Louis David (1748-1825) é considerada uma das maiores obras-primas do Neoclassicismo tanto pelo seu estilo quanto por sua representação patriótica. Pintada por David, entre 1784 e 1785, quando estudava em Roma, no “Palazzo Costanzi“. Trazida a Paris em 1785, para fazer parte do “Salon” de exposições de pinturas e esculturas do Louvre, onde foi um dos maiores sucesso nessa época pré-revolução. É uma pintura a óleo sobre tela com dimensões gigantescas: 3.30 metros de altura por 4.25 metros de largura. Foi usada mais tarde como propaganda política dessa nova filosofia definida a partir das lições morais da Antiguidade. Ele e outros pintores eminentes da época usaram a iconografia (temas) da Antiguidade para representar a virtude, a moralidade e o dever patriótico.

Se o combate aparece em muitas fontes literárias, o juramento é na verdade uma invenção do pintor. É provável que David pertencesse à maçonaria e tenha se inspirado nos procedimentos do juramento com espadas para os iniciantes que entravam na ordem, que tem como significado expressar a coragem, a justiça, orgulho e a defesa de uma causa. O prenúncio do lema da liberdade, igualdade e fraternidade, da primeira República francesa. Poderia ter escolhido várias outras passagens desse combate, mas preferiu destacar os três irmãos Horácios jurando ao Pai (= Pátria), vencer ou morrer em nome da liberdade, da lealdade e da justiça. Um juramento cívico fortemente patriótico.

Estudo da composição

David quebra com as regras usuais da composição ao descentralizar os principais personagens em planos diferentes. Ele também ignorou os princípios da Academia ao tratar suas cores e pinceladas de uma forma relativamente plana. A cena se passa no interior de um pátio pavimentado de uma residência de moradores romanos, sendo o espaço representado fechado e paralelo ao plano da pintura. O fundo escuro concentra toda a atenção dos personagens no primeiro plano.

Triângulos – a composição é baseada no número três: são três grupos de personagens inscritos nos três grupos de arcadas presentes ao fundo. À esquerda, os três irmãos; no centro o pai e à direita, três mulheres (três irmãs ou a mãe e duas irmãs). David usa a regra dos três, apresenta uma composição em perfeito equilíbrio e estabilidade.

Em boa parte das mitologias conhecidas, a simbologia do número três, tem um significado específico. No Cristianismo representa a Santa trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Na mitologia grega, as três irmãs Moiras, Cloto, Láquesis e Átropos, entidades sombrias que determinavam o destino dos deuses e dos seres humanos elaborando, tecendo e interrompendo o fio da vida de todos. Na mitologia romana, as três Graças, Tália, Eufrosina, Aglaia ou Cárites (mitologia grega), deusas dotadas de beleza e virtudes.

O artista adotou uma posição triangular para os três irmãos Horácios, representando a força, coragem e principalmente a união do grupo em que cada um expressa seu espírito de honra, lealdade e patriotismo. O pai no centro, também faz parte desse jogo de três, pois segura as três espadas que vai entregar aos seus três filhos para lutarem. Simbolicamente ele é a Pátria romana, e os filhos, o povo.

As três mulheres da direita e uma criança foram colocadas para dar sequência a composição (como nas histórias em quadrinhos, uma leitura da esquerda para direita). Estão visivelmente desoladas com a ideia do combate e do resultado que será irremediavelmente trágico. Existe uma perfeita união feminina de infortúnio e solidariedade. David não definiu exatamente quem são as mulheres, pois pode ter retratado a mãe dos três Horácios e suas duas irmãs ou simplesmente três irmãs. As duas mulheres à esquerda também foram retratadas numa composição piramidal (triangulo rosa) segundo a regra dos três que David adotou desde o início. A terceira irmã (ou mãe) dos Horácios que aparece ao fundo protegendo duas crianças (filhos ou netos?) tem na sua composição triangular uma ligação ao cristianismo, através da figura da Santa Trindade (triângulo em amarelo).

