Autoria de Lu Dias Carvalho
A briga entre aqueles que defendem o português culto que deve ser ensinado nas escolas e o português oral, cheio de erros e gírias, falado cotidianamente, continua na trama da língua portuguesa, hoje chamada de brasileira por muitos.
O linguista Ataliba de Castilho acaba de lançar A Nova Gramática do Português Brasileiro, onde não entra regência verbal ou análise sintática. Contudo, ele mostra a importância de se ensinar os verbos tafalano, sisquecer, etc. Sugere que o mais-que-perfeito do indicativo, que ninguém fala ou escreve, sofra uma mudança, como por exemplo, em vez de andara, deveria ser usado eu tinha andado, comum em todas as partes do país. Ou seja, deve siscrevê como sifala.
A gramática de Ataliba de Castilho propõe que a língua falada deva estar de acordo com a escrita, pondo de lado as regras e as exceções, de modo que não exista nem o certo e nem o errado. O importante é que a comunicação aconteça. Assim, como há distintos modos de escrever ou falar, dependendo da pessoa com quem nos comunicamos, ele acha que devemos ser bilíngues ou trilíngues dentro de nosso próprio idioma. Cada forma em seu contexto, pensa ele. O linguista acha ainda que, em 200 anos, portugueses e brasileiros não mais se entenderão, pois existem diferenças verbais, morfológicas e sintáticas enormes, entre os dois países. E, como somos mais pessoas a falar o português, o Brasil terá preponderância sobre a língua.
Não resta a menor dúvida de que a língua é dinâmica. E é exatamente por isso que se torna necessário termos uma base firme, para qual possamos voltar sempre. Caso contrário, a língua será mudada a cada geração e, ao final, estaremos falando um idioma totalmente desconhecido, ou muitos dialetos. Acredito que as boas gramáticas funcionam como um poço de água limpa, para que os povos não percam a identidade com a língua de seu país, com o passar dos anos.
O linguista acima diz que falamos “tafalano”, “ceisvão”, “As pessoa”, “viagi”, “Hoje tem aula”, “Isto é para mim fazer”, por exemplo. E que tais mudanças deveriam ser agregadas à língua escrita. É fato que muitos falam assim, principalmente as classes mais pobres, que não tiveram acesso aos bancos escolares. Mas, se aceitas tais mudanças, outras virão. Basta pegarmos o “vosmicê”, você, “ocê”, “cê”, para vermos que a idéia proposta pelo famoso linguista não é tão viável assim. A língua passaria a ser refém de cada época, perdendo a sua unidade e a sua identidade. Chegaria um tempo em que não nos entenderíamos, num vasto país como o nosso.
Para os jovens “doido/sinistro/da hora/demais” significam “bonito/ charmoso/muito bom”. E que “véio” significa “irmão”. Tudo bem, essa é a linguagem incorporada por eles como grupo. Mas todos entendem o significado da palavra “bonita” ou “irmão”. Caso contrário, cada grupo teria uma língua própria. A língua nacional perderia o seu fator agregador, apesar das diferenças geográficas, socioculturais e individuais. Penso eu que a exclusão e o preconceito seriam ainda maiores.
Para mim, o trabalho do linguista Ataliba é importante como ajuda no ensino da língua portuguesa, mostrando aos educadores onde residem os erros mais comuns, para que os professores possam melhor trabalhá-los, mas usá-lo como base para se ensinar português é um desserviço ao idioma pátrio.
Afastados da língua portuguesa falada em Portugal já estamos há muito tempo. A começar pela pronúncia das palavras e entonação da voz. O país lusitano está tornando a língua portuguesa cada vez mais consonantal, enquanto a nossa é cada vez mais vocálica. Tanto é que, segundo alguns turistas estrangeiros, o português falado no Brasil é açucarado, romântico e sensual, bem diferente do falado em Portugal, que é bastante áspero.
Sabemos que as línguas neolatinas (derivadas do latim), como o português, o francês, o espanhol, o italiano, etc., são vocálicas, enquanto certas línguas, como o alemão, o inglês, etc., são consonantais. O português falado em Portugal tem eliminado as vogais na linguagem oral.
Fico imaginando, se a proposta do linguista Ataliba de Castilho pega e passamos a considerar correto o “gerundismo” cultuado pelos operadores de marketing:
– Nós vamos estar oferecendo mais vantagens…
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