Autoria de Dr. Telmo Diniz
A psicopatologia denominada “acumulação compulsiva”, também conhecida por disposofobia (fobia em dispor das coisas), consiste na aquisição ilimitada de bens, objetos e outros “trens” inúteis – como a gente fala aqui, nas nossas Minas Gerais. Também pode ser conhecida por outros nomes, como a “Síndrome da Miséria Senil” ou “Síndrome de Diógenes”, alusão ao filósofo grego Diógenes de Sinope, que vivia como um mendigo, dormindo num barril (como o Chaves mexicano) e recolhendo das ruas inúmeros objetos sem nenhum valor. As pessoas que sofrem dessa perturbação são, em sua grande maioria, idosos, que vão acumulando tudo o que podem, e são incapazes de desfazerem-se destes mesmos objetos. É uma questão séria de saúde e pode ser resolvida com terapêutica apropriada e com abordagem multidisciplinar.
A Síndrome de Diógenes (SD) é uma alteração comportamental, caracterizada pelo isolamento social, pela autonegligência (descuido com o autocuidado, com a higiene pessoal e do lar), pelo comportamento paranoico e pelo colecionismo. Na Síndrome de Diógenes, o ato de colecionar e de juntar as coisas é a tônica do problema. Trata-se de um sintoma de uma doença mental, ou seja, um transtorno de ansiedade, visto por muitos como um transtorno obsessivo compulsivo (TOC), que deve ser tratado.
Uma parcela de especialistas faz uma ligação entre este transtorno com o início de demência no idoso. Trata-se de uma perturbação que é definida por três características principais:
- a acumulação obsessiva de bens ou objetos que parecem inúteis para a maioria das pessoas;
- a incapacidade de se livrar de qualquer um dos objetos ou bens recolhidos e um estado de aflição ou de perigo permanente (uma espécie de paranoia);
- a acumulação compulsiva interfere com os passatempos e atividades do dia a dia dessas pessoas, que tendem a ficar isoladas e sem convívio social. Normalmente, elas vivem em condições sem higiene, apresentam depressão, são incapazes de cuidar de si próprios e acabam por adoecer.
O tratamento sempre é um desafio, em especial pela recusa ativa e não aceitação por parte da pessoa. Fica um pouco mais fácil se há familiares ou outro tipo de suporte social. Entretanto, para uma grande parcela dos casos, antes da intervenção médica, pode haver a necessidade de intervenção judicial, que obriga a pessoa a se tratar para que possa manter sua casa em condições sanitárias de modo a não impossibilitar a habitação naquele lugar, ou para resguardar a saúde dela própria e até de animais de estimação que convivem com ela.
Há casos em que, além da saúde mental comprometida, a autonegligência propicia o surgimento de desnutrição e de doenças infecto-parasitárias, que devem ser urgentemente abordadas. Ainda durante o tratamento dessas doenças há o risco de a pessoa sucumbir a pneumonias e outras infecções comuns entre idosos. O tratamento psiquiátrico deve contemplar intervenções psicoterápicas e uso de medicações, conforme os sintomas que ocorrem em cada caso. E se você conhece algum idoso que fica acumulando coisas inúteis e lixo em casa, saiba que ele está precisando da sua ajuda, de um médico, de um psicólogo, de um nutricionista, dentre outros.
Nota: imagem feita pelo fotógrafo Geoff Johnson
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Síndrome da Miséria Senil? Jesus, me acode! rs. Amo esses artigos que nos põem em alerta e explicam, com competência, suas causas e efeitos!
Não sou pessoa de meio-termo. Ou sou tudo, ou sou nada, mas nesse quesito, estou sempre entre a cruz e a espada. Conheço casos reais de pessoas com compulsão pelas compras e não me enquadro entre elas. Aliás, comprar, a mim, acaba se tornando algo desconfortável, exceto quando compro presentes para outros. Por outra banda, e já escrevi sobre isso, tenho uma dificuldade enorme em livrar-me das tralhas inúteis, que sempre acho a coisa mais bonita, significativa e necessária enquanto lembranças de pessoas que passaram por minha vida. Quando escrevi e isso há não muito tempo, consegui enxergar com maior clareza que fazia um caminho inverso para o futuro.Eu segurava o passado! Escrevi, postei e admiti: sou acumuladora! Mas havia uma ordem em guardar e guardava com carinho minhas pequenas lembranças, mas confesso que as pequenas acabavam virando uma pirâmide, se as pusesse uma sobre a outra, rs.
