Autoria de Lu Dias Carvalho
Até a Baixa Idade Média, a toda poderosa Igreja proibia terminantemente que se olhasse no interior do corpo humano, pois ser algum poderia questionar a perfeição de Deus. E a criação divina não poderia ser destruída ou danificada, para atender a curiosidade de quem quer que fosse, pois o corpo era o templo do Espírito Santo. As autópsias eram, portanto, um tabu. A princípio, elas eram expressamente probidas pela Igreja. Abria-se uma exceção para os reis e papas, para se determinar a causa da morte, muitas vezes por envenenamento. Mas durante o Renascimento houve certo relaxamento por parte dos órgãos religiosos. E foi nessa brecha que Leonardo da Vinci inseriu-se para fazer suas dissecações de cadáveres, para o bem da humanidade. Ainda assim, era preciso ter a permissão da Igreja.
As autópsias só podiam ser realizadas uma vez por ano, nos chamados “teatros anatômicos”, durante os meses frios, pois esses ajudavam na conservação do corpo. Havia uma liturgia toda especial, com caráter quase religioso. O espetáculo durava dias. Os presentes tinham que permanecer sérios e ao médico era vedada a retirada de qualquer órgão. O mais interessante é que uma autópsia era vista como um acontecimento social, quando se expedia convites para os observadores que eram, normalmente, notáveis do lugar, burgueses, estudantes e colegas do sindicato dos cirurgiões. A entrada era paga. O dinheiro arrecadado era usado pelos cirurgiões para pagar o carrasco, responsável por fornecer o cadáver, e o cozinheiro, que preparava a refeição dos presentes.
O pintor Rembrandt pintou a ocorrência de uma autópsia (Vejam Rembrandt – LIÇÃO DE ANATOMIA DO DR. TULP), em 1632, ocasião em que o cirurgião Dr. Nicolaas Tulp dissecou o corpo de um assassino, que morreu enforcado, numa autópsia pública. Dizem que, a época, as pessoas ficaram muito curiosas, pois, finalmente, iria se descobrir “a morada da alma durante a existência humana”, ou seja, presumia-se que a alma estava dentro do corpo humano. Por isso, tal investigação científica só podia ser concebida e permitida, se reafirmasse a onipotência de Deus. Caso contrário, os estudos empíricos sobre o corpo humano, no século XVII, não teriam razão de ser.
Durante a autópsia, o cirurgião formado não tocava no corpo do cadáver. Quem realizava essa função era o cirurgião prático. Tal procedimento tinha a ver com uma postura religiosa, pois se pensava que somente as pessoas muito jovens ou muito simples precisavam de provas palpáveis para conhecer a verdade. Os acadêmicos, homens sábios, já tinham a verdade em seus livros, não sendo necessário “ver para crer”, como no caso de Tomé, na Bíblia, ao querer ver Cristo ressuscitado. Somente o tempo reverteria essa atitude.
Alguém, em sã consciência, poderia imaginar que os tão sisudos cirurgiões pudessem trabalhar como barbeiros naquela época? Pois é isso mesmo! Eles cuidavam de ferimentos leves, membros quebrados, faziam sangrias e, pasme o leitor, faziam barbas e cuidavam dos cabelos, pois somente eles podiam manipular o corpo com as mãos. Mas o pior não era isso. O assustador é que muitos deles jamais se encostaram a um banco de faculdade. Mas fazer o quê? Perdido por pouco, perdido por muito!
Como os médicos daquela época conheciam muito pouco sobre o corpo humano, eles não eram vistos com muita simpatia. Ao contrário, além de possuírem má reputação, poucos acreditavam em seu ofício. Nas peças de teatro, eram o alvo de muitas provocações, o que pode ser visto na Commédia dell’Arte e nas farsas de Moliére.
Nota: a imagem do texto é um quadro do pintor Yiull Damaso que mostra o corpo de Nelson Mandela sendo submetido a uma autópsia, e que foi condenado pelo partido dominante na África do Sul, alegando que “viola a dignidade de Mandela”. A tela mostra o corpo do líder histórico tendo o braço aberto, enquanto líderes proeminentes se juntam à sua volta.
Fontes de pesquisa
Los secretos de las obras de arte/ Taschen
ecopoltico.blogspot.com
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Lu
Ave, Maria! Eu não queria mesmo ter vivido naquela época.
Abraços
Nel
Nel
E nem eu!
Vixe Maria!
Beijos,
Lu
Matê
É incrível ver como o homem e a ciência evoluíram através dos tempos.
A tecnologia na área médica está cada vez mais avançada.
Imagine um cirurgião daquele tempo voltando aos dias de hoje…
Beijos,
Lu
Lu,
foi longo o caminho percorrido pela medicina, até chegar aos nossos dias.
Sem raio X, ultrassom. E a tecnologia de hoje,com ressonância magnética,
transplantes, células tronco, etc.
Abraços
Matê
Olá Lu!
Minha nossa, com tanta ignorância científica, naquela época era melhor não ficar doente.
Abraços!
Cris
Está aí a razão de as pessoas morrerem tão cedo naquela época.
É incrível ver como o homem e a ciência evoluíram através dos tempos.
Abraços,
Lu