Linhas – é de se notar na pintura de David uma dicotomia característica do Neoclassicismo em que de imediato vemos a presença de dois grupos: os homens, à esquerda, e as mulheres, à direita. Caracterizado por linhas diretrizes: linhas retas para os homens e linhas curvas paras as mulheres.  Os rostos e olhares dos homens (círculos em vermelhos) estão traçados numa mesma linha horizontal, paralela à linha central do quadro (linha mediana) que traça a altura do braço do irmão de capa branca. As linhas retas dos homens estão imbuídas de determinação, força e patriotismo, enquanto que as linhas curvas das mulheres estão caracterizadas pela tristeza e melancolia, por causa da partida de seus familiares.

Perspectiva com um ponto de fuga (PF) – a perspectiva com um ponto de fuga (PF), também conhecida como perspectiva renascentista foi o primeiro método de perspectiva exata que tem como função estabilizar a composição. A partir da escolha do ponto de fuga na linha do horizonte, na qual convergem retas paralelas, são traçadas várias linhas diagonais para provocar uma sensação de profundidade para a composição. David traçou suas linhas construtivas partindo de um ponto de fuga (PF), marcado no centro do quadro, justamente sobre uma das mãos do Pai/Pátria. A partir desse ponto toda a atenção da cena ficou concentrada nela, e principalmente sublinhada pelo alinhamento dos rostos dos três filhos e do pai.

Nessa obra de David, se analisarmos a composição do espaço interior com suas colunas, arcadas e piso de pedra encontramos elementos que nos faz acreditar que a cena se passa na mansão de um nobre romano. É precisamente nesse desenho realizado com ajuda da perspectiva renascentista (com um ponto de fuga) que o conjunto arquitetônico encontra-se equilibrado e nas boas proporções.

Cores – os homens se vestem com cores vivas, as mulheres com cores opacas. A mensagem de David é clara, o grupo dos homens vai defender a causa de Roma, com o grupo de mulheres, a ideia é relevar os interesses privados de emoções sentimentais e os laços familiares. O vermelho do primeiro filho é o ponto de partida da pintura. Um vermelho forte e contrastante com o vermelho da capa do pai, personagem central da trama. O branco do vestido da última mulher da direita contrastando com a cor branca da capa do primeiro filho da esquerda, a coberta vermelha da poltrona da segunda mulher com o vermelho da capa do pai, o azul dos vestidos de duas mulheres, com o azul dos trajes dos homens, cores balanceadas de forma a proporcionar equilíbrio para a composição. As três espadas brancas sobre o fundo escuro tornaram-se o principal ponto de atenção do observador e o ponto de fuga para a perspectiva.

Significados – o vermelho significa força, virilidade, poder, ação, combate e coragem, cor escolhida como principal para representar sua ideia de patriotismo e lealdade a Pátria. O branco é um símbolo de pureza, candura e divindade e encontra-se na obra de forma bem visível na veste da mulher da direita mesmo que em contraponto aparece também no primeiro combatente, para dar um significado de proteção divina, que por estar em destaque, pode ser o filho mais velho que sobreviveu (Publius Horatius). O azul se refere a sabedoria, virtude, fé e paz. Novamente o primeiro Horácio da direita concentra essas três cores, azul, branco e vermelho, cores que apesar de já terem sido usadas nas vestimentas dos guardas franceses desde a época de Henrique IV (1589-1610) foram posteriormente adotadas pelo general La Fayette (1757-1834) durante a Revolução Francesa nos cocares tricolores dos militantes, e em 14 de fevereiro de 1794 foi usada pela primeira vez como as cores da nova bandeira nacional, que era branca.

