Autoria de Lu Dias Carvalho
Garganta surgiu, apavorado e mais falante do que era, avisando os bichos que o grande líder Napoleão fora envenenado por Bola de Neve. O chefe estava muito mal, e nem mesmo conseguia abrir os olhos. Antes que eu dê prosseguimento à história, devo dizer que na adega da casa-grande, lugar até então desconhecido dos porcos, fora encontrada uma caixa de uísque. E, assim, à medida que passava a bebedeira, Garganta repassava aos companheiros a boa notícia de que o chefe estava se recuperando, ou seja, o inimigo não fora vitorioso em seu intento de matá-lo.
Um dos Sete Mandamentos que resumia a filosofia dos animais rezava: “Nenhum dos animais beberá álcool.”, mas não foi de se estranhar quando os bichos encontraram Garganta com um pincel e uma lata de tinta. O mandamento agora era: “Nenhum dos animais beberá álcool, em excesso.”. A seguir, Napoleão ordenou que uma parte da granja fosse arada para o plantio de cevada.
Reerguer o moinho pela terceira vez não estava sendo fácil. O alimento diminuía, menos para os porcos e para os cachorros. Sabidamente os governantes e seu staff nunca passam por privação, pois, eles precisam viver uma vida faustosa para darem contar da difícil tarefa de governar as massas. Portanto, Napoleão e seus capangas viviam faustosamente, enquanto o resto passava fome e frio.
Na luta para reerguer o moinho de vento, Sansão, que representava a força braçal da Granja dos Bichos, tombou. Um filete de sangue escorria-lhe pela boca abaixo. Os pulmões davam sinal de que não mais aguentavam o árduo trabalho. Os animais entraram em pânico ao verem o bom amigo tão mal. O líder foi chamado, mas quem veio dizer que Napoleão estava preocupadíssimo foi o vassalo Garganta, e que o doente seria levado para o hospital de um cirurgião veterinário e logo estaria bom.
No terceiro dia, o carroção chegou enquanto os animais estavam no trabalho. Bejamim, ao perceber que vieram buscar o amigo, correu para avisar os demais. Quando chegaram, Sansão já estava dentro da condução. Os animais sentiram-se aliviados, sabendo que o companheiro iria se tratar. Mas somente Bejamim foi capaz de ver o que estava escrito no carroção, contando aos amigos:
Alffred Simmonds, Matadouro de Cavalos, Fabricante de Cola/ Wellington Peles e Farinha de Ossos. Fornece para Canis.
Os bichos começaram a gritar para que Sansão pulasse dali e fugisse, mas ele somente olhou para trás com os olhos lacrimejantes. Sem forças, continuou dentro do carroção até desaparecer.
Cerca de três dias depois, chegou a notícia, via Garganta, que Sansão havia morrido no Hospital Veterinário, após um intenso tratamento. Mas o coitado não resistira. O lambe botas explicou que aquilo que fora lido no carroção tratava-se do seguinte: a carroça pertencera a um carniceiro, até ser comprada pelo cirurgião veterinário, que ainda não tivera tempo de remover a escrita. Talvez por medo, talvez por ignorância ou omissão, o fato é que os bichos acreditaram que assim fora, e continuaram a levar a vida de antes.
O fato relatado levou-me a certos políticos de meu país que são tão pérfidos e mentirosos quanto Napoleão, e sempre possuem um bando de lambe-botas para mentirem por eles.
Ainda falaremos mais sobre isso.
Fonte de pesquisa:
A Revolução dos Bichos/ George Orwell
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