Autoria de Lu Dias Carvalho
O sertanejo estava satisfeito. Arrumara-se na vida.
Chegara coa família morrendo à míngua, faminta.
Caíra toda ela estropiada, debaixo de um juazeiro,
depois se acomodara na casa erma, na desdita.
Aportara ali naquela vivença, desgraçada de sina,
mas agora podia esperar alegre um novo amanhã.
Apossara da casa, pois, não tinha onde cair morto.
Comera raiz de umbu e sementes de macunã.
Depois sobreveio a chuvarada enverdecendo tudo.
E com ela o patrão querendo o expulsar no atrito.
Fez-se de desentendido, oferecendo os préstimos,
resmungando, coçando os cotovelos, aflito.
O patrão aceitou o trabalho na fazenda revigorada.
Ali era vaqueiro. Não seria tirado como um embuá.
Produzira raízes naquela terra, nela estava fincado,
em meio aos mandacarus, xiquexiques e quipás.
Era forte como as plantas espinhosas da caatinga,
Turrão como baraúnas, barrigudas e catingueiras.
Vaso ruim não quebra. Ele, a mulher, os dois guris
e Baleia estavam presos em terras alheias.
Entristeceu. Sentiu-se plantado em chão estranho.
Seu destino era correr mundo como judeu errante.
Era só um curumba, vagabundo levado pela seca.
Jazia ali de passagem, querendo seguir adiante.
O seu novo patrão berrava sem carência alguma.
Só botava as botinas na terra pra achar tudo ruim.
Queria mesmo era mostrar sisudez e autoridade,
barregar que era o dono de tudo, o Caim.
Era era apenas um traste, sem grande serventia.
Estaria despedido, quando menos esperasse e
tudo ficaria pro novo vaqueiro que o sucederia.
Coa família, pro mundo ganharia o passe.
Olhou a caatinga esmarelida pela falta d`água.
Se a seca chegasse não ficaria fiapo veridente.
E ela chegaria com certeza. Sempre foi assim:
anos bons e anos ruins, tão somente.
A desgraça se avizinhava, tomava o caminho.
Estava seco em derredor e longe nos confins.
O patrão era seco também, exigente e ladrão.
Espinhoso como pé de mandacaru no sertão.
(*) Capa de Floriano Teixeira, para edição brasileira, sem data, Ed. Record
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