A Rev. dos Bichos (3) – O MAJOR E SUA PRELEÇÃO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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O Major, personagem central de nossa história, era o maior idealista da Granja do Solar. Até quando dormia, sonhava com um mundo melhor para si e para seus companheiros. Ele tinha consciência da finitude da vida e principalmente da sua própria, pois, os 12 anos de vida já lhe pesavam nas costas volumosas. Aprendera muita coisa com o mundo e já era hora de transmitir tais conhecimentos a seus amigos. Preocupava-o, sobretudo, a miséria e a escravidão a que eram submetidos os animais, não apenas naquela granja, mas em todo o país. Assim, na reunião convocada para conversar com os companheiros de granja, passou a desfiar todas as agruras da vida desprezível, custosa e breve de que eram vítimas:

  • A alimentação insuficiente recebida, apenas para não morrem de fome.
  • O tratamento indigno dado pelo dono da granja a todos eles.
  • O excesso de trabalho impingido aos que ainda conseguiam trabalhar.
  • O tratamento cruel dado aos que não mais tinham utilidade.
  • O país tinha todas as condições para dar aos animais uma condição de vida decente, portanto, não poderiam aceitar aquela vida miserável.

O Major já tinha chegado à conclusão sobre o motivo da vida abjeta que levavam, pois nada acontece sem que haja uma causa. O responsável pelo sofrimento de todos os animais era o bicho mais cruel que havia sobre a Terra: o Homem. Eliminando-o, eliminaria a fome e o excesso de trabalho de que eram vítimas. E para que alguns não pensassem que ele era um inconsequente, enumerou os motivos que o levaram a tal conclusão em relação ao inimigo:

  • Roubava todos os produtos gerados pelos animais.
  • Consumia praticamente tudo sem produzir nada.
  • Não botava ovos ou dava leite, e ainda era fraco para conduzir o arado.

O Major continuou a desfiar a crueza do Homem no tratamento dado aos bichos:

  • Achava-se o dono do mundo e, principalmente, dos animais.
  • Usufruía de tudo que eles conseguiam com o suor de seus corpos, mas lhes dava em troca apenas o suficiente para que não morressem de definhamento.
  • Até o estrume que produziam servia para enriquecer o solo, mas apenas possuíam a pele que lhes revestia o corpo, e ainda maltratada.
  • As vacas, por exemplo, produziam leite para alimentar o filho do Homem, enquanto seus bezerros ficavam malnutridos.
  • As galinhas botavam seus ovos com a finalidade de gerar pintinhos, mas a maioria era comida pelo Homem.
  • As éguas veem seus potrinhos serem vendidos, ainda em tenra idade, quando poderiam tê-los na velhice para lhes dar conforto e alegria.

O Major deu um longo suspiro, calou-se por alguns segundos, com todos aqueles olhos voltados para ele, com a certeza de que o mais cruel ainda não fora dito, para depois retomar seu discurso:

  • A vida dos animais quase nunca chegava ao fim de forma natural.
  • Ele ainda estava com vida, é verdade, talvez em razão de sua linhagem, pois já era pai de mais de 400 filhos, coisa normal a um barrão. Mas tinha a certeza de que aqueles jovens leitões ali, não demorariam a guinchar num cepo.
  • E não seriam apenas os porcos a serem imolados, mas também as vacas, as ovelhas, as galinhas e outros tantos animais.
  • A atrocidade era tamanha, que nem mesmo cavalos e cachorros escapavam do holocausto, bastando que perdessem a rigidez dos músculos.
  • O velho Jones mandava decapitar os cavalos velhos e cansados e os preparar para servir de alimento a seus cães de caça.
  • Quanto aos cachorros, eram jogados no fundo de uma lagoa, com uma pedra no pescoço.
  • O que acontecia ali na granja, também acontecia em todo o país, com seus irmãos.

A última fala do Major deixou todos os animais com o pelo eriçado. Aqueles que ainda eram muito jovens, tremiam, e os novinhos encolhiam-se junto aos corpos dos pais, amedrontados. O que fazer para se livrar de vida tão covarde e daquele deplorável destino? O orador tinha a solução:

  • Para combater a tirania do homem, bastava se livrar dele. Isso era claro como o sol que alumia o dia.
  • O fruto do trabalho seria apenas deles, o que era mais que justo. Seriam ricos e libertos.
  • Era preciso trabalhar sem trégua, de corpo e alma, para combater o inimigo. Em suma, teriam que iniciar uma revolução, não importando quanto tempo durasse.
  • Sua mensagem deveria ser transmitida a todos os animais, de modo que os mais novos repassassem-na às gerações mais novas, e assim indefinidamente, pois a consciência da necessidade de lutar conduziria à vitória, ainda que fosse daí a um século.

O Major alertou seus comandados para os perigos mais comuns:

  • Jamais acreditem que o homem e os animais possuem os mesmos interesses.
  • A prosperidade de um jamais será a prosperidade do outro.
  • Os únicos interesses perseguidos pelo homem são os seus próprios.
  • Somente a união indissolúvel entre os animais poderá levar à vitória.
  • Todos os homens são nossos inimigos e seus hábitos são maus.
  • Todos os animais, quaisquer que sejam eles, são nossos irmãos.
  • Ao lutarmos contra o homem, jamais devemos ser iguais a ele.
  • Quando o derrotarmos, salvaguardemo-nos de seus vícios, tais como: morar em casas, dormir em camas, usar roupas, fazer uso de bebidas alcoólicas, fumar, usar dinheiro ou fazer negócios.
  • Um animal jamais deverá tiranizar outro, pois, todos são iguais.

As palavras finais do Major resumiram bem como deveria ser a compreensão dos animais, se quisessem algum dia derrotar o Homem:

– Qualquer indivíduo que caminhe sobre duas pernas é nosso inimigo, mas qualquer indivíduo que caminhe sobre quatro pernas, ou tenha asas, é nosso amigo.

Lograrão êxito os animais na sua revolução? Isso é o que veremos a seguir.

Fonte de pesquisa:
A Revolução dos Bichos/ George Orwell

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