O QUE SUBSTITUIU OS MANICÔMIOS?

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Autoria do Dr. Telmo Diniz feliz1

Certo dia, encontrei um colega psiquiatra e perguntei como ele estava e como ia no seu trabalho. Para minha surpresa, a resposta: “Nunca esteve tão bom o consultório, lotado. Nunca vi tanta gente doida. As pessoas estão cada vez mais ansiosas e deprimidas. Usando drogas então, nem se fala!”. Isto me fez pensar em como anda nossa saúde mental.

Pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o conceito de saúde é um completo estado de bem estar físico, mental e social, e não uma mera ausência de doenças. Daí, concluímos que estamos mais doentes do que pensamos. Temos de nos preocupar a quantas andam a nossa saúde mental. Tenho muita ansiedade? Sou uma pessoa depressiva? Tenho fobias? Sempre é necessário procurar ajuda e auxilio médico em circunstâncias de sofrimento mental é de importância vital para um pleno estado de saúde.

Encruzilhada

Mas há um problema ainda maior a ser resolvido em nossa sociedade: o tratamento dado aos doentes mentais clássicos. Há mais de 20 anos, iniciou-se o que se denomina “luta antimanicomial”, decretando o fim dos hospícios e o tratamento dos pacientes fora dos hospitais. Passado alguns anos, o país vive uma encruzilhada: fechou grande parte dos manicômios, mas não criou atendimento suficiente para os doentes mentais. No lugar de milhares de leitos psiquiátricos fechados, foi montada uma rede ambulatorial, chamada de Caps (Centro de Atenção Psicossocial), que não consegue atender a demanda.

O resultado pode ser visto claramente. Doentes mentais, tidos como mendigos, perambulando pelas nossas cidades. Não têm família, não têm comida, não têm medicamentos para controle dos transtornos mentais, não têm acolhida, não têm nada. Foi suprimido da parcela pobre da população o serviço de internação para casos de crise em que a família não consegue o devido controle sobre a pessoa que padece de transtorno mental. A pequena parcela da sociedade que tem poder aquisitivo e tem doentes mentais ou usuários de drogas na família tem de recorrer a clínicas caríssimas ou ver o patrimônio adquirido por toda uma vida ser evaporado, em pouco tempo, para angariar dinheiro para o tratamento.

Desinternar pacientes é o objetivo deste “modelo”. Despejá-los nas ruas tem sido a ação do governo. É como se, acabando com os hospitais psiquiátricos, se acabasse com a loucura. Quem tem um doente mental em casa em momentos de crise sabe claramente do que estou falando. A grande loucura disso tudo é a falta de leitos psiquiátricos. Não venham me falar em tratamento mais humano, aonde inexistem modelos que não funcionam ou funcionam de forma precária. Quem vai pagar esta conta? Os números estão aí: 90% dos Caps não funcionam à noite, não têm psiquiatras de plantão (somente psicólogos) e em quase metade deles a falta de medicamentos é uma constante.

Como pode ser dado um tratamento “mais humanitário”, como gostariam os anti-manicomiais, se não há a menor estrutura para atendimento de uma população cada vez mais sofrida. Quem apoia ou apoiou esta luta está assinando o atestado de óbito de centenas de milhares de doentes mentais que, em vez de tratamento, estão nas cadeias públicas ou nas ruas de todo o país. O problema não é o hospital, é a falta dele.

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2 comentaram em “O QUE SUBSTITUIU OS MANICÔMIOS?

    1. LuDiasBH Autor do post

      Carlos

      Os textos do Dr. Telmo são mesmo muito interessantes e reais. Agradeço a sua visita e comentário. Volte mais vezes. A propósito, o seu e-mail está incorreto.

      Abraços,

      Lu

      Responder

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