Autoria de Lu Dias Carvalho
O Major, personagem central de nossa história, era o maior idealista da Granja do Solar. Até quando dormia, sonhava com um mundo melhor para si e para seus companheiros. Ele tinha consciência da finitude da vida e principalmente da sua própria, pois, os 12 anos de vida já lhe pesavam nas costas volumosas. Aprendera muita coisa com o mundo e já era hora de transmitir tais conhecimentos a seus amigos. Preocupava-o, sobretudo, a miséria e a escravidão a que eram submetidos os animais, não apenas naquela granja, mas em todo o país. Assim, na reunião convocada para conversar com os companheiros de granja, passou a desfiar todas as agruras da vida desprezível, custosa e breve de que eram vítimas:
- A alimentação insuficiente recebida, apenas para não morrem de fome.
- O tratamento indigno dado pelo dono da granja a todos eles.
- O excesso de trabalho impingido aos que ainda conseguiam trabalhar.
- O tratamento cruel dado aos que não mais tinham utilidade.
- O país tinha todas as condições para dar aos animais uma condição de vida decente, portanto, não poderiam aceitar aquela vida miserável.
O Major já tinha chegado à conclusão sobre o motivo da vida abjeta que levavam, pois nada acontece sem que haja uma causa. O responsável pelo sofrimento de todos os animais era o bicho mais cruel que havia sobre a Terra: o Homem. Eliminando-o, eliminaria a fome e o excesso de trabalho de que eram vítimas. E para que alguns não pensassem que ele era um inconsequente, enumerou os motivos que o levaram a tal conclusão em relação ao inimigo:
- Roubava todos os produtos gerados pelos animais.
- Consumia praticamente tudo sem produzir nada.
- Não botava ovos ou dava leite, e ainda era fraco para conduzir o arado.
O Major continuou a desfiar a crueza do Homem no tratamento dado aos bichos:
- Achava-se o dono do mundo e, principalmente, dos animais.
- Usufruía de tudo que eles conseguiam com o suor de seus corpos, mas lhes dava em troca apenas o suficiente para que não morressem de definhamento.
- Até o estrume que produziam servia para enriquecer o solo, mas apenas possuíam a pele que lhes revestia o corpo, e ainda maltratada.
- As vacas, por exemplo, produziam leite para alimentar o filho do Homem, enquanto seus bezerros ficavam malnutridos.
- As galinhas botavam seus ovos com a finalidade de gerar pintinhos, mas a maioria era comida pelo Homem.
- As éguas veem seus potrinhos serem vendidos, ainda em tenra idade, quando poderiam tê-los na velhice para lhes dar conforto e alegria.
O Major deu um longo suspiro, calou-se por alguns segundos, com todos aqueles olhos voltados para ele, com a certeza de que o mais cruel ainda não fora dito, para depois retomar seu discurso:
- A vida dos animais quase nunca chegava ao fim de forma natural.
- Ele ainda estava com vida, é verdade, talvez em razão de sua linhagem, pois já era pai de mais de 400 filhos, coisa normal a um barrão. Mas tinha a certeza de que aqueles jovens leitões ali, não demorariam a guinchar num cepo.
- E não seriam apenas os porcos a serem imolados, mas também as vacas, as ovelhas, as galinhas e outros tantos animais.
- A atrocidade era tamanha, que nem mesmo cavalos e cachorros escapavam do holocausto, bastando que perdessem a rigidez dos músculos.
- O velho Jones mandava decapitar os cavalos velhos e cansados e os preparar para servir de alimento a seus cães de caça.
- Quanto aos cachorros, eram jogados no fundo de uma lagoa, com uma pedra no pescoço.
- O que acontecia ali na granja, também acontecia em todo o país, com seus irmãos.
A última fala do Major deixou todos os animais com o pelo eriçado. Aqueles que ainda eram muito jovens, tremiam, e os novinhos encolhiam-se junto aos corpos dos pais, amedrontados. O que fazer para se livrar de vida tão covarde e daquele deplorável destino? O orador tinha a solução:
- Para combater a tirania do homem, bastava se livrar dele. Isso era claro como o sol que alumia o dia.
- O fruto do trabalho seria apenas deles, o que era mais que justo. Seriam ricos e libertos.
- Era preciso trabalhar sem trégua, de corpo e alma, para combater o inimigo. Em suma, teriam que iniciar uma revolução, não importando quanto tempo durasse.
- Sua mensagem deveria ser transmitida a todos os animais, de modo que os mais novos repassassem-na às gerações mais novas, e assim indefinidamente, pois a consciência da necessidade de lutar conduziria à vitória, ainda que fosse daí a um século.
O Major alertou seus comandados para os perigos mais comuns:
- Jamais acreditem que o homem e os animais possuem os mesmos interesses.
- A prosperidade de um jamais será a prosperidade do outro.
- Os únicos interesses perseguidos pelo homem são os seus próprios.
- Somente a união indissolúvel entre os animais poderá levar à vitória.
- Todos os homens são nossos inimigos e seus hábitos são maus.
- Todos os animais, quaisquer que sejam eles, são nossos irmãos.
- Ao lutarmos contra o homem, jamais devemos ser iguais a ele.
- Quando o derrotarmos, salvaguardemo-nos de seus vícios, tais como: morar em casas, dormir em camas, usar roupas, fazer uso de bebidas alcoólicas, fumar, usar dinheiro ou fazer negócios.
- Um animal jamais deverá tiranizar outro, pois, todos são iguais.
As palavras finais do Major resumiram bem como deveria ser a compreensão dos animais, se quisessem algum dia derrotar o Homem:
– Qualquer indivíduo que caminhe sobre duas pernas é nosso inimigo, mas qualquer indivíduo que caminhe sobre quatro pernas, ou tenha asas, é nosso amigo.
Lograrão êxito os animais na sua revolução? Isso é o que veremos a seguir.
Fonte de pesquisa:
A Revolução dos Bichos/ George Orwell
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