TERRA: NOSSA MINÚSCULA NAVE

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Autoria do Prof. Rodolpho Caniato

Talvez a maior grandeza do homem esteja na sua capacidade de entender e admitir sua pequenez e insignificância diante do tamanho e majestade do Universo.

Encerradas todas as tarefas com nosso pequeno rebanho, subimos para nossa casa que ficava no alto da colina. Com os relâmpagos da noite chuvosa podiam-se ver muitas casas da vizinhança, situadas ao longo do vale dos Fernandes, próximo à estaçãozinha de Corrupira. Ao entrar em casa, uma última olhada pelo vale revelou que ainda havia algum sinal de luz na casa de meu avô paterno, que ficava a uns quinhentos metros da nossa. Ele fustigava e sacudia um velho rádio de grandes válvulas que havia trocado por uma égua chamada “Piranha” e, que era alimentado pela eletricidade gerada numa mini-hidrelétrica, cuja construção caseira eu acompanhara.

Aquele rádio produzia muito mais silvos, chiados, “pipocas” e “estática” em “ondas curtas” que qualquer coisa entendível. Era uma tentativa de conseguir algum fragmento de notícia da guerra que se desenrolava na Europa. No dia seguinte ficamos sabendo do ataque japonês a Pearl Harbour. Com isso, os Estados Unidos entravam na segunda “Grande Guerra” que passava a ser mundial, estendendo-se à Ásia e ao Pacífico. De um lado agora estavam os “Aliados”, com os Estados Unidos, e do outro o “Eixo”, também chamado de RoBerTo, de Roma Berlim e quio. Estávamos em dezembro de 1941 e eu ainda completaria 12 anos.

Bem mais tarde, eu já adulto, a mesma experiência seria por mim evocada (texto SOLIDÃO E AMIZADE EM MEIO À TORMENTA), e me ajudaria a compreender a angústia da solidão e a importância confortante da amizade, da companhia e da solidariedade. Quando comecei a estudar Astronomia, fui me dando conta da esmagadora solidão em que nos encontramos, vagando pelo espaço em nossa minúscula “nave”, o nosso planetinha Terra.  Na medida em que nos conscientizamos de nossa pequenez, de nossa insignificância e isolamento, somos invadidos por uma forte sensação de solidão e impotência. Isso é inevitável, na medida em que compreendemos as distâncias astronômicas, a pequenez e a fragilidade da Vida em sua história sobre nosso planeta. Acredito ser essa assustadora vertigem do caráter efêmero e insignificante da Vida que faz com que as pessoas busquem refúgio nas religiões.

É assustador aceitar a simples mortalidade do homem, como nos demais seres vivos. A solidariedade, as amizades e o amor podem mitigar nosso medo de findar para sempre.  Daí nossa “necessidade” de criar “outras” vidas no “outro mundo”. A consciência de nossa real pequenez sobre a Terra pode nos ajudar a perceber a importância da solidariedade para diminuir nossa solidão.

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4 comentaram em “TERRA: NOSSA MINÚSCULA NAVE

  1. Celina Telma Hohmann

    Prof. Caniato

    É instigante imaginar o que leva um ser tão envolvido com lembranças e emoções decidir-se pelo estudo da Astronomia. Fico cá com meus botões imaginando que seja pela maravilhosa expectativa em tentar decifrar o que de tão lindo nos cerca. nesta “Nossa minúscula nave…”. O olhar as estrelas, descobri-las, tentar decifrar esses magníficos e maravilhosos corpos celestes que nos rodeiam, e, talvez, rindo de nossa pequenez perante eles, enquanto permanecem iluminando nossa inquietação. Será isso? Mesmo que não seja, é fascinante! Temos o “nosso mundo”, o mundo que nos foi cedido graciosamente e tão ricamente perfeito e nossas inquietações. As respostas são sempre uma gostosa brincadeira de esconde-esconde. Temos a pergunta, sempre. A resposta exige que a busquemos e, quando a temos, nem sempre sabemos se é a correta. Ao estudioso da astronomia a resposta é diferente da nossa, dos que só veem os astros nos instantes dos sonhos, das perguntas mais íntimas e no romantismo necessário a que consigamos o equilíbrio entre somente ser um transeunte, passageiro acidental ou parte dessa magnífica e perfeita “nave”!

