Autoria de Amanda Prates
Meu companheiro, com quem moro junto há pouco mais de um ano, foi diagnosticado uma vez com bipolaridade, mas outros psiquiatras disseram que teria apenas depressão. A verdade é que onde nós moramos não existem bons profissionais nesta área. Já tentamos todos aqueles disponíveis e nenhum realmente conseguiu diagnosticá-lo e cuidar de sua doença mental. No momento ele toma antidepressivo, medicamento que começou a usar depois de muita luta, após ter surtos e eu colocá-lo na parede (ou tomava a medicação ou eu iria embora), mas mesmo com o medicamento e uma certa estabilização, ainda tem uns pequenos surtos que me fazem pensar, se não deveria tomar medicamento específico para bipolaridade.
O caso dele parece ser mais complexo. No seu relacionamento anterior, surtava muito, traía muito, bebia muito e terminava com a parceira constantemente, sempre brigando e colocando a ex-companheira para fora de casa, inclusive quebrando as coisas (de porta do quarto à TV). No início do nosso relacionamento ele aparentava ser uma pessoa normal, apenas com depressão, depois surtou algumas vezes: gritava muito, falava absurdos inexistentes e batia nas coisas, quebrava celular (ele não consegue ter um celular por muito tempo, sempre quebra quando surta). Até chegamos a terminar uma ou duas vezes, porém logo após o surto, ficava extremamente arrependido e triste.
Uma vez, ainda nos primeiros meses de relacionamento, presenciei um surto dele com a mãe. Falou tanto coisa ruim para ela, xingamentos absurdos e ofensas que eu caí no choro na hora e pensei: “Como alguém normal pode falar assim com a própria mãe?” Não fazia sentido, aquela situação era muito pesada. Quando saímos da casa dela, falei chorando que não podia fazer aquilo, que estava muito errado. Ele começou a chorar e ficou muito triste por ter surtado, disse que seu procedimento era incontrolável, como se tornasse outra pessoa por um momento, que não parecia ser ele mesmo.
Depois desse episódio meu companheiro passou dias depressivo, para baixo, chorando e com vergonha da mãe. Então percebi que a relação deles sempre foi estremecida. Ele surta com as pessoas ao seu redor, mas também se arrepende. Acabou perdendo muitos amigos e todos da família têm uma relação diferente consigo, têm medo de falar algo e ele surtar. Só que mudou muito desde o início de quando nos conhecemos até o presente momento. A relação com os familiares é outra agora, nunca mais surtou com ninguém da família. Todos atribuem isso a mim e à nossa relação.
Sua mudança de comportamento me fez pensar que talvez seu problema não seja bipolaridade, pois como pode ter mudado assim, só com minhas conversas sobre seu comportamento? Confesso que não sei! Ele ainda tem um período em que fica muito surtado, depois muito depressivo e depois muito alegre, mas isso é em questão de um dia para o outro. Não é como uma mania que vejo na bipolaridade que dura semanas e até meses. E com tudo isso, mesmo eu o amando muito, penso em me separar, pois me sinto mais mãe dele do que sua mulher.
Desde criança ele carregou problemas de concentração. Não consegue trabalhar, simplesmente não consegue seguir horários e trabalhar de 8 às 18. Possui um emprego em que viaja só de vez em quando, porém esse serviço não vai durar a vida toda. Eu sempre quis me casar com alguém trabalhador que pense como eu em querer crescer, etc., e com ele me vejo frustrada em relação a isso. Tenho tantos planos e não sei, se conseguirá me acompanhar.
Agora na pandemia meu companheiro está em uma fase em que dorme muito, não faz muita coisa, ajuda-me em casa, mas não o suficiente. Estou ficando cansada e sem saber o que fazer. Amo-o muito, mas não sei até que ponto posso aceitar tudo isso. Além disso, tem dois filhos e durante uma fase de depressão profunda ficou afastado deles e sofreu bastante. Ajudei-o a restabelecer contato, mas ainda sente muita dificuldade em se sentir ligado a eles. Isso também me preocupa, pois quer ter um filho comigo e eu tenho medo do que possa acontecer no futuro. Será que se ele tiver mais uma fase de depressão profunda poderá se afastar do nosso filho também? E se ele surtar na frente dele? Certamente eu não seria capaz de aceitar isso.
Se alguém puder me relatar mais informações sobre como são esses surtos de quem é bipolar, pois os dele mudaram depois que eu falei que não aguentava mais, tiraria um peso de minha cabeça. Ele foi se controlando cada vez mais. Agora, quando surta, consegue se controlar mais rápido e muitas vezes nem quebra nada, porém ainda são aqueles surtos sem motivo ou por besteiras que não fazem sentido, problemas que ele cria na cabeça.
