Autoria de Lu Dias Carvalho
A família estava em torno do fogo reunida:
Fabiano, o peão, sentado no pilão tombado,
Sinha Vitória com as suas pernas cruzadas,
os meninos deitados nas coxas da mãe e
Baleia olhando as cinzas com as brasas.
Estava um frio danado, de modo que o pai
impeliu os tições com a ponta da alpercata.
De quando em vez os meninos se mexiam.
O lume era fraco e só aquecia parte deles.
A outra parte recebia uma friagem danada.
Os pixotes não conseguiam pegar no sono.
O ar entrava pelas rachaduras das paredes
e pelas fendas da janela na noite friorenta.
Quando iam adormecer, arrepiavam-se, e
viravam-se de lado na sonolência.
O menino mais velho, enregelado de frio,
foi pegar pra mãe uma braçada de lenha. Ela
mexeu as brasas coo cabo da quenga de coco,
arrumou com jeito as achas de angico molhado
entre as pedras, procurando logo acendê-las.
O pai ficou de quatro pés, soprou os carvões.
Uma fumaçada levantou, invadindo a cozinha.
Línguas de fogo subiam nas pedras, rápidas.
A família começou a tossir e enxugar os olhos.
Fabiano aqueceu no fogo as mãos calejadas.
A mãe agitava o abano pro fogo não apagar,
sustendo o fogo nos paus de angico molhado.
Marido e mulher falavam sem se entenderem.
Os pixotes sentiam frio numa parte do corpo e
calor na outra, sem poder dormir, coitados.
O ar entrava pelas rachas das paredes finas.
O menino mais velho, acomodou-se e dormiu
coo lado do corpo quente pelo calor do fogão
e o outro pelas nádegas quentes de sua mãe.
O casal arengava, esquentando as mãos.
Baleia olhava os carvões, esperando sua vez,
não podia dormir ainda. Cochilava de fazer dó.
Sinha Vitória inda ia retirar os carvões e cinza,
varrer o chão e se deitar na cama de varas. Os
guris deitariam na esteira, debaixo do caritó.
O dia todo Baleia espiava o bulício das pessoas,
queria saber de tudo pra aguentar o mau humor.
Ela precisava dormir e se libertar daquela vigília.
Tão logo o chão fosse varrido coa vassourinha,
iria se enroscar e adormecer no gostoso calor.
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