Autoria do Dr. Ivan Large
Os olhos do senhor Olegário parecem dois pontos de interrogação. Ele é um motorista de táxi de 52 anos, e está consultando apenas para uma revisão rotineira de óculos e não entende a razão das minhas perguntas. E que perguntas! Eu quero saber, entre outras coisas, se há casos de glaucoma na sua família. Mas como ele poderia me responder se nem sabe o que é o glaucoma? E assim acabamos por travar o seguinte diálogo:
– Mas o que é glaucoma, doutor?
– O glaucoma é uma doença causada pela pressão alta nos olhos.
– Os olhos têm pressão, doutor?
– Têm sim. É a pressão do olho que lhe dá a sua consistência. Ela é produzida por um líquido que entra, circula e sai do olho.
– Então a pressão do olho é uma coisa boa, doutor?
– É, se estiver normal, ou seja, quando o líquido sai na mesma quantidade em que entra. Mas quando não consegue sair nessa mesma velocidade, a pressão do olho sobe.
– E qual é o problema?
– A pressão alta machuca a cabeça do nervo situado atrás do olho.
– Ah! O olho também tem um nervo, doutor?
– Sim. Se o olho fosse uma 1âmpada, o nervo seria o fio elétrico responsável pela condução de energia entre ele e o cérebro. Esse fio é composto de mais de um mi1hão de pequenos nervos que são destruídos pouco a pouco, muito lentamente, pela pressão alta.
– E o que a gente pode fazer, doutor?
– Antes de fazer qualquer coisa, precisamos saber se a pressão do olho é alta. E quanto mais cedo se descobre o problema, melhor é. Dá mais tempo para interromper o processo antes do agravamento dos danos, que são praticamente irreversíveis.
– E o que a gente sente quando a pressão do olho é alta, doutor?
– Habitualmente, não se sente nada! Só se sabe o valor da pressão nos pneus de um carro indo ao posto de gasolina para verificar a calibragem. No caso do olho, é preciso ir ao oftalmologista.
– E depois?
– Depois é com a gente e com Deus.
Julgando ter fornecido ao meu paciente uma quantidade suficiente de informações sobre o glaucoma, concentro-me na realização do exame oftalmológico propriamente dito. Durante o exame, aproveito para medir a sua pressão intraocular, que se encontra, felizmente, dentro dos limites da normalidade. No final, suas expectativas são correspondidas, quando lhe entrego uma receita atualizada dos seus óculos. Satisfeito, ele se despede de mim. Eu também fiquei satisfeito de ter ajudado a esclarecer as suas dúvidas sobre o glaucoma, apesar de não conseguir me livrar das minhas.
Este ar de certeza que eu ostentava, enquanto eu resumia esta doença como uma simples relação de causa e efeito, era apenas uma atitude aparente, usada com finalidade pedagógica. Teria sido, na verdade, completamente antipedagógico revelar, por exemplo, ao Sr. Olegário que a pressão intraocu1ar, às vezes, pode estar aparentemente normal em alguns portadores do glaucoma. Isso nos levaria a ter que lhe explicar que a certeza da existência e evolução da doença baseia-se na avaliação dos danos do nervo óptico. E no final teríamos que lhe confessar que essa ava1iação utiliza aparelhos que, apesar de serem cada vez mais sofisticados e caros, não conseguem sempre fornecer resultados tão precisos que não deixem dúvidas.
Não é estranho que a medida que aumenta o nosso conhecimento, aumentam também as nossas dúvidas? Segundo Descartes, em toda dúvida existe algo de que não podemos duvidar: a própria dúvida. Se duvidássemos que estamos duvidando, não duvidaríamos mais. Mas como a dúvida é um pensamento e como precisamos existir para pensar, existe algo de que podemos ter certeza: “Penso, logo existo”.
A dúvida pode ser, portanto, a porta do conhecimento.
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Prezado Adevaldo
Obrigado pelo seu comentário!
De fato, a hereditariedade é um fator de risco do glaucoma que, na sua forma mais comum,
aparece por volta dos quarenta anos.
Quanto aos fatores ambientais, a sua influência sobre o risco aumentado de apresentar esta doença, até agora, é desconhecida.
Ivan
Lu, obrigada por trazeres este tema.
Agradeço ao Dr. Ivan pelas explicações, pois eu precisava de saber como os olhos funcionam.
Abraços
Procuro fazer a avaliação anual da pressão ocular.
Tive colegas quase cegas, por problemas de glaucoma.Tudo por falta de informação. Quando a pressão é alta, é preciso o uso constante de medicamentos.
Abraços
Matê
Dr Ivan
Parabéns pela forma pedagógica de definir o glaucoma. Então a alteração da pressão do olho é hereditária e está relacionada com a idade da pessoa? A poluição atmosférica e a baixa umidade do ar, de certa forma, podem influenciar na alteração da pressão nos olhos?
Abraços,
Adevaldo