Autoria de Lu Dias Carvalho
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O pintor italiano Fra Angelico (1387–1455), nascido próximo a Florença, fez uso dos novos métodos criados por Masaccio, principalmente quando expunha em suas obras as ideias tradicionais da arte cristã. Embora fizesse uso das novas descobertas de seu tempo, também foi fiel a certas ideias da arte gótica. Dentre as obras criadas pelo frade dominicano estão os afrescos pintados no mosteiro florentino de São Marcos em cerca de 1440 (século XV). Era uma obra bem extensa, sendo que cada monge possuía em sua cela uma cena sacra, assim como em cada final de corredor, para sua meditação. Essas se encontram entre as suas mais belas obras.
Uma das celas do mosteiro de São Marcos apresenta um mural intitulado “Anunciação” (ver figura acima à esquerda) em que o frade mostra sua habilidade a respeito da perspectiva. O claustro, onde a Virgem encontra-se ajoelhada, mostra como o artista fez uso perfeito desse método. Ele narra a história bíblica com simplicidade e beleza. Abre mão de qualquer demonstração exagerada de modernidade, embora conhecesse muito bem as inovações que Masaccio e Brunelleschi introduziram na arte. É possível que tenha nascido daí o arrebatamento que suas pinturas repassam a todos os que as veem.
Outro pintor notável desse período foi o florentino Paolo Uccello (1397–1475). Sua obra mais bem conservada é conhecida como “A Batalha de San Romano”— iremos estudá-la brevemente — que alguns acham ter adornado um dos aposentos do Palazzo Medici. A figura do guerreiro caído por terra era sem dúvida de grande dificuldade de execução, ao ser representada em perspectiva, e deve ter causado um grande orgulho ao artista, pois até então nenhuma pintura fora pintada assim.
Vimos que pintores como Fra Angelico faziam uso de inovações, sem abrir mão das regras antigas. Paolo Uccello, por sua vez, mostrava-se inteiramente cativado pelos novos métodos. Contudo, havia artistas, como Benozzo Gozzoli (c. 1421–1497) — ex-discípulo de Fra Angelico — que eram menos ambiciosos em suas obras, trabalhando com leveza, usando os novos métodos, mas sem se preocupar demais com os ensinamentos antigos ou novos, como mostra a pintura intitulada “O Cortejo dos Reis Magos”, obra de Gozzoli que ainda iremos estudar. Seu compromisso, ao usar as novas realizações, era o de tornar mais agradáveis as cenas da vida de sua época.
As descobertas feitas por Donatello (escultor) e por Masaccio (pintor) no campo das artes expandiram-se, chegando até outros pintores de cidades ao norte e ao sul de Florença, deixando os artistas ávidos por implementá-las em suas criações. Dentre esses estava Andrea Mantegna (1431–1506) que havia trabalhado na cidade universitária de Pádua e posteriormente na corte dos duques de Mântua. É lamentável que uma série de murais, narrando a lenda de São Tiago — pintados por ele numa igreja de Pádua —, tenha sido quase que totalmente danificado por bombardeios da Segunda Guerra Mundial. Encontravam-se entre as obras mais celebradas de todos os tempos.
Mantegna tentava imaginar o mais claro possível como seria a cena de sua composição, se caso essa fosse real. Era exigente com aquilo que chamava de realidade. Além de importar-se com a essência da história a ser expressa em seu trabalho, interessavam-lhe as circunstâncias externas. Buscava reconstituir a cena como imaginava que essa tivesse acontecido. Para melhor se exprimir, fez um estudo de monumentos clássicos, para dar mais realidade a seus trabalhos. Observem a beleza da cena acima.
Piero della Francesca (c.1416–1492) foi outro importante pintor italiano. Enquanto Mantegna introduzia os novos métodos de arte no norte da Itália, ele fazia o mesmo na região ao sul de Florença. O artista detinha total domínio da arte da perspectiva, assim como o do tratamento da luz (praticamente inexistente na obra dos artistas medievais, com suas figuras planas que não projetavam sombras). A ilustração intitulada “O Sonho do Imperador Constantino” (gravura ilustrativa à direita) é um detalhe de um afresco criado por ele em cerca de 1460 (século XV).
