Autoria de Lu Dias Carvalho
Como nem homem e nem bicho podem domar o tempo, ventos fortíssimos e muita água abateram sobre a Granja dos Bichos. A umidade era tamanha que se tornara impossível até mesmo misturar cimento para dar continuidade ao trabalho do moinho. Certa noite, a tormenta desceu com tudo, destelhando o celeiro e sacolejando os galpões. Ao longe, um som esquisito ecoou. Depois, tudo foi se aquietando de modo a deixar os bichos dormirem. Mas pela manhã, o susto foi brutal. O moinho não resistira à tempestade.
Entre os políticos é muito comum jogar a culpa de suas más atuações nos outros, quando não as escondem deliberadamente. E o mesmo estava se dando na Granja dos Bichos. Não querendo mostrar como fora irresponsável na construção do moinho, Napoleão tratou de arranjar um culpado. Nenhum outro seria melhor para receber tal encargo do que Bola de Neve que não estava lá para se defender. E assim se explicou o líder:
– O moinho foi destruído na calada da noite por Bola de Neve que é hoje o nosso maior inimigo. Ele está cheio de vingança contra todos nós. Suas pegadas estão espalhadas por aqui. Vejam só! Resta-me, portanto, decretar a sua morte. Mas iremos reconstruir tudo de novo.
Como o povo, digo, os bichos são ingênuos! Nem mais se lembravam das palavras de Bola de Neve. Não questionaram ou refletiram sobre o que lhes dissera Napoleão. Tampouco foram capazes de deduzir que aquelas pegadas eram muito novas no local, ou que as paredes do moinho eram muito finas. O fato é que os animais tiveram que trabalhar mais ainda, com frio e com fome, enquanto Garganta tratava de engabelar os bichos com seus discursos sobre a dignidade do trabalho e coisa e tal.
Desde a queda do moinho para frente, tudo que acontecia de malfeito era obra de Bola de Neve: roubava milho, derramava o leite, quebrava os ovos, destruía viveiros e sementes, comia o córtex das árvores frutíferas, quebrava janelas, entupia drenos. E os próprios animais começaram a testemunhar que viram Bola de Neve fazer isso ou aquilo. Os porcos até inventaram que o pobre porco era, desde o início da Revolução, um aliado do senhor Jones, o que deixou os bichos ainda mais embasbacados. Alguns animais foram instados a confessar que tiveram encontros secretos com Bola de Neve. Para dar maior realismo à armação, houve muitas confissões e execuções. Até então, nenhum animal matara outro, nem mesmo um rato.
Dali em diante a vida jamais voltaria a ser a mesma. É isso que veremos a seguir.
Fonte de pesquisa:
A Revolução dos Bichos/ George Orwell
Nota: Imagem copiada de apanaceiaessencial.blogspot.com
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