O remédio imediato, após anos de guardar e guardar, foi incisivo. Ou seria naquela hora, ou eu faria como das outras vezes: separava, tentava livrar-me e guardava tudo outra vez. Fora que, quando nas poucas ocasiões que consegui livrar-me das excessivas coisas desnecessárias, eu sofria.Junto com o pacotão das “bobeirinhas” ia junto aquela aparente segurança que as lembranças me davam. Era o respeito pelo que foi e a não competência em desapegar-me… Então, num imediatismo em ficar livre dos entulhos afetivos, parti para o realmente novo e parti para a reforma da casa. Lá vieram gastos extras e não programados, mas fez um bem enorme! Mudei o estilo da casa, e carinhosamente eu mesma desenhei, projetei e acompanhei a execução do que desejava fosse o resultado final. Ficou legal e nessa nova casa não cabem mais tantas coisas que não combinam em nada com o que tinha guardado, seja como enfeites, seja como lembranças. Descobri que as lembranças jamais se apagarão e nada material é necessário para que permaneçam. Foi um limiar entre o que consigo dispensar sem que a dor seja forte.
Deixei de lado o meu lado “Diógenes”, que só descobri com o texto que era meio amalucado. E isso alertou-me que ainda tenho cobertores, que não uso, guardados. Bora levá-los a quem precisa! Os tais se esconderam, mas eis que os descubro, sem utilidade alguma, ao menos aqui em casa. Hoje e nos meses futuros quero mais peças decorativas novas. Nada de lembrancinhas bonitinhas e em estilo rococó destoando dos meus novos vasos (minha paixão ou será compulsão?). Por sorte não tenho quadros. Por algum motivo nunca gostei deles. Ou retratam o que já foi ou aquilo que só é puro se na natureza. Nada de natureza morta enfeitando paredes! Morto, mortinho mesmo, só o passado de maluquices guardadas, que confesso, algumas eram colhidas aqui e ali, onde outros já haviam descartado. Refiro-me a parentes que desfaziam-se de peças que foram de outros parentes e eu, sofridamente julgava um sacrilégio jogar fora. Não precisei, ou não admiti precisar de acompanhamento psiquiátrico, mas que confesso, por vezes é o único caminho para nos livrarmos do sofrimento do apego exagerado a coisas inúteis!
Amei o texto! E ao pensar na possibilidade da Síndrome da Miséria Senil levei um bruto susto. Por sorte libertei-me a tempo. Mas vou é já dar um jeito nos cobertores e quem sabe, ainda descubro mais algum entulho que incautamente deixei de perceber. Será? Com certeza!
Miss Celi
É impossível não dar boas risadas com os seus comentários, mesmo quando fala sério.
Tenho uma prima que é muito engraçada. Ela não é egoísta ou mesquinha, mas tem uma dificuldade enorme de livrar-se das coisas, patologia mesmo, pois tudo para ela tem uma história. O pior é que tem uma memória de elefante. Não se esquece de nada. Em assim sendo, é muito divertido (e ao mesmo tempo triste) vê-la tentando desfazer-se das coisas: “Isso não pode porque foi X quem me deu. E isso foi Y. E aquilo outro foi N…” E assim roda todo o alfabeto. Depois vem a parte das lembranças propriamente ditas: “Este vestido foi usado nos meus 15 anos, este foi usado quando conheci W, e esta blusa comprei, quando viajei para…”. Depois vem as cores: “Isso aqui, não, porque adoro vermelho. Este verde é maravilhoso. Este azul deixa-me mais magra… Este preto sapato é muito confortável, e lembra-me fulano, quando…” E lá vêm as cores com seus matizes. Com muito sofrimento, ela consegue desfazer de uma ninharia… E sente-se a pessoa mais feliz do mundo por ter alcançado tamanho grau de despreendimento.
Miss Celi, agora com a casa renovada, é preciso também renovar as energias. Estarei aqui torcendo para que você desfaça dos cobertores (risos), pois irá fazer muito bem a um desabrigado, a um idoso ou a uma criança. Meu lema atualmente é: MENOS É MAIS.
