Autoria de Lu Dias Carvalho
Estou fazendo uns quadros bem brasileiros que têm sido muito apreciados. Agora fiz um que se intitula A CUCA. É um bicho esquisito, no mato com um sapo, um tatu e outro bicho inventado. (Tarsila)
Nesta pequena tela a pintora nos faz abandonar o mundo da realidade pelo da abstração. Faz viver diante de nós seres fantásticos em meio a plantas de formas rudimentares, como deviam ser as da época terciária. (M. Kuntzler)
A Cuca é uma das mais belas obras da artista paulista Tarsila do Amaral (1886-1973). É anterior à sua fase antropofágica, antecedendo as suas formas fantásticas. Está ligada à infância de Tarsila quando na fazenda da família ela ouvia histórias de mitos e lendas do folclore brasileiro. Embora o folclore nacional apresente uma cuca malvada, afeita a assustar as crianças desobedientes, a cuca presente na obra da artista parece ser bem dócil e receptiva com seus grandes olhos.
Tarsila insere nesta obra aquilo de que tanto gostava: as cores e a magia das formas, mostrando uma fauna e uma flora bem peculiares (tarsilianas). É a sua fase do colorido bem brasileiro. Ela conta que já amava essas cores das festas populares do interior paulista desde a sua infância passada na fazenda. Sobre as cores usadas ela escreveu:
“Ensinaram-me depois que eram feias e caipiras. Segui o ramerrão do gosto apurado… Mas depois me vinguei da opressão, passando-as para as minhas telas: azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante, tudo em gradações mais ou menos fortes, conforme a mistura de branco. Pintura limpa, sobretudo, sem medo de cânones convencionais. Liberdade e sinceridade, uma certa estilização que a adaptava à época moderna. Contornos nítidos, dando a impressão perfeita da distância que separa um objeto do outro.”
Além da grande cuca amarela, assentada com as mãos junto aos joelhos, estão presentes na composição um sapo que se mostra bem contente, uma taturana e um ser esquisito, parecido como uma mistura de ave com tatu. O sapo gorducho está de frente para a cuca e traz um grande sorriso na cara. Logo atrás vem a taturana com sua boca de espanto. Mais ao fundo, debaixo de uma árvore com copa composta por 17 corações, está o ser híbrido que parece passar por trás da cuca. O verde predomina na composição. A vegetação luxuriante apresenta formas arredondadas, bem comuns ao trabalho da artista.
Ficha técnica
Ano: 1924
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 73 x 100 cm
Localização: Museu de Grenoble, França
Fontes de pesquisa
Tarsila do Amaral/ Coleção Folha
Tarsila do Amaral/ Folha Grandes Pintores
Tarsila, sua obra e seu tempo/ Aracy. A. Amaral
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