A Rev. dos Bichos (13) – MANDAMENTOS TRAÍDOS

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Para decepção dos moradores da Granja dos Bichos, o intelectual Napoleão anunciou que reatariam contato com os humanos, comercializando os produtos da granja: feno e trigo e, se fosse necessário, também ovos. Aquele sacrifício seria feito em prol do moinho, de modo que todos deveriam se sentir agradecidos por ajudar. Principalmente as galinhas que sacrificariam seus ovos. Os animais, porém, sentiram-se incomodados com tal decisão, pois os Sete Mandamentos rezavam que não poderiam fazer comércio, utilizar dinheiro e ter quaisquer contatos com os humanos. Quatro jovens porcos ainda tentaram protestar, mas o rosnado dos cães de Napoleão fechou-lhes a boca. E, para validar a nova postura do chefe, Garganta, o puxa-saco,  afirmava para os bichos que nunca havia sido aprovado na granja que não se podia fazer comércio, usar dinheiro e coisa e tal. Tudo não passava de invencionices de Bola de Neve. E, como não havia nada escrito sobre o assunto, os animas se conscientizaram de que se trava mesmo de um engano.

Neste ponto da história, eu comecei a me condoer dos habitantes da Granja dos Bichos. Aos poucos aquilo ia se tornando cópia fiel do mundo dos homens. Quanta desgraça já não fora feita em nome do progresso? Quantas ditaduras já não criaram vida, pelos mais diferentes governos, em nome da economia? Quantos ganhos já não foram subtraídos do povo, em nome do crescimento do país? Quantas promessas feitas já não foram desfeitas, sob o argumento de que o povo entendera mal? Quantas vezes chamaram o povo para o sacrifício em nome do bem comum, até ser descoberto que “eles” em nada se sacrificavam, ao contrário, esbanjavam os bens do país? Quantas vezes não interpretaram a bel-prazer a Carta Maior da nação, apenas para obterem benefícios direcionados a eles próprios? Napoleão estava a usar sua gente, embevecido com o poder que detinha, ainda que tal poder viesse do medo das dentadas de seus ferozes cães.

E como desgraça pouca é bobagem, os bichos ficaram pasmados ao tomarem conhecimento de que os porcos haviam se mudado para a casa-grande, onde vivera Jones e sua família. Garganta, o porta-voz dos “intelectuais”, ficou a cargo de dar as devidas explicações:

– Os porcos, como cérebros pensantes da Granja dos Bichos, precisam de um local calmo para trabalhar. Além disso, o grande Líder não poderia continuar vivendo numa pocilga. Quanto ao fato de os porcos dormirem em camas, é bom que nos lembremos de que as nossas leis dizem respeito apenas aos “lençóis” que são uma invenção humana. Retiramos todos os lençóis das camas, deixando apenas os cobertores. Tenho a certeza de que todos vocês, meus camaradas, querem o bem de nosso grande Líder e também o de todos os porcos, pois não podemos nos cansar a ponto de não dar conta de tão nobre missão. Vocês nem imaginam o quanto é difícil pensar e dirigir esta granja, por isso, passaremos a nos levantar uma hora mais tarde do que os demais. De forma que, nós porcos, contamos com a compreensão de todos.

O povo, digo, os bichos aceitaram tudo pacificamente, como se fossem realmente inferiores aos porcos, e assim, também pensam os pobres entre os homens. Se não possuíam inteligência, cabia-lhes, portanto, o serviço pesado. Estavam ali para servir e serem mandados, por bem ou pelos dentes afiados dos cães que protegiam a casta dos porcos. E, mesmo quando Quitéria achou que o mandamento que dizia: Nenhum animal dormirá em cama, recebera o acréscimo de “com lençóis”, nada foi feito, pois, ela na sua ingenuidade pensara estar com a memória fraca e que sempre fora aquilo mesmo.

O que mais poderia aguardar os tolos da Granja dos Bichos, diante da prepotência do líder Napoleão?

Fonte de pesquisa:
A Revolução dos Bichos/ George Orwell

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