Segundo a Ilíada, obra atribuída a Homero, poeta épico da Grécia Antiga, Tétis, a mãe de Aquiles, queria que o filho se tornasse imortal – coisa de mãe coruja. Para que isso acontecesse, ela teria que se dirigir ao todo poderoso rio Estige, cujas águas tinham o poder de trazer imortalidade aos pobres mortais.
Dona Tétis dirigiu-se ao rio Estige com a sua pequena cria e ali mergulhou todo o corpinho da criança – de cabeça para baixo – segurando-o pelo calcanhar, enquanto o pirralho botava a boca no mundo, imagino eu, pois a maioria dos bebês não é chegada a receber água nos olhos e ouvidos. Esqueceu-se, porém, a zelosa mãe de também molhar o calcanhar do pequenino.
Aquiles ficou com o corpo todo invulnerável, excetuando o calcanhar, parte essa que seria a sua perdição no futuro. Contudo, penso que todo o pezinho do bebê ficou vulnerável. Teria sido impossível segurá-lo pelo calcanhar, não molhá-lo, mas molhar o pé, não é mesmo? Pelo visto, tratava-se apenas de um dos calcanhares, ficando o outro dentro da água. Que posição estranha para mergulhar a criança!
Já homem feito (ou seria semideus?), ao participar da Guerra de Troia, Aquiles levou uma flechada envenenada exatamente naquele local desprotegido, vindo a falecer. Portanto, meu caro leitor, se você tem algum lugarzinho em seu corpo, através do qual pode ser atacado e ferido com facilidade, trate de revesti-lo com chapas de aço.
Se o seu lugar vulnerável for o coração, procure adotar uma nova postura na maneira como vê a vida, não se deixando abater por coisas que não valem a pena, a vida é muito curta para isso. Caso perceba o calcanhar de Aquiles em outra pessoa, evite feri-lo, porque nem todos os feridos vão a óbito. Alguns pegam a própria flecha e revertem-na para o ofensor, trazendo-lhe muitos aborrecimentos.
Ilustração:The Wrath of Achilles – François-Léon Benouville
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Lu, se tem alguma coisa que as pessoas adoram é descobrir onde está o seu calcanhar de Aquiles. Atualmente, mais que nunca! Afinal, a empatia se perdeu neste país. Adoro seus contos, uma aula de história trazida à realidade de hoje. Parabéns!
Alfa
É verdade! Há muita maldade, talvez fruto do desencanto que ora vivemos, grassando entre as pessoas neste país. Há uma visível desagregação entre os brasileiros. Não mais se busca o lado bom de cada um, para louvá-lo, mas seus pontos fracos para atacá-los.
Fico muito feliz com a sua presença, amiga querida.
Beijos,
Lu
Lu
Antigamente na minha terra diziam que a parte mais sensível das pessoas não era o calcanhar e sim a língua, pois quando as lavadeiras do Rio Umburanas se reuniam, não ficava um podre das pessoas escondido. Existia uma apelidada de “Repórter Esso”, pois fazia um resumo dos fuxicos da semana e outra de “Candinha” que ficou com calo na língua de tanto falar.
Adevaldo
Seus comentários relativos aos ditados populares levam-me a gargalhar. Há sempre uma história interessante a ser contada. Adorei as lavadeiras e os apelidos recebidos. Essas pessoas eram responsáveis por expandir o uso dos ditos populares.
Abraços,
Lu