Se pensarmos no homem primitivo, esse vai construir a casualidade das doenças diretamente ligada às divindades: sejam deuses ou demônios. Achavam que as doenças ocorriam como forma de punição, tanto que ofereciam oferendas para acalmar a “ira” dos deuses. (Dr. Pérsio Ribeiro Gomes de Deus)
O psiquiatra e mestre em Ciências das Religiões, Dr. Pérsio Ribeiro Gomes de Deus, especializado nas relações entre religiosidade e saúde, chama a atenção para o fato de que “antes de a psiquiatria ter reconhecido os estados da bipolaridade, por exemplo, podemos encontrar inúmeros relatos desta forma de doença, como a que está escrita na Bíblia com respeito ao Rei Saul de Israel que alternava períodos de extrema depressão e períodos de euforia, inclusive com ideias paranoides. Davi, o salmista, era chamado para, com sua música, acalmar os períodos de tristeza do rei Saul”.
Não ficou totalmente no passado a ideia de que a doença, principalmente as mentais, era um castigo dos deuses. Até hoje é possível deparar com pessoas mal informadas que ainda pensam assim, pois tal visão exerceu influência sobre todo o pensamento judaico cristão, sendo propagada com intensidade. A própria Bíblia, na parte referente aos Salmos de Davi, reforça a ligação entre pecado e doença, como afirma o salmo 31: “compadece-te de mim, Senhor, porque me sinto atribulado; de tristeza os meus olhos se consomem, e a minha alma e o meu corpo. Gasta-se a minha vida na tristeza e os meus anos em gemidos, debilita-se minha força, por causa dos meu pecado”.
A ligação entre pecado e doença, principalmente as de origem mental, somente veio a amainar depois do Renascimento, quando foram redescobertos os ensinamentos de Hipócrates, referentes a cerca de 400 anos a.C., período em que esse mestre grego já empregava termos como “mania” e “melancolia”, ao descrever fases de alterações de comportamento. Os estudiosos da época começaram a perceber que a doença poderia não ser de procedência espiritual como imaginavam. Foi a partir desse momento que nasceram as bases do desenvolvimento da medicina atual para o bem da humanidade.
O avanço da Ciência no estudo dos transtornos mentais foi tornando a ligação entre pecado e doença cada vez mais obsoleta. Infelizmente, ainda em pleno século XXI, é possível encontrar religiões que persistem em reafirmar tal ligação, no intuito de prender seus fieis pelo temor, principalmente de olho no “dízimo”. Há inclusive dirigentes religiosos que impedem até mesmo o uso de medicamentos e de tratamentos psicoterápicos sob a alegação de que “quem cura é a fé em Deus”. Quem quiser ter uma amostragem de tal atemorização e falta de conhecimento (ou até maldade mesmo) basta assistir a certos programas religiosos pela televisão ou pelo rádio. Trata-se de um caso de polícia que deveria ser coibido com rigor, pois tais comportamentos atingem principalmente as pessoas mais humildes. Em vez de ajudá-las a minorar o sofrimento ocasionado pelo transtorno mental, algumas religiões agigantam-no sem dó ou piedade, no intuito de gerar lucros com a miséria do outro.
Nota: A Crucificação, obra do artista espanhol Pablo Picasso.
Fonte de pesquisa
Grandes Temas do Conhecimento – Psicologia/ Mythos Editora
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Lu
Este é um assunto polêmico e dá muito pano pra manga.
Há que se identificar prioritariamente o grau do transtorno. E catalogá-lo. Para depois ver, de acordo com os tratamentos disponíveis, quais terapias serão empregadas visando atenuar, combater ou eliminar definitivamente o transtorno. É um trabalho para a ciência. Mas ressuscitar no paciente a confiança no seu eu interior, de onde nascem as seguranças para equilibrar de novo a mente frente às diversidades, perdas, frustrações e desafios, a despeito das falácias tendenciosas de pseudos religiosos, com certeza absoluta tanto a fé como a meditação já contribuíram eficazmente para isso, além de amenizarem sintomatologias, crises e surtos.
