Autoria de Lu Dias Carvalho
Espírito irrequieto, o que seu jeito de falar sempre rápido e vivo apenas indicava, Sílvio Caldas não se contentou com a vida artística. Foi boêmio, bebeu e fumou até o fim da longa vida, foi dono de casas noturnas, era exímio cozinheiro, pescador e gostava de fazer viagens algo aventureiras. (Hugo Sukman, escritor e crítico musical)
O cantor, compositor, ator e apresentador de rádio e TV Sílvio Antônio Narciso de Figueiredo Caldas nasceu na cidade do Rio de Janeiro/RJ, no ano de 1908, numa família musical de 15 irmãos. O pai, Antônio Caldas, era proprietário de uma pequena loja de instrumentos musicais e também afinador, além de compor serestas. O irmão de Sílvio, Murilo Caldas, também foi cantor profissional.
Silvio Caldas, que cantava desde criança, iniciou sua carreira musical cantando samba, gênero que deixaria de ser regional para se transformar em música nacional. Sua estreia deu-se na Rádio Mayrink Veiga, em 1927. Ele criou uma cadência especial. Era dono de grande clareza na pronúncia das palavras e na divisão rítmica, afinação e romantismo, o que chamava a atenção dos compositores daqueles tempos, dentre eles estava Ary Barroso, que levou Sílvio Caldas para cantar no Teatro Recreio, onde também cantavam Francisco Alves e Carlos Galhardo. O samba Faceira foi o primeiro grande sucesso do cantor, em disco.
O teatro musical foi muito importante para a careira artística de Sílvio Caldas. Naquela época, o rádio ainda estava nascendo e a indústria fonográfica ainda em ascensão. Era o teatro musical de revista que trazia popularidade aos grandes compositores e intérpretes. Sílvio foi responsável por lançar grandes clássicos de Ary Barroso, como Maria e Velho Realejo, de Custódio Mesquita e Sady Cabral, Deusa de Minha Rua, de Jorge Faraj e Newton Teixeira, entre outros.
Sílvio Caldas era um boêmio assíduo da noite carioca. Tornou-se amigo de Orestes Barbosa, poeta popular, jornalista e letrista, que vivia próximo dos grandes compositores e cantores que frequentavam o Café Nice, formando uma parceria com ele. Em quatro anos, os dois comporiam cerca de 14 serestas, sendo Sem Você a primeira delas, gravada por Aurora Miranda (irmã de Carmem Miranda). O clássico Quase Que Eu Disse foi gravado por Sílvio e fez parte da trilha sonora do filme de Humberto Mauro, Favela dos Meus Amores, no qual o cantor trabalhava como ator, interpretando o malandro Zé Carioca. Recebeu o título de O Seresteiro do Brasil.
O artista Sílvio Caldas sempre fez sucesso quer no samba ou na seresta (nome genérico dado às valsas, modinhas e canções queixosas). A música de carnaval, Pastorinhas, de Noel Rosa e Braguinha, lançada por ele, faz sucesso até hoje. O cantor era sucesso em qualquer gênero musical, sendo também um excelente compositor, ao lado de Orestes Barbosa. Uma das composições da dupla, do gênero seresta, na voz do próprio Sílvio Caldas, continua atravessando os tempos: Chão de Estrelas, já gravada mais de cem vezes. O poeta Manoel Bandeira encantou-se com o verso “tu pisavas nos astros distraída”, elegendo-o como o mais belo da língua portuguesa.
Mas Sílvio Caldas não ficou apenas nos chamados compositores da Era de Ouro. Também gravou canções mais atuais como Poema dos Olhos da Amada, de Vinícius de Moraes e Paulo Soledad, Viva Meu Samba e Pistom de Gafieira, de Billy Blanco, entre outros. É tido como um dos cinco maiores cantores da conhecida Era de Ouro da Música Popular Brasileira, ou seja, um cantor da melhor qualidade.
Sílvio Caldas morreu aos 90 anos, em 1998, de insuficiência respiratória.
Nota
Cliquem no link abaixo para ouvirem Chão de Estrelas:
http://www.youtube.com/watch?v=wvSsOpA7jm4
Fonte de pesquisa:
Raízes da Música Popular Brasileira/ Coleção Folha de São Paulo
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LuDias
A época do romantismo foi e será sempre o auge de todos os artistas. Na música, para mim é imperativo. Música que não se embala no romantismo não tem graça: é um fio melódico que não mexe com nossos sentimentos e não atinge o nosso coração, não sentimos o sublime que a arte pode nos legar.
Sílvio Caldas era um representante do romantismo. Foi seresteiro, que encantou gerações e até hoje, para aqueles que apreciam a boa música, não perdeu e nunca perderá o seu encanto.
Meu pai, além de Francisco Alves, adorava as músicas cantadas por Silvio Caldas. Passava horas, na vitrola da casa de meu avô, ouvindo os vinis que nos deixavam sempre ali dentro do sublime.
Chão de Estrelas, para mim, também foi uma das músicas maravilhosas que ele compôs e cantou de forma emocionante. No vídeo abaixo, ele canta com Elisete Cardoso, outra deusa de nossa música romântica:
https://www.youtube.com/watch?v=95YMGb8ExBk
Adorei seu texto. Sílvio foi o cantor que muito admirei em minha infância e juventude.
Ed
É interessante acompanhar a trajetória da MPB.
Os compositores e cantores românticos foram expulsos pela bossa-nova e pela tropicália.
Mas, como tudo é cíclico, penso que logo estarão de volta, pois ninguém está aguentando a porcariada que anda por aí.
Abraços,
Lu