Amo você, danadinha. E não suma por tanto tempo”
Beijos,
Lu
Lu do céu! Pois não é que consegui, mesmo, livrar-me das tralhas e lembrei-me de sua prima. Sei como é o sofrimento dela. Mas, menina, fui ao extremo! Mudar? Então que seja tudo e foi, ao menos no quesito lembranças guardadas ou ainda em pé. E cá estou de casa estilosa (até foto tiram da bendita) que ficou ainda maior, quando o ideal seria deixá-la menor. Mas foi o jeito de livrar-me dos cheiros, cores e olhares do passado. O bom é que junto com o que foi, restou o cansaço que agora me faz dormir nas horas mais apropriadas. É um tal de escova, lixa, lava, enverniza e quem faz tudo isso? Eu! Prazer? Dá um prazer e cansaço enormes! A casa ficou com a minha cara: sóbria, estilo rústico, mas com ternura. Amei o resultado e ainda há mais que ser feito, mas foi para fora todas as tralhas, literalmente! Ufa! Consegui! Mas para chegar a esse resultado, precisei, verdadeiramente repensar tudo. Se eu não me atirasse às cegas num novo desafio, a loucura de guardar ainda estaria presente.
Não é fácil deixar imediatamente o que sempre nos acompanhou e fui acumuladora quase que a vida toda, até que percebi que estava mesmo atropelando a ordem da vida. O passado ficava e o futuro era algo que nem pensava. Valeu a mudança! Diga à sua prima, que dói mesmo livrar-se de tudo o que nos lembra boas coisas, mas elas ficarão em nossa memória e se eu, com minha incapacidade de deixar-se ir o que não fazia mais sentido consegui, ela, com certeza, conseguirá!
Beijos, amiga e volto, sim!
Miss Celi
Parabéns! Casa nova, vida nova… Imagino como tudo deve estar lindo. E dá um gosto danado de arrumar, e ver o vento passando por entre as coisas, e mais espaço para andar e curtir. E energia positiva entrando. O seu comentário servirá de incentivo para os acumuladores apegados ao passado. Eu havia me esquecido de dizer que minha prima guarda até os papéis dos bombons que ganhou do marido, quando namorados e noivos… Haja caixas… Vixe Maria! Nem mesmo posso lhe falar de uma família que conheço, muito bem de vida, cujo apego é tamanho, que seus roupeiros nem mais fecham, as mesas velhas estão roídas pela ferrugem… A casa mais parece um museu de tralhas. Deus tenha piedade! Vou repassar seu comentário para minha prima.
Beijos,
Lu
Lu
Com a maturidade, descobrimos que menos é mais, por em prática é que são elas, mas com um pouco de disciplina conseguimos. Ciente que não é parâmetro de comparação com a psicopatologia denominada Síndrome de Diógenes, que necessita de tratamento médico adequado.
Leila
A sociedade atual, extremamente capitalista, induz-nos ao consumismo doentio, uma vez que não nos traz outros valores. Ela é dominada pela mídia que vive de propagandas, e prega que se comprarmos isso ou aquilo, estaremos plenamente felizes. Há uma inversão drástica de valores. E, muitas vezes, mesmo cientes de que a felicidade vem de dentro para fora, deixamo-nos ser enganados. Tenho a mesma ciência que você: MENOS É MAIS!”, pois “menos” é equilíbrio, enquanto “mais” é exagero.
Abraços,
Lu
Lu, querida,
O problema do acúmulo é grave. Curiosamente contrasta com pessoas que estão absolutamente à margem de tudo: casa, alimentação, água, dignidade.
Este texto é uma oportunidade para reflexão.
Abraço,
Luiz Cruz
Luiz
O doutor Telmo traz um texto de grande importância, pois a gravidade do problema não apenas atinge a pessoa principal como aquelas que vivem em seu derredor, pois, normalmente, são pessoas difíceis e mesquinhas, que jamais pensam nos outros. Gandhi já dizia que tudo que nos sobra está fazendo falta a outrem. E sem falar que o planeta pode se exaurir. O equilíbrio é o mais sábio dos mestres.
Abraços,
Lu
Lu Dias
Somos psicopatas!
Abração
Mário Mendonça
Mário
Realmente todos nós acumulamos muito mais do que necessitamos. Este é um problema advindo do capitalismo selvagem, em que o “ter” sobrepõe o “ser”.
Beijos,
Lu Dias