Pintura moral: este tema, inspirado da história de Roma e também em peças de teatros clássicos, como “Horácio“, de Pierre Corneille (1606-1684), que explora a exaltação da virtude, do auto sacrifício e do patriotismo, qualidades essas que serão defendidas pelos revolucionários. Essa ideologia é semelhante a dos filósofos do Iluminismo, como Denis Diderot (1713-1784), que defendia a pintura moral e buscava na Antiguidade o modelo de uma nova sociedade.

 * Tom Pavesi – guia  conferencista: brasileiro, arquiteto e urbanista, guia conferencista conferido pelo Ministério da Cultura e do Turismo da França, diplomado Técnico Superior em Animação e Administração Turísticas Locais (BTS AGTL-Paris), com especializações em: História das civilizações, História da Arte, História de Paris, História da França, Arquitetura, Patrimônios e Monumentos da França. Seu profissionalismo, dedicação, experiência, dinamismo faz dele uma boa opção para você descobrir os segredos e peculiaridades deste imenso museu de uma forma calorosa, familiar, que somente um guia brasileiro poderá lhe proporcionar. https://guiadolouvre.com/tom-pavesi-guia-conferencista/

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O JURAMENTO DOS HORÁCIOS I (Aula nº 77 A)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Essas marcas de heroísmo e virtude cívica, apresentadas aos olhos do povo, eletrizarão a alma e plantarão as sementes da glória e da lealdade à pátria. (Jacques-Louis David)

Esta é uma das composições mais famosas do pintor francês Jacques-Louis David (1748-1825), que tinha apenas 17 anos quando a pintou, sendo elogiada pelos críticos e pelo público. Apresenta um episódio histórico da história da Roma antiga, numa guerra travada com a cidade de Alba Longa, entre duas famílias: os três irmãos romanos (os Horácios) e os três irmãos inimigos (os Curiácios). O combate mortal definiria quem ganharia a república romana. Durante a batalha, dois irmãos da família Horácios morreram, mas o único que sobrou acabou com todos os seus adversários, assegurando o domínio de Roma.

O pintor mostra o momento em que os irmãos Horácios, diante do pai, juram fidelidade ao Estado romano e, se preciso for, darão por ele a própria vida. Eles optam pela lealdade à República romana em vez da lealdade à família, pois Horácios e Curiácios possuem estreitos laços familiares e emocionais:

  1. um dos irmãos Horácios é casado com uma irmã dos Curiácios;
  2. um dos irmãos Curiácios está comprometido com uma irmã dos Horácios.

Os três irmãos Horácios, abraçados, e com a mão direita estendida em juramento, apresentam-se como heroicos guerreiros diante do pai, mostrando seus perfis ao observador. Trazem os rostos sérios. Seus corpos expressam a linguagem corporal de que, através do dever da disciplina, estão prontos para o combate, até para morrer, se necessário for. Os músculos tensos simbolizam a vontade férrea de lutar.

O pai dos irmãos Horácios demonstra dignidade e sacrifício em sua pose. Na mão esquerda, ponto central da pintura, levanta três espadas iluminadas pela luz solar, simbolizando três vontades e, com a direita, parece abençoar os filhos, a quem entregará as armas. Seu gestual simboliza a comunhão dos três irmãos através do juramento feito. A vitória terá mais valor do que a vida. O velho Horácio traz a cabeça levantada e os olhos fixos no punho das espadas. O vermelho vivo é a cor predominante no grupo masculino, cor da paixão e da Revolução.

Três mulheres acabrunhadas e dóceis, assentadas à direita da composição, abaixam a cabeça para não verem a cena. Duas delas têm os braços inertes, ao contrário dos homens que demonstram ação, enquanto a terceira aconchega-se aos netos. A suavidade dos traços femininos denota emoção e tristeza. Sabina, a mulher de branco, é casada com um dos irmãos Horácios, sendo ela uma irmã dos Curiácios. A outra, que nela se apoia, é Camila, irmã dos Horácios e noiva de um dos Curiácios. Ambas são irmãs da mesma sina.

