Autoria de Lu Dias Carvalho
Imaginem vocês que, um dia desses, entro em casa e encontro minha mulher, Lúcia, e a minha filhinha, Daniela, como os olhos marejados. Acabavam de ouvir A Banda, ou seja, a mais doce música da Terra. Dias depois, eu próprio ouvi a marchinha genial. E a minha vontade foi de sair de casa, me sentar no meio-fio e começar a chorar. Com A Banda começa uma nova época da música popular no Brasil. (Nelson Gonçalves)
E se o que era doce acabou, depois que a banda passou, que venha outra banda, Chico, e que nunca uma banda como essa deixe de musicar a vida da gente. (Carlos Drummond de Andrade)
A Banda, canção com letra e música de Chico Buarque de Hollanda, venceu o Festival da Música Popular Brasileira da TV Record, em 1966, e logo se tornou uma coqueluche nacional, cantada pelos quatro cantos do país. Ainda hoje é um dos clássicos da MPB, tendo sido gravada por bandas de vários países, nas mais diferentes versões.
Na segunda eliminatória do festival, A Banda, de Chico Buarque, defendida por Nara Leão, ficou entre as quatro classificadas. Como Nara tivesse uma voz muito fraquinha, sendo pouco ouvida na primeira eliminatória, em razão da bandinha com tumba e bumbo que a acompanhava, foi sugerido a Chico que cantasse junto com ela, usando a seguinte forma: ele cantaria a música toda, acompanhado pelo violão e Nara repetiria depois, acompanhada pela bandinha. Chico Buarque assim o fez, mesmo a contragosto, o que deu certo, aumentando o número daqueles que torciam pela canção. Até então, Chico Buarque era visto como um cantor de “músicas de protesto”. Para o festival, ele procurou fazer uma música mais leve, que fugisse a esse lugar comum.
Quando inscreveu A Banda no festival, Chico tinha apenas 20 anos de idade e muita timidez. A canção foi interpretada por ele e Nara Leão, ganhando o primeiro lugar, juntamente com a canção Disparada, cantada por Jair Rodrigues, de autoria de Geraldo Vandré e Théo de Barros. Mas Chico foi o responsável para que Disparada dividisse com A Banda o primeiro lugar. O júri havia dado a vitória à música de Chico Buarque, por sete votos a cinco, mas ao tomar conhecimento de que sua canção seria a finalista, Chico exigiu que as duas dividissem o prêmio, sob protesto do júri, dizendo que Disparada era melhor e, se assim não acontecesse, ele se recusaria a receber o prêmio. Contudo, ele jamais falou sobre isso. Quando lhe perguntam sobre o assunto, diz que Disparada ganhou por méritos próprios. O assunto só veio à tona através dos jurados, tempos depois.
A Banda conta a passagem de uma banda musical pelas ruas de uma cidade interiorana, que com sua alegria vai mexendo com a gente sofrida e triste do lugar, fazendo com que todos deixem seus afazeres para lhe dar atenção, embevecidos. Ninguém fica imune à sua alegria. Até a lua deixa seu esconderijo para vê-la. Mas como tudo passa na vida, a banda também passou. A canção de Chico Buarque agradou tanto ao país, que até o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade ofereceu à canção e a seu autor uma crônica, em um dos jornais mais famosos da época.
Chico Buarque e Nara Leão, em razão do sucesso musical obtido com A Banda, ganharam um programa na tevê, chamado Pra Ver a Banda Passar. Segundo dizem, a dupla era tão tímida que o diretor da atração, Manoel Carlos, desabafou:
– Eles são os maiores desanimadores da televisão brasileira.
Foi depois do sucesso de A Banda, gravada em compacto simples, que Chico Buarque gravou seu primeiro LP – Chico Buarque de Hollanda, em dezembro de 1966, onde figura a canção que o projetou no cenário da MPB, que desde então nunca mais foi a mesma. Nara Leão também se tornou uma grande cantora, gravando, principalmente, bossa-nova.
O pintor Clóvis Graciano fez muitas pinturas inspirado pela canção A Banda, como a que ilustra o texto.
A Banda
Autor: Chico Buarque
Intérpretes: Nara Leão e Chico Buarque
Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar passagem
A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela
A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor
Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou
E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor
Nota
Abaixo a letra da música e a canção
https://www.youtube.com/watch?v=wFPPawLq_5Q
Fonte de pesquisa:
Chico Buarque de Holanda/ Abril Coleções
Chico Buarque/ Wagner Homem
A era dos festivais/ Zuza Homem de Mello
Uma noite em 67/ Renato Terra e Ricardo Calil
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