Autoria de Lu Dias Carvalho
Ao expulsarem o senhor Jones e família da Granja do Solar, agora denominada Granja dos Animais, os bichos tiveram que tomar para si todo o trabalho. O recolhimento do feno foi o primeiro da lista, contando eles com muitas dificuldades, pois, as ferramentas não se adequavam à estrutura corporal da bicharada.
Todas as dificuldades inerentes aos trabalhos na Granja dos Animais foram resolvidas com a engenhosidade dos porcos, tidos como os animais mais inteligentes. E, como os mais preparados intelectualmente precisam estar à frente de tudo, em tese, os porcos não podiam botar mãos à obra, digo, pés, uma vez que tinham que dirigir e supervisionar o trabalho feito por todos os outros. Que tarefa cansativa é mandar e mandar! Aposto que eles desejavam estar lá, com a mão na massa, digo, no feno. Será?
Nenhum animal escapulia do trabalho na granja. Os cavalos, como conheciam cada cantinho do lugar, tomaram para si a tarefa mais pesada. Patos e galinhas iam e viam com pequeninos feixes de feno presos no bico, sem desperdiçar um só talinho. Nenhum dos animais abocanhou aquilo que não lhe era devido, de modo que foi a maior safra de feno que a granja já tivera, deixando os bichos alegres com tanta fartura. Tudo agora era produzido por eles e para eles, sem intermediários ou sonegadores. E ainda tinham tempo para o divertimento.
Sansão, o cavalo, era um exemplo para todos. Com seus músculos rijos, ele sempre fora muito trabalhador, mas agora fazia o serviço de três, tão entusiasmado que estava com a nova situação. Nem percebia que o trabalho mais pesado ficava sempre para ele. Chegou a pedir aos galos que o acordassem meia hora mais cedo para, nesse tempo, fazer trabalho voluntário. Mesmo quando estava caindo de cansaço, murmurava seu lema: “Trabalharei mais ainda!”. Nunca vivera uma situação de tanta paz junto aos companheiros. Não mais havia mordidas, ciúmes, discórdias e outras coisas tão desagradáveis, mas corriqueiras nos tempos do senhor Jones. Agora, era preciso manter o progresso e a paz.
A vida dos bichos é bem parecida com a dos homens. Tanto lá como cá, existem sempre os omissos e os espertalhões que querem sempre encarapitar-se no ombro dos ingênuos. Minha mãe já dizia que “Cacunda de bobo é poleiro de esperto”. De modo que Mimosa, a égua, estava sempre arranjando desculpas para não trabalhar, assim como o gato que dava uma de perdido, só aparecendo na hora das refeições ou ao final do trabalho. Enquanto Bejamim, o burro, continuava o mesmo de antes, fazia sempre a sua parte, mas sem se interessar pelos trabalhos extras. Parecia não carregar muito contentamento com a vida.
Na Granja dos Animais não se trabalhava durante os domingos, dia dedicado ao hasteamento da bandeira: uma toalha verde de mesa, pintada com um chifre e uma ferradura no centro. A seguir vinha a Reunião, sempre dirigida pelos porcos, onde eram planejadas as ações da semana seguinte. Bola de Neve e Napoleão eram sempre os mais aguerridos e combativos, embora um estivesse sempre se contrapondo ao outro.
Os porcos, como os mais inteligentes, é bom que se diga, definiram que o depósito de ferramentas passaria a ser a sede da direção, composta por eles mesmos, onde os animais aprenderiam a ler e escrever mecânica, carpintaria e outras artes necessárias, através dos livros retirados da casa-grande. E assim, foram formados os mais diversos comitês, sendo que um deles tinha por finalidade domesticar as criaturas selvagens, que acabou não logrando êxito, pois, apesar do palavrório, pardal algum tinha coragem de se assentar perto de um gato.
Será que a inteligência dos porcos seria o único referencial para levar avante A Revolução dos Bichos?
Fonte de pesquisa:
A Revolução dos Bichos/ George Orwell
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