SÃO, SÃO PAULO MEU AMOR

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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O IV Festival da TV Record aconteceu em 1968. Das mais de mil músicas inscritas, 36 seriam escolhidas como semifinalistas. Além do júri oficial foi criado também um júri popular, a pedido dos compositores, portanto, haveria duas premiações.

Amedrontados com as vaias, muitos intérpretes antigos como Hebe Camargo, Agnaldo Rayol e Roni Von recusaram-se a participar. O que deu oportunidade a uma nova leva de cantores, dentre os quais se destacava Gal Costa. Outro problema a ser contornado era a censura às letras das canções, imposta pela ditadura militar, obrigando os compositores a negociar “palavras”.

As 36 músicas, divididas em duas apresentações de 18+18, transcorreram sem incidentes e vaias, quando apresentadas ao público, mas ainda não se encontravam em julgamento. Os organizadores estavam achando o clima tão chocho que sentiram saudades das vaias de outros festivais. Mas ainda não eram as eliminatórias. Eles não perderiam por esperar.

A primeira eliminatória trouxe 12 concorrentes. Tudo transcorreu na maior calmaria. Até demais! Mas na 2ª eliminatória o clima mudou. Elza Soares levantou a plateia com Sei Lá Mangueira (Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho). Divino, Maravilhoso (Gilberto Gil e Caetano Veloso) interpretada por Gal Costa também foi muito aplaudida. Na terceira eliminatória o clima pegou fogo, com direito a sopapo e xingamento entre os que defendiam a concorrente tradicional, representada pelo samba, e os que eram a favor da revolucionária, representada pelo tropicalismo. Martinho da Vila conquistou a plateia com o samba partido-alto Casa de Bamba. Por sua vez, Tom Zé foi aplaudido de pé ao apresentar São, São Paulo Meu Amor. Não houve euforia por parte da plateia quando Chico Buarque cantou Benvinda. E assim foram escolhidas as 18 músicas que iriam para a final.

Tom Zé e Gal Costa eram os cantores mais aplaudidos daquele festival. O prêmio seria dividido entre os seis primeiros classificados, por cada um dos júris. Se o compositor tivesse a sorte de estar presente na lista dos dois júris, ganharia em dobro. Haveria também outros prêmios.

Na grande final, São, São Paulo Meu Amor foi a sétima a ser apresentada. Por ali passaram Chico Buarque, cantando Benvinda, Milton Nascimento defendendo Sentinela, Taiguara interpretando A Grande Ausente, Os Mutantes cantando 2001, Gal Costa defendendo Divino, Maravilhoso, entre outros.

Assim ficou o resultado, levando em conta os dois júris, em que três canções foram duplamente premiadas.

Júri Oficial
6 – Benvinda (Chico Buarque)
5 – Dia da Graça (Sérgio Ricardo)
4 – 2001 (Tom Zé e Rita Lee)
3 – Divino, Maravilhoso (Gil e Caetano)
2 – Marta Saré (Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri)
1 – São, São Paulo Meu Amor (Tom Zé)

Júri Popular
6 – A Grande Ausente (Francis Hime e Paulo César Pinheiro)
5 – São, São Paulo Meu Amor (Tom Zé)
4 – Bonita (Geraldo Vandré e Hilton Acioly)
3 – A Família (Ary Toledo e Chico Anísio)
2 – Marta Saré (Edu Lobo e Guarnieri)
1 – Benvinda (Chico Buarque)

A plateia ficou satisfeita com a colocação do Júri Oficial, o que realmente foi levado em conta pela mídia.

Sei Lá Mangueira, de Hermínio e Paulinho da Viola, não se classificou entre as seis de nenhum dos júris, mas se transformou num grande sucesso. Anos depois, Paulinho cantou sua amada Portela em Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida. E Martinho da Vila iniciou aí sua carreira de sucesso com Casa de Bamba, mesmo sem ter sido classificada.

Conheçam agora a letra e ouçam a música finalista do IV Festival da Record:

São, São Paulo
Autor: Tom Zé
Intérprete: Tom Zé

São, São Paulo meu amor
São, São Paulo quanta dor
São oito milhões de habitantes
De todo canto em ação
Que se agridem cortesmente
Morrendo a todo vapor
E amando com todo ódio
Se odeiam com todo amor
São oito milhões de habitantes
Aglomerada solidão
Por mil chaminés e carros
Caseados à prestação
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
São, São Paulo
Meu amor
São, São Paulo
Quanta dor
Salvai-nos por caridade
Pecadoras invadiram
Todo centro da cidade
Armadas de rouge e batom
Dando vivas ao bom humor
Num atentado contra o pudor
A família protegida
Um palavrão reprimido
Um pregador que condena
Uma bomba por quinzena
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
São, São Paulo
Meu amor
São, São Paulo
Quanta dor
Santo Antonio foi demitido
Dos Ministros de cupido
Armados da eletrônica
Casam pela TV
Crescem flores de concreto
Céu aberto ninguém vê
Em Brasília é veraneio
No Rio é banho de mar
O país todo de férias
E aqui é só trabalhar
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
São, São Paulo
Meu amor
São, São Paulo

Fontes de pesquisa
A era dos festivais/ Zuza Homem de Mello
Uma noite em 67/ Renato Terra e Ricardo Calil
Chico Buarque/ Wagner Homem

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2 comentaram em “SÃO, SÃO PAULO MEU AMOR

    1. LuDiasBH Autor do post

      José Luiz

      Não se faz música como antigamente. O nosso atual cenário musical está terrível.

      Abraços,

      Lu

      Responder

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