Coube ao pernambucano de Exu, Luiz Gonzaga do Nascimento, um negro semianalfabeto, de cara redonda, em formato de lua, a ciclópica tarefa de colocar um naco substancial da diversidade estética de sua região – o nordeste, então chamado genericamente de norte – no mapa da música popular brasileira. (Tárik de Souza, jornalista de música)
O compositor, cantor e instrumentista Luiz Gonzaga do Nascimento, nasceu em Exu/PE, no ano de 1912. Seu pai, Januário dos Santos, sanfoneiro e consertador de instrumentos, era agregado na fazenda onde vivia com a mulher, Ana Batista (Santana) e uma penca de nove filhos. Não era fácil a vida do casal, tendo que sustentar tão grande prole. Tudo em casa era racionado. Só a música é que vinha com fartura, inclusive, cinco dos irmãos de Gonzaga vieram a se tornar sanfoneiros profissionais.
Luiz Gonzaga de tanto ver o pai tocar e consertar instrumentos, logo, logo já estava afinando-os e tocando também. Quando aprendeu a ler ganhou uma sanfona de “oito baixos” do patrão, para quem trabalhava como assistente em suas viagens. Aos 14 anos de idade, o garoto já era profissional e tinha por ídolo Lampião, cangaceiro e também sanfoneiro.
Ainda muito novo, Luiz Gonzaga começou a se envolver com as namoradas. Uma delas foi responsável por mudar sua vida totalmente. Ao se apaixonar por Nazarena, contou com a oposição do valente pai da moça. O moço rejeitado armou-se de uma faca, tomou uma birita para dar coragem e se preparou para enfrentar aquele que deveria se seu futuro sogro. Mas foi sua mãe, dona Santana, quem lhe deu uma boa sova pelo feio procedimento. Envergonhado, Luiz vendeu a sanfona e foi-se embora para Fortaleza, onde se alistou como voluntário no Exército. Ali chegou a corneteiro, recebendo o apelido de Bico de Aço. Permaneceu no Exército durante dez anos.
No Rio de Janeiro, com sua sanfona Homes 80 baixos, em companhia de um casal com que fizera amizade, e que lhe deu moradia, tocava e ganhava alguns trocados. Ali teve contato com o acordeonista mineiro, Antenógenes Silva, o mais famoso da época, que lhe deu algumas aulas. Depois foi motivado a tocar músicas da região natal. Relutando a princípio, pois achava que este tipo de música era específico para o fole, compôs Vira e Mexe, com a qual ganhou o primeiro lugar no programa de calouros do famoso compositor mineiro Ary Barroso. O paraibano Zé do Norte levou Luiz para participar do programa “A Hora Sertaneja”, numa rádio.
Luiz Gonzaga sentiu que fazia parte de um novo mundo quando, acompanhado por Garoto ao Violão, foi convidado para gravar quatro músicas, sendo três de sua autoria: Maria Serena, Véspera de São João e Vira e mexe. Daí para frente, ele passou a gravar apenas como instrumentista, sendo suas canções gravadas por outros cantores, até fazer parceria como o letrista Miguel Lima. Para cantar suas músicas, Luiz Gonzaga ameaçou deixar sua gravadora, se ela não concordasse.
A parceria de Luiz Gonzaga com o cearense Humberto Teixeira, embora efêmera, trouxe grande sucessos. Ao ser contratado pela poderosa Rádio Nacional, grandes artistas passaram a gravar suas músicas, desde Emilinha Borba a Ivon Cury. E à medida que crescia o seu sucesso, o número de parceiros e de fornecedores de repertório aumentava. Mas Zé Dantas foi o mais importante dos parceiros, pois, além se ser um estudioso da cultura regional, era fã do trabalho de Luiz Gonzaga.
Uma dúvida para muitos é saber se Gonzaguinha é filho ou não de Luiz Gonzaga. O que se sabe é que o artista nordestino viveu com a cantora Odaleia Guedes dos Santos, que morreu jovem em decorrência da tuberculose. Luiz Gonzaga registrou o filho da cantora como Luiz Gonzaga Junior. Mas as biografias de Gonzagão relatam que ele teria confessado ser estéril. Após a morte da mãe, o filho ficou sendo criado pelo casal Xavier e Dina. Luiz Gonzaga casou-se depois com Helena das Neves Cavalcanti, adotando o casal uma menina de nome Rosa Maria.
Com a chegada da bossa-nova, o antigo dá lugar ao novo, como se ambos não pudessem viver harmoniosamente. Mas com o tropicalismo, Luiz Gonzaga voltou à tona, sendo acompanhado por seu aluno e sucessor, José Domingos de Moraes (Dominguinhos). Em 1968, ele incluiria seu filho Gonzaguinha como parceiro, e com que vivia em conflito, pois, para muitos, Gonzagão era um adulador dos poderosos, enquanto Gonzaguinha era um dos autores mais censurados da época da ditadura.
Ao fazer parceria com o pernambucano João Silva, Luiz Gonzaga voltou a produzir grandes sucessos. Morreu em 1989, aos 77 anos, em meio a uma agenda cheia de shows.
Segundo análise de Tárik de Souza, jornalista de música:
Gonzaga alterou os paradigmas da nordestinidade, ante uma classe média preconceituosa contra os “cabeça-chatas”, como eram então denominados pejorativamente os imigrantes da região. E, ao mesmo tempo, sintonizou a música com uma cultura que já pulsava na literatura retirante de autores como Graciliano Ramos, José Lins do Rêgo e Rachel de Queiroz. Um cenário mítico de Lampião a Paim Cícero, antecipado no épico “Os Sertões” de Euclides da Cunha.
Nota:
Acessem o link abaixo para ouvirem Asa Branca
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Fonte de Pesquisa:
Raízes da Música Popular Brasileira/Coleção Folha de São Paulo
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Lu,
Existem vários talentos da música que não são reconhecidos. Gonzagão chegou lá com muito trabalho e vencendo preconceitos relacionados ao povo de cabeça chata.
Quando escuto Luis Gonzaga lembro-me da cidade de Machacalis de 1965 a 1967. Em frente à padaria tinha um alto falante, que tocava todos os sábados músicas desse grande artista e a preferida era “Súplica Cearense”. Eu considero essa música como um hino nordestino.
Abraço,
Devas
Devas
Pesquisar sobre as raízes da MPB tem sido de grande valia para mim.
É interessante notar como esses artistas dedicavam-se à arte com todo o coração, sem se preocupar com o retorno financeiro.
Continue vendo a série.
Luiz Gonzaga abriu as portas para a música nordestina.
Abraços,
Lu