A sombra dos quatro homens cai diretamente sobre as crianças, debaixo do manto azul da mãe dos Horácios, a avó delas. O menino maior olha fixamente para os homens. Ao apontar as crianças com a sombra, o pintor passa a mensagem de que mesmo elas deverão, se preciso for, pagar o preço que a lealdade ao Estado requer.

O ambiente em que o grupo encontra-se é totalmente desprovido de ornamentos, com exceção de uma lança no fundo escuro do arco dórico central. Num cenário romano, com colunas dóricas e colunas semicirculares, tudo remete ao mundo masculino e militar que exala despojamento e disciplina. As figuras da composição estão distribuídas pelos três arcos dóricos. Os três irmãos são emoldurados pelo primeiro, o pai pelo segundo e as mulheres e as crianças pelo terceiro.

Tudo na composição lembra a época romana: togas, elmos e espadas, copiados fielmente. Até mesmo os rostos mostram o conhecido “nariz romano”.  As linhas retas definem os corpos masculinos e as curvas dos femininos. A assinatura, à esquerda da composição, na parte inferior, é neoclássica. Está escrito “L. David faciebat Romae Anno MDCCLXXXIV” (significa: Criado em Roma por David em 1784). David fez essa tela com o intuito de que ela fosse uma obra de propaganda na derrubada da monarquia francesa, o que aconteceu quatro anos depois. A representação do juramento heroico de lutar até a morte era uma alegoria ao desvelo dos revoltosos franceses.

Obs.: Esta pintura, reconhecida como uma obra-prima, significou também um chamamento à revolução estética e política e, mais tarde, tornou-se um dos mais importantes documentos do neoclassicismo.

Ficha técnica
Ano: 1784
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 330 x 427 cm
Local: Museu do Louvre, Paris, França

Fontes de pesquisa
Arte em detalhes/ Publifolha
A história da arte/ E.H. Gombrich
O Sol do Brasil/ Lilia Moritz Schwarcz
1000 obras-primas da pintura europeia/ Editora Könemann

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UM NOVO ESTILO – NEOCLASSICISMO (Aula nº 77)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

  

A arte costuma refletir os gostos e a idiossincrasia de cada tempo. Os estilos transmitem o perfil da essência do mundo em que se desenvolveram. Costumam ser a fotografia de seu tempo, de seus gostos ou de suas ideologias. Desde as pinturas rupestres das cavernas até hoje, o homem oscilou entre o mais e o menos, entre a exuberância das formas ou sua estilização.  (Juan Arias)

Nesta nossa viagem pela História da Arte já passamos por diferentes épocas da história da humanidade.  Iniciamos pela Pré-História (Período Paleolítico/ Período Neolítico/ Idade dos Metais). Seguimos depois pela Antiguidade, quando nos defrontamos com a arte do Mundo Antigo (Egito/ Grécia/ Roma) e fechamos esse portal do tempo com a Arte Bizantina. Na Idade Média tivemos contato com dois importantes estilos: Românico e Gótico. Na Idade Moderna travamos contato com os seguintes estilos: Renascimento, Maneirismo, Barroco e Rococó. E hoje adentramos na Idade Contemporânea — esta em que vivemos e que se iniciou no século XVIII, continuando até os nossos dia —, responsável por um grande leque de estilos que se abre maravilhosamente diante de nós. Iniciaremos nossa viagem pelo estilo conhecido como Neoclassicismo. Vamos lá!

O Neoclassicismo foi um estilo de arte que dominou o fim do século XVIII, indo até o início do século XIX. Ao contrário do que acontece com a maioria dos estilos de arte, o impulso inicial para o seu surgimento não veio de artistas, mas de pensadores (filósofos) — os portadores do “Iluminismo” na França. Nomes como Denis Didorot e Voltaire lideraram o movimento, ao fazer críticas ao relaxamento moral do estilo Rococó e, consequentemente, ao regime que o abrigava. Exigiam uma arte que fosse racional, moral e intelectualizada. Achavam que um reexame das artes da Antiguidade traria novos ares às normas criativas que vigoravam até então. Tais exigências podiam ser encontradas na cultura do mundo clássico.