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Amiga
A mãe dele pode ser uma narcisista, oculta e ele pode ser uma vítima reativa.
Vítimas são muito reativas e você não sabe se a mãe dele o provoca “disfarçadamente”, para que reaja com estresse pós-traumático (muita ira, descontrole, agressividade verbal, a ponto de chegar perto xingando, não parar de falar agressivamente e no final se sentir muito culpado).
Olha, se ele te agredir fisicamente caia fora, porque isso é questão de caráter e não de transtorno. Mas se não houver a agressão física, experimente ouvi-lo sem duvidar. Observe se a mãe dele não faz pequenas provocações e depois demonstra felicidade pela reação irada dele. Observe a situação como se estivesse em um jogo e parta do pressuposto que a família realmente não respeita o seu marido.
Se você chegar à conclusão que realmente ele é o problema, ok. Mas tente observar, com outra perspectiva, antes de confundir mais ainda a vítima. Outra coisa importante: seu marido deve discutir muito com a mãe, mas sempre está na casa dele. Peça para ele se afastar totalmente. Contato zero com ela. E veja o resultado em 3 meses.
Oi Amanda
Minha esposa é bipolar. Do seu relato, de fato, há vários indícios de que seu companheiro tem transtorno bipolar como abuso de álcool, traição dos parceiros, comportamento impulsivo, agressividade e a própria depressão. Na maior parte dos casos, os estados maníacos duram semanas ou até meses e depois se alternam com estados depressivos e longos períodos de normalidade. Mas existem também casos de ciclagem rápida e estados mistos em que mania, depressão e normalidade se sucedem de um dia pro outro. É muito importante que você o leve para um bom profissional fazer o diagnóstico correto, porque outras doenças como Boderline tem sintomas parecidos com o Bipolar em ciclagem rápida e o tratamento precisa ser o adequado. Não acredite que conversando com ele a situação será controlada, porque as coisas que ele faz em crise fogem da vontade e do controle dele. A doença mental só pode ser controlada com medicação correta e, enquanto isso não acontecer, ele terá novas crises. De tudo o que li e das conversas que tive com os profissionais, eu te afirmo que só é possível manter a relação com um bipolar caso ele faça um pacto com você de seguir corretamente o tratamento para o resto da vida, tomando a medicação e se consultando com certa regularidade. Foi o que fiz com minha esposa. Caso contrário, simplesmente não há como prosseguir no relacionamento.
Tudo de bom e boa sorte
Carlos
Obrigada pelo espaço, Lu.
Após essa quarentena vou tentar levá-lo a um psiquiatra fora da nossa cidade.
Amanda
Nem sempre é fácil diagnosticar um doente mental com absoluta certeza quanto ao seu caso, uma vez que as doenças mentais possuem sintomas muito parecidos. Se onde mora não conseguiu um diagnóstico definitivo, o bom seria buscar um centro maior e um bom psiquiatra. Muitas vezes apenas o uso de um medicamento adequado será capaz de melhorar o estado de humor de seu companheiro, trazendo-lhe mais confiança.
Embora as crises relatadas por você lembrem um estado de bipolaridade, a frequência com que acontecem fogem ao descrito pela doença. Somente um bom profissional será capaz de dar-lhe a resposta que precisa para que possa tocar a sua vida com tranquilidade. Assim, marque um bom médico num centro maior e leve seu parceiro para desencargo de sua consciência. Quanto ao filho, realmente é preciso pensar muito, pois trazer uma vida ao mundo requer muita responsabilidade.
Vou lhe enviar uns links que irão ajudá-la muito.
Beijos,
Lu
Amanda,
eu namorei com um bipolar por dois anos e o comportamento do meu ex-namorado era bem parecido com o do seu companheiro. As brigas com os parentes eram constantes, não tinha amigos e o relacionamento anterior dele foi bem violento, partindo para a briga fisicamente, coisa que eu nunca fiz.
O importante é um diagnóstico correto, medicação e a vontade dele de se tratar, sem isso a relação se torna desgastante e imprevisível. No meu caso, ao invés de se tratar, ele optou pela bebida e drogas pesadas, foi quando desisti. Desisti porque minha vida girava em torno dele, eu não aguentei me dedicar a alguém que não me valorizava e também porque eu estava adoecendo.
Oi, Vanessa!
Grata pelo seu relato. Até que ele tem total consciência que precisa fazer tratamento. Só não tenho certeza é se esse tratamento que ele tá fazendo atualmente é o que precisa. Mas irei atrás do diagnóstico com ele. Irei até onde eu puder ir, sem forçar muito minha saúde mental também. Tenho TAG e acabei de realizar o desmame do meu medicamento. Não quero voltar a tomar remédios novamente. Então preciso me cuidar sempre.