A mente humana é o campo onde se dá a concentração maciça das decisões e estímulos dos nossos sentidos e emoções. E como é presumível diante de quaisquer problemas, as medidas preventivas deveriam ser adotadas nos casos menos graves, pois há as tipificações crônicas congênitas. E que envolvem basicamente uma regra bem compensadora para se manter mentalmente saudável e estável psicologicamente: agir, falar e pensar de forma simples, mudando as coisas que se quer e se pode mudar; e tendo a devida paciência para analisar e aceitar igualmente as coisas que englobam dispêndios complexos de energias físicas e mentais. Avaliando com humildade se o enquadramento da respectiva capacidade humana corresponde àquelas demandas. E convir que a vida tem situações irreversíveis, que fogem completamente ao arbítrio. As chamadas verdades imutáveis. Que por mais que se lute contra elas, mais elas se solidificam, em contrapartida à insignificância humana que vai sendo demonstrada pela vastidão do tempo que a desgasta e consome.
Se nosso cérebro criar esses mecanismos de defesa, então a mente humana fluirá leve para uma convivência fraterna com as pessoas a partir da espontaneidade do riso, da graça, das brincadeiras, das alegrias. Porque quanto mais compactado e enrijecido ficar o cérebro, mais sisudas e tensionadas ficam nossas células e nossos neurônios, liberando com isso gases tóxicos que nos envenenam. Por outro lado, quando há o relaxamento do sorriso e do semblante sereno, a aceitação de que somos imperfeitos, cheios de falhas mesmo e propensos ao erro, então o corpo agradece. E recebe o combustível para uma mente capaz de aguentar solavancos e impactos, sem sequelas. Já aos episódios graves congênitos resta os antídotos dos alopáticos.
Ugeninelson
Seu sábio comentário dispensa qualquer adendo. Gostaria de destacar sua frase:
“Mas ressuscitar no paciente a confiança no seu eu interior, de onde nascem as seguranças para equilibrar de novo a mente frente às diversidades, perdas, frustrações e desafios, a despeito das falácias tendenciosas de pseudos religiosos, com certeza absoluta tanto a fé como a meditação já contribuíram eficazmente para isso, além de amenizarem sintomatologias, crises e surtos.”.
Um grande abraço,
Lu
Lu
No meu ponto de vista a religião é uma grande aliada no tratamento de qualquer doença, contanto que não afete o tratamento medicamentoso. Se é algo que a pessoa gosta e que lhe trás alívio é o que importa. Eu mesmo não sou nem um pouco religioso, já tentei, já tentei rezar, orar, falar com Buda, com Jesus, com Deus, com Odin, até com Deus da Índia de 4 braço, mas não combina comigo, sou uma pessoa que busca muitas respostas, sempre tenho muitos “porquês” que me fazem duvidar de tudo. O problema que vejo mesmo na religião é que divide muito as pessoas, gera muitas brigas desnecessárias. É cada um querendo que o outro siga a sua religião, sem respeito algum.
As pessoas têm que desejar felicidade e não ver o próprio reflexo em outros rostos, nem tudo que nos faz feliz traz o mesmo sentimento a outras pessoas. A única coisa que mutuamente deixa todo mundo feliz é o respeito. Existem diversos líderes religiosos famosos no Brasil (não vou citar nomes para não criar discórdia) que já fizeram coisas extremamente ridículas para ganhar dinheiro dos pobres seguidores. Um deles vendeu uma toalha prometendo que se a passasse na porta do banco, as dívidas sumiriam, depois disse ter levado uma facada e que seu sangue era abençoado, vendeu pedaços de uma suposta camisa que usava no momento do ataque, suja de sangue obviamente, e disse que se passassem aquela camisa em qualquer pessoa doente, ela iria receber a cura. É mole?
Lucas
Você está corretíssimo em sua maneira de pensar. Sua frase brilhante resume todo o que gostaria de dizer:
“A única coisa que mutuamente deixa todo mundo feliz é o respeito.”.