A pintura em questão narra a lenda que diz respeito ao sonho que levou Constantino a aceitar a fé cristã. A cena é representada à noite, quando o soberano encontrava-se dormindo em seu catre de campanha, antes de uma batalha. Sua tenda está aberta e seu guarda pessoal está sentado próximo a seu leito, encontrando-se dois soldados de sentinela. Um relâmpago ilumina o lugar, quando um anjo desce do Céu trazendo na mão o símbolo da Cruz. Observem o efeito da luz do relâmpago na tenda.
Ainda sobre a pintura acima, Piero apresenta seu total domínio da arte da perspectiva, além de ter sido ousado na forma dimensional do anjo que chega a desorientar-nos. A tudo isso ele acrescentou o tratamento da luz que ajudou a moldar as formas das figuras, o que é também importante para a perspectiva, pois repassa a ilusão de profundidade. O soldado da frente apresenta-se como uma silhueta escura diante da abertura iluminada da tenda, mostrando a distância em que se encontra do guarda pessoal do imperador, cuja figura é iluminada pelo clarão emanado pelo anjo. O jogo de luz e sombra cria um clima de mistério naquela noite tão especial em que o monarca iria mudar toda a trajetória da história da humanidade.
Nota:
Perspectiva linear — espaço tridimensional representado matematicamente sobre o plano bidimensional de um quadro. Sua técnica exata foi descoberta pelo escultor Filippo Brunelleschi.
Exercício:
1. O que você sabe sobre Fra Angelico?
2. Qual a importância de Piero della Francesca como pintor?
3. Mantegna – SÃO TIAGO A CAMINHO DA EXECUÇÃO
Ilustração: 1. A Anunciação (c.1440), obra de Fra Angelico / 2. O Sonho de Constantino (c. 1460, obra de Piero della Francesca.
Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich
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Lu
Essa aula nos mostra como esses artistas dedicavam toda uma vida a construir coisas belas, usando todo talento novo e antigo, como vemos na perspectiva linear e no jogo de luz e sombras, entre outros. Procuravam a perfeição, causando grande impacto nas pessoas. A união do talento com o conhecimento sempre atingia seus objetivos. Pena que muitos desses trabalhos foram danificados ou desapareceram, pois obras assim são imortais. Todas deveriam ser preservadas para que a humanidade pudesse ver e admirar a imortalidade desses artistas. A arte preservada é um alento para o nosso espírito. A arte destruída é a morte para a alma.
Lu
O Renascimento foi capaz de revolucionar a arte de uma forma brilhante, riquíssima em detalhes fundamentais para os trabalhos artísticos, deixando um legado valioso para a humanidade. A perspectiva foi, sem dúvida, o elo perdido, ou seja, o grande achado que possibilitou uma grande transformação nas técnicas artísticas. Anteriormente em outros estilos a arte era mais rígida e tinha funções meramente religiosas ou místicas. Com o advento do período renascentista a arte tomou um novo rumo.
A perspectiva, com a utilização da matemática, criou dimensões, juntamente com a profundidade, sombras e luzes, criando uma forte conexão entre o observador e a obra observada.
Hernando
O Renascimento foi um período áureo para a arte. E isso aconteceu nos seus mais variados campos. Uma safra de grandes mestres surgiu nessa época, deixando um grande legado para artistas posteriores. A perspectiva fundamentada foi sem dúvida alguma a maior herança, ao mudar toda a concepção artística.
Abraços,
Lu
Lu
É impressionante a evolução da arte pictórica na busca da retratação perfeita e na busca da subjetividade com os artifícios da perspectiva e do sombreamento (claro-escuro), que confere maior força às diferentes imagens. Felizmente esses recursos estão disponíveis nas câmeras fotográficas, onde os profissionais lidam com o “modo manual” para deles usufruir. No primeiro quadro as cores “quentes” e frias em diferentes tons se harmonizam com os outros elementos denotando o vigor artístico.
Antônio
É impressionante a quantidade de recursos com os quais a arte fotográfica conta nos dias de hoje. A fotografia tem criado verdadeiras obras de arte que em nada ficam a dever a outros gêneros artísticos.
Abraços,
Lu