Autoria de Lu Dias Carvalho
Quase todos os mesmos provérbios ou semelhantes, ainda que com palavras diferentes, encontram-se em todas as nações; e a razão é que os provérbios nascem da experiência, ou seja, da observação das coisas, as quais são as mesmas ou semelhantes em todos os lugares. (Francesco Guicciardini)
Todas as máximas têm máximas opostas. Os provérbios deveriam andar aos pares, cada um representando uma faceta da vida. (W. Matthews)
Parece-me, Sancho, que não há ditado que não seja verdadeiro, porque todos são observações retiradas da própria experiência, a Mãe de todas as Ciências. (Cervantes)
A sabedoria popular está presente em todas as línguas, sendo expressa através de várias maneiras: provérbios, adágios, sentenças, aforismos, parêmias, apotegmas, anexins, rifões, ditos e ditados populares. É interessante notar como os provérbios foram difundidos através dos tempos: na forma oral, na forma escrita, no espaço local, no espaço nacional e no espaço internacional.
O provérbio apareceu bem antes da história da escrita, sendo transmitido, ao longo dos séculos, através das tradições orais dos mais diferentes povos. A sua existência é tão remota que exemplos de sua existência datam de 2600-2550 a.C. O romancista, dramaturgo e poeta espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616) dizia que os provérbios são frases curtas extraídas da longa experiência. Certo dito holandês de que os provérbios são os filhos da experiência cotidiana corrobora com Cervantes. O idioma ioruba dá ainda uma abrangência maior ao adágio ao exprimir que os provérbios são os cavalos da fala. Portanto, não causa surpresa o fato de estarem presentes em todas as culturas.
Segundo pesquisas, o humanista Erasmo de Rotterdam foi um dos mais conhecidos colecionadores de provérbios. E ele, por sua vez, diz que Aristóteles foi o primeiro a entregar-se a tal tarefa. O filósofo levava sempre um caderno consigo, no qual recolhia os ditos populares. Já mais próximos de nós, Shakespeare e Cervantes também tinham grande admiração pelos provérbios, como mostram suas obras.
Os provérbios expressam, com poucas palavras, conhecimentos adquiridos pela sabedoria popular ao longo dos tempos, através da observação. Eles devem ser analisados sempre dentro de um contexto, para que sejam mais bem compreendidos, pois possuem um uso instantâneo em ocasiões propícias. Trazem em si diversas funções: solucionar um mal-entendido; dar conselhos; ensinar regras para se viver; pôr um ponto final numa discussão; usar de ironia; dar prosseguimento a um diálogo; ou dizer uma verdade que o emissor não quer dizer diretamente ao receptor, mas deseja levá-lo à reflexão.
Num provérbio pode estar embutido:
- um conselho: Em vez de dar o peixe, ensine a pescar;
- um aviso ou previsão: Quem não ouve conselho, ouve coitado;
- uma observação: Em boca fechada, não entra mosca;
- uma afirmação abstrata: A união faz a força;
- uma experiência concreta: Quem planta e cria, tem alegria.
Nos tempos atuais não resta dúvida de que a importância dos provérbios foi reduzida nas culturas onde predomina a escrita, mas eles ainda persistem com força. Estão na Bíblia, no Corão, no Talmude, nos Vedas, nos textos poéticos, políticos ou religiosos. Nas culturas orais os provérbios encontram-se nas citações dos chefes e anciãos que citam seus ancestrais como seus representantes. Eles sempre se iniciam com as palavras: “Como diziam nossos antecipados…”. Essas pessoas são respeitadas e admiradas pelo vasto conhecimento de provérbios que detêm, sabendo utilizá-los no momento necessário.
É fantástica a capacidade que os provérbios populares possuem ao condensar numa pequena frase uma grande dose de sabedoria popular. A universalidade das mensagens que muitos desses provérbios encerram é outra característica interessante. É possível encontrá-los, com o mesmo sentido, nas mais diferentes culturas e línguas, o que torna muito difícil conhecer a origem de cada um deles. Os provérbios demonstram o quanto as culturas em todo o mundo possuem em comum, embora exista a ideia de que são as diferenças que as concebem.
É fato que os provérbios também contradizem entre si, pois, assim como a vida é cheia de contradições, eles não poderiam omitir a dualidade. O emissor faz uso desse ou daquele provérbio de acordo com o contexto em que se encontra inserido num determinado momento. São as circunstâncias as responsáveis pela escolha do provérbio, de modo que cada um puxa brasa para a sua sardinha. A exemplo de: “Deus ajuda quem cedo madruga” / “Mais vale quem Deus ajuda do que quem cedo madruga”.
Fontes de pesquisa:
Provérbios e Ditos Populares/ Pe. Paschoal Rangel
A Sabedoria Condensada dos Provérbios/ Nelson Carlos
Nunca se Case com uma Mulher de Pés Grandes/ Mineke Schipper
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Lu, gostei muito da nova categoria sobre ditos populares. São espirituosos, engraçados, e cada um deles traz muita sabedoria e nos ensina muitas coisas. Por exemplo, GUARDADO A SETE CHAVES: mostra-nos que segredo é só de uma pessoa, mais de uma é multidão. A EMENDA FOI PIOR QUE O SONETO: certas coisas é melhor ficarem como estão, para não correrem o risco de piorar, ou virar tudo uma tragédia sem concerto. O PUXA – SACO sempre existiu e continuará a existir. A política é o meio com mais puxa-saco. Bajular, adular, puxar o saco faz parte da vida de gente que já quer subir na vida, mesmo sem nenhum mérito.
Marinalva
Eu amo os ditos populares, pois trazem uma grande sabedoria em poucas palavras. Nós os usamos a todo momento, mesmo sem perceber. Espero trazer muitos para o nosso espaço.
Abraços,
Lu