    Não sou religiosa fiel. Passeio pelas perguntas dos porquês, descansando na necessidade de crer que há um Força Maior, Criadora, que nos rege, comanda, cuida e que nos deu este espaço para aprendizagem. Aprenderemos se tivermos aptidão além da lógica, e aí entra a necessidade de crer, sinceramente, que não somos mais que minúsculos seres comandados por um Ser Maior. Não existiria razão para tantos desacertos, se não houvesse, ao final, uma recompensa. Entro aí com minha crença. Sim, há o Criador e Ele, dentro da minha pequenez e solidão humana é o que me mantém, ou tudo, absolutamente tudo, seria uma terrível passagem inútil por uma Terra que linda, ainda assim, faz brotar a dor, a maldade e se fosse somente isso, a nossa nave não seria azul, com retoques de tanto verde e a luminosidade de um Sol que nos é generosamente doado e resplandecentemente dourado!

    Tão vasto nosso planeta e tão pequeno nosso conhecimento do que nos rodeia, nos espera, nos tem para nos presentear, além do que vemos e sentimos. Temos a incógnita do que há para além. Mistérios e mistérios atraem, mesmo que amedrontem. Uma louca e gigantesca busca por respostas que não vêm, talvez porque sejamos pequenos demais para compreendê-las. Sinto-me assim em grande parte da minha vivência: pequena em sabedoria, mas na contrapartida de grande em buscas pelo que sei, não saberei, ao menos por ora!

    Um belo texto! Lembranças, histórias reais e aquela singular espalhada de motivos para pensar. Eis o “nosso professor que decifra estrelas”! O Pequeno Príncipe que em guerra violenta, sobrevoa os céus. Foi-se esse, sem que deixasse claro para onde e como foi, mas deixou-nos um professor, contador de história e que busca, como ele, inundar-nos de ternura e busca por verdades veladas.

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  2. Maria Tereza Alaggio

    Professor Rodolpho

    Seus textos são lindos, feitos para ler e reler.

    A “angústia da solidão” retrata a incompletude que o homem sente, diante dos mistérios do Universo. Em suas palavras vejo a simplicidade(é difícil ser simples) e a profundidade das idéias.Parabéns!

    Um Adendo:
    Prof. Pierre,seja bem-vindo! Já disse tudo! Repito o velhíssimo clichê “não passamos de um grão de areia diante de um Universo que não conseguimos decifrar.”

    Abraços aos dois.

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  3. Pierre Santos

    Lindo texto, Prof. Rodolfo, e muito oportuno. Creio que todos temos noção de nossa insignificância em face do Universo infinito e sempre, vai assunto, vem assunto, ficamos revolvendo lá dentro, com angústia, com terror, esse tema, perguntando: “o que será de mim, o que será de todos nós, após a morte?” O desconsolo é que ninguém jamais voltou para contar. Afinal, meu caro Professor, o que será de nós, de nossa consciência, de tudo quanto aprendemos, de tudo quanto sabemos, depois que a morte levar-nos? Temos a ciência das coisas, temos o pensamento, que não dependem do mortal cérebro, mas estão lá dentro dele. Será que lhe subsistem? Será que há “algo” propício para recebê-los? Ah, pobres seres humanos angustiados que somos!

    Gostei, Professor, de seu texto!

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  4. LuDiasBH Autor do post

    Prof. Rodolpho Caniato

    Confesso que diariamente reflito sobre o que descreve:

    “Na medida em que nos conscientizamos de nossa pequenez, de nossa insignificância e isolamento, somos invadidos por uma forte sensação de solidão e impotência. Isso é inevitável, na medida em que compreendemos as distâncias astronômicas, a pequenez e a fragilidade da Vida em sua história sobre nosso planeta.”.

    O que mais me assusta diante de tudo isso é a ganância humana, entra século e sai século. Será que o homem não aprenderá nunca que sua vida neste planeta é fugaz? Ou seria apenas uma maneira, ainda que inconsciente, de achar que os bens materiais ampliarão seu tempo de vida? Ainda que, sob certo ângulo, o dinheiro propicie melhor alimentação e tratamento de saúde, ou seja, melhor qualidade de vida e, em alguns casos, maior longevidade, a sua exorbitância não tem razão de ser. Jamais poderei compreender os Cunhas da vida.

    Abraços,

    Lu

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