Ao inspirar-se na arte clássica greco-romana, os neoclassicistas buscavam sobretudo suas qualidades de “nobre simplicidade e calma grandeza”, segundo o alemão Johann Joachim Winchelmann, responsável pelas sementes do renascimento clássico em Roma, que trabalhava para o cardeal Alessandro Albani, colecionador de antiguidades. Os escritos de Winchelmann apregoavam a superioridade da arte grega e conclamavam os artistas a “mergulharem seus pincéis no intelecto”. É interessante saber — até mesmo para a compreensão dos estilos que virão a ser estudados — que foi na época do Neoclassicismo que surgiu o termo “academicismo” em razão da adoção dos princípios da arte greco-romana tomados como base para o ensino nas academias de arte europeia, o que resultou em grandes contendas ao longo dos anos.

O estilo Neoclássico, ao enfatizar a ordem e a clareza, criticando os exageros, mostrava-se em sintonia com a “Era do Iluminismo” — descrição dada ao século XVIII. Alguns artistas — principalmente Jacques-Louis David — fizeram de sua obra um instrumento de suas convicções morais. Em seu aspecto mais puro, o Neoclassicismo tratava-se de uma arte austera e nobre, na maioria das vezes ligada aos mais caros ideais políticos da época, o que não a impossibilitou de também apresentar aspectos intimistas e decorativos.  O novo estilo artístico primava por usar formas e cores simples de modo que toda complicação inútil fosse eliminada, o que resultou numa arte de formas geométricas e austeras que refutava cores brilhantes. Sua popularidade não tardou a espalhar-se por quase toda a Europa nos mais diversos campos: pintura, arquitetura, escultura, mobiliário, tecidos e cerâmica.

O Neoclassicismo, como é comum acontecer em quase todos os estilos de arte, apresenta em seu seio certas variações. Alguns artistas defendiam que a arte devia trabalhar apenas com temas considerados sérios, enquanto outros apegavam-se à literatura heroica do passado, usando como modelo as antiguidades gregas e romanas para ilustrar essas histórias. E foi exatamente a busca pela exatidão histórica a responsável por diferir o Neoclassicismo da ideologia convencional do Renascimento clássico. Enquanto o segundo se apoiava nos estilos tradicionais, oriundos dos conceitos de beleza e adequação estabelecidos por artistas do Alto Renascimento, o novo estilo, embora não tenha deixado de lado tais ideais, procurou fazer reconstruções exatas de antigas obras, o que não se tratava de plágio, mas levava em conta certas normas específicas que deveriam ser seguidas. Quando se tratava de obras históricas, por exemplo, os elementos apresentados deveriam estar em consonância com a época do acontecimento.

O Neoclassicismo foi o primeiro estilo da arte a fazer parte da Idade Contemporânea. Embora tenha tido a sua origem em Roma, não foi ali que apresentou suas mais famosas obras, criadas em outros países, especialmente na França. Os neoclassicistas inspiraram-se nas narrativas literárias e históricas e criticavam a visão do mundo clássico feita pelo estilo Rococó que se alimentava apenas de fantasias eróticas. A pintura intitulada “O Juramento dos Horácios” de autoria de Jacques-Louis David é tida como a primeira obra-prima do Neoclassicismo (ilustração acima), obra a ser estudada. A obra à direita trata-se de “O Rapto de Helena” de Gavin Hamilton.