Abraços,
Lu
Lu,
espero encontrá-los em perfeita paz e harmonia.
Creio que a doença x pecado sejam realmente uma categoria do passado, porém sou amostra viva e curada que, em conjunto com o tratamento psicológico, medicinal e muita fé em Cristo, através do estudo e compreensão do evangelho, alcancei resultados que surpreenderam inclusive à psiquiatra e à psicóloga. Ou seja, talvez a doença x pecado seja uma ignorância, mas a DOENÇA X ESPIRITUALIDADE, pode ter certeza que se encontram e, na cura da alma encontramos a nossa cura existencial. Logo, cuidar da alma e se equilibrar nos leva a ser preenchidos por uma presença divina, posso falar que a minha foi em Cristo, e que na sequência psicomatizamos a cura do corpo e da mente! Nossa reforma íntima, mudança de hábitos, pensamentos e ações mudam completamente nossa qualidade e objetivo de vida. Reforço, essa não é minha tese, é meu testemunho de vida!
Abração!
Daniel
Pesquisas mostram (e eu já apresentei aqui um texto sobre o assunto) que a fé é capaz de fazer mudanças profundas na alma e no corpo. Ninguém nega isso. A fé promove uma mudança interior que reflete em todo o organismo, trazendo-lhe grandes benefícios, pois toda mudança só pode ser feita de dentro para fora. O que combatemos é o tratamento dado por certas religiões e seitas às doenças mentais (exclusivamente às doenças mentais). Elas aceitam que o indivíduo tenha câncer ou hipertensão, por exemplo e faça tratamento, mas não aceitam que ele sofra de um transtorno mental, vendo nisso a “falta de Deus”, o que é um absurdo. A Ciência combate esta visão estereotipada, retrógrada e preocupante de que o cérebro não adoece. Vou lhe dar um exemplo: conheci uma pessoa com problemas mentais (era bipolar) que foi impedida pelo pastor de sua igreja de tomar medicação alopática e, num surto, ela tirou a própria vida. E daí? Hoje o cara responde processo, mas ninguém repõe uma vida.
A espiritualidade age fundo nas doenças do corpo e da alma. Exemplo disso é o poder da meditação, comprovado pela medicina. Toda e qualquer “reforma íntima, mudança de hábitos e de pensamentos” (usados positivamente) mudam totalmente a vida do indivíduo para melhor. Como disse, toda e qualquer mudança só poderá vir de dentro para fora, pois não adianta uma maquiagem exterior. Sua tese já foi comprovada pela Ciência.
Abraços,
Lu
Lu,
faço tratamento para transtorno mental e também frequento uma igreja, acho que as duas ajudas foram muito bem-vindas. Ninguém me condenou por tomar medicamentos. Porém, como você mesma disse, existem algumas instituições religiosas que mentem para os portadores de transtornos mentais, fazendo-os piorar ainda mais, isso é muito triste.
Sabrina
É triste e lamentável. Mereciam cadeia tais irresponsáveis e avaros. Ainda bem que sua Igreja é séria. Já tive o caso de certo pregador que veio até o blog, tentando induzir as pessoas com o papo de “pecado”, mas cortei-lhe o barato, pois este espaço é muito sério.
Beijos,
Lu
Lu
A doença mental ainda é vista como espiritual por alguns. Eu mesma já me deparei muito com isso. A ideia de “mediunidade” e não doença também é muito real. Tem pessoas que te dizem: “Isso é mediunidade, você precisa desenvolver!”. Você acredita, tenta e só piora, porque são coisas distintas… Gostaria de um texto seu sobre isso, quando possível.
Beijos e gratidão sempre.
Thaisa
A chamada “mediunidade” é realmente outra tolice que dizem a respeito dos transtornos mentais. Assim como certos “divulgadores” de outras religiões ou crenças, alguns “espíritas” também se deixam levar por essa invencionice. Não sei de onde tiram tanta criatividade. O importante é que nós, portadores de tais transtornos, estejamos bem à frente deles, para não cairmos nessa esparrela.
Beijos,
Lu