Os artistas neoclássicos buscaram inspirações sobretudo na história, na literatura e na mitologia greco-romana, mas também fizeram usos de outros temas, como o dos tradicionais retratos e paisagens, assim como temas inovadores, inspirados nos fatos sociais e políticos da época em que viviam. Eles buscaram adaptar os principais clássicos à modernidade, usando técnicas apuradas, harmonias de cores e contornos precisos, cultuando a teoria de Aristóteles e o ideal da democracia. Com a desintegração do governo revolucionário na França e a ascensão de Napoleão, o ideal do Neoclassicismo mudou, passando a ganhar mais importância o esplendor do Império Romano ao invés do caráter moral da República.

Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Manual compacto de arte/ Editora Rideel
A história da arte/ E. H. Gombrich
História da arte/ Folio
Arte/ Publifolha

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Botero – N. SRA. DE CAJICÁ

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Embora Botero não submeta suas imagens religiosas à prova de ironia ou ceticismo, suas pinturas e desenhos não são feitos com o mesmo senso de fé inquestionável daqueles de que se inspirou. A posição de Botero é sempre a de um artista do final do século XX revisitando temas religiosos, completamente ciente do abismo que existe em nosso tempo entre a fé cega na doutrina religiosa e as dúvidas inevitáveis impostas pelo mundo secular de hoje. (Edward Sullivan)

O artista figurativo e escultor colombiano Fernando Botero Angulo nasceu na Colômbia em 1932. É o segundo dos três filhos do vendedor Davi Botero e da costureira Flora Angulo. Aos quatro anos de idade perdeu o pai, vitimado por um ataque cardíaco, ficando aos cuidados da mãe e de um tio que teve um papel fundamental em sua vida, tendo o colocado numa escola para toureiros por um período de dois anos, embora ele preferisse a arte no papel. Enquanto crescia, o garoto sentia-se cada vez mais fascinado pelo Barroco, estilo que via nas igrejas coloniais e na vida de Medellín. Aos 16 anos o jovem viu suas primeiras ilustrações serem publicadas no suplemento dominical do jornal “El Colombiano”. Exibiu seu trabalho pela primeira vez, aos 16 anos de idade. Em Bogotá teve 25 de suas obras expostas pelo fotógrafo Leo Matiz em seu atelier. Antes de completar um ano em relação ao evento anterior, Leo Matiz fez nova exposição com obras do artista, obtendo grande sucesso.

A pintura icônica intitulada Nossa Senhora de Cajicá é uma obra do artista. O nome Cajicá refere-se a um pequeno município da província de Cundinamarca, próximo a Bogotá, local em que o artista é dono de uma fazenda com casa de campo. Assim como todas as suas figuras, a Virgem Maria também é mostrada como uma figura gorducha. Ela carrega nos braços o seu Menino, também obeso, a quem oferta uma maçã retirada da árvore atrás dela. Ele traz na mão esquerda uma bandeira colombiana, o que mostra o quanto o artista é ligado à identidade de seu país.

A Virgem Maria parece flutuar no meio da pintura, em frente a uma árvore, como se estivesse sentada em um nicho de altar, olhando com gravidade por cima dos olhos do observador. Ela traz o pé esquerdo sobre uma serpente negra que aparece na base da obra, quase que de uma ponta a outra da composição, o que também contribui para expressar o seu tamanho colossal. As pequeninas figuras de monges liliputianos de aparência engraçada, bispos, freiras e coroinhas que a cercam favorecem ainda mais a sua monumentalidade.

A composição é piramidal e apresenta cores vibrantes e luminosas. Mais acima, à direita, um braço com um lírio branco na mão, símbolo da pureza de Maria, sobressai em meio a nuvens escuras. Nesta pintura o artista, mais uma vez, recria com sabedoria a história da arte para dar uma nova vida aos gêneros clássicos.

Ficha técnica
Ano: 1972
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 234,4 cm x 181,8 cm
Localização: Museu de Antióquia, Medelín, Colômbia

Fontes de pesquisa
O livro das artes/ Martins Fontes
https://www.sothebys.com/en/auctions/ecatalogue/2010/latin-american-paintings-n08681